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Passadas as fazes de imersão ao ambiente que foram de extrema importância para me trazer até aqui com mais clareza de que a prática docente não é fácil, porém prazerosa, e que nela é necessária que nós docentes saibamos escutar e respeitar os saberes dos educandos, assim como sermos comprometidos com nossa prática docente estando abertos para nos reinventarmos sempre que preciso, assim como Paulo Freire defende em seu livro, Pedagogia da Autonomia. Entendo que a formação é parte fundamental do processo de ser educador e aqui é apenas o começo de muito aprendizado que vem pela frente.

Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática. (FREIRE, 1991, pág. 58)

Começo esta etapa citando mais uma vez Paulo Freire, pois encontrei nesse pequeno trecho acima algo que sintetiza tudo que vivi e pude aprender em minha pequena “carreira” como docente dentro dos estágios. Destino está parte do trabalho a tratar das experiências em sala de aula, em que foram desenvolvidos tantos no estágio supervisionado de formação de professores III como no estágio supervisionado para formação de professores para o ensino médio.

Quero aqui enfatizar em minhas experiências as impressões sobre como se dá esta relação entre docente e discente, como é a descoberta do fazer-se professor. Não descartando as importantes experiências que foram o estágio I com toda observação feita à escola, que me levou a intervenção sobre a leitura que foi feita no estágio II já citada no capítulo anterior e minhas experiências como bolsista do PIBID, que também se somam neste processo das quais explicitarei melhor mais tarde. Entendo que todas estas etapas se confluem nesse movimento do meu fazer-se docente, o que está me fazendo e vai me fazer ao longo de um trajetória de mais aprendizado do que passar conhecimento, que é a docência. Não obstante a importância que tudo que vivi, dedico este capítulo a relatar, dividir e compartilhar todo esse mundo de experiências que foi o contato real como docente com a sala de aula.

Portanto é no primeiro semestre de 2014 que tudo começa, recebemos as orientações da professora do estágio para mais uma vez repensarmos o que já tínhamos vivenciado na escola até esta etapa. Para voltar as escola e fazer as intervenções, agora

sozinhos, sob a observação do professor da escola, em sala de aula, assumimos o papel de professor, assim é dado a nós a oportunidade de realizar as intervenções.

Supunha-se que com tanto contato com a escola até aqui estabelecido, com a etnografia e as oficinas, já nos sentíamos a vontade com o ambiente escolar. Mas a sala de aula se mostra ainda como um ambiente a parte de todo resto, pois é nela a culminância de todas as diversidades que há dentro da escola. Levando em consideração estes desafios inicias, mais um se soma ao desenvolvimento do estágio, desafio este que deve ser levado em consideração quando se aborda o tema da educação como um todo. Tal desafio é a precarização do trabalho do professor, que vem da desvalorização do seu papel em nossa sociedade. Assim, os professores da rede estadual de educação do Rio Grande Do Norte entram em greve. Este fato foi levado em consideração, como um ponto que se soma na formação docente de nós estagiário e não apenas como algo que atrapalha o andamento do estágio, pois é importante que desde de então reconheçamos que uma educação de qualidade passa não só pela formação do professor ou dedicação a sua prática, mas também a sua própria valorização. Assim também como defende Paulo Freire em seu livro Pedagogia Da Autonomia, defendo a luta dos professores como legitima e parte de sua prática.

A luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que dela faz parte. (FREIRE, 1996, pág. 39)

Portanto, o período de greve foi dedicado ao planejamento da ação didática, pois como defende Regina Haydt (2006, p.103), o planejamento da ação didática é importante para “prever as dificuldades que podem surgir durante a ação docente, para poder supera-las com economia de tempo”. Assim, durante o período da greve nos dedicamos a ministrar estas “docências” entre nós mesmos na disciplina de estágio, na UFRN. Usamos o livro de Anastasiou (2003) “Processo de ensinagem na universidade – pressupostos para as estratégias de trabalho em aula”. Desta forma, usamos as estratégias de ensinagem para pensarmos como seriam nossas docências. Assim, pudemos avaliar quais caberiam nas salas de aula do ensino médio.

Passado o fim da greve, o cronograma estava apertado. Assim, só foi possível ministrar duas aulas. Estas foram muito importantes, pois propiciou meu contato real com os estudantes, como docente. Chega a hora de pôr em prática as competências até

então trabalhadas. E, repensadas estas competências, tais como mostrou Paulo Freire como respeitar os saberes dos educandos, começo minha primeira docência, sempre atentando para a forma de abordar os temas, para que estes possam ser apreciados pelos estudantes da melhor forma possível, e, não apenas passado para eles, pois entendo que o processo de ensino aprendizagem se dá por uma troca e uma soma entre saberes do docente e dos educados. Vale salientar que ainda foi orientado que fizemos uma observação a cada turma que fossemos ministrar as aulas a fim conhecê-las e facilitar ainda mais o planejamento das aulas.

Para pensarmos estas experiências docentes é necessário se pensar o cenário onde estas aconteceram, pois de acordo não só com Paulo freire, mas também por diversos autores que pensam a educação e a didática, a identidade cultural dos estudantes e o ambiente escolar contribuem para a fluência do processo de ensino aprendizagem.

A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é problema que não pode ser desprezado. Tem que ver diretamente com a assunção de nos por nós mesmos. É isso que o puro treinamento do professor não faz, perdendo-se e perdendo-o na estreita e pragmática visão do processo. (FREIRE, 1996, pág. 25).

As duas turmas escolhidas foram turmas de primeiro ano. A primeira foi uma turma de primeiro ano, do último horário da tarde, que é geralmente um horário crucial, tanto para o professor quanto para os estudantes, por ser o último horário, todos já estão bem cansados. A primeira aula tem como tema central “fato social” (ver plano de aula em anexo), conceito trabalhado pelo sociólogo Emile Durkheim, conceito este bem denso também de compreensão. Portanto, penso em como trazer da melhor forma, com exemplos sobre o tema da aula, trazendo para o cotidiano dos estudantes, a fim de fazer com que eles entrassem na aula e eu pudesse aproveitar seus conhecimentos da melhor forma possível, ao invés de apenas escrever no quadro e falar de forma explícita sobre o tema da aula. Dessa forma, a aula foi se formando não só por mim, mas também pelos estudantes. Assim, a aula se deu mais como uma conversa, pedi que escrevessem em poucas linhas, de forma livre, sobre o que tinha entendido sobre o tema da aula, e assim o fizeram inclusive mesmo depois que o “toque de saída” foi dado, só saindo da sala com minha liberação. Começo a entender aqui o que Paulo Freire traz quando fala que educar exige liberdade a autoridade, pois ao mesmo momento que os deixei livre para

realizar a pequena atividade do modo que quisessem estes confiaram em minha postura mesmo estando cientes de que ali era minha primeira aula como docente. Tive a resposta imediata dos estudantes, me senti respeitada como alguém que ali poderia agir também com autoridade. Algo curioso que aconteceu durante esta primeira experiência, foi um dos estudantes dizer: “professora você é muito bonita viu” encabulada, levo na brincadeira e entendo esta situação assim como outras relatas por colegas em conversas informais, que não aprendemos na universidade como lidar com algumas situações dos processos de ensino aprendizagem, e percebo que a prática docente é quem melhor pode ensinar a como lidar com as mais variadas situações em sala de aula. Aprendi nesta primeira aula que o que Freire traz em seu livro Pedagogia da Autonomia quando fala em respeitar os saberes dos educandos, pois foram os saberes destes que me ajudaram a fazer minha primeira aula, talvez sem a participação destes teria sido apenas uma exposição dos meus conhecimentos que tão pouco seriam assimilados.

Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho - a ele ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREITE, 1996, pág. 27).

A segunda turma foi também uma turma de primeiro ano, com um horário também crucial, o horário que antecede o intervalo e, todos os estudantes estão mais eufóricos para que a aula acabe e eles possam aproveitar este que é o maior momento de interação entre eles dentro da escola. O tema da aula é o mesmo da aula anterior, decido adaptar o plano de aula a turma, e fazendo uma avaliação da aula anterior decidi tirar o vídeo que foi usado para a aula anterior.

A avaliação é parte fundamental do planejamento, pois é nela onde são feitos os ajustes para o melhoramento da prática docente ou gestão escolar assim como já citado acima por Marcos Masetto. Como já mencionado através das observações, percebi que os estudantes estavam afoitos pelo intervalo, brincavam durante toda aula jogando bolinhas de papel um no outro, penso em substituir o vídeo por uma brincadeira do jogo das bolinhas, no qual os estudantes jogavam bolinha uns para ou outros respondendo perguntas pertinentes ao tema da aula, trazendo assim, algo do seu cotidiano, a fim de que estes se sentissem mais à vontade e facilitasse o andamento de minha regência. Percebo que esta brincadeira salvou minha aula, que ocorreu de forma muito mais

participativa do que a aula anterior. Logo que toca para o intervalo alguns estudantes ficam na sala e querem continuar a brincadeira, acabo por libera-los para o intervalo, mas eles permanecem em sala de aula, estes começam a me fazer uma enxurrada de perguntas sobre os mais variados assuntos, e percebo neles uma carência que os estudantes trazem de fora, uma necessidade de ter alguém para conversar, alguém que teria incorporado “a condição humana” citada por Edgar Morin em seu livro “a cabeça bem feita - repensar a reforma repensar o pensamento”, onde trabalha o conceito da “condição humana”. Logo, esta condição humana seria um sensibilidade, que mais do que nunca é exigida do professor, para entender o estudante para além do que sua disciplina o afeta. Sendo a sociologia uma ciência humana, seria de fundamental importância o professor trabalhar em esta competência, entendendo o estudante como um indivíduo que não está ali para apenas receber conhecimentos mas também para se integrar a sociedade, para interagir com seus amigos, paquerar, fazer a escola de palco, ou até mesmo por pura obrigação.

Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser tal modo concreto que quase se confunde com a prática. O seu "distanciamento" epistemológico da prática enquanto objeto de sua análise e maior comunicabilidade exercer em torno da superação da ingenuidade pela rigorosidade. (FREIRE, 1996, pág. 22)

Com estas duas primeiras regências aprendi que ser professor não é apenas ser dono de um conhecimento e passa-lo adiante, e que não se é professor, se faz-se professor com cada experiência que se soma e se refletindo sobre cada uma delas. Para freire (1996) ensinar exige muitas competências, entre elas, fazer uma reflexão crítica sobre a prática. Assim, o fazer-se docente vai tornando o professor cada vez mais competente e empoderado em sua prática. Levando em consideração também o livro de Anastasiou, utilizado na disciplina de estágio, penso que as estratégias podem também ser utilizadas nas salas de aula do ensino médio, fazendo algumas ressalvas para pequenas adaptações de acordo com a turma e suas particularidades culturais. Todavia, todas as competências que devem ser trabalhadas pelo professor, trazidas pelos autores e propostas por mim nesta parte do trabalho devem ser feitas com muito planejamento, pois este é parte fundamental do fazer-se docente.

Já no segundo semestre de 2014 tive a oportunidade de viver as experiências da última etapa do estágio em consonância com minha atuação como bolsista do PIBID – ciências sociais. Desta forma, entendo que ambos contribuem e se somam para o fechamento desta etapa da minha formação docente.

Esta parte do relatório não se dedica apenas a relatar, como nas etapas anteriores, mas a analisar esta etapa tão rica que foi a última etapa do estágio, em confluência com as ações como bolsista do PBIBD – ciências sociais. Assim como, demonstrar de forma sucinta minhas aspirações gerais sobre minha prática docente e sobre a docência.

Nesta etapa do estágio é orientado a assumirmos mais uma vez o papel de docentes, só que desta vez com mais empoderamento da própria prática. É indicado que façamos as regências, agora, mais preparados pelas etapas anteriores, assumimos o papel de docente. É orientado também que escolhamos uma turma a fim de estreitar nossos lanços com esta, e sabermos como é esta relação que se dá entre professor e aluno na vida cotidiana. Assim, com um contato mais profundo com os estudantes e o chão da sala de aula, estaríamos mais preparados para iniciar nossa carreira como docentes.

Diante de alguns problemas, principalmente na educação básica pública brasileira, não foi possível acompanhar uma turma só, pois os horários ficaram quebrados. Além de muitos estagiários, a escola ainda conta com o programa PIBID como já citado no capítulo II, sendo que o professor que acompanha os estagiários de sociologia é o mesmo que acompanha os bolsista do PIBID – ciências sociais. Assim, a agenda das aulas de sociologia ministradas pelo Professor estava superlotada. Apesar disso, não se impediu que o estágio e as docências prosseguissem. Aprendi que tudo se soma nestes processo de minha formação docente, as aulas, as intervenções, as visitas a escola, a greve, enfim tudo isso faz parte do cenário da educação Brasileira e do ser professor, portanto o fato de não ter conseguido acompanhar uma turma por inteiro não impede que aprenda nesse processo.

Assim divido minhas docências entre duas turmas de 1º e 3º ano. Agrego neste estágio algo aprendido através das etapas anteriores e faço também observações participantes em algumas turma, a fim de escolher aquelas que mais me sentirei a vontade. Para Freire (1996) todo professor é também pesquisador. Além disso, considero que minha atuação no PIBID – ciências sociais, que busca melhorar a formação do licenciando e de extrema importância para minha formação, soma-se, com mais ênfase, nesta etapa do estágio docente, pois aconteceu em consonância com as

regências ministradas para o mesmo. Pude estar de forma mais participativa nesta etapa do estágio já que o contato com a sala de aula foi o maior já vivido até então, bem maior que nas outras etapas e, considero as experiências vividas no PIBID como experiências de relevância para este relatório. Por isso, dedico o próximo capítulo a elucidar melhor minhas experiências. Assim as docências do PIBID se deram todas em turma de primeiro ano, onde algumas vezes atuei sozinha outras vezes em dupla, trabalhando de forma lúdica os temas pertinentes à sociologia.

Levando em consideração todas as minhas experiências que até aqui se acumularam para que minha formação se desse da melhor forma, algumas questões me saltam aos olhos e nelas me baseio para pensar minha formação docente e minhas futuras práticas.

Entendo que a conclusão de todas as etapas do estágio supervisionado de formação de professores, assim como do curso de ciências sociais(licenciatura) não vão dar a resolução dos problemas da educação, não havendo uma fórmula mágica para se lecionar. Mas este é o espaço de fomentar questões, levantar possibilidades das quais estas serão desenvolvidas e postas em prática, para assim ver qual melhor se adequa com o contexto educacional em que se atua. Já que o sucesso das práticas docentes dependem de um conjunto de arranjos dos quais só é possível se fazer no momento em que refletimos sobre a prática.

Mas estas questões não devem se restringir apenas aos estágios e ao curso de ciências sociais, mas ao ser professor, pois tais práticas e arranjos feitos para melhoria da prática docente e dos processos de ensino e aprendizagem se dão ao longo do tempo, não obstante a formação do professor, que não deve apenas se basear no exercício de tais práticas, mas também na formação, logo esta formação deve ocorrer de forma continuada, assim o professor não deve perder sua curiosidade, Freire (1996) afirma que

“A curiosidade que silencia a outra se nega a si mesma também” (FREIRE, 1996, p.52).

Desta forma, a curiosidade deve ser mantida, a fim do professor se reinventar face aos desafios da educação.

Se há uma prática exemplar como negação da experiência formadora é a que dificulta ou inibe a curiosidade do educando e, em consequência, a do educador. É que o educador que, entregue a procedimentos autoritários ou paternalistas que impedem ou dificultam o exercício da curiosidade do educando, termina por igualmente tolher sua própria curiosidade. Nenhuma curiosidade se sustenta eticamente no exercício da negação da outra curiosidade. (FREIRE, 1996, pág. 51).

Percebo que em toda minha trajetória docente seja nos estágios, no PIBID ou no curso, uma questão sempre me preocupou e se fez presente em minhas práticas - a questão metodológica, ou seja, como é trabalhada não só a disciplina de sociologia mas a educação como um todo. Como atribuir a minha prática elementos que a tornem mais dinâmica e interessante? Percebo que o melhor passo para se trabalhar esta questão é, não só a reflexão sobre sua prática, mas também, a formação do professor, seja com programas como o PIBID, seja pela reforma da estrutura curricular dos cursos de licenciatura, tendo mais disciplinas voltadas a questão da educação, pois é na formação onde este professor ou futuro professor tem os aportes suficientes para se estudar/pesquisar temas pertinentes a educação seja ele qual for.

A escola Anísio Teixeira é considera uma escola modelo, com muitos incentivos de diversos projetos como já citamos na introdução deste relatório. Pode-se perceber que a relação entre toda comunidade escolar se faz de forma positiva. Há um corpo docente comprometido, uma estrutura que em suma precisa melhorar, mas que ainda assim, em face da situação de outras escolas, é boa embora tenha estudantes em sua maioria apáticos.

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