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3.2 As missões jesuítas de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba

3.2.3 Os Jesuítas na Paraíba

Os Jesuítas foram os primeiros missionário a chegarem à Paraíba, sempre enviados pelos superiores da Ordem que residiam em Pernambuco. Em 1585, quando se consolidou a vitória dos portugueses na guerra contra os indígenas Potiguara, um ano depois da expulsão dos franceses, foi fundada a cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves, e, nesse mesmo ano, Frutuoso Barbosa, o primeiro Governador da Capitania Real da Paraíba (1582-1585 e 1586- 1592), requisitou a permanência dos padres Jerônimo Machado, Simão Travasso e Baltasar

106 Carta do missionário jesuíta na aldeia do Guajirú, Pe. Pedro Taborda, ao capitão-mor do Rio Grande do Norte, Domingos Amado. Guajirú, 14 de Julho de 1715. Fonte/chamada: AHU_ACL_CU_018, Cx. 1, D. 81.

107 Carta do missionário jesuíta da Aldeia do Guajarú, Pe. João Guedes, ao Ouvidor Geral do Rio Grande do Norte. Aldeia do Guajarú, 23 de Outubro de 1716. Fonte/chamada: AHU_ACL_CU_018, Cx. 1, D. 73.

108 O fato de os jesuítas terem na missão de Gujiríu “tapuias” (Janduins e Caboré), depois de estabelecerem paz com estes povos, causou preocupação aos senhores de terras, pois uma vez aldeados e na Missão, estes índios já

Lopes, que haviam participado no processo de conquista e eram membros da Companhia de Jesus.

O governador argumentava que a presença desses religiosos na capitania era de grande importância por eles conhecerem a língua dos índios e, assim, servirem de intérpretes nas negociações. Coube também aos Jesuítas a função de cronistas; como tal, produziram a obra “Sumário das Armadas que se fizeram e guerras que se deram na conquista do Rio da Paraíba” (LEITE, T. I, 2004. p. 179).

Os Franciscanos, Carmelitas e Beneditinos também fizeram parte do cenário dos primeiros anos da colonização da Capitania. O mapa a seguir, mesmo datado posteriormente, mostra os pontos e espaços ocupados pelas ordens religiosas desde o primeiro governador.

Figura 8 — A Capitania da Paraíba e presença religiosa

Jesuítas

Benedotinos

Igreja da

Miserricordia

Carmelitas

Igreja Matriz

Franciscanos

Fonte: Reis, 2000, cd-rom e cópia do original109 do Arquivo de Haia. Recorte do mapa de Johannes Vingboons (1640)110.

Apesar dos privilégios — posse de terras, engenhos e fundação de igreja —, a permanência dos Jesuítas na Paraíba foi relativamente curta, de 1585 a 1582. Os inacianos, por serem contrários à escravidão dos índios aldeados, entraram em conflito com os colonos e com o governador Feliciano Coelho (1595-1599). Somava-se ao conflito em torno da mão-de-obra indígena o problema causado pela transferência da aldeia de Pitagibe para uma região mais interiorana111. Os religiosos não aceitaram a transferência alegando que os interesses do

governador eram de ordem militar e econômica. Prevalecendo a orientação do governador, a missão foi transferida, e, em 1592, todas as missões jesuítas da Paraíba ficaram sob a administração dos Franciscanos. “Existem vários relatos na literatura de época em que os Franciscanos foram muito mais atenciosos para o cumprirem as ordens reais do que os Jesuítas; essa rebeldia custar-lhes-ia, em alguns momentos, muito caro” (SANTOS, 2015, p. 41), incluindo a expulsão da Capitania.

No entanto, há uma consulta feita por moradores da Paraíba ao Conselho Ultramarino, com data de 1675, solicitando ao Rei a assistência dos inacianos, uma vez que “carece aquele povo da assistência dos padres da Companhia, para lhe encarregarem a doutrina de seus filhos”.112 Essa petição, solicitando o retorno oficial dos Jesuítas à Capitania, é a

primeira de uma séria que surge na segunda metade do século XVII e início do século XVIII. Vale notar que as consultas ao Conselho Ultramarino e petições direcionadas, diretamente, ao Rei não sublinhavam a importância da Companhia de Jesus na administração

109 João Pessoa (Paraíba) - ca. 1637-1645 (1647) 'FREDERICA CIVITAS'. Autor: Gravura de Jan van Brosterhuisen.

Fonte: Detalhe de uma imagem que ilustra o livro de Barlaeus (BARLAEUS - 1647), estampa nº 26, exemplar da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Um destaque especial é dado à planta da cidade. Junto ao rio, aparece o antigo Forte de São Felipe. Com maior importância, é assinalado o antigo Convento Franciscano, transformado em área fortificada, à semelhança do que os holandeses fizeram no Recife, com o Convento Franciscano de Santo Antonio. Na cidade, as quadras são representadas em planta, diversamente do desenho de 1634. São assinaladas cerca de seis quadras ocupadas de forma incompleta, indicando-se as áreas construídas e os terrenos abertos, além de dois caminhos de saída, a sudeste e a noroeste, com algumas casas isoladas. A cidade de Paraíba teve seu nome alterado durante o período holandês, tendo sido denominada Cidade Frederica, como vem assinalado no desenho. Como nos outros casos, o desenho não é datado nem assinado, sabendo-se apenas que teria sido elaborado com base em levantamento realizado entre 1635 e 1644. Esse, como outros semelhantes, é um trabalho de cartógrafo experiente, podendo ser baseado nos levantamentos realizados por Cornelis Golyath, Marcgrave, Drewisch ou Van Waalbeeck. Adonias atribui a gravação a Jan van Brosterhuisen (ADONIAS - 1993).

110 Disponível em: <http://www.sudoestesp.com.br/file/colecao-imagens-periodo-colonial- paraiba/680>. Acesso em: 11 de ago. 2016.

111As missões jesuítas na Paraíba eram denominadas “aldeias de fronteiras”, por estarem no entorno da cidade de

Filipéia e servirem de para proteger a cidade das possíveis invasões de europeus e “indígenas inimigos”.

112Consulta do Conselho Ultramarino, ao príncipe regente D. Pedro, sobre a representação dos moradores da Paraíba, em que pedem assistência dos padres da Companhia de Jesus. Lisboa, 7 de out. 1675. Arquivo Histórico Ultramarino, Portugal. Fonte/chamada: AHU_ACL_CU_014, Cx. 1, D. 94.

temporal das aldeias indígenas, mas reforçavam a importância dos filhos de Inácio para a educação dos colonos.

[...] Os moradores daquella capitania lhe pediam em grande instancia que se representa a Vª Mag.de o que tem de ver fundado em em ella hum colégio da Companhia de Jesus, e as grandes casas, que havia para isto de lhes conceder. Como era a falta da doutrina que padeciam eles, e seos filhos e escravos. E o gentio que está situado pelo certão de toda aquella capitania ´por falta de missionários que os cultivem e reduzão à fé [ e como?] para este effeito não havia sujeitos mais aproposito, que os Religiosos da dita Comp. [...]. Nesta mesma conformidade escrevem a Vª Mag.de os oficiais da Camara, e Vigario da dita Capitania, o Governador, o Bispo de Pernambuco, pedindo todos uniformemente lhes conceda este [sic113].114

Em 1683, a Casa dos religiosos foi reaberta como um primeiro passo em vista à fundação de um colégio. A retomada da ação jesuítica na Paraíba foi possível devido às doações dos próprios moradores, listadas pelo Provincial da Ordem da época: “quatro casas de pedra e cal; um sítio com casas no Forte Velho; um sítio próximo ao mar; um sítio na praia de Lucena; duas sortes de terra em Camaratuba, com oito currais de gado e 20 peças de Guiné; entre outras doações. Sete anos depois, em 1700, o próprio Rei, D. Pedro II, reforçou a retomada dos Jesuítas à Paraíba e, por decreto, determinou o governo espiritual deles em algumas missões. Ainda no mesmo decreto, definiu que a estes religiosos fossem concedidas côngruas e uma residência115.

Em 1745, sob a liderança do Pe. Gabriel Malagrida, foi fundado um seminário para formação do clero e estudantes internos, com aulas de Latim e Humanidades. Em 1749, a fundação do colégio para filhos dos colonos foi aceita por D. João V, que permitiu que os moradores da capitania contribuíssem com 200$00 réis na edificação dos dois edifícios com fins educativos. A doação foi concedida mediante o compromisso dos religiosos de criarem no colégio aulas de Filosofia, Latim e primeiras letras.

O que aqui expomos deixa evidente que a maior ocupação dos Jesuítas na Paraíba nos séculos XVII e XVIII era com a educação. Mesmo que as atuações com os índios não tivessem cessado, a presença prioritária dos missionários residentes na capitania era no seminário e no colégio. Os poucos inacianos que dedicaram seu tempo com os indígenas na Paraíba na segunda metade do século XVII estiveram em estreita ligação com o Colégio de Olinda, mas não consta que havia vínculos de missões indígenas com a Residência da Paraíba

113 A apalavra no documento parece ser Espico, mas não a transcrevemos por não achar equivalência e significado no português atual.

114 Consulta do Conselho Ultramarino, ao rei D. Pedro II, sobre as cartas do capitão-mor da Paraíba, Alexandre de Souza Azevedo, e de outras autoridades da Paraíba, acerca dos moradores quererem fundar um colégio da Companhia de Jesus. Lisboa, 15 de nov. 1683. Fonte/chamada: AHU_ACL_CU_014, Cx. 2, D. 123.

115 Fonte/chamada:Portugal, Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), AHU_ACL_CU_014, Cx. 3, D. 238. Lisboa, 6 de nov. 1700.

e com o colégio de Olinda, como assegura Leite, 2002: “aldeias propriamente ditas, de Residência, nunca as houve dependêntes da casa da Paraíba, exceto no período inicial da conquista” (LEITE, 2004, Tomo V, p. 359).

3.3 Processo de expulsão dos educadores “rebeldes traidores”: a Lei de 3 de setembro de