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estudos dos pobres e dos ricos; procure em particular o progresso de cada um dos seus estudantes. (Ratio, Regra 20, comuns a todos os Professores das Faculdades Superiores).

O professor dos colégios jesuítas tinha em comum a formação própria da Ordem que seguia os mesmos conteúdos, métodos e espiritualidade (até o mesmo modo de vestir) em qualquer parte do mundo que tivesse uma Casa de Formação. Não podemos esquecer que os Exercícios Espirituais, o Ratio Studiorum e as Constituições eram a base da formação de um jesuíta. Dessa forma, a pedagogia e o cotidiano de um professor inaciano, selecionado e destinado ao ensino, levavam essa base consigo. Mesmo que em alguns contextos culturais como China, Japão e Brasil, se adaptações com linguagens distintas dos documentos fundantes fossem necessárias, seriam feitas.

Se considerarmos que os professores dos colégios jesuítas traziam em suas práticas um modo de compreender o mundo (católico/tridentino/europeu) e que eles intencionavam, a partir do currículo e métodos definidos pelo Ratio, reproduzir compreensões e práticas culturais ocidentais e religiosas via educação, fazendo dessas compreensões normas sociais entre colonos, indígenas, escravos e europeus que viviam em Pernambuco e anexas, podemos dizer, por comparação, que o perfil do professor dos colégios jesuítas, sobretudo no século XVIII, inseria-se no conceito geral do professor do século XVI ao XVIII definido por António Nóvoa:

Uma das tarefas fundamentais de todas as sociedades humanas organizadas é a transmissão, de geração em geração, de um modo colectivo de viver e de compreender o mundo, é a reprodução de um conjunto de normas sociais através das quais os homens dão forma a sua existência(NÓVOA, 1987, p. 413)196

O Jesuíta professor, de acordo com a citação acima, inseriu-se no contexto de agentes culturais e acompanhou a ação ideológica de uma sociedade e reinos em expansão, mesmo os inacianos tendo sua organização, seus remates próprios para a educação e suas adaptações regionais.

4.4 O Diretório dos Índios e o novo projeto educacional

O Diretório pombalino de 3 de maio de 1757, além de pôr fim ao governo temporal dos Jesuítas nas Missões e elevar as aldeias a vilas, determinou que fossem criadas, nas novas

196 Do Mestre-Escola ao professor do ensino primário Subsídios para a história da profissão docente em Portugal (séculos XV-XX). Disponível em: <http://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/2200/1/1987_3_413.pdf>. Acesso em: dez. 2016.

vilas, escolas para meninos e meninas197. Os artigos 7 e 8 se referem ao ensino das crianças nativas em escolas públicas, e os artigos 84 e 86 versam sobre o esforço que os Diretores deveriam fazer para substituir a língua geral, o nheengatu, pela língua portuguesa:

Será um dos principais cuidados dos Diretores, estabelecer nas suas respectivas Povoações o uso da Língua Portuguesa, não consentindo por modo algum, que os Meninos, e as Meninas, que pertencerem às Escolas, e todos aqueles Índios, que forem capazes de instrução nesta matéria, usem da língua própria das suas Nações, ou da chamada geral; mas unicamente da Portuguesa, na forma, que Sua Majestade tem recomendado em repetidas ordens, que até agora se não observaram com total ruína Espiritual, e Temporal do Estado. (Artigo 06 do Diretório dos Índios).

Portanto, o Diretório tinha como um de seus alvos as alterações na educação da América portuguesa. Para António Banha de Andrade, o documento marca o início das reformas pedagógicas intencionadas pelo Rei Dom José I e implementado pelo ministro Carvalho e Melo, uma vez que o Diretório interfere, contrariando, diretamente na organização administrativa e nas práticas de ensino utilizadas nas escolas das aldeias indígenas nas quais se falava e ensinava a “língua própria das suas Nações”, a “Língua que chamavam geral”, e que era considerada pelo Rei como “invenção verdadeiramente abominável, e diabólica, para que privados os Índios de todos aqueles meios, que os podiam civilizar, permanecessem na rústica, e bárbara sujeição”198.

À educação, é imprimido um caráter laico e um ideal civilizador, tendo o Estado o papel de gestor do novo plano de educação e não a Companhia de Jesus. A obrigatoriedade da língua portuguesa passou a ser a face explícita da renovação e distanciamento do método de ensino dos inacianos, que, desde o século XVI, adotaram o Tupi-Guarani como a língua geral

de comunicação possível entre tantas encontradas no Brasil, como ressalta Cardim:

Todas estas nações [...] ainda que diferentes, e muitas delas contrárias um das outras, têm a mesma língua, e nestes se faz a conversão, e tem grande respeito aos Padres da Companhia [...] Outros que chamam Nhandeju, também de diferente língua. Há outros chamam Macutu. Outros Napara; estes têm roças. Outros que chamam Cuxaré; estes vivem no meio do campo do sertão. Outros que vivem para a parte do sertão da Bahia, que chamam Guayaná, tem língua por si. Outros pelo mesmo sertão, que chamam Taicuyu vivem em casas, têm outra língua. Outros no mesmo sertão que chamam Cariri. (CARDIM, 2009, p. 208)

197 No capítulo anterior, ao tratarmos do Diretório Pombalino, enfatizamos a transição das Missões vinculadas ao Colégio de Olinda a Vilas determinadas pelas medidas do Diretório, entendendo estas medidas como parte das estratégias pombalinas em vista a expulsão dos Jesuítas.

198 Diretório que se deve observar nas Povoações dos Índios do Pará, e Maranhão, enqua nto Sua Majestade não mandar o contrário. Disponível em: <http://www.nacaomestica.org/diretorio_dos_indios.htm>. Acesso em: 5 mai. 2015.

Diante do quadro da diversidade linguística, os Jesuítas, como meio de aproximação aos povos indígenas e como meio de catequização e ensino, contrariaram a ordem régia que determina o ensino na língua portuguesa. Segundo Leitão (2011), as razões pelas quais muitos Jesuítas ignoraram as ordens régias – de usar a língua portuguesa para catequese - e fomentar o uso da língua geral junto aos índios, era um meio de dificultar o contato direto dos colonos com os aldeados e um meio de facilitar a fixação das aldeias formadas (LEITÃO, 2011, p. 33).

Em Pernambuco, coube ao Governador Luís Diogo Lobo da Silva a aplicação do

Diretório, constituindo assim um compromisso oficial do Estado com a educação, como demostra o documento enviado ao Conselho Ultramarino199 em março de 1759. Assim estabeleceu-se em Pernambuco o Diretório, assumindo o governador da capitania o direito de criar as aulas régias, contratar e remunerar professores, selecionar manuais, instituir a inspeção das práticas pedagógicas e construir duas escolas de ler e escrever em cada vila. Assim se concretizaram as primeiras medidas do Marquês de Pombal no sentido de reforma do ensino das primeiras letras e pela obrigatoriedade do ensino da língua portuguesa nas aldeias.

E como esta determinação é a base fundamental da Civilidade, que se pretende, haverá em todas as Povoações duas Escolas públicas, uma para os Meninos, na qual se lhes ensine a Doutrina Cristã, a ler, escrever, e contar na forma, que se pratica em todas as Escolas das Nações civilizadas; e outra para as Meninas, na qual, além de serem instruídas na Doutrina Cristã, se lhes ensinará a ler, escrever, fiar, fazer renda, costura, e todos os mais ministérios próprios daquele sexo (Artigo 7 do Diretório Pombalino).

Para a reforma do ensino visando a modernização da Educação e dentro de um contexto luso-brasileiro do século XVIII, quando se previa que os habitantes das vilas deveriam ser civilizados, ser educados nos moldes do Diretório e trabalhar na agricultura, pecuária e pesca. O aprendizado da língua portuguesa e a proibição das línguas nativas e da língua geral, nas Missões e nas casas de ler e escrever, eram uma condição indispensável na concepção de Pombal200.

Apesar da busca de distanciamento das práticas educativas dos inacianos, os artigos 3 e 4 do Diretório se assemelham às orientações religiosas e morais dadas pelo Ratio

199 Direcção com que interinamente se devem regular os Indios das novas Villas, e Lugares, que S. Magestade Fidelissima manda eregir das Aldeas pelo que pertence as q estão cituadas nesta Cappitania de Pernambuco, e suas annexas emquanto o mesmo Snr. não determina o contrario, dando nova e melhor forma par a o seu regimen. Anexada ao ofício do governador, de 6 de arço de 1759. Fonte/chamada: AHU_ACL_CU_015, Cx. 89, D. 7202, rolo 120.

200 Sempre foi máxima inalteravelmente praticada em todas as Nações, que conquistaram novos Domínios, introduzir logo nos povos conquistados o seu próprio idioma, por ser indisputável, que este é um dos meios mais eficazes para desterrar dos Povos rústicos a barbaridade dos seus antigos costumes; e ter mostrado a experiência, que ao mesmo passo, que se introduz neles o uso da Língua do Príncipe, que os conquistou, se lhes radica também o afeto, a veneração, e a obediência ao mesmo Príncipe (Artigo 06, Diretório dos Índios).

Studiorum201, sobretudo no que diz respeito ao conhecimento da Sagrada Escritura e os valores cristãos.

Não se podendo negar, que os índios deste Estado se conservaram até agora na mesma barbaridade, como se vivessem nos incultos Sertões, em que nasceram, praticando os péssimos, e abomináveis costumes do Paganismo, não só privados do verdadeiro conhecimento dos adoráveis mistérios da nossa Sagrada Religião, mas até das mesmas conveniências Temporais, que só se podem conseguir pelos meios da civilidade, da Cultura, e do Comércio: E sendo evidente, que as paternais providências de Nosso Augusto Soberano, se dirigem unicamente a cristianizar, e civilizar estes até agora infelizes, e miseráveis Povos, para que saindo da ignorância, e rusticidade, a que se acham reduzidos, possam ser úteis a si, aos moradores, e ao Estado: Estes duos virtuosos, e importantes fins, que sempre foi a heroica empresa do incomparável zelo dos nossos Católicos, e Fidelíssimos Monarcas, serão o principal objeto da reflexão, e cuidado dos Diretores (Artigo 3 do Diretório Pombalino).

Um paralelo que podemos fazer e que marca a diferença entre ação educativa jesuítica nas aldeias e educação pombalina nas vilas é que a primeira visava, com as casas de ler e escrever, a instrução202 religiosa, já a prática do ensino das primeiras letras nas novas vilas

surgiu vinculada ao projeto civilizatório e dirigindo-se à preparação de futuros militares, uma vez que as vilas estavam posicionadas nas fronteiras das capitanias e tinham missão de defesa e demarcação territorial, como vimos anteriormente. Outra diferença é que os Jesuítas, segundo Serafim Leite, desde o século XVI, haviam feito a opção de ensinar as crianças que iniciassem a frequência às aulas com, no máximo, 12 anos. Desde Nóbrega como provincial, os inacianos perceberam que o trabalho com os índios adultos não alcançava os objetivos das casas de ler e escrever, pois os adultos logo esqueciam o que lhes eram ensinados, agindo como “murta”. Já o Diretório permitia reunir dezenas de alunos sem uma triagem de idade e grau de dificuldades de aprendizagem, o que leva à interpretação de que o mesmo, em seu projeto de educação civilizatório, compreendia as diferenças como um problema a ser amenizado. Para Leitão (2011),

a política indigenista, de forte pendor administrativo, procurara gerir o social de modo a garantir a plena integração do ameríndio na sociedade colonial, numa clara rendição da maioria a uma minoria. O projeto civilizatório patente no Diretório e edições adaptadas, suas sucedâneas, enfatizara a importância da edificação cristã dos índios, a europeização dos costumes, o aportuguesamento de hábitos e rotinas.

As mudanças administrativas específicas na educação que se deram com a exclusão dos Jesuítas das sete missões do Colégio de Olinda e a implementação do Diretório em Pernambuco, por meio do Documento Direcção com que interinamente se devem regular os

201 A Ratio direcionava suas orientações aos professores o Diretório aos Diretores das Vilas.

202 Serafim Leite faz a diferença entre educação e instrução. A instrução tinha por propósito o ensino da doutrina cristã, de costumes e da moral católica; a educação — que poderia contemplar a instrução — visava o ensino das Letras, Gramática. Filosofia, etc.

Indios das novas Villas, e Lugares, que S. Magestade Fidelissima manda eregir das Aldeas pelo que pertence as q estão cituadas nesta Cappitania de Pernambuco, e suas annexas emquanto o mesmo Snr. não determina o contrário, dando nova e melhor forma para o seu regimen, de março de 1759, começaram com o alvará de 28 de junho de 1759 — a mais significativa mudança para este nosso estudo —, quando os Jesuítas foram proibidos de ensinar, a partir daquela data, em todas as escolas e níveis, o que implicou no fechamento dos Colégios203 e na exclusão dos religiosos Jesuítas do campo educativo. No mesmo documento, estabeleceu-se, em substituição à rede de ensino inaciana, a Direção Geral dos Estudos Menores. A partir de então, foram criadas as aulas régias de gramática latina, de grego e retórica.

Coerente com a política de D. José I e seu Ministro, a lei impôs a centralização régia do ensino, o que pode ser visto a partir das competências da Direção Geral dos Estudos: gerir a criação, funcionamento e organização do sistema de ensino; providenciar e gerir os recursos humanos educativos necessários para o provimento de tais lugares, desde o seu exame, licenciamento ou certificação, passando pelo pagamento dos seus ordenados; e inspecionar o funcionamento das aulas régias e dos métodos e manuais usados. O cargo de Diretor-Geral foi criado em 6 de julho de 1779, com quatro funções: coordenação dos estudos; elaboração de um relatório anual sobre a situação das aulas regias; inspeção dos professores; e administração das aulas. Foi também no mesmo ano que Dom José I estabeleceu os Comissários de Estudos como auxiliares do Diretor-Geral para avaliar os candidatos a professores em Portugal e em seus domínios ultramarinos. No Brasil, o Diretor-Geral contava com instituições jurídico- administrativas que o representavam e eram responsáveis pela implementação das reformas, como os Tribunais da Relação da Bahia e do Rio de Janeiro; as Câmaras Municipais; as Casas de Contos (responsáveis pelo pagamento dos professores régios); e a Chancelaria, lugar onde professores e mestres régios prestavam juramento204.

203 Ramos de Carvalho procura demonstrar que a Reforma de 1759 não passou de "simples conseqüência da expulsão dos jesuítas do reino e dos domínios portugueses" (1978, p. 99), uma vez que, tendo em vista o largo alcance da obra jesuítica, a tarefa primordial do Gabinete passou a ser a de manter a continuidade do ensino e livrar do desamparo as populações que até então se beneficiavam dos colégios inacianos. A criação das aulas régias de latim, grego e retórica, longe de ser a primeira manifestação de ensino planejado e realizado por força exclusiva dos ideais de um programa de secularização das instituições educacionais, seguiu os ditames da circunstância histórica da expulsão dos jesuítas: o Alvará de 28 de junho de 1759 objetiva tão-somente manter a continuidade de um trabalho pedagógico que a expulsão dos jesuítas ameaçava comprometer. (CARVALHO, 1978).

204 Leitão (2011) faz uma hierarquização dos diversos cargos e agentes envolvidos na reforma da educação a partir de meados do século XVIII. A autora em ordem de posição política e social monta a seguinte sequência: Rei – Conde de Oeiras – Solicitador – Diretor Geral dos Estudos – Secretário. Ao secretário estava submetido o tesoureiro, o Meirinho (fiscalizador de mercadorias); comissários subdelegados com seu secretário e por último na hierarquia estavam os professores régios, substitutos, os mestres régios e os examinadores. Ver LEITÃO, 2011, p.83.

O caráter de laicização ou do regalismo português levou Pombal a criar, além das instituições acima citadas, a Real Mesa Censória em 1771, passando ao Estado o poder de fiscalização das obras que se pretendia publicar e divulgar no Reino. Essa função era competida à Igreja e era administrada pelo Tribunal do Santo Ofício. Considerando que os Jesuítas produziram uma vasta literatura e fizeram circular livros por todo o domínio português, essa censura atendeu a mais um controle sobre os escritos dos inacianos e, ao mesmo tempo, favoreceu a publicações de interesse do Estado em mudanças culturais, como os novos métodos de ensino e as novas gramáticas em substituição à hegemonia do método jesuítico. À Mesa Real, foi entregue toda a direção dos estudos e escolas menores e de todos os colégios do Reino205, uma vez que, para o presidente da Mesa Censória, Cardeal da Cunha (1715-1783), os Jesuítas eram considerados responsáveis pelo declínio do ensino e da investigação científica, pela decadência da educação e “obscuridade” do conhecimento em todo o Reino206. Por isso, coube à Mesa Censória a fundação de escolas, a avaliação da qualidade dos novos metres, a qualificação, a nomeação e a distribuição destes, tanto na Metrópole com nos domínios ultramarinos.

Apesar dessa organização em torno da educação, para muitos autores, entre eles Fernando Azevedo, a administração pombalina não conseguiu substituir ou mesmo suprir as demandas educacionais dos domínios portugueses depois da extinção do sistema educacional dos jesuítas.

Com a expulsão dos jesuítas. O que sofreu o Brasil não foi uma reforma de ensino, mas a destruição pura e simples de todo o sistema colonial do ensino jesuítico. Não foi um sistema ou tipo pedagógico que se transformou ou se substituiu por outro, mas uma organização escolar que se extinguiu sem que essa destruição fosse acompanhada de medidas imediatas, bastantes eficazes para lhe atenuar os efeitos ou reduzir a sua extensão. (AZEVEDO, 2010, p. 584)

Um limite da reforma de Pombal deu-se na seleção e contratação dos professores. Por ordem do próprio Diretor Geral, D. Tomás de Almeida, o exame previsto pela Direção Geral dos Estudos foi relaxado e estabelecido um sistema de contratação livre, uma vez que, para o Diretor Geral, os exames não eram garantia de boa conduta dos professores em sala de

205 Alvará de 4 de Junho de 1771. Alvará de 4 de Junho de 1771 In Colecção das leis, decretos e alvarás que compreende o feliz reinado del Rei fidelíssimo D. José o I, Nosso Senhor. Ano de 1770. Disponível em: <http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/imagens_livros/20_sistema_regimentos/vol_iii/0539.jpg>. Acesso em: 23 de março de 2017.

206 Em 1771, o Ministro Marques de Pombal escreveu um documento intitulado Compendio histórico do estado da universidade de Coimbra no tempo da invasão dos denominados jesuítas e, em 1774, publicou o Regimento so Santo Oficio. Muitas das denúncias das causas do declínio do ensino e da investigação científica, da decadência

da educação e “obscuridade” do conhecimento em todo o Reino apresentadas por Pombal nestas duas publicações

aula. Existiu também, segundo os dados das cartas, casos de professores fraudulentos, que se ausentavam das aulas ou empregavam substitutos não qualificados para o ensino.

A situação na América portuguesa não diferenciava da de Portugal em termos de disponibilidade de professores. Em 1772, quando se deu a “nova fundação” da Universidade de Coimbra, foi criada pela Carta de Lei de 6 de novembro uma rede de escolas primárias públicas para atender às povoações em Portugal. No anexo desta carta, foi divulgado207 o Mapa dos professores e mestres das escolas menores e das terras em que se acham estabelecidas as suas aulas e escolas neste reino de Portugal e seus domínios, no qual estabelecia o número de professores indicados para o Brasil, como mostra o quadro seguinte:

Quadro 11 — Mapa dos professores e mestres das escolas menores e das terras em que se acham estabelecidas as suas aulas e escolas neste reino de Portugal e seus

domínios, 6 de novembro de 1772. Cadeiras Capitania Primeiras Letras Gramática Latina Língua Grega

Retórica Filosofia Total

Pernambuco 4 4 1 1 1 11 Bahia 4 3 1 1 1 10 Minas Gerais 4 3 - 1 - 8 Rio de janeiro 2 2 1 1 1 7 São Paulo 1 1 - 1 - 3 Pará 1 1 - 1 - 3 Maranhã 1 1 - - - 2

Fonte: FONSECA, 2009. Letras, Ofícios e bons costumes. Civilidade, Ordem e Sociabilidades na América Portuguesa.

Nota-se que o número de professores foi de apenas 44, distribuídos no total das capitanias contempladas no “mapa”, e, para as Primeiras Letras, foram previstos 17 professores para todo o Brasil. Para a autora Fonseca (2009), esse número de professores não correspondeu às demandas das aulas régias já criadas em 1772, e esta disparidade aumentou quando, pelo alvará de 11 de novembro de 1773, foram criadas novas escolas. Há, portanto, uma desproporção do número de aulas criadas e professores nomeados para as localidades onde antes atuaram os inacianos208. Lembrando que, no Brasil, no século XVIII, os Jesuítas tinham