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Capítulo I Educação e currículo

1.1 Introdução

1.3.1 Nível do Ensino Superior

autores. A institucionalização do ensino politécnico, por exemplo, é perspectivada na revista Politécnica (Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos - CCISP), em Arroteia (2002) e em Seixas (2003).

A primeira universidade portuguesa foi fundada em Lisboa por D. Dinis, em 1290. Mais tarde (1537), é transferida para Coimbra; a única existente no início do séc. XX. A implantação da Primeira República, em 1910, permite a criação das Universidades do Porto e de Lisboa, em 1911. A Reforma de Veiga Simão, em 1973, fomenta a expansão do Ensino Superior. O surgimento do sistema binário (universitário e politécnico) fortalece e diversifica a rede existente em Portugal, sendo uma realidade inquestionável dos dias de hoje (Amaral, 2002: 21). Simão et al. (2003: 337- 362) apresentam a actual visão estratégica do Ensino Superior Português.

Para Simão et al. (2003: 19), “a soberania desloca-se cada vez mais do plano político e militar para o plano científico e cultural”, no âmbito da dimensão europeia do Ensino Superior. A soberania cultural e científica alarga-se e enfrenta os riscos provenientes da internacionalização, da perda de identidade do próprio sistema e das instituições face à subvalorização da Língua Portuguesa e à subalternização de Portugal como país periférico. Interessa compreender o binómio Ensino Superior e sociedade do conhecimento, como desafio à própria identidade da academia nacional. A evolução da Universidade, em Portugal, segundo Gago (1994: 216-222), passa por três fases: a primeira termina nos anos 70 e representa o fim da universidade tradicional; a segunda ocorre nos anos 80, quando se afirma a universidade de investigação; e, nos anos 90 surge a terceira fase, verificando-se grandes alterações na universidade no sentido do fortalecimento da sua ligação à indústria. Hoje, a configuração das estruturas do Ensino Superior tem por base o sistema binário, em que coexistem os ensinos universitário e politécnico. Esta solução sistémica tem uma base histórica que remonta à década de 60 (cf. Simão et al., 2003: 187-230).

A LBSE (Lei 46/86, de 14 de Outubro, art. 47.º e n.o 6) refere que o desenvolvimento curricular do Ensino Superior pretende estabelecer planos curriculares para cada uma das redes de instituições de ensino, de acordo com as necessidades económicas, sociais e culturais nacionais e regionais e uma perspectiva de planeamento integrado. A Lei permite a liberdade de conceber o currículo e de implementar os cursos, mas impõe este tipo de planeamento. O artigo 11.º (DR, 1986: 3071), n.os 1 e 2, enuncia os objectivos do Ensino Superior, a saber: estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; formar diplomados nas

diferentes áreas do conhecimento, aptos a serem inseridos em sectores profissionais e assim participar no desenvolvimento da sociedade a que pertencem e colaborar na própria formação contínua; incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica em ordem ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, a criação e difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos, que constituam património da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de difusão; suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; estimular o conhecimento dos problemas do mundo de hoje, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; e continuar a formação cultural e profissional dos cidadãos, pela promoção de formas adequadas de extensão cultural.

No mesmo art.º 11º, os n.os 3 e 4, referem que estes objectivos podem ser concretizados pelo ensino universitário, que tem como fim assegurar uma sólida preparação científica e cultural e proporcionar uma formação técnica, que habilite para o exercício de actividades profissionais e culturais, e fomente o desenvolvimento das capacidades de concepção, de inovação e de análise crítica. Mas, também, pelo ensino politécnico que visa proporcionar uma sólida formação cultural e técnica de nível superior, desenvolver também a capacidade de inovação e de análise crítica e ministrar conhecimentos científicos de índole teórica e prática, que permitam o exercício de actividades profissionais.

A legislação que institucionaliza o Ensino Superior Politécnico (Decreto-Lei 513-T/79), de acordo com Arroteia (1996: 35), consagrou definitivamente esta designação e atribuiu a este subsistema uma “(…) tónica vincadamente profissionalizante (…) – respondendo às necessidades de formação sentidas pelo sistema produtivo – em contraste com as características mais conceptuais e teóricas do Ensino Superior universitário”.

desempenhar a importante missão de se colocarem na vanguarda das transformações sociais (...)”. Actualmente, está-se mais sujeito do que nunca ao impacto de forças sociais e económicas exteriores. A transição da sociedade industrial para a do conhecimento só é possível com investimentos selectivos na qualificação dos recursos humanos e em investigação e desenvolvimento.

O Ensino Superior deve ser concebido na lógica de “cadeia educativa”, segundo Martins (1998: 75), tanto o universitário como o politécnico, quer no sector público, quer no privado, para fomentar a apreciação da qualidade “para o maior número nas melhores condições”. O Estado pode assumir as responsabilidades do seu desenvolvimento, consolidação e avaliação; considerar a participação financeira limitada e reduzida a alguns estudantes e famílias, através da melhoria efectiva dos apoios sociais, segundo o princípio da igualdade de oportunidades.

A figura 1.1 apresenta a interacção entre educação e formação, tecnologia, mercado e internacionalização, tendo como pivot a sociedade ou a empresa, e como mais-valia a complementaridade das interacções entre cultura, ciência e administração pública. As instituições académicas podem ser centros de criação, transmissão e difusão da cultura, da ciência e da tecnologia, bem como da formação para a cidadania e democracia e, ainda, contribuir para responder criativamente ao desafio da competitividade entre nações. Outros desafios relevantes para essas instituições são a diminuição demográfica, o atraso da Academia Europeia em relação à sua congénere americana, a necessidade da aprendizagem ao longo da vida e o aperfeiçoamento dos meios utilizados, de modo a atingir a excelência na qualidade.

Administração pública

Educação Ao longo da vida Formação

Empresa Sociedade industrial (economia proteccionista) Sociedade do conhecimento (economia de mercado) Internacionalização Cultura Ciência Tecnologia Figura 1.1 - Modelo de interacção

Fonte: Simão et al. (2003: 69)

Nérici (1971: 97) afirma que o Ensino Superior forma líderes sociais e profissionais, que defendem boas causas, visto reunirem as condições para criar novos instrumentos de produção. Os seus objectivos dependem da investigação como um garante da adaptação social, a fim de evitar conflitos decorrentes dos desajustamentos entre o indivíduo e os padrões orientadores da sociedade. Pode dizer-se que o objectivo é “levar o homem a reflectir sobre a vida social, o próprio homem, o mundo e os seus fenómenos”.

O processo de internacionalização dos sistemas educativos tende a gerar uma globalização nas respectivas políticas educacionais (Seixas, 2003: 17). A filosofia tecnocrática é a base das orientações educativas nos países desenvolvidos, por atribuir importância à educação para a competitividade, num mercado de tendência internacional, que obedece a imperativos de natureza económica (Ball, 1998). A articulação entre o sistema formativo e o produtivo visa responder à dinâmica de mercado, o que implica uma reorganização e centralização dos currículos.

Para Seixas (2003; 19-37), a crescente competição económica internacional exerce fortes pressões sobre os sistemas educativos, mas a importância do capital humano confere à educação um papel fundamental nas políticas nacionais de desenvolvimento económico e político.

No contexto dos programas da UE, a crescente mobilidade dos estudantes contribui para internacionalizar os sistemas educativos e os currículos, e para o desenvolvimento dos mercados de Ensino Superior. A necessidade de comparar cursos e diplomas incentiva a constituição de mecanismos de avaliação, de modo a fortalecer a dimensão internacional dos currículos. Esta matéria era da competência exclusiva de cada Estado-membro, dado o seu papel na construção da identidade nacional. Porém, a partir do Tratado de Maastricht (1992) a educação figura como área de actividade da UE1, reconhecendo a Comissão Europeia a importância de uma educação de qualidade (Arroteia, 1996: 96).

O Processo de Bolonha, actualmente em implementação em Portugal, constitui um bom exemplo das pressões (europeias) sobre os sistemas nacionais de Ensino Superior, tendo em vista a sua internacionalização.

O ensino universitário (Pires, 1995: 59) conferia os graus de licenciado, mestre e doutor. O politécnico conferia o grau de bacharel e de licenciado, obtido por justaposição do de bacharel, que constitui o primeiro ciclo da designada licenciatura bietápica (LICBI), criada pelo Decreto-Lei 234-C/98), e que confere o grau de licenciado através da passagem ao segundo ciclo. A figura 1.2 descreve a articulação dos vários graus até aqui conferidos nas instituições de Ensino Superior. Contudo, o Processo de Bolonha obrigou a uma simplificação do sistema, conduzindo a três ciclos de estudos: licenciatura (1º ciclo), mestrado (2º ciclo) e doutoramento (3º ciclo). A nova nomenclatura é definida pelo Decreto-Lei 74/2006, que clarifica a atribuição de graus, títulos e diplomas no Ensino Superior. Na tipologia que entrará em vigor, a partir de 2006/07, apenas o doutoramento passa a ser da exclusiva responsabilidade do sistema universitário, enquanto que os dois primeiros ciclos podem ser ministrados nos subsistemas politécnico e universitário.

Figura 1.2 - Articulação de graus e diplomas do Ensino Superior Português

Ensino Universitário Ensino Politécnico Ensino Superior*

* Nomenclatura de acordo com o Processo de Bolonha (a partir do ano lectivo de 2006/07)

A investigação científica é um dos pilares do Ensino Superior. Fomenta o progresso, o saber estruturado e a resolução dos problemas colocados pelo desenvolvimento social, económico e cultural do País. Para tal, devem ser garantidas as condições de publicação dos trabalhos científicos e de divulgação dos novos conhecimentos, das perspectivas do conhecimento científico, dos avanços tecnológicos e da criação cultural. O artigo 15º da LBSE estabelece os princípios da promoção e criação das condições necessárias ao desenvolvimento da investigação científica nas instituições portuguesas de Ensino Superior.

Os objectivos do Ensino Superior estão declarados na LBSE, bem como o sistema binário nacional e as diferenças entre subsistemas. Neste nível de ensino, há que fortalecer a ligação entre a organização do currículo e a satisfação das necessidades educativas nacionais e regionais, pelos desafios de aproximação à empresa e à sociedade do conhecimento. As organizações internacionais podem conduzir as estratégias com vista a gerar consensos e o desenvolvimento equilibrado no Ensino Superior, a nível europeu e mundial. No contexto de mudança educativa generalizada, salienta-se a importância de analisar as necessárias transformações curriculares exigidas nesse ambiente global.

1. Bacharelato 4. Diplomas e certificados de curta duração 2. Licenciatura bietápica 5. Mestrado

3. Licenciatura 6. Doutoramento 1 3 4 4 2 2.º ciclo 1.º ciclo 5 6 Ciclo integrado (3+2 anos) 1º Ciclo (3 anos) 2º Ciclo (2 anos) 3º Ciclo (3 anos) 3º Ciclo – Doutoramento (PhD)* 2º Ciclo – Mestrado (MSc)* 1º Ciclo – Licencitura (BSc)*

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