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5.3 A LINGÜÍSTICA APLICADA NOS CBLAs

5.3.4 IV Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada

O IV CBLA ocorreu em 1995, mais uma vez na UNICAMP, e mostrou a expansão (pelo menos numérica) da pesquisa científica nessa grande área do conhecimento. Esse quarto congresso reuniu, em número sempre crescente (577 participantes representando 19 estados brasileiros e alguns países estrangeiros) pesquisadores e pesquisas desenvolvidas no Brasil e no exterior no campo da Lingüística Aplicada em suas principais subáreas temáticas.

Sob o tema geral “Aspectos transdisciplinares da Lingüística Aplicada”, o congresso contou com 106 sessões temáticas apresentadas em 6 conferências, 2 painéis, 14 mesas-redondas e 84 sessões de comunicação.

Apesar de a chamada do tema geral do congresso apontar para uma reflexão sobre a necessidade de entender e estender as fronteiras da área de atuação da Lingüística Aplicada em relação a outras áreas, apenas 1,8% dos trabalhos apresentados focalizaram questões específicas dessa disciplina.

A maioria dos trabalhos continuou a representar as áreas ligadas à língua materna (30,1%) e à língua estrangeira e segunda (7,5%). Somadas a essas duas grandes subáreas já consolidadas, emergiu uma terceira subárea mista, na qual se inserem os trabalhos que relacionam questões de língua materna e língua estrangeira, representando um percentual de 10,5%. Aproximadamente 8% dos trabalhos enfocaram questões de tradução, e apenas 0.9% dos trabalhos, o tema da educação bilíngüe (KLEIMAN; CAVALCANTI; ARROJO, 1994; SIGNORINI, 1998).

O gráfico a seguir apresenta a distribuição dos percentuais de trabalhos apresentados no IV CBLA nas diferentes subáreas.

Gráfico 3 - Percentuais de trabalhos apresentados no IV CBLA nas diferentes subáreas de pesquisa

Embora os números referentes a esse congresso não sejam significativos em termos de pesquisas específicas sobre a natureza da Lingüística Aplicada, seus aspectos disciplinares e transdisciplinares, Signorini (1998) descreveu o IV CBLA como um evento cuja temática geral proposta norteou as atividades desenvolvidas.

Segundo sua análise, o tema fez-se presente tanto em trabalhos específicos – como, por exemplo, na conferência “Transdisciplinaridade na Lingüística Aplicada no Brasil” e na mesa-redonda “Transdisciplinaridade em Lingüística Aplicada” –, como em trabalhos (conferências, mesas-redondas e comunicações) que procuraram mostrar as interfaces possíveis entre outras teorias e áreas do conhecimento com os estudos da linguagem, fossem elas nas subáreas ligadas a língua materna, língua estrangeira, tradução ou educação bilíngüe.

Ainda segundo essa autora, embora as três grandes subáreas (ensino- aprendizagem de língua materna; ensino-aprendizagem de língua estrangeira; tradução, bilingüismo e educação bilíngüe) tenham sido contempladas com a apresentação de trabalhos de pesquisa, verificou-se, nesse evento, um desequilíbrio, incomum até então, entre o número de trabalhos referentes às áreas temáticas de Língua Estrangeira e Língua Materna, tradicionalmente áreas de maior concentração de apresentação de trabalhos de pesquisa nesses congressos. O desequilíbrio verificado indicou uma significativa diminuição de trabalhos em Língua

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Estrangeira e Língua Segunda, separadamente, e o conseqüente aparecimento de um novo grupo de pesquisas mistas nas quais questões relacionadas tanto à língua materna quanto à língua estrangeira eram discutidas.

A definição de um tema central para o congresso teve por objetivo orientar a apresentação dos trabalhos de pesquisa no sentido de imprimir um tom geral às discussões, destacando a importância da transdisciplinaridade não só para o campo da Lingüística Aplicada como um todo mas também para as pesquisas específicas de cada subárea que se propunham a trabalhar em uma perspectiva de intercâmbio com outras teorias significativas para os estudos da linguagem. Ao mesmo tempo, a adoção desse tema sinalizava uma tendência na direção da compreensão do que era a Lingüística Aplicada e dos caminhos para onde se dirigiam suas pesquisas.

Embora tenha havido a percepção de que muitos trabalhos apresentados nas diversas subáreas do congresso tenham contemplado aspectos transdisciplinares, o fato de o tema ser, ao mesmo tempo, norteador do evento e objeto de pesquisa, em se tratando dos questionamentos sobre o campo de estudos da Lingüística Aplicada, não contribuiu para um aumento significativo de trabalhos específicos sobre esse tema.

As discussões referentes a essa temática concentraram-se em dois momentos no congresso: na conferência “Transdisciplinaridade na Lingüística Aplicada no Brasil” e na mesa-redonda que discutiu a “Transdisciplinaridade em Lingüística Aplicada” (SIGNORINI, 1998). Entretanto, anos mais tarde, essas reflexões compuseram um livro (SIGNORINI; CAVALCANTI, 1998) considerado referência quando se discute a temática da transdisciplinaridade no Brasil.

A percepção daqueles que abordaram essa problemática nesse congresso aparece em seus trabalhos e falas, conforme nos relata Signorini (1998):

[...] a transdisciplinaridade em Lingüística Aplicada é vista pela maioria dos participantes como uma prática consolidada de apropriação de conceitos e metodologia de diferentes áreas e tradições interessadas no estudo da linguagem, mas que só mais recentemente começou a ser objeto de reflexão dos pesquisadores (CELANI apud SIGNORINI, 1998, p. 177).

De fato não há, no conjunto dos trabalhos e das discussões desenvolvidas no congresso, uma problematização sistemática do conceito de transdisciplinaridade (MOITA LOPES apud SIGNORINI, 1998, p. 177).

[...] como também não há uma problematização da necessidade de se discutir o tema (KLEIMAN apud SIGNORINI, 1998, p. 177).

Nem sempre o momento e a necessidade estão em sintonia, considerando-se a diversidade e a amplitude de um grupo. Parece ser esse o caso. No entanto, as reflexões efetuadas nesse congresso, sobretudo em relação a essa temática, deram visibilidade a algo que viria ser discutido amiúde nos anos e eventos subseqüentes.

É importante perceber que o caminho apontado para a Lingüística Aplicada não é isento de implicações. Ou seja, adotar essa ou aquela perspectiva, escolher trilhar esse ou aquele caminho na sua concepção de fazer ciência, não é uma atitude neutra pois implica um posicionamento. Da mesma forma, a discussão da transdisciplinaridade para o campo da Lingüística Aplicada é como um cruzamento onde se possibilitam escolhas e posicionamentos, os quais remetem para uma postura ética no modo como se pensa a teoria e a prática em um campo de estudos. Em uma dimensão nacional, como é a proporcionada por um congresso científico da natureza do CBLA, as escolhas dos organizadores do evento, que são também presidentes das associações de pesquisa, são escolhas (em relação à temática de destaque, por exemplo) que denotam também a política lingüística defendida por eles. Assim, tais escolhas são valoradas e devem ser consideradas na dimensão de sua responsabilidade.

Não deixa de ser importante considerar, outrossim, que, no momento em que a UNICAMP realizava pela quarta vez o Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada, em 1995, já estava fundada, no Brasil a Associação de Lingüística Aplicada do Brasil (ALAB). Esta, desde 1990, ano de sua criação, reunia docentes e pesquisadores do Brasil na área de Lingüística Aplicada, em busca de um espaço para discutir as questões políticas e acadêmicas de sua área de atuação.

A ALAB filiou-se à Associação Internacional de Lingüística Aplicada (AILA) e passou a ter uma ativa participação tanto em simpósios e congressos brasileiros e mundiais quanto nos comitês internacionais e executivos da AILA (MOITA LOPES, 1999; OLIVEIRA, 2006).

Não sem reconhecer todo o esforço pioneiro dos colegas da UNICAMP pela realização dos quatro primeiros CBLAs, em 1997, a ALAB, cumprindo seu papel de representante da categoria em nível nacional, assume a organização do CBLA mantendo a mesma periodicidade, porém associando o local de realização do evento ao de atuação de seu presidente em exercício (Caderno de resumos do V CBLA, 1998).

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