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Capítulo I Educação e currículo

2.7 Planeamento e gestão em turismo

As secções anteriores demonstraram a complexidade e os múltiplos impactes gerados em muitos ambientes em ligação com o sistema do turismo. Daqui resulta a certeza de que é necessário construir os processos mais eficientes com vista a um desenvolvimento turístico modelar, satisfazendo os intervenientes eficazmente e respeitando os territórios envolvidos. Esta é a justificação para a análise das atribuições do planeamento, gestão e controlo dos projectos e acções das actividades turísticas. Pretende-se, assim, valorizar os instrumentos que geram eficácias a nível do fenómeno, através de uma intervenção humana metódica.

Em geral, os impactes positivos gerados na economia da comunidade receptora têm justificado o desenvolvimento do turismo (OMT, 1998: 115-253). A literatura da especialidade retrata quase sempre a importância deste tipo de impacte. No entanto, assiste-se a uma crescente tomada de consciência sobre a necessidade de estudar os impactes sociais e culturais, e os físicos e ambientais, que inevitavelmente ocorrem nos espaços locais em resultado das actividades

turísticas, os quais, em diversas situações, são negativos. Os elementos identificados no modelo de Mathieson e Wall (cf. fig. 2.7) referem-se aos impactes de natureza económica, social e física registados nas áreas de destino. A OMT (1997b: 211-276) defende que o turismo pode contribuir para um desenvolvimento económico, sócio-cultural e ambiental sustentável. Esta noção inclui, obrigatoriamente, a análise das variáveis da actividade turística que geram impactes nos âmbitos global, regional e local. As acções e actividades turísticas são, em qualquer destino, necessariamente abrangidas pelo planeamento e desenvolvimento.

É importante conhecer a grandeza das despesas turísticas na economia, de modo a ajudar os planeadores a determinar o grau da sua dependência em relação ao turismo. Tal conhecimento é importante para definir as estratégias mais eficazes para o futuro (Cooper et al., 1998: 146, 183). Os modelos de avaliação económica são complexos, dado este tipo de impacte tem reflexos a três níveis diferentes: directo, indirecto e induzido. O cálculo da despesa exige o conhecimento prévio dos multiplicadores económicos dos sectores desta indústria. Por sua vez, os impactes sócio- culturais resultam do contacto entre visitantes e residentes no destino. Pode dizer-se que, ao nível macro, se assiste ao resultado do contacto entre as características importadas pelos turistas do mercado emissor e as intrínsecas aos residentes do próprio destino. O interesse em preservar a herança cultural do destino, ou em descobrir como essa mesma herança é influenciada pela presença dos turistas, revela as dificuldades próprias no âmbito da investigação cultural. A análise do desenvolvimento turístico num local é uma medida prévia que permite avaliar a situação existente, por forma a ajudar a manter a integridade das heranças culturais existentes. A autenticidade cultural constitui um factor de atracção de turistas em relação a qualquer destino. Contudo, a realidade social possui uma dinâmica própria de mudança, mas o turismo tem a capacidade de a acelerar. O fenómeno turístico inclui deslocações de muitos visitantes a locais com um menor desenvolvimento sócio-cultural em relação ao seu lugar de origem. Por este facto, os turistas transportam os seus valores e estilos de vida para o destino. Durante o seu tempo de permanência (férias) produzem um efeito de demonstração perante os elementos da comunidade local, o que conduz a uma alteração progressiva dos valores sociais e culturais.

desígnio, os planos de desenvolvimento turístico12 têm de respeitar as características físicas dos locais, cada vez mais de acordo com os melhores padrões de preservação e promoção desse desenvolvimento sustentável. Os seus objectivos só se atingem pela implementação de planos em que todas as suas fases deverão ser cumpridas com o maior sentido de responsabilidade, começando no reconhecimento e estudo das características endógenas, passando pela implementação e monitorização, e finalmente, pela reformulação permanente das fases para melhorar os planos (figura 2.9).

Figura 2.9 - O processo de planeamento

Fonte. Cooper et al. (1998: 209)

Todas as organizações, incluindo as pertencentes às indústrias do lazer e do turismo, recorrem a processos diversos para a definição das melhores estratégias de planeamento e de gestão, de modo a alcançar as suas metas (Veal, 1997: 5-8). Trata-se da determinação das políticas e dos planos de acordo com a necessidade de estudar e investigar estes fenómenos humanos. Perante objectos de

12Incluem a realização do estudo de impacto ambiental e o cálculo da capacidade de carga.

Reconhecer a necessidade de uma estratégia é um passo vital em frente Estudo, reconhecimento e preparação

Estabelecer as metas e os objectivos da estratégia

Análise dos dados primários e secundários Implementação de novas pesquisas

Pesquisa de dados existentes

Implementação Recomendações

Iniciar a formulação da política e do plano

Monitorização e reformulação do plano

Porque se quer o desenvolvimento do turismo? Quais os dados disponíveis? Preencher as falhas de informação

Várias recomendações podem ser avançadas para a escolha da política

O processo de monitorização e reformulação é dinâmico e retroactivo para a fase de política e de planeamento

natureza tão dinâmica, é necessária uma actuação com o recurso a instrumentos de planeamento, gestão e controlo. Em qualquer momento torna-se importante a adaptação às tendências e às novas realidades do fenómeno turístico. A explicação da utilidade de planear e gerir o sistema turístico prende-se com as suas múltiplas influências e proveitos verificados na economia, sociedade, cultura e ambiente da região ou país. Também é verdade que estes quatro sistemas, entre muitos outros, influenciam ainda o desenvolvimento da própria actividade turística. Assim sendo, as influências exercem-se reciprocamente.

A conjuntura de uma das indústrias mais fluorescentes no início do presente milénio, torna impensável continuar a considerar a actuação de processos meramente espontâneos, sem regras de organização e funcionamento bem definidas. Pelo contrário, a actividade turística moderna exige uma séria política de planeamento e gestão da globalidade dos planos e acções executados. A sua magnitude, em termos nacionais e mundiais, obriga a agir mais cientificamente, para qualificar o destino, a indústria e a administração turísticas, com o objectivo de formar os profissionais do sector e sensibilizar os próprios turistas. É uma nova realidade, com maiores exigências e implicações a nível da qualificação dos seus profissionais, através de uma educação que deve ser íntegra e valorizar a componente formativa e a humanista.

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