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2 A TRAJETÓRIA DOS TRÊS MOMENTOS PEDAGÓGICOS (3MP): DO

2.2 As correlações existentes entre as etapas da Investigação Temática (IT) e dos

2.2.1 A Investigação Temática (IT)

Paulo Freire, em seu livro intitulado Pedagogia do Oprimido (2011), apresenta o processo de Investigação Temática (IT), o qual procura, a partir dos temas geradores, dialogar e problematizar a realidade concreta, a situação presente e existencial na qual os educandos encontram-se imersos, buscando, com isso, a partir do conhecimento crítico das situações analisadas, a transformação destas situações.

Neste sentido, os temas geradores resultantes da IT são responsáveis pela organização dos conteúdos programáticos a serem trabalhados na perspectiva da educação dialógica e problematizadora. Freire destaca que o trabalho a partir do tema gerador necessita que o educador deva:

[...] propor ao povo, através de certas contradições básicas, sua situação existencial, concreta, presente, como problema que, por sua vez, o desafia e, assim, lhe exige resposta, não só no nível intelectual, mas no nível da ação (Ibid., p. 120).

Com base nas situações significativas que emergiram do mundo da vida dos educandos, os temas geradores direcionam os conteúdos que deverão ser trabalhados em sala de aula. Nesta perspectiva de ensino, que é fundamentada a partir da abordagem temática, os conceitos científicos encontram-se como meios para a compreensão geral do tema que é abordado. Isso é verificado quando Delizoicov, Angotti e Pernambuco, ao discorrerem sobre a maneira que ocorre a estruturação da programação, a partir da abordagem temática, destacam: [...] a abordagem temática pode ser um dos critérios que ajudarão a equipe de professores a selecionar o que dos conhecimentos científicos precisa ser abordado

no processo educativo. Trata-se, então, de articular, na programação e no planejamento, temas e conceitos científicos, sendo os temas, e não os conceitos, o ponto de partida para a elaboração do programa, que deve garantir a inclusão da conceituação a que se quer chegar para a compreensão científica dos temas pelos alunos (2011, p. 273).

Na abordagem temática, os conceitos científicos tornam-se o ponto de chegada da estruturação da programação, ficando o ponto de partida com os temas e as situações significativas que originam a seleção e organização dos conteúdos e o início do processo dialógico e problematizador (Id. ibid.). Por sua vez, estes temas geradores originam-se do processo de IT.

Segundo Delizoicov, Angotti e Pernambuco (Ibid.), o processo de Investigação Temática, caracterizado como codificação-problematização-descodificação que é proposto pelo educador Paulo Freire, estrutura a dinâmica de sala de aula, sendo este processo planejado de modo que sejam exploradas tanto a dimensão dialógica do ato educativo como a

dimensão problematizadora do ato gnosiológico. Essa investigação tem como meta a

obtenção dos temas geradores e também o planejamento de sua abordagem problematizadora no processo educativo.

Giacomini (2014) destaca que, para que seja possível a articulação e implementação do processo da IT na prática, Freire (2011) propôs a investigação da realidade, sendo necessário, para isso, o entendimento da educação como instrumento de conscientização e humanização, na superação das relações injustas de opressão.

Em seu livro, Freire expõe que a dinâmica da investigação temática é um processo em que suas etapas encontram-se em constante interação entre si, as quais se autoalimentam. Esta dinâmica é desenvolvida em cinco etapas, conforme sistematizado por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011), a qual emergiu da releitura realizada por Delizoicov (1991) do terceiro capítulo do livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire (2011).

A seguir, será apresentada sinteticamente cada uma das etapas deste processo:

1ª etapa: Levantamento Preliminar - nesta etapa, são recolhidos os dados obtidos a partir de

documentos, entrevistas com representantes, lideranças, pais dos educandos, conversas informais com a comunidade, contemplando, dessa forma, uma primeira aproximação das situações vividas pelos educandos.

2ª etapa: Codificação - realiza-se a escolha de situações que apresentam contradições, a partir

da análise dos dados coletados, a serem compreendidas pelos professores e educandos. Estas contradições devem representar situações conhecidas pelos educandos, possibilitando, com isso, que estes se reconheçam nelas.

3ª etapa: Círculo de Investigação Temática - esta etapa resume-se à obtenção dos temas

geradores a partir do diálogo entre professores, educandos, pais e representantes da comunidade, das situações escolhidas pelos educadores com base nos dados obtidos e analisados. A confirmação de que são ou não situações significativas para o coletivo de educandos, pais e representantes transformando-se em temas geradores, é realizada nesta terceira etapa.

4ª etapa: Redução Temática - com os resultados que são obtidos, realiza-se, nesta quarta

etapa, a elaboração do programa curricular por meio de conteúdos específicos, e do planejamento das atividades para a compreensão do tema. Nesta etapa, o trabalho é desenvolvido por uma equipe de professores das diversas áreas do conhecimento.

5ª etapa: Trabalho em sala de aula - consiste na implementação do programa construído e do

material didático preparado durante os planejamento das atividades.

Na Investigação Temática, torna-se necessário a participação dos educadores, bem como da comunidade na busca pela identificação das situações de maior relevância sociocultural e econômica da realidade em que os educandos estão imersos, pois, segundo Freire (2011), é a partir do pensamento dos homens, de seus níveis de percepção da realidade, de suas visões de mundo que se encontram envolvidos os temas geradores.

Conforme Delizoicov (1982), os pressupostos da educação dialógica, quanto da IT, não se devem ao fato do educador atuar em contexto alheio ao seu. A Investigação Temática, mais precisamente, surge como uma necessidade na medida em que a interpretação e visão deste contexto não é (necessariamente) a mesma quando analisada por olhares de sujeitos com níveis sociais, culturais, intelectuais e econômicos distintos. O autor destaca ainda o motivo que impossibilita os educadores a definirem, com base apenas em suas análises, os temas geradores a serem trabalhados:

[...] o fato do professor pertencer à sociedade onde a escola está instalada, tendo, portanto, um conhecimento da realidade social, cultural, política e econômica [...] não o autoriza, segundo o prisma da concepção da “educação problematizadora”, a conceber a partir de sua análise apenas [...] os “temas geradores”. Freire é muito claro a este respeito: a “educação problematizadora” é realizada com o educando e não para o educando; esta última, a “educação bancária” encarrega-se de fazer (Ibid., p. 180).

Conforme foi possível analisar, durante o processo da IT, são destacadas inúmeras características as quais se assemelham com aspectos relacionados pela dinâmica dos Três Momentos Pedagógicos como estruturantes de currículos, sendo estas apresentadas a seguir.

2.2.2 Os Três Momentos Pedagógicos como estruturantes de currículos: do Estudo da