• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II. CONTROLE, ACCOUNTABILITY E GOVERNANÇA

2.2. Introdução à legislação de controle no Brasil

Passaremos agora, a verificar a situação da legislação do controle no Brasil. No Brasil, o controle interno e o externo são previstos já em sua constituição. Então, faremos uma revisão da legislação do controle desde a mais genérica até a mais específica. Na Constituição Federal (CF), a questão do controle aparece pela primeira vez nos seguintes termos, especificamente para o âmbito municipal:

Art. 31º. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.

§ 1º – O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

§ 2º – O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

§ 3º – As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.

§ 4º – É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.

Em seguida, aparece no item II do 8º parágrafo do artigo 37º do mesmo documento, que trata da própria Administração Pública:

Art. 37º. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

§ 8º – A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:

(...)

II – os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes.

(...)

O processo de controle é mais bem especificado no artigo 70º, que é seguido daquele que atribui ao Tribunal de Contas da União a responsabilidade pelo Controle Externo e suas atribuições:

Art. 70º. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

Na mesma seção, que estrutura a fiscalização contábil, financeira e orçamentária, a constituição determina a integração do sistema de controle interno, no artigo 74º, depois do qual, as disposições mais genéricas sobre controle interno ou externo se encerram:

Art. 74º. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:

I – avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União;

II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III – exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União;

§ 1º – Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária.

§ 2º – Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.

A partir da Constituição Federal, foram (e continuam sendo) criadas legislações com o objetivo de melhorar o controle da Administração Pública. A frequência com que isso tem sido feito pode insuflar a tese de que há algo de errado na elaboração dessas normas, já que elas são continuamente complementadas por novos dispositivos. Complementando a Constituição, temos as legislações complementares de controle, como o Decreto nº 93.872, de 23 de dezembro de 1986, que dispões sobre a unificação dos recursos de caixa do Tesouro Nacional e consolida a legislação pertinente. Assim, na Seção VI, que determina as condições para acordos, convênios e ajustes, temos:

Art. 54º. Para acompanhamento e controle do fluxo dos recursos e das aplicações, inclusive avaliação dos resultados do convênio, o órgão ou entidade executora apresentará relatórios parciais, segundo a periodicidade convencionada, e final, quando concluído ou extinto o acordo, que se farão acompanhar de demonstrações financeiras, sem prejuízo da fiscalização indispensável sobre a execução local.

§ 1º – O recebimento de recursos da União, para execução de convênio firmado entre quaisquer órgãos ou entidades federais, estaduais ou municipais, independente de expressa estipulação no respectivo termo, obriga os convenentes a manter registros contábeis específicos, para os fins deste artigo, além do cumprimento das normas gerais a que estejam sujeitos.

§ 2º – Os documentos comprobatórios das receitas e despesas realizadas serão conservados em boa ordem no próprio lugar em que se tenham contabilizado as operações, à disposição dos agentes incumbidos do controle interno e externo dos órgãos ou entidades convenentes.

A preocupação com o controle dos gastos também é manifestada na seção seguinte, em seu artigo 66º, que determina que todo aquele que receber recursos

da União “para realizar pesquisas, desenvolver projetos, estudos, campanhas e obras sociais ou para qualquer outro fim, deverá comprovar o seu bom e regular emprego, bem como os resultados alcançados”. Ou seja, ao Decreto nº 93.872/86 estabelece a obrigação de prestar contas. Podemos notar como a busca pela melhoria da gestão pública, por meio da maximização da transparência e da responsabilização dos gestores, não é recente (Faria, 2005). Isso contraria alguns autores que defendem que tal agenda, que costuma estar relacionada ao NPM, só passa a ser implementada no contexto da Reforma Gerencial da década de 1990 (Bresser Pereira, 2000).

Já no Capítulo VI do Decreto nº 93.872/86, que fala sobre a Contabilidade e Auditoria, temos as demais prescrições genéricas para o controle dos recursos do Tesouro Nacional. O artigo 130º diz que a contabilidade da União deverá ser feita por meio “das funções de orientação, controle e registro das atividades de administração financeira e patrimonial, compreendendo todos os atos e fatos relativos à gestão orçamentário-financeira e da guarda ou administração de bens da União ou a ela confiados”. O artigo 139º continua com a forma do controle a ser efetuado: “Os órgãos de contabilidade examinarão a conformidade dos atos de gestão orçamentário-financeira e patrimonial, praticados pelas unidades administrativas gestoras de sua jurisdição, com as normas legais que os regem”.

Enfim, no capítulo que fala da Prestação de Contas e da Tomada de Contas, temos pelo menos três artigos importantes. No artigo 145º, vemos quem deve justificar o emprego dos recursos ao Sistema de Controle Interno: “Quem quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na conformidade das leis, regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes”. Para isso, o artigo 146º dá as condições para a execução dessa justificação:

Art. 146º. Além da tomada de contas ou prestação de contas anual, o órgão setorial de controle interno manterá sistema de acompanhamento contínuo da execução de projetos e atividades pelos órgãos e entidades da Administração Federal, direta e indireta, sob sua jurisdição, de forma a lhe permitir, a qualquer tempo, pronunciar-se sobre a eficiência e a eficácia da gestão, podendo proceder às verificações, exames ou levantamentos que se fizerem necessários.

Temos ainda um artigo que determina quem deverá fazer a fiscalização: Art. 157º. As autarquias e empresas públicas federais remeterão à Secretaria de Controle Interno do Ministério a que estejam vinculadas, até 15 de fevereiro de cada ano, impreterivelmente, os balanços anuais relativos ao exercício anterior, para fins de incorporação de resultados e publicação.

Parágrafo único. Na mesma data do seu recebimento, as Secretarias de Controle Interno remeterão à Secretaria do Tesouro Nacional uma das vias dos balanços referidos neste artigo, para publicação como complemento dos balanços gerais da União.

Mas não podemos falar da situação do controle na Administração Pública brasileira sem mencionar a atuação de dois importantes órgãos: a Controladoria-Geral da União – CGU, incumbida do Controle Interno, e o Tribunal de Contas da União, TCU, responsável pelo Controle Externo. Em primeiro lugar, é preciso visitar a Lei nº 10.180, de 6 de fevereiro de 2001, que em seu Título V estrutura o chamado Sistema de Controle Interno federal e prevê a criação da Secretaria Federal de Controle Interno, subordinada à CGU. Temos no artigo 19º que o Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal pretende a avaliação das atividades do governo e da gestão dos administradores públicos, por meio de “fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, e a apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional”. O artigo 20º, por sua vez, descreve as finalidades do Sistema de Controle Interno:

Art. 20º. O Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal tem as seguintes finalidades:

I – avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União;

II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e nas entidades da Administração Pública Federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;

III – exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União;

No artigo 22º, se declara que a Secretaria Federal de Controle Interno (SFC) faz parte do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo. E no artigo 24º, vemos as competências do sistema, dentre elas: avaliar o cumprimento das metas estabelecidas no plano plurianual; fiscalizar e avaliar a execução dos programas de governo; avaliar a execução dos orçamentos da União; exercer o controle das operações de crédito, avais, garantias, direitos e haveres da União; fornecer informações sobre a situação físico-financeira dos projetos e das atividades constantes dos orçamentos da União; realizar auditoria sobre a gestão dos recursos públicos federais sob a responsabilidade de órgãos e entidades públicos e privados; apurar os atos ou fatos inquinados de ilegais ou irregulares, praticados por agentes públicos ou privados, na utilização de recursos públicos federais e, quando for o caso, comunicar à unidade responsável pela contabilidade para as providências cabíveis; realizar auditorias nos sistemas contábil, financeiro, orçamentário, de pessoal e demais sistemas administrativos e operacionais; avaliar o desempenho da auditoria interna das entidades da administração indireta federal; elaborar a Prestação de Contas Anual do Presidente da República a ser encaminhada ao Congresso Nacional, nos termos do art. 84, inciso XXIV, da Constituição Federal, e; criar condições para o exercício do controle social sobre os programas contemplados com recursos oriundos dos orçamentos da União.

Quanto ao TCU, como já foi visto, a previsão de sua existência aparece já na Constituição Federal. A lei que disciplina seu regulamento interno, ou seja, a Lei nº 8.443, de 16 de junho de 1992, será analisada rapidamente no próximo capítulo, por sua proximidade com o tema em estudo.