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3 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, EDUCAÇÃO POPULAR E ECONOMIA

3.3 A EXPERIÊNCIA DE INCUBADORAS

3.3.3 ITCP/USP

No ano de 1997, foi criado um grupo de trabalho de economia solidária na Fundação Unitrabalho, sob a coordenação dos professores Paul Singer, Candido Vieitez e Newton Briand. A partir desse ano, também ocorreram discussões sobre autogestão e cooperativismo na Faculdade de Economia e na Faculdade de História da USP, dando origem a um grupo de estudos sobre economia solidária, orientado pelo professor Paul Singer.

Em 1998, por iniciativa da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (CECAE) da USP, foi criada a ITCP/USP, sob a coordenação de Paul Singer. A criação dessa incubadora partiu da experiência que estava sendo desenvolvida pela CECAE, com seu programa Avizinhar, atuando em favelas próximas à Cidade Universitária.

Em agosto de 1999, houve o lançamento público da ITCP/USP, enquanto projeto CECAE, mas sua portaria de criação data de agosto de 2001 e dispõe sobre a criação do Programa “Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP (ITCP/USP)”. Essa mudança de projeto para programa possibilitou que a incubadora tivesse uma maior autonomia e reconhecimento institucional. Atualmente, a ITCP/USP é um programa de cultura e extensão com vínculo institucional com o CECAE, órgão ligado à Pró-Reitoria da Universidade de São Paulo.

A ITCP/USP é constituída por um coordenador acadêmico, dois coordenadores gerais e pelos formadores. Esses contam com duas estruturas: o conselho orientador (espaço de decisão coletivo) e a reunião de coordenação (espaço executivo que delibera questões cotidianas, constituído por representantes de cada projeto, visto que, atualmente, não há coordenadores de projetos). Cabe salientar que a ITCP/USP já passou por outras configurações, mas atualmente apresenta duas estruturas fixas: conselho orientador e Grupo de Ensino Pesquisa e Extensão Multidisciplinar (GEPEM), que são as equipes de campo. O papel do GEPEM é descrito pela incubadora da seguinte maneira:

Mas é na prática que a estrutura de funcionamento da Incubadora se efetiva. (...) Os GEPEMs, os Grupos de Ensino, Pesquisa e Extensão Multidisciplinar formada por um número pequeno de alunos (de 2 a 6, aproximadamente) têm contato direto com as comunidades [...] Na prática os GEPEMs se transformaram nas células de trabalho da incubadora, e desenvolveram diversos espaços de troca de suas experiências mantendo assim o vínculo universitário com o saber científico, a transcendência dos saberes específicos, inclusive pela intensa troca, e o compromisso integral com as comunidades, se apropriando da universidade para a busca de soluções (ITCP/USP, 2011).

Os GEPEMs são responsáveis pela organização do trabalho de incubação e desenvolvem o planejamento das atividades com os grupos e as trocas dos conhecimentos específicos dos formadores que o integram. Cabe a cada GEPEM planejar a incubação de pelo menos dois empreendimentos que são acompanhados por um educador/formador referência e pelos outros membros do grupo.

É importante destacar que tanto a ITCP/USP quanto as demais incubadoras que fazem parte do campo empírico desta pesquisa, exceto a ITCP/COPPE/UFRJ, não impõem o formato cooperativo prescrito pela lei devido às dificuldades dos grupos populares de se enquadrarem nos critérios jurídicos, conforme discutido no capítulo 1.

A incubadora da USP realiza pesquisas por intermédio de três núcleos: o Núcleo de Gestão – objetiva refletir sobre o tema e adaptar ferramentas utilizadas tradicionalmente na

gestão de empresas capitalistas, visando à apropriação por grupos populares; o Núcleo de Redes – estuda estratégias econômicas voltadas para a articulação de empreendimentos solidários; e o Núcleo de Incubação – ocupa-se com o estudo das características dos grupos incubados, constrói e avalia as estratégias metodológicas coerentes a cada grupo.

A ITCP/USP realiza reuniões de formação interna semanais com um tema específico de estudo. É no Conselho Orientador que são tomadas as principais decisões sobre a atuação da incubadora com a participação de todos os formadores e coordenadores. Nos documentos da ITCP/USP, a autogestão é concebida como princípio fundamental da “Economia Solidária”. O material consultado destaca que “a vivência da autogestão na própria organização da ITCP/USP é, ao mesmo tempo, formadora, coerente e necessária para a incubação de grupos autogestionários”. Para isso, criaram o Conselho Orientador, “espaço de deliberação coletiva acerca dos trabalhos desenvolvidos, no qual todos os integrantes da ITCP/USP participam com direito a voz e voto” (ITCP-USP, 2010).

Ainda sobre a autogestão, a ITCP/USP afirma:

Internamente, no coletivo da ITCP formado entre alunos, professores e funcionários, é colocado em prática o exercício da autogestão. Exercemos esta experiência, no sentido benjaminiano do termo, como algo que pode ser narrado e compartilhado com o outro, numa experiência comum.

Apesar de nos dividirmos em equipes (os gepems) para atuar para além dos muros, mantemos nossa unidade em espaços coletivos internos, tanto de formação como de deliberação, os quais possuem frequência semanal. Estes encontros semanais variam entre o Conselho Orientador; onde se dão as decisões gerais que o grupo irá executar, e os espaços formativos: como Estado da Arte; onde as equipes compartilham os desafios que estão enfrentando, formações temáticas e práticas corporais, como a permacultura do espaço físico. De forma mais estratégica realizamos planejamento coletivo, importante espaço para fortalecer a identidade do grupo e organização do trabalho. O olhar para dentro, atento às questões formativas e burocráticas é exercido pela coordenação interna, composta de alunos e recém-formados, e eleita pelo grupo. Atualmente, a coordenação é formada por três pessoas, as quais possuem mandato de um ano e meio. A cada seis meses se dá um processo eleitoral que muda a composição deste trio. Prezamos muito pela igualdade de posições entre as diferentes categorias da universidade, as relações de autoridade criadas no espaço não são baseadas diretamente pela função ou categoria que a pessoa exerce, mas sim pelo acúmulo que possui em relação às questões de fundo da ITCP. A entrada de novas pessoas no grupo se dá anualmente, por meio de um processo formativo, composto por um curso que tem como um dos objetivos propiciar uma entrada na perspectiva de grupo e não do indivíduo, fortalecendo assim, a identidade do coletivo que se reconfigura com novos integrantes (ITCP/USP, 2011).

Nesse aspecto, a incubadora da USP parece avançar mais do que as demais incubadoras apresentadas, visto que o exercício da autogestão ainda encontra-se em retrocesso nas duas primeiras incubadoras analisadas.