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1. INTRODUÇÃO

1.6. Jaboticaba e seus compostos bioativos

Algumas frutas têm sido consumidas não somente devido a seus atributos sensoriais e preferências pessoais, mas devido aos nutrientes que apresentam (ROOSEN et al., 2007). Dentre os compostos com ação benéfica ao organismo presente nas frutas destaca-se a significativa quantidade de minerais, fibras, vitaminas e compostos bioativos (LEITE-LEGATTI et al., 2012).

Foi definido por Kris-Etherton et al. (2002) que compostos bioativos são substâncias extranutricionais, presentes em pequenas quantidades nos alimentos, as quais apresentam efeito significativo para a saúde. Dentre eles destacam-se os compostos fenólicos, os quais são metabólitos secundários de plantas, e podem ser quimicamente definidos como substâncias que possuem um anel benzeno ligado a uma ou mais hidroxilas, podendo apresentar outros grupos substituintes em sua estrutura, como ésteres, metil-ésteres e glicosídeos (HO et al., 2010). Além disso, estes são subdivididos em duas categorias, sendo os flavonóides e não-flavonóides (ABE et al., 2007; HO et al., 2010).

Inicialmente, os compostos fenólicos são produzidos pelas plantas a fim de protege-las dos ataques físicos como o estresse hídrico, a radiação ultravioleta do sol e dos ataques biológicos por fungos, vírus e bactérias. Dessa forma, estão distribuídos nas folhas, nas sementes e principalmente na casca dos vegetais (ANDRADE, 2006; DOMENEGHINI e LEMES, 2011).

Dentre as propriedades benéficas à saúde atribuídas aos compostos bioativos, destaca-se: atividade antioxidante, atividade anti-inflamatória, atividade anti-carcinogênica, habilidade de prevenir doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, redução do ganho de peso, regulação de hormônios relacionados a obesidade, bem como melhora dos quadros de intolerância à glicose e resistência à insulina (TSUDA et al., 2003; BRITO et al., 2007; DEFURIA et al., 2009; LEITE et al., 2011; WU et al., 2012).

A jaboticaba é uma fruta brasileira amplamente conhecida no país. Pode ser encontrada nas variedades Myrciaria caulifolia Vell Berg e Myrciaria caulifolia (DC) Berg (MATTOS, 1983; DONADIO, 2000) sendo consumida principalmente

na forma “in natura”. É considerada uma fruta brasileira com significativo teor de flavonóides da classe antocianinas, especialmente na casca, as quais são responsáveis pela maioria das cores azul, violeta e tonalidades de vermelhos presentes em flores e frutos (KONG et al., 2003; LEITE-LEGATTI et al., 2012). Estudo prévio observou a presença de 315mg antocianinas em 100g de casca de jaboticaba (TERCI, 2004). Apesar de as antocianinas terem sido descritas como composto majoritário, já foi relatado à presença de outros compostos fenólicos na casca deste fruto, como ácidos fenólicos, quercetina, isoquercitina, taninos (ácido gálico e ácido elágico) e terpenos (REYNERTSON et al., 2006; PLAGEMANN et al., 2012). Além disso, esta fruta é uma boa fonte de carboidratos, minerais (cálcio, ferro, potássio e fósforo), aminoácidos (triptofano, lisina), vitaminas (principalmente vitamina C), fibras solúveis e insolúveis (LORENZI et al., 2000; LENQUISTE et al., 2012). Outro importante composto presente na casca da jaboticaba pertence à classe dos depisídeos, denominados jaboticabinas, os quais apresentam intensa atividade anti-proliferativa (REYNERTSON et al., 2006). Apesar disto, estes compostos são pouco encontrados em produtos feitos a partir deste fruto, como geleias e licores (WU

et al., 2012).

Estudos prévios já demonstraram o efeito da ingestão da casca de jaboticaba em parâmetros metabólicos, hepáticos e oxidativos de roedores (LEITE et al., 2011; LENQUISTE et al., 2012; DRAGANO et al., 2013; BATISTA

et al. 2014). Foi visto que a adição de casca da jaboticaba liofilizada a dieta

hiperlipídica consumida por ratos aumenta os níveis séricos de grelina e HDL- colesterol, sugerindo seu efeito positivo no controle do processo fome- saciedade, bem como no metabolismo lipídico (LENQUISTE et al., 2012). Além disso, Dragano et al. (2013) demonstraram que o consumo da casca de jaboticaba liofilizada foi capaz de prevenir resistência à insulina, reduzir níveis séricos de insulina, além de aumentar o nível de moléculas que participam da via de sinalização deste hormônio, como pIR, IRS-1 e pAkt, em camundongos tratados com dieta hiperlipídica. Estes autores também verificaram a capacidade da casca da jaboticaba liofilizada de reduzir o processo inflamatório no fígado, demonstrando decréscimo de IL-6 e IL-1β após o tratamento.

Com relação à parâmetros oxidativos, Lenquiste et al. (2015) observaram que o consumo do extrato aquoso da casca da jaboticaba foi capaz de aumentar

os níveis de glutationa reduzida, de glutationa peroxidase plasmática e hepática, bem como de catalase hepática em ratos que consumiram dieta hiperlipídica. Corroborando estes resultados, Batista et al. (2014) observaram redução da peroxidação lipídica no fígado e cérebro, além de aumento dos níveis das enzimas glutationa peroxidase e superóxido dismutase em animais que consumiram a casca da jaboticaba liofilizada juntamente com a dieta hiperlipídica. Em revisão, Fraga et al. (2010) descrevem a capacidade dos compostos fenólicos de estabilizar radicais livres como sendo seu principal mecanismo de ação antioxidante, permitindo reequilíbrio da fisiologia celular.

A atividade anti-proliferativa da casca da jaboticaba em células de leucemia e câncer de próstata foi verificada por Leite-Legatti et al. (2012). Entretanto, existem poucas evidências na literatura científica que relacione a casca da jaboticaba e o tecido prostático. Apesar disto, estudos avaliando o efeito de outros compostos naturais ou compostos fenólicos isolados na próstata sugerem efeito benéfico sob diversos tipos de alterações. Foi observado por Khan e Mukhtar (2013) que compostos fenólicos provenientes do chá verde foram capazes de reduzir a expressão de NFkB e IGF-1, bem como a proliferação celular na próstata de roedores com câncer. A administração de quercetina, também apresentou efeitos positivos, reduzindo a expressão de AR e proliferação celular, além de reduzir expressão de marcadores anti-apoptóticos e aumento de apoptose na próstata ventral e dorso-lateral de ratos com câncer (SHARMILA et al., 2014). Além disso, Vanella et al. (2013) confirmaram a capacidade do ácido elágico em reduzir os níveis de VEGF, FGF e IL-15 em cultura de células de câncer prostático. Corroborando estes autores, Wang et al. (2016) verificaram redução nos níveis de VEGF em células de câncer de próstata em cultura, após tratamento com chá verde e/ou quercetina. Já, a atividade benéfica das antocianinas em relação ao estresse oxidativo causado pela hiperplasia benigna de próstata foi relatada por Li et al. (2013) que verificaram redução da peroxidação lipídica, bem como aumento na capacidade de absorção do radical oxigênio (ORAC), glutationa total, enzimas superóxido dismutase e glutationa peroxidase na próstata de camundongos.

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