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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O ENCAMINHAMENTO

3.4 O Curso de Formação

Com o objetivo de estruturar o currículo da escola com base nos 3MP, o curso de formação também teve sua estruturação a partir dos 3MP, porém com a função de ferramenta didático-pedagógica. Com isso, no 1MP – Problematização Inicial –, realizaram-se os encontros de discussões de questões centrais. No 2MP – Organização do Conhecimento –, ocorreu a confecção dos materiais para o dossiê, o mergulho na comunidade investigada, a obtenção do tema gerador, ou seja, neste segundo momento, ocorreu o Estudo da Realidade. Ainda, neste momento, foram elaborados os planejamentos das aulas e, por fim, no 3MP – Aplicação do Conhecimento -, ocorreram as implementações das aulas com base no tema emergido do Estudo da Realidade.

Para o Estudo da Realidade, foram realizadas entrevistas (Apêndice F) com a comunidade local de onde os educandos emergiam (comerciantes, pais dos educandos, moradores do bairro), com o posto de saúde da comunidade, com a equipe diretiva da escola, professores, funcionários da escola, estudantes e foram realizadas conversas informais, análise de fotografias e documentos. Após este processo, o coletivo de professores categorizou as informações obtidas e, das situações significativas que resultaram (drogas, segurança, transporte, saúde, rede de esgoto, lixo), emergiu o tema que foi trabalhado, sendo este Infraestrutura.

O tema Infraestrutura caracteriza-se por um grande tema que abarca subtemas em seu interior, conforme se pode constatar no esquema a seguir:

Figura 3 – Esquema que sintetiza o tema Infraestrutura e os subtemas incorporados a este.

É válido ressaltar, aqui, que por este tema apresentar uma gama muito grande de subtemas, não foi possível finalizar o trabalho com todos os subtemas até o final do primeiro trimestre com a turma da manhã – tempo destinado para a implementação das aulas – assim, a escola juntamente com as docentes participantes do curso decidiram abordar os outros subtemas que não foram possíveis de ser trabalhados no decorrer do ano.

Verificou-se que o tema Infraestrutura caracteriza-se como um tema de natureza social e político, pois, de acordo com Halmenschlager, os temas desta natureza:

Diferentemente dos temas de natureza conceitual e contextual, a dimensão social tem como pretensão, em geral, a conscientização acerca das decorrências sociais submergidas no tema. A dimensão política é contemplada quando a temática, para além de trazer ao estudo os aspectos sociais, assume o compromisso com a transformação, mediante várias formas de pretensão. Em outras palavras, as questões e os aspectos desenvolvidos a partir do tema têm por finalidade maior a tomada de consciência acerca do problema, incluindo a discussão de perspectivas para uma intervenção na realidade concreta (2014, p. 137).

Almejou-se com o desenvolvimento do tema Infraestrutura discutir com os educandos os problemas que a comunidade enfrenta e, a partir das discussões e das atividades realizadas, possibilitar que estes sujeitos tornem-se cidadãos capazes de intervir e modificar a sociedade que se encontram imersos.

Neste mesmo sentido, segundo Araújo e Muenchen (2014), o tema Infraestrutura por emergir da Investigação Temática, a qual abarca os problemas da comunidade dos educandos, é caracterizado como sendo um tema gerador. Além disso, o tema, de fato, é caracterizado como gerador por apresentar manifestações locais da realidade concreta dos educandos,

Infraestrutura Água Esgoto Lixo Alagamento Saúde Ruas Transporte

propiciando, com isso, um estímulo ao que Freire (1992) denomina de curiosidade epistemológica, dimensão central no ato de aprender, fortalecendo o processo de ensino/aprendizagem e estimulando a cultura de participação.

O tema apresenta ainda características que se aproximam daquilo que o Pensamento Latino Americano em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PLACTS) busca9: a problematização de aspectos relacionados às necessidades da população para a construção de uma agenda de pesquisa local; e a participação dos sujeitos nas tomadas de decisões sobre uma Política Científico-Tecnológica (PCT) nacional, sendo que o tema Infraestrutura surgiu dos problemas da comunidade dos educandos e necessita de conhecimentos científicos e tecnológicos para sua compreensão, possibilitando, com isso, que os alunos participem das tomadas de decisões sobre uma PCT nacional, onde a participação nestas decisões exige que os sujeitos compreendam os problemas locais existentes. Como exemplo desse processo, tem-se a produção de documentos elaborados pelos educandos durante a implementação do tema, onde estes apresentaram possíveis soluções para os problemas que foram discutidos em sala de aula. Os documentos estavam direcionados aos órgãos e pessoas, que, no entender dos estudantes, eram responsáveis pelos problemas apresentados. Com isso, o tema Infraestrutura caracteriza-se também como um tema de natureza FREIRE x PLACTS (ARAÚJO, MUENCHEN, 2014).

Este movimento conhecido como o PLACTS, que se caracterizou como sendo uma das naturezas do tema Infraestrutura, surgiu da insatisfação por parte da comunidade acadêmica da América Latina, mais especificamente de professores universitários argentinos das áreas das ciências naturais e exatas, com a concepção tradicional da ciência e da tecnologia, com isso, estes professores mobilizaram-se em prol do que denominaram de um “projeto nacional” que contivesse um importante desafio relativo à ciência e tecnologia (ROSO, 2014).

Araújo e Muenchen (2014) destacam que o PLACTS fornece elementos para a elaboração de parâmetros para definição de uma PCT que abarque a necessidade de fortalecer a estrutura de pesquisa e desenvolvimento de Ciência e Tecnologia (CT) que atenda interesses de demanda locais.

9 Torna-se importante salientar que estes aspectos foram sinalizados e refletidos após o processo formativo e

início da implementação das aulas. Por este motivo, o PLACTS não foi o referencial teórico do presente trabalho e nem do processo desenvolvido com os docentes, aspecto que será aprofundado nas considerações finais.

Para Roso (2014), o entendimento dos representantes do PLACTS, em relação à CT desenvolvida em países centrais, não necessariamente seria adequado aos interesses e necessidades da população latino-americana, sendo necessária, com isso, uma reorientação da agenda de pesquisa em CT que incorporasse valores locais, havendo maior envolvimento da população nessas decisões. Porém, o PLACTS não repercutiu no campo educacional. Segundo este mesmo autor (Id. ibid.), essa é uma construção que vem sendo trabalhada, nos dias de hoje, principalmente no Brasil, por determinados grupos de pesquisa ligados à educação, como, por exemplo, os trabalhos de Auler (2002 e 2011), Monteiro (2011), Roso, Dalmolin e Auler (2011a), Roso (2012), Roso, Rosa e Auler (2013) e Strieder (2012).