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c Investigações ou inquéritos públicos por iniciativa da instituição

No documento DH instituicoes (páginas 73-75)

283. As instituições nacionais poderão ser dotadas

de competência para instaurar inquéritos ou investigações relativas a possíveis situações de vio- lação de direitos humanos sem necessidade de receber uma queixa formal ou um convite de qual- quer organismo público.

284. O poder de efectuar investigações por ini-

ciativa própria pode ser extremamente importante e abrangente. Crianças, mulheres, pobres, pessoas com deficiências físicas ou mentais, presos e membros de minorias religiosas, étnicas e lin- guísticas são, todos eles, devido à sua condição desigual, particularmente vulneráveis a abusos em matéria de direitos humanos. É irónico, mas em geral verdadeiro, que estes mesmos grupos vulneráveis são também mais susceptíveis de desconhecerem os seus direitos e mecanismos existentes para os proteger. Até quando tenham consciência dos mesmos, as vítimas de violações de direitos humanos nem sempre dispõem de defen- sores que as representem e podem sentir-se extre- mamente relutantes em se dirigir a um organismo oficial a fim de apresentar uma queixa formal.

285. Diz-se por vezes que, desde que os ministé-

rios e departamentos públicos estão legal e admi- nistrativamente habilitados a realizar inquéritos, não existe grande necessidade de duplicar esta função concedendo às instituições nacionais o direito de instaurar as suas próprias investigações. Aos defensores desta tese, deverá responder-se apontando o facto de, em quase todas as partes do mundo, as normas nacionais e internacionais de direitos humanos não terem ainda sido suficien- temente integradas nas infra-estruturas adminis- trativas ou na mentalidade dos agentes do Estado. Por exemplo, um inquérito sobre a habitação rea- lizado sem ter em conta os princípios de direitos humanos pode considerar a questão dos sem- -abrigo como um mero problema de oferta de alo- jamento. Uma abordagem de direitos humanos considerará, entre outros aspectos, a questão do acesso a uma habitação condigna, bem como os direitos de determinados grupos a protecção espe-

cial. Num inquérito sobre a deficiência mental que tenha em conta as questões de direitos humanos, para além de se proceder à análise da protecção jurídica concedida às pessoas em causa, considerar-se-á um leque muito amplo de direitos, nomeadamente os direitos a tratamento, reabilitação, educação, acon- selhamento, segurança económica e social, e pro- tecção contra a discriminação.

286. Uma instituição nacional com competência

para instaurar as suas próprias investigações poderá contribuir significativamente para que os grupos vulneráveis possam fazer ouvir a sua voz e as violações de direitos humanos, onde quer que ocorram, sejam do conhecimento de todos e se tor- nem objecto de preocupação geral.

1.

SELECÇÃO DA QUESTÃO A SER INVESTIGADA

287. Em determinadas circunstâncias, um proce-

dimento de queixa eficaz pode funcionar como um barómetro da actual situação social em ter- mos de direitos humanos, pelo menos na medida imposta pelo mandato confiado à instituição nacional. Os mecanismos de queixa existentes no âmbito do sistema internacional de protecção dos direitos humanos desempenham desde há muitos anos esta função de indicador. As comunicações recebidas ao abrigo de determinado instrumento ou relativas a determinada questão são analisadas cuidadosamente numa tentativa de isolar proble- mas particularmente graves e identificar tendên- cias negativas. Caso seja revelada a existência de tais problemas ou tendências, o organismo em causa poderá utilizar essa informação como base para a instauração de um inquérito.

288. As instituições nacionais com competência

para receber queixas individuais e instaurar os seus próprios inquéritos podem seguir este exem- plo, analisando todas as queixas recebidas a fim de apurar a existência de qualquer tendência ou padrão susceptível de indicar a necessidade de investigações mais aprofundadas.

289. Contudo, pelas razões já indicadas (parágra-

fos 284 e 285, supra), um mecanismo de queixa nem sempre reflectirá com exactidão a verdadeira

situação de direitos humanos. A instituição nacional deverá, assim, garantir o estabelecimento de proce- dimentos alternativos que lhe permitam identifi- car os problemas existentes ou potenciais. Tais procedimentos deverão compreender o desenvol- vimento e reforço das relações com a comunidade e as organizações não governamentais, as quais, devido às funções que desempenham, terão prova- velmente consciência das dificuldades e proble- mas existentes no seio da sociedade. A instituição nacional poderá também desempenhar o seu tra- balho quotidiano de forma a garantir um contacto tão grande quanto possível com a comunidade em que se insere. Os meios de comunicação social podem ser outro importante ponto de contacto para a identificação de deficiências na administra- ção pública, ilegalidades e violações de direitos humanos cometidas por entidades quer públicas quer privadas.

2.

CONDUÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES REALIZADAS POR INICIATIVA DA PRÓPRIA INSTITUIÇÃO

290. No que diz respeito tanto aos poderes neces-

sários como aos procedimentos adequados, não haverá grande diferença entre a investigação de uma queixa individual e um inquérito de âmbito mais geral relativo a determinada matéria ou situação. Para além de óbvias disparidades no âmbito de cada um dos processos, as diferenças têm geral- mente a ver com o objectivo da investigação ou inquérito.

291. Conforme já indicado, a finalidade da inves-

tigação de uma queixa individual será apurar a ocorrência ou não de uma violação ou ilegalidade e, em caso afirmativo, qual a pessoa ou orga- nismo responsável. Embora um inquérito geral possa prosseguir semelhantes objectivos, ter- -se-ão também em conta as implicações mais alar- gadas do problema ou situação. Este âmbito mais alargado exige que os investigadores abordem questões mais difíceis e abrangentes, nomeada- mente as causas da ocorrência das violações, práticas, disposições ou políticas que para elas tenham contribuído, e medidas que deverão ser adoptadas para garantir que a situação melhore ou que as violações se não repitam. Estas questões

raramente serão abordadas de forma satisfatória no âmbito dos procedimentos destinados a garan- tir a reparação de vítimas individuais. Pelo con- trário, a instituição nacional poderá considerar necessário analisar uma série de variáveis de carácter político, social e económico a fim de apurar as causas da violação e formular sugestões úteis quanto a possíveis soluções.

292. Caso um inquérito seja designado de

“público”, a instituição nacional deverá adoptar medidas concretas a fim de garantir que os documentos de base e outros tipos de informação possam ser examinados pelo público em geral e, bem assim, que todas as audiências sejam públi- cas. Dever-se-á tentar dar publicidade ao inquérito de forma a garantir o pronto acesso de todas as pes- soas que disponham de informação pertinente ou estejam em posição de manifestar opinião sobre o tema em análise.

3.

SEGUIMENTO

293. A questão do seguimento relaciona-se geral-

mente com os poderes concretamente atribuídos à instituição no que concerne às investigações ins- tauradas por iniciativa própria. Tal como acontece com as queixas individuais, é provável que a ins- tituição esteja habilitada a transmitir recomen- dações, formuladas com base nas conclusões apuradas, aos departamentos ou organismos públicos competentes. Poderá também ter a facul- dade de utilizar outros poderes para exercer pressão sobre o parlamento, tendo em vista a introdução de reformas legislativas (vide parágrafos 190 e seguintes, supra).

294. Independentemente das suas competências

específicas em matéria de seguimento, a institui- ção nacional deverá envidar todos os esforços para assegurar que os resultados dos seus inquéritos sejam tornados públicos e divulgados tão ampla- mente quanto possível. As medidas adoptadas a respeito das recomendações da instituição deverão ser cuidadosamente vigiadas e, no seu relatório anual, deverá ser incluído um rol das medidas adoptadas pelo poder executivo ou legislativo em resposta a tais recomendações.

No documento DH instituicoes (páginas 73-75)