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Capítulo I Educação e currículo

2.8 Investigação e formação em Turismo

Na linguagem corrente utilizam-se muitas expressões que se referem a turismo como actividade humana (objecto de estudo), por um lado, e aos estudos turísticos (sujeito académico), por outro. O primeiro está ao alcance do ser humano, mas o segundo está dependente da capacidade de interpretação da comunidade científica. Os estudos turísticos têm sido diversamente orientados, consoante as perspectivas, objectivos e valores dos investigadores. São estudos que, de certo modo, atomizam o seu objecto teórico, incidindo num conhecimento parcelar, e, ao mesmo tempo, assumem uma direcção algo “monodisciplinar”, estruturando-se em torno de quadros teóricos ligados a determinadas áreas específicas das Ciências Sociais ou afins.

interesses das populações e da sua cultura, acolhendo os que sejam portadores de projectos inovadores e fornecendo-lhes os meios adequados ao desenvolvimento de novos produtos e empresas. A inter-relação entre o sistema científico, o educacional e outros, com o do turismo, traduz uma actuação benéfica para a região turística, do ponto de vista dos seus problemas e originalidades. Esta síntese revela-se de inegável interesse, pela ligação dos subsistemas sujeito e objecto turísticos às habituais expressões de procura e oferta, e ainda aos demais sistemas e factores externos.

De acordo com Sinclair et al. (1991: 16), o turismo ainda não possui uma sólida fundamentação teórica, o que é causado pela fragmentação existente na investigação, ou seja, pelas divisões estabelecidas nas várias disciplinas. Também não existe um consenso sobre o melhor formato para orientar a investigação, tendo em vista o desenvolvimento de uma estrutura teórica única e generalizável. Por exemplo, a investigação suportada em modelos geográficos apenas reflecte uma análise espacial dos aspectos da procura e da oferta turísticas, que incide sobre a ligação entre os locais de origem e de destino, a estrutura do turismo e a sua influência sobre a procura e a oferta. Pearce (1987) identifica quatro categorias de modelos geográficos: espaço da viagem e turismo, o qual analisa a distância entre a área geradora e a do destino; origem-destino, que decifram as características dos locais de origem e de destino, como um reflexo das funções de criação e recepção dos fluxos turísticos; centro-periferia da indústria turística, que reflecte o controlo exercido pelas companhias internacionais, com sede em países desenvolvidos, e tem em conta a concentração principal do mercado e da indústria turística em países geradores e de destino, e uma certa dispersão de mercados a nível regional e local; dinâmico, o qual é caracterizado pela mudança produzida nos destinos, ao longo dos tempos, a qual é determinada por padrões e preferências de férias mediante a vontade dos turistas.

Os modelos económicos constituem esforços de pesquisa distribuídos por três ângulos (Sinclair et

al., 1991: 16): impactes económicos gerados, estrutura da indústria e procura turística. A aplicação

de modelos de gestão e de marketing surge como uma pesquisa mais prática, por utilizar metodologias mais comerciais. A procura turística constitui o principal objecto dos modelos sociológicos e psicológicos, apreciando motivações, imagens e decisões, visto tratar-se de uma área que pressupõe um grande envolvimento pessoal e social. Finalmente, outros modelos ainda abrangem contribuições de outras disciplinas para o desenvolvimento do turismo como área disciplinar. Persiste, assim, a inexistência de uma generalização desta matéria.

Segundo Mcintosh et al. (2002: 28), na análise do turismo empregam-se vários métodos. No entanto, constata-se a inexistência de consenso em torno da estratégia do seu estudo. Nesta linha de raciocínio, Smith (1989: 31) afirma que o maior obstáculo a uma classificação definitiva, aceite pela comunidade científica, é a necessidade dos pesquisadores formularem definições operacionais específicas. A criação de definições para desiguais propósitos exige alguma flexibilidade. Contudo, é necessário estabelecer uma definição acordada entre a generalidade dos especialistas, com vista a servir ao planeamento e à definição das políticas.

Tribe (1997: 621) afirma que o estudo do turismo se alarga a novas significações. Novos conceitos geram também novas teorias, o que exige a reformulação do seu corpo de conhecimentos. O seu estudo é somente um microcosmo da actividade turística, mas é um trabalho fundamental para resolver questões importantes, nomeadamente os seus conceitos e limites. A criação das definições é indispensável à qualificação do processo de ensino. Esta ideia é partilhada por Jafari (1989: 437), tendo em conta que as tentativas para definir o turismo já preocupam os investigadores há várias décadas. É uma pesquisa teórica que contribui para enriquecer o conhecimento nesta área. Para Shortt (1994: 444), os turistas e as comunidades receptoras são os elementos centrais da investigação. Actualmente, assiste-se ainda a um estudo individualizado dos elementos do sistema, com o propósito de uma posterior inclusão na visão sistémica.

O reconhecimento do estatuto do turismo conforme indústria e disciplina é relevante para assegurar o seu estudo, numa perspectiva global enquanto sistema (Ritchie, 1988: 36). Os esforços de investigação devem subentender a interdependência das partes desse sistema, de modo a facilitar a sua posterior aplicação às realidades escolar e de gestão.

Neste sentido, a programação de um curso deve abranger a universalidade do fenómeno, em vez de especializar num sector. Todavia, a estruturação dos cursos, com índole mais técnica, na escola hoteleira, constitui um movimento contrário, por se alicerçar em argumentos justificativos de uma certa especialização. Os peritos em hotelaria acreditam que os saberes globais do Turismo podem

limitados recursos naturais da Terra e à noção da responsabilidade social e cultural dos visitantes”. Só assim se obterá uma prosperidade sustentável nesta indústria.

A actual realidade atesta uma divisão profunda entre académicos, no que se refere às definições da indústria turística e do turismo e, também, à fragmentação das suas teorias e práticas (Costa, 1996: 15). A credibilidade da pesquisa em torno destes objectos melhoraria em resultado do uso de uma única definição operacional. Tendo em consideração as várias correntes de opinião sobre esta matéria, seria importante continuar a estudar sistematicamente o fenómeno turístico. Só assim se poderia criar um corpo de conhecimento consistente, suportado em definições de reconhecido valor científico. Tal conhecimento, também, permitiria a definição de políticas e estratégias sectoriais, a nível legislativo, académico e empresarial.

O melhor investimento é aquele que é feito na educação e formação das pessoas. Na realidade, a finalidade da existência humana fundamenta-se num equilibrado desenvolvimento pessoal e profissional. A aquisição de saberes específicos do turismo também pode ter presente esse fim, de forma ponderada. Porém, dadas as crescentes exigências de um mercado turístico mais maduro, acentua-se o interesse na valorização dos processos formativos especializados. Conhecer as melhores metodologias educativas em turismo exige uma cuidada investigação em educação, que seja feita sistemática e cientificamente no seio das instituições educativas, de modo a adequar constantemente as teorias curricular e educativa em função das realidades diagnosticadas.

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