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5.3 A LINGÜÍSTICA APLICADA NOS CBLAs

5.3.5 V Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada

Confirmando as resoluções deliberadas em nível nacional, a realização do V CBLA aconteceu entre os dias 31 de agosto e 4 de setembro de 1998, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, já sob a tutela da ALAB. Em sua quinta edição, o congresso apresentou 349 sessões de trabalho distribuídas, ao longo dos dias, em 5 conferências plenárias, 7 mesas-redondas, 329 simpósios, 8 pôsteres, além de 14 minicursos realizados nos dois dias que antecederam a abertura oficial do evento.

O V CBLA, ao contrário do anterior, não propôs um tema geral como norteador do evento, porém as quatro grandes subáreas consolidadas da pesquisa em Lingüística Aplicada no país, já citadas anteriormente, estiveram representadas no evento.

Na introdução do programa e caderno de resumos, a comissão organizadora explicitou a abrangência do encontro no que se refere às áreas de interesse ali representadas bem como as interfaces com outras disciplinas, conforme transcrito abaixo:

Os tópicos abordados nesse encontro refletem as áreas de interesse da Lingüística Aplicada, incluindo ensino e aprendizagem de língua materna, ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras, tradução e educação bilíngüe – com contribuições de outras disciplinas tais como a lingüística, sociologia, informática, estatística, antropologia, psicanálise, psicologia e ciências da educação. (V CBLA, Programas e Resumos, 1998).

É importante destacar nas palavras da comissão organizadora, a clara distinção entre a consolidada área de produção do conhecimento que é a Lingüística Aplicada nesse momento e a Lingüística como área de conhecimento afim, com a qual se pode ter uma interface na busca de entendimento de questões envolvendo a linguagem, sem haver, no entanto, o predomínio da última sobre a primeira.

De certa forma, parece-nos que a quinta edição do CBLA aconteceu em um momento de relativa calmaria nas discussões sobre os rumos da Lingüística Aplicada e sua natureza. Uma vez consolidada sua posição, parecia igualmente consolidada e aceita a idéia de que a disciplina ganhava com o intercâmbio com

outras disciplinas, sem, entretanto, deixar de ser e fazer estudos lingüísticos, conforme podemos compreender das palavras da comissão organizadora do evento sobre alguns dos objetivos do congresso. Vejamos:

Incentivar o estudo e a pesquisa, promovendo o debate de problemas relativos à linguagem e seu papel na construção do conhecimento; estimular a produção científica na área de lingüística aplicada e domínios conexos. (V CBLA, Programas e Resumos, 1998).

Quanto ao levantamento dos trabalhos apresentados nesse congresso, observou-se uma interessante presença de comunicações e mesas-redondas que abordavam temáticas que ultrapassavam as questões puramente de linguagem, de ensino e de aprendizagem, revelando, assim, interseções com outras áreas das ciências humanas.

A razão para a presença dessas novas temáticas na pesquisa em Lingüística Aplicada e das interseções com outras disciplinas pode ter sua explicação em alguns fatos anteriores e paralelos a esse congresso.

O primeiro deles era o próprio CBLA anterior que, com sua temática geral sobre a transdisciplinaridade da Lingüística Aplicada, sinalizou os rumos para a evolução da pesquisa rumo à expansão de suas fronteiras.

O segundo fato situava-se no âmbito das decisões da ANPOLL

(www.anpoll.org.br) que, no ano de 1998, em seu encontro de Campinas, promoveu

um reagrupamento do Grupo de Trabalho (GT) de Lingüística Aplicada em torno de quatro subgrupos temáticos:

1. Processos identitários nas práticas de linguagem; 2. Ensino de português L2 e LE;

3. Transculturalidade, linguagem e educação;

4. Linguagem como prática social em contextos específicos.

Esse reagrupamento demonstrava a realidade da pesquisa que vinha sendo desenvolvida pelos lingüistas aplicados no Brasil naquele momento, seus interesses e fronteiras de pesquisa. Apontava para uma ampliação de seu espectro, revelando que os objetos de investigação da Lingüística Aplicada não cabiam mais dentro de uma classificação genérica e ampla de trabalhos que obedecessem apenas ao

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critério de abordar macrocampos de estudo como o ensino-aprendizagem de língua materna e de língua estrangeira, a tradução ou a educação bilíngüe.

Um exemplo da necessidade que levou a esse reagrupamento temático dentro do GT de Lingüística Aplicada da Anpoll verifica-se no fato de que, dentro dos diferentes subgrupos, podem constar pesquisas cuja base seja o ensino- aprendizagem da língua materna ou de uma língua estrangeira, porém, em função do foco da referida pesquisa, quer seja nos processos identitários, nos estudos culturais ou nas práticas sociais, o trabalho poderá ser identificado dentro de uma ou outra linha temática.

O gráfico 4 apresenta a distribuição dos trabalhos nas diversas linhas temáticas do congresso.

Gráfico 4 - Percentuais de trabalhos apresentados no V CBLA nas diferentes subáreas de pesquisa

Mesmo considerando os acontecimentos em torno da cena política e organizacional da pesquisa em Lingüística Aplicada à época, no V CBLA verificamos que, em termos percentuais, a distribuição dos trabalhos demonstrou, ainda, uma predominância das pesquisas (considerando-se as diferentes modalidades de apresentação) que tratam especificamente de questões ligadas ao ensino-

aprendizagem de língua materna (37,3%) e de língua estrangeira (33,6%). O terceiro maior percentual de trabalhos apresentados nesse congresso refere-se a pesquisas que abordavam questões de linguagem como prática social (11,2%). Pesquisas que trataram de processos identitários representam 5,0% dos trabalhos; as que relacionaram língua materna e língua estrangeira representam 5,3% e, em percentuais menores, porém marcando presença no evento, encontram-se os trabalhos ligados às áreas de tradução (2,9%), educação bilíngüe (3,4%) e linguagem e patologias (0,8%). Trabalhos abordando questões específicas da Lingüística Aplicada representaram somente 0,2% de todo o congresso.