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Os sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil baseiam-se principalmente na utilização de pastagens tropicais, as quais apresentam grande produção de forragem na estação quente e úmida do ano (PAULINO et al., 2000). Para que o animal expresse seu potencial genético para ganho em peso, é necessário atender suas exigências em proteína, energia, minerais e vitaminas. Sob condições exclusivas de pastagem e mistura mineral, o desempenho animal é normalmente limitado por falta de energia e/ou falta de proteína (NRC, 1996).

No período das secas, no Brasil Central, ocorre queda acentuada tanto na disponibilidade quanto na qualidade das pastagens tropicais. O diferimento de 20 a 30% da área da fazenda em fevereiro e março, para a utilização no período crítico do ano pode amenizar o problema da quantidade de forragem. Entretanto, essas pastagens diferidas apresentam baixo valor protéico e energético. O teor protéico abaixo do mínimo para bom funcionamento do rúmen constitui-se na principal limitação à ingestão da forragem nessa época. Devido a este fato cresceram de forma significativa nos últimos anos a prática de suplementação dos animais nas secas com suplementos minerais enriquecidos com fontes de proteína e de nitrogênio não protéico, as chamadas misturas múltiplas para a seca. O resultado dessa medida geralmente se traduz em maior ingestão de forragem pelos animais em pastejo, levando à manutenção do peso vivo ou até modestas taxas de ganho de peso médio diário (200 a 400 g. dia-1), desde que o suprimento de massa seca não seja limitante. Ganhos de peso mais elevados podem ser obtidos nessa época com a inclusão de fontes de energia nas misturas múltiplas, então fornecidas em doses maiores (PAULINO et al., 2000).

Limitações ao desempenho animal em pastagens também ocorrem no período das águas em regiões tropicais. Apesar da grande produção de massa, a qualidade da forragem pode limitar o ganho de peso dos animais (REIS et al, 2004). De acordo com diversos trabalhos de pesquisa, o desempenho individual de animais mantidos em pastagens tropicais durante a estação das chuvas, tem sido inferior aos observados em pastagens de clima temperado (POPPI; MCLENNAN, 1995). As taxas de ganho de

peso observadas têm estado bem abaixo do potencial genético dos animais (ELIZALDE et al., 1998; HESS et al., 1996; KARGES et al., 1992). Esse fato pode se constituir em um entrave para a produção de carne de alta qualidade em termos de maciez, que exige o abate de animais jovens com bom acabamento de carcaça (POPPI; McLENNAN, 1995).

A suplementação com concentrado para animais em pastagens é uma alternativa para o suprimento de nutrientes limitantes e aumento da eficiência de utilização das pastagens (REIS et al., 2004).

Para sistemas de produção que busquem explorar ao máximo o potencial genético da planta forrageira e do animal, são de grande interesse estudos que avaliem a viabilidade econômica da suplementação de animais em crescimento e terminação, mantidos em pastagens manejadas durante o período das águas. A combinação de alta lotação animal em pastagens tropicais manejadas durante o período das águas, e a suplementação dos animais com doses e fontes adequadas de suplementos concentrados, para elevar o ganho de peso destes animais, poderá viabilizar a exploração de sistemas intensivos de produção de carne, competitivos com diversas atividades agrícolas dentro do estado de São Paulo, como a produção de cana-de- açúcar e de laranja.

O número de trabalhos de pesquisa sobre doses crescentes de suplemento para bovinos em pastagens tropicais durante o período quente e chuvoso ainda é pequeno e os dados são pouco consistentes.

Patino et al. (2001) relataram ganhos de peso diário de 0,467, 0,595 e 0,559 kg cab-1 para animais em pastagem suplementados com sorgo nas doses de 0%, 0,75% e 1,5% do peso vivo. A resposta foi significativa para a dose 0,75% em relação ao controle, mas houve queda de desempenho com a dose de 1,5%. Efeito negativo no pH ruminal e deficiência de proteína degradável no rúmen podem ter ocorrido na dose alta de concentrado energético.

Prohmann et al. (2001) trabalharam com novilhos cruzados de 13 meses e PV médio de 363 kg, em pastagem de coast cross com lotação de 6,3 UA ha-1. Os autores não observaram efeito (P>0,05) nas taxas de ganho de peso, com a suplementação com casca de soja nas doses 0%, 0,2%, 0,4% e 0,6% do PV para animais em

pastagens de coastcross. Os ganhos de peso vivo diário foram respectivamente 0,86, 0,85, 0,95 e 0,99 kg cab-1.

Zervoudakis et al. (2001) suplementaram animais em pastagens com duas doses (1 e 2 kg cab.-1dia-1) e duas fontes diferentes (Farelo de soja e amido proveniente do milho) e (Farelo de soja e fibra digestível proveniente do farelo de trigo) de suplemento com 21% de PB. Os autores não detectaram diferença significativa tanto para as fontes testadas, quanto para as doses comparadas ao controle não suplementado.

Fernandes et al. (2003b) obtiveram resposta crescente significativa em ganho de peso diário (0,74, 0,88 e 1,04 kg cab-1) com doses de 0, 0,4% e 0,7% respectivamente, de suplemento contendo milho, farelo de soja e uréia.

A adoção de técnicas como a suplementação dos animais em pastagens e a terminação em confinamento, deve levar em consideração não apenas a sua viabilidade técnica, mas também a viabilidade econômica (ELIZALDE et al., 1998; FERNANDES et al., 2003a; FERNANDES et al., 2003b). A localização da propriedade também é importante, pois há existência de pólos produtivos destinados a intensificação no país, devido a melhor disponibilidade de preços (BARROS et al, 2004)

Os objetivos deste estudo foram avaliar doses de suplementos múltiplos para bovinos de corte recriados em pastagens de capim Brachiaria brizantha cv. Marandu manejadas durante as águas, bem como o impacto dessa tecnologia sobre a terminação desses animais em confinamento, e a rentabilidade dos tratamentos utilizados.

Foram avaliados: o GPD (kg de PV dia-1), taxa de lotação (Ua ha-1 período-1), massa de forragem em pré e pós pastejo (kg MS ha-1), TAF (kg MS ha-1 dia-1), OF (% do PV em MS), produção de forragem (kg MS ha-1), composição botânica do dossel forrageiro (relação haste:folha:material morto), valor nutritivo da forragem em amostras de pastejo simulado e material residual, consumo dos suplementos (kg dia-1),

produtividade animal durante o período em pastagem (kg de PV ha-1), dados do

confinamento e padrões qualitativos da carcaça ao final do experimento, a rentabilidade final dos tratamentos, além da comparação dos resultados com outra alternativa de uso da terra, o arrendamento para o plantio de cana-de-açúcar.

2.2 Desenvolvimento