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IV CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento TANIA TEIXEIRA DA SILVA NUNES (páginas 164-180)

Dedicatória

IV CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muito se abordou sobre literatura e corpo, mas o válido e importante no momento é o quanto essa dissertação que ora se encerra acrescentou em conhecimento. Foi possível também, a partir dessas leituras aprofundar a leitura de Mínimos, múltiplos, comuns de João Gilberto Noll sobre a contribuição da alegoria para a significação do sentido nesta múltipla obra que uma vez mais traz o homem andarilho, mas preocupado em revelar um pensamento crítico sobre a condição humana em tempos de modernidade líquida.

Válido é, entretanto, considerar a necessidade de aprofundar essa primeira pesquisa em MMC em outras, podendo ser trabalhadas isoladas ou até em conjunto. 1) Definir, através de aforismos presentes nesta e nas demais obras do autor, “Caminhos pela teia de João Gilberto Noll”, ou seja, como ampliar o universo de temas do autor para que seja viável sugerir outros vieses de leitura de sua obra; 2) Pesquisar se há outras filosofias estéticas e idealistas em João Gilberto Noll como a “Teologia da Aberração” e “Arcos de Ascese” aqui presentes para enumerá- las reunidas e comparadas entre si; 3) Caracterizar a literatura de João Gilberto Noll como uma literatura de exclusão, pontuando características e textos que possam exemplificar esse mundo estético amplificado; 4) Buscar escrever um “Manifesto da arte pela arte em João Gilberto Noll” para chegar a uma representação da ideia de arte para o autor; 5) A partir de Walter Benjamin, investigar a viabilidade de leitura das imagens das fusões e metamorfoses do corpo em toda a obra de João Gilberto Noll. A ideia é fazer um estudo comparativo com as obras de Ovídio e Kafka para pensar a evolução do tema em outros períodos estéticos e autores que se debruçaram sobre esse mesmo tema; 6) Escrever uma nova filosofia que contemple “as coisas e as palavras” no tempo do instante, a partir de aforismos de João Gilberto Noll e 7) Pesquisar a literatura líquida de João Gilberto Noll com o objetivo de defini- la e caracterizá- la.

Esta pesquisa buscava a apropriação da leitura dos contos e micronarrativas do autor para compreender quais seriam as suas verdades sobre a condição humana neste mundo, que é um exemplo específico de um microcorpo narrativo. Buscava ler como as representações do corpo na ficção de João Gilberto Noll e as relações estabelecidas entre corpo e escrita externa vam em Mínimos, múltiplos, comuns uma visão de mundo do autor. E, pretendia examinar as marcas do vivido pelo corpo dos personagens nas narrativas

mínimas que escreveu o autor gaúcho. Para essas inquietações foram encontradas várias interpretações.

A linguagem fragmentada do autor traz sempre a imagem do corpo desossado, em frangalhos, caracteriza ndo a imagem do humano desarticulado com os tempos sombrios de agora. Mínimos, múltiplos, comuns é uma obra que encerra a id eia de muitos, de plural. No entanto, o autor faz um jogo avesso posto que trata de temas que atinge o humano em seu individual: a escassez, a decadência material e espiritual, ausência de sentido de mundo, desfazimento do sujeito e degradação das inscrições e instituições.

A obra pode ser descrita como um labirinto, posto que para essa condição contribui também a singular engenharia literária que o autor empregou a que chama de “a lógica da Criação”. Um labirinto com muitas saídas, às vezes sem saídas, muitas entradas, vasta quantidade de temáticas e sempre uma escrita intensa e tensa sobre o mundo. Uma escrita que encerra uma filosofia a que denominou de “teologia da aberração”. Dentro da própria obra sinaliza a construção de um outro livro que, em um exercício de interpretação, achou- se por bem organizar, objetivando dar corpo a ideia do autor. Por isso é interessante afirmar que a deformação e o avesso são características presentes no mundo ficcional descrito em Mínimos, múltiplos, comuns.

A escrita, na obra de Noll, presentifica uma ilusão autobiográfica, uma obra que contempla a escrita de si e a escrita do outro na mesma teia tecida, uma vez que o narrador aqui é também um autor, que escreve para suportar sua existência uma vez que traz o olhar mais apurado sobre as coisas. Sua experiência de mundo produz aforismos que dentro dos “instantes ficcionais” de Noll tornam ainda mais valiosa a escrita desse universo ficcional. A forma híbrida de suas ideias, ambivalente, imagética e extraviada apresenta a escrita como personagem de um mundo sombrio e quase sem perspectivas. Mas esta não é fruto somente da imaginação, pelo contrário, seu narrador demonstra os bastidores da escrita, a ideia nascendo em um “espirrar” de palavras em fluxo contínuo uma verdadeira transcendência. Por isso mesmo, não é a verdade autobiográfica de Noll que importa, mas a reflexão que ela traz sobre o sujeito e a escrita.

Há neste mundo ficcional de Noll uma luta entre a prosa e a poesia, um duelo entre a escrita e a sina, um corpo-palavra em sombria exaustão, um encontro com a poesia onde tudo pode ser resumido dentro da arqueologia da própria obra, no conceito do corpo das criaturas, na descrição do mundo em erosão, nos horizontes perdidos do instante, no verbo fragmentado e no homem a gemer na margem, mas ainda a resistir pelo olhar, enquanto o corpo vai se diluindo em busca de escapar desse mundo e encontrar a si mesmo. Mas,

mesmo assim, intitula-se um excluído, um “artífice da periferia” e se mostra como poeta a escrever no muro entre os portais: língua e perdição. Essa tentativa de trazer à tona o escondido, de liberar as potencialidades de tudo em que o olhar penetra, através do instante, de querer romper a qualquer custo os limites da visão faz com que Noll aproxime a poesia em sua prosa, que não é só poética, mas também um exercício profundo e feliz de experiência com a linguagem.

A palavra atua com o intuito de consagração à “deusa da ausência”, ausência que acompanha esse homem movente nesse mundo inóspito, embora fique implícito que aqui a palavra é também um brado de resistência em favor do homem agonizante, em estado submerso, que busca salvação pela escrita. Um corpo convalescente, mas que almeja continuar doente para ser ele mesmo sujeito e objeto da própria escrita. A ausência é, também, uma lacuna essencial cada vez mais ampliada, enquanto ele se move e vai petrificando-se ao ver as coisas tão valorizadas e o homem cada vez mais aterrado e disforme nesse mundo, apesar de continuar a exemplo do velho ritmo se questionando. Em um de seus instantes de lucidez indaga: Para que sonhar?

No mundo de coisas e do instante, quando tudo é transitório e instantâneo, esse narrador queima ao ver seu estado ante o excesso de coisas. Aponta para a utilidade exagerada das coisas e a inutilidade do homem em seu convívio. Diante das coisas ele treme, geme, sente-se esterilizado, ou seja, totalmente impotente, dando-se por vencido. Mas, ainda assim, ressalta que existe um insone resíduo de vergonha por todas essas perdas que mais o esvaziam. Por isso só a sombra para escondê- lo nesse mundo que, ao espelhar as coisas em posição superior à natureza, se desidealizava. Noll traz em Mínimos, múltiplos, comuns a complexa realidade do mundo contemporâneo desenvolvimentista na corda bamba entre a civilização e a barbárie, quando já não se possui mais o domínio sobre as coisas, o espelho está rachado, a escrita rasurada, as relações esgarçadas, as coisas muito iluminadas e o homem com olhar saturado, desencantado de si mesmo e atolado no imobilismo.

A forma que caracteriza esses “instantes ficcionais” é a mandala. É o círculo e toda a magia e simbologia que ele representa enquanto imagem da renovação. O que ilumina no centro da mandala é o grande êxtase, a escrita. Por isso, ao concretizar essa obra que é um retrato do mundo de agora, o narrador-escritor foi tragado pelo núcleo da mandala, juntando-se à flor de lótus e a lua, ou seja, passa a integrar a essência da forma depois de ter o seu corpo disforme. Integra-se ao ponto central que representa uma existência superior, seu próprio eu. Assim, salva a figura do escritor. Ao mesmo tempo, perpetua a

escrita que renascerá sempre que a mandala for aberta e alguém tentar atingir esse ponto ínfimo e luminoso. A imperfeição é a desordem entre o divino anestesiado e o mundano supliciado, entre a consciência e o inconsciente, entre o corpo e a ausência. O ponto central é o cerne do mundo, o cerne de si mesmo, o centro da terra, o âmago da escrita que persegue por toda a obra depois de viver também petrificado.

Esta obra, indiscutivelmente, é uma rede felpuda, tecida pelo avesso, plena de sombras porque esse homem precisa se esconder no submerso para cumprir seu ofício embora se considere um desocupado. Uma obra em camadas em que as partes são mônadas: uma unidade iluminada até o leitor se perder para dar à luz ao todo. Um tecido onde a narrativa se estende a partir da visão do narrador em cada objeto que olha, cada lugar que passa e que vai transformando, em imagem, em penumbra, em escrita, cuja única salvação é a palavra que assopra a névoa.

Nesta vasta teia está o homem enredado, buscando contemplar seu último desejo: romper os limites da visão ou receber um desapego gratuito. O olhar do protagonista funda as imagens-choque que perfuram o leitor. O autor está preocupado em embalsamar o instante e também em determinar a situação do olhar no mistério da linguagem. Tudo isso define a concepção de um produto artístico singular.

O centro sempre é buscado por esse narrador, talvez em face de sua própria condição de descentralizado do mundo e de si mesmo, em sua subjetividade achatada e pela escrita que faz da sua vivência e da vontade incessante de atingir o cerne do que quer dizer. Um homem que também é múltiplo: andarilho, poeta, escritor, médico, pai e tantos outros cuja essência é a mesma. Toda essa trajetória que vive esse homem de ser mínimo, comum e múltiplo ao mesmo tempo é vivida em um palco com inúmeros cenários e máscaras, onde é encenada a tragédia da vida no limite da morte, da contravida e do homem sonolento que só tem dentro de si um “suco escuro” a lhe escorrer do interior ou um sono flagelado. Um homem deformado que carrega o extravio como uma doença, uma aberração.

A personage m de Noll – bem como o olhar político do autor sobre seus corpos moventes, atento ao poder da palavra e a diminuir a plenitude das coisas – quer liberar aquilo que o mundo sequestrou dentro dele. Na verdade, a essência da compreensão trágica desse homem está na afirmação múltipla e pluralista de sua corporeidade. São características plurais que afastam sua individualidade.

O mundo recebe uma compreensão trágica em Mínimos, múltiplos, comuns. Esta pode ser definida como a busca da identidade e do reconhecimento sobre a realidade. É, também, a busca do centro em múltiplos instantes, a busca do encontro desse homem com

ele mesmo e com o “o outro”, a busca do centro desse mundo plural. No entanto, é uma busca de entendimento do grande paradoxo excesso de tudo e ausência interior, é uma busca que se faz sempre inalcançável e fugidia na medida que renasce uma outra realidade cada vez mais sombria e amarga em cada instante percorrido. Esta personagem do narrador-escritor precisa sangrar para escrever. Es creve para não morrer, embora esteja já “Mortinho da Silva.” Essa é sua verdadeira identidade. Mas se esse se aproxima da morte é porque só assim nas profundezas do abismo, à beira do penhasco, é possível resgatá- lo. Noll deixa isso patente no aforismo: “Só ganhamos porque colocamos tudo a perder”.

Sombras e nadas. Tempo e história. Memória e lapso. Ideia e Língua são os fios com que Noll tece sua rede ficcional, mas também são elementos para a crítica cultural de uma grande construção alegórica, posto que nela está a “dialética da ruína” e o tempo do martírio semelhante ao barroco, quando valoriza o máximo da expressão.

O “instante” presentifica nesta obra, o agora, em que o homem, as coisas e a palavra estão presos cada um em seu cárcere. Um homem desmemoriado, portanto, sem qualquer resquício de passado e sem perspectiva de futuro. Por isso, o seu instante é o “durante”. As coisas são muitas, mas não para todos e a palavra fala, mas já não salva.

O instante é congelado pela conflagração do olhar para tornar “visível” o objeto de escrita. O instante vive a alimentar o ofício do narrador-escritor que quase sempre é celebrado quando permite mais uma cesura ou sutura, como alude o personagem ao “beijar o seio da escrita”. A angústia, consequência do tempo do instante, tem deixado inúmeras fraturas nesse homem. Noll detecta a primeira delas, na vacância da memória (homem vago), na fluidez do corpo agoniado, à deriva de si mesmo, até no desconhecimento de sua própria existência. Há um sentido mais amplo a ser dado a esse corpo. Narrador em estado- de-morte, afetado pelos embates de “fora”, valorizam o “dentro” porque no interior a matéria é viva, reage aos encontros através da excreção, do vômito, da náusea, da secreção, ou seja, reage ao imobilismo e, assim, purifica-se.

O autor nos fala não só do homem, mas também das palavras. Presentifica nesta obra um mundo sem “viva vibração”. No entanto, mostra que ante a banalização do mundo e das coisas, as palavras e muitas outras verdades precisam ser resguardadas: como a própria substância do homem. Por isso o narrador alisa a pele do Verbo, embora saiba “que as palavras não consertam” (p. 422).

O corpo em Mínimos, múltiplos, comuns é “um caleidoscópio movente” porque ele mesmo assim se define pelo jogo de luz e sombra que joga sobre si mesmo e pelos inúmeros espelhos rachados de que é constituído, ainda que o homem olhe para o avesso

de seu mundo, de seu próprio corpo, mas não encare o espelho, uma vez que apesar de desmemoriado mostra-se sabedor de que há muito já perdeu a forma, encontra-se disforme, apresentando-se como uma sombra, borrão, mancha sucinta, pincelada, perfil de nadas e ninguéns sem qualquer traço de individualidade.

O corpo aqui é invólucro de dois homens: o homem mínimo (o narrador-escritor) que luta para escrever uma obra que traz seu destino cego e a escapulir da morte, mas acaba vítima do próprio mundo que constrói e organiza encontrando-se desmemoriado, sem rosto, sem corpo e empedrado e perdedor para as próprias coisas que seu olhar buscou iluminar antes de se encontrar plenamente saturado de coisas e de mundos. E, o homem comum: o andarilho, aquele que vive em “estado submerso” em estado diário de desfazimento, de diluição, de mansidão, que se move para não ser enterrado vivo, uma vez que é detentor de uma “vida de desperdiçada”, enquanto refugo humano, também é lixo e tem de cuidar do imobilismo, pelo menos, para continuar respirando e resistindo no submundo em que vive. Não anda para fugir do seu “estado de exceção”, mas foge do seu “estado de exceção” ao olhar o mundo inóspito ao seu redor, buscando-se fundir e transformar-se em outros seres e coisas para assimilar energia e resistir. Por isso também quer ser pedra e entrega-se a terra com seu olhar fixo.

O fato é que, para haver em Noll acontecimentos a serem narrados, tem de haver penumbras, sombras, aspereza, o homem perdido nesse “quase”, tem de haver deformação, e, sobretudo, perdição. Esses corpos convalescentes se sentem vencidos, diminuídos diante das coisas e do mundo. São corpos cercados por choques, onde o invólucro tem de ser resguardado para não perecerem pela fusão. São corpos que se transformam sempre, mas se recusam a ser um só. Um corpo que vive de impactos e em estado de “ausência” na contínua busca de acolhimento do mundo, do outro e até de si mesmo pela cura da doença. Por isso escava, escreve até sentir as infiltrações dentro do próprio corpo, escreve até sangrar. Por isso, escreve e m uma precisão inadiável para libertar-se desse mal, dessa ordem reticente que faz da sua existência sempre um quase...

O discurso do “quase” em João Gilberto Noll nesta obra é uma ilusão ficcional. Aproxima o leitor dos acontecimentos que esse corpo extraviado perfaz, mas sempre com o propósito de formatar mais uma imagem que será transformada em outra imagem e mais outra e assim sucessivamente. Esta obra que também é composta pelas inúmeras camadas de imagens pode ser considerada uma composição alegórica. Esse homem quase- morto que vive na contravida, em “estado submerso”, vive diante da presença mínima de um

relampejar do instante sob o olhar de cada narrador. Esse homem é um condenado no tempo do instante. Mas está condenado a quê?

Um dos narradores, o narrador-escritor, um intelectual, que não anula o seu igual. É um condenado a ser artista. Está condenado a costurar o texto continuamente. Está condenado a catar os farrapos do mundo e com ele construir um mundo em cima de cascalhos, uma nova obra. Está condenado ao olhar ininterrupto para as coisas até quase se petrificar como elas; está condenado a tirar das ruínas, do desperdício, do lixo o texto renascido; assim, está condenado a ser um doente surtado, um alegórico, um aforista, um crítico do mundo doente, um observador das sombras, um artífice da palavra escrita, um poeta do verso sombrio, um filósofo em busca de uma ideologia; um teatrólogo a montar tragédias humanas, condenado a ser médico (curandeiro desse corpo continuamente inflamado e vivendo o “durante”); condenado a ser geógrafo e vasculhar o território do “submerso” para encontrar uma única nesga de luz a rebrilhar para tirar – através de sua palavra – esse homem das sombras, carregado de ausências e sem saída para esse múltiplo desarranjo em que vive, embora pareça uma existência incomum, na verdade, presentifica o comum.

A exclusão neste mundo não é da minoria. Noll mostra o comum, o mínimo, mas sua essência está na cegueira da maioria, do múltiplo, da diversidade que o mundo da superfície faz grande força para ocultar. Talvez pudéssemos explicar o mundo de Noll pela tradução do que é mais misterioso, que se emaranha nas próprias raízes do texto, na fonte impalpável das sensações. Entre o visível e o invisível, pode-se dizer que o corpo já não é somente meio da visão e do tato, é depositário destes. A atenção do leitor neste “corpo movente” é que vai conduzir a leitura. Neste caso, a visão, retoma o poder fundamental de manifestar o sentido, mais do que a si mesma, mais do que o vidente-visível.

Mas que destino Noll dá ao corpo em Mínimos, múltiplos, comuns? Noll também escreve assim sua metamorfose. Enfim, apresentando o “avesso das coisas”, o contrário, as ambiguidades que cria, afetados pelo olhar ele metamorfoseia seus corpos, uma vez que é difícil apreender deles uma única forma representativa a partir da grande ferida existencial que traz dentro de si. São quase- mortos, são espectros e diluem-se, transformam-se no mar negro da existência do capitalismo selvagem, onde o dinheiro é um peixe escorregadio difícil no mercado e impossível de pescar. Eis uma conclusão sobre a experiência do corpo e a explosão do avesso em Mínimos, múltiplos, comuns.

E, se a escrita de Noll abraça a teoria de Walter Benjamin para falar de erosão, de submundos, corpos deformados e inertes, entre silêncios e vazios ele nutre com vida esse

manancial cadavérico e faz nascer uma “larva tropical”. Dá vida a um protagonista de uma obra mínima, múltipla e nada comum como instrumento de sua palavra, transformada em semente no lodo de uma escrita suturada, em preto e branco, sob o espaço vazio da página amarelada, quando ao desbaratar o “cativeiro divino ” imaginário do personagem, dá sentido a essa obra em prosa que em seu avesso também é poesia, é teologia e alegoria. Assim, traz à tona um constructo alegórico com a performance de uma genética extraviada, um mundo costurado do avesso, um tecido penumbroso em uma ordem reticente, a exemplo do homem que nele perfaz sua “andeja rotina ”.

Neste sentido, nada em nenhuma leitura de Mínimos, múltiplos, comuns tende a ser desconsiderado. E, também nada é dito por acaso. Nenhuma frase pode ser desperdiçada. Os “achados” estão “perdidos” no meio dessa vasta teia de sentidos que o “olhar” apurado

No documento TANIA TEIXEIRA DA SILVA NUNES (páginas 164-180)