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7 – Terrorismo de Matriz Islâmica: a emergência de uma ameaça global

7.3 O “Jihadismo Global”

Actualmente, faz todo o sentido que cientistas, politólogos, investigadores, etc. se “debrucem” sobre o Jihadismo como um tema central e uma prioridade no que concerne a ameaças internacionais, por razões evidentes. Antes de desmistificar e explicar este conceito actualmente “vivo”, é necessário fazermos antecipadamente uma análise etimológica. O Conceito “jihadismo” provém, directa ou indirectamente, da palavra “jihad”. Esta significa “esforço” ; “esforço feito no sentido de encontrar o caminho de Deus”; (…) no fundo, jihad quer significar a guerra contra o Dar-al-Harb (Mundo da Guerra) por parte do Dar-al-Islam (Mundo do Islão) (Silva, 2016: 56). É comummente traduzida por “Guerra Justa” ou “Guerra Santa”. Esta “luta”, é, no entanto entendia pelos fundamentalistas islâmicos no sentido literal e de forma tão defensiva quanto maniqueísta, como aliás nos mostra Teresa de Almeida de Silva na sua obra, quando diz: “Não obstante, a jihad é sempre vista pelos activistas radicais como um modo de guerra defensiva, ou seja, é utilizada apenas e só para defender o Islão dos infiéis. Eles fundamentam esta sua ideia no Alcorão”. (idem, 57). Há uma clara interpretação maniqueísta por parte dos radicais islâmicos, no sentido em que os “verdadeiros” fieis e crentes constituem os “bons” e os infiéis constituem os “maus”. Neste sentido, os radicais islâmicos procuram lutar contra todos aqueles que tenham uma visão distinta destes ideais, ou até todos os que não se identifiquem, nem tão pouco se interessam por essa mesma ideologia, procurando fazer legitimar o seu conceito de “Guerra Justa” – “Bons vs Maus” – “Fiéis vs Infiéis”.

19 Activistas islâmicos de raiz sunita que procuram legitimar as suas acções terroristas com base na Sharia. 20 Leia-se “luta” ou “esforço” pelo Islão.

Podemos apontar cinco objectivos da jihad islâmica (Costa, 2003 in Silva 1016: 57):

1. Defender o Islão : Este é o prisma principal dos radicais islâmicos. Os radicais islâmicos consideram ser imperativo unirem-se na defesa da verdade e justiça do Islão. 2. Combater os inimigos : os “jihadistas” não vêem qualquer tipo de problema em

recorrer à guerra ou à violência se alguém tentar impedir a expansão do Islão. 3. Combater a injustiça e corrupção

4. Estar preparado para a jihad : Esta premissa significa a todos os crentes que procurem

seguir estes ideais estejam prontos a contribuir para a “luta”, quer pela violência , quer através de orações ou contribuições financeiras.

5. Cumprimento de normas para com o inimigo: Em caso de conflito com o inimigo, há

certos limites que o Islão impõe que devem ser respeitados (como a proibição de assaltos nocturnos, guerra biológica, queima do gado, e assassinato ou agressão a pessoas desarmadas).

Tiram-se algumas ilações destas cinco premissas quando transpostas para a realidade actual internacional. A defesa do Islão, no actual espectro internacional, pelos activistas radicais não conhece hoje limites, nomeadamente em relação ao “cumprimento de normas para com o inimigo” , uma vez que, os alvos civis são os alvos mais desejados dos jihadistas, em grande parte pela tão desejada captação de uma audiência. Há, neste sentido, uma “sobrevalorização” da defesa do Islão, procurando legitimar acções violentas e condenáveis, não existindo, na

verdade, limites. Os jihadistas21 procuram legitimar essas acções por leis e ensinamentos que

consideram ser provenientes do seu “mundo” – o já referido Dar-al-Harb – no qual vêem o recurso à força armada, a melhor guerra para a defesa da fé.

Analisada a “jihad”, foquemo-nos no conceito de “jihadismo”. Este ganhou sobretudo “fama” nas últimas duas décadas sobretudo, com grande destaque para a última, por motivos óbvios. Na tentativa de construir este conceito de uma forma muito sucinta mas objectiva,

podemos considerar o jihadismo como a ideologia violenta do islamismo.22 É, no fundo, um

21 Jihadista é um termo muito preciso que não pode ser confundido. É associado a um extremista islâmico que recorre à violência na prossecução dos seus objectivos. Geralmente, é associado para distinguir os muçulmanos sunitas violentos dos não-violentos.

22Islamismo: “O Islamismo (…) procura, de uma forma activa, a afirmação e promoção da fé, bem como a gestação de fórmulas governativas de carácter islâmico. Embora viva e provenha do mundo islâmico, é essencialmente um movimento social, de retórica metapolítica e com carácter secular. (…) Tem como objectivo

movimento islâmico radical, fundamentalista, extremista, que procura através jihad e do permanente estado de guerra, violência e subversão da forma mais extrema - terrorismo, seguir a os fundamentos mais ocultos da Sharia e do Alcorão, sendo interpretado pelos radicais de forma muito peculiar.

Independentemente da discussão académica acerca de quando aconteceu, este movimento tornou-se global. Tal facto, está, inevitavelmente conectado com a emergência e rápido desenvolvimento das tecnologias e de um processo de globalização mundial cada vez mais célere. O terrorismo islâmico ganhou outro impacto com o abrir do milénio, alavancado pelo fenómeno da globalização. Transpondo esta ideia para termos práticos: deu-se toda uma nova dinâmica e impacto da acção terrorista a partir do momento em que se começou a registar entre outras coisas, mas sobretudo, uma maior facilidade de comunicação e transporte no mundo. Os terroristas beneficiaram sobretudo do mundo globalizado para desencadear a grande maioria dos seus ataques. O desvio de aviões, os ataques em larga escala quer por veículos-bomba, quer por homens-bomba, quer os próprios ataques por metralhadoras são muito mais frequentes num mundo globalizado, com facilidade de deslocação, transporte e penetração em território interno ou estrangeiro. A “globalização do terrorismo” é um fenómeno real nos dias de hoje. A partir do célebre 11 de Setembro de 2001, este facto começa a ganhar forma, em última instância pela rápida difusão de informação a nível global do quer do ataque em si, quer do futuro perigo num mundo incerto e perigoso que rapidamente se adivinhou: “these exemple of attacks directed against the US from within or abroad have only been part of the global pattern of terrorism in the 20th 21st centuries” (Lutz and Lutz 2005: 3) . A juntar a estes factores, é um fenómeno global no sentido literal do termo, pois hoje as organizações e células terroristas, como os próprios “lobos solitários” têm capacidade para desenvolver ataques em qualquer parte do globo. E momentos depois, todo o mundo tem conhecimento desses ataques. A globalização, indirectamente, potenciou um estado de vulnerabilidade nos países democráticos: “Democratic countries are more vulnerable than other kinds of political systems (…) democratic countries with a commitment to civil liberties and basic rights find it more difficult to gather intelligence on citizens, to arrest, to interrogate and to extract information (…) The Whole range of protections generally available in democracies makes both prevention of terrorists attacks and the

a instauração de um Estado islâmico. E, para que tal aconteça, no limite, justifica-se o uso da violência armada. (… ) Assenta numa ideologia de retórica religiosa que tem uma interpretação holística do Islão. (Duarte, 2015)

aprehension of terrorists even more difficult”. (idem:36) Ao contrário dos países não- democráticos: “In non-democratic countries, dissident organizations are more constrained. In a totalitarian system, where the government has comprehensive security agencies and informers everywhere, opposition is much more difficult to organize. Once suspicion focuses on an individual or a group of individuals, their activities can be monitored, mail opened, phone lines tapped,(…).” Está aqui presente um paradoxo, em que o corolário é: a “democratização ocidental” possibilitou uma vacuidade/abertura no sistema à penetração deste novo tipo de terrorismo – foi uma porta aberta à globalização do terrorismo.

O jihadismo é hoje um fenómeno global, que marca a actualidade internacional. Mas, mais grave e impressionante, é que, este tipo de atrocidade, passou a ser um casual topic – todo o jornal contém informações e novidades sobre o tema, quando existe e quando não existem ataques pelo mundo.

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