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Terrorismo Islâmico Transnacional: os desafios ao Ocidente

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Academic year: 2021

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Terrorismo Islâmico

Transnacional: Os

Desafios ao Ocidente

Discente: Diogo Sequeira da Cruz Dias Martins

Orientador: Prof. Auxiliar Teresa de Almeida e Silva

Dissertação para obtenção de grau de Mestre em Estratégia

Lisboa

2016

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Agradecimentos

Dedico este espaço, como este trabalho, a um conjunto de pessoas que, directa ou indirectamente, contribuíram para que tudo isto fosse possível.

Os meus sinceros agradecimentos ao Coordenador do Mestrado de Estratégia, o Professor Heitor Romana, pela experiência e conhecimento que com este adquiri, bem como por me ter dado o privilégio de frequentar este curso.

À Orientadora desta dissertação, a Professora Teresa de Almeida e Silva, pela confiança em mim depositada, apoio e conhecimentos prestados que ajudaram bastante à realização deste trabalho.

Aos meus Pais, por terem sempre acreditado que tudo isto seria possível, e que, depositaram em mim valores dos quais nunca prescindirei, que me ensinaram o significado da vida e que, no fundo, fizeram de mim a pessoa que sou hoje.

À Inês, que sempre acreditou e sempre esteve do meu lado, apoiando, incentivando e motivando de forma constante, tendo tido um papel determinante nesta caminhada.

Aos meus Avós, que adoro, uma palavra de especial apreço, que foram a base de todo este projecto, por terem permitido a realização desta tese como a frequência deste mestrado. Estiveram sempre cem por cento disponíveis em todos os aspectos, e a minha especial dedicatória vai para eles.

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Palavras-Chave: Terrorismo Islâmico Transnacional; Desafios; Estado Islâmico; Ocidente;

Al-Qaeda; Estratégia Resumo

O terrorismo é um fenómeno que tem evoluído consideravelmente ao longo dos anos, sendo hoje, o de matriz islâmica e transnacional, o mais predominante no mundo. Para o Ocidente em concreto, afigura ser a principal ameaça, da qual resulta uma complexidade mórfica de desafios com os quais os decisores políticos ocidentais têm e terão de lidar. A presente dissertação assenta, essencialmente, em três pilares: um primeiro, que descreve a evolução do fenómeno em estudo até à forma como o conhecemos hoje; um segundo, que analisa, especificamente o terrorismo islâmico transnacional ao nível dos actores, das tendências e motivações; e um final, em que é feita uma análise de risco e análise estratégica a dois grupos terroristas particularmente relevantes para o Ocidente: Al-Qaeda e Estado Islâmico, a fim de compreender as suas estruturas organizacionais, o seu modus operandi, e as dinâmicas estruturais que sustentam estes mesmos grupos. Para tal, a dissertação recorre à técnica das Teias Mórficas da Estratégia, que permitiram perceber de que forma é possível retirar poder aos sistemas em estudo. Neste sentido, o trabalho visa, por uma lado, perceber, que desafios resultam, concretamente, desta ameaça para o mundo Ocidental, como também, até que ponto o Ocidente pode fazer face a tais desafios.

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Transnational Islamic Terrorism: Challenges to the West

Key Words:

Transnational Islamic Terrorism; Challenges; Islamic State; West; Al-Qaida; Strategy

Abstract:

Terrorism is a phenomenon that has extensively changed over the years, with transnational Islamic currently the most active in the world. Specifically for the West, this happens to be the major threat from which a morphic complexity of challenges arises, challenges which Western decision-making politicians will have to face.

This thesis is essentially based on three pillars: the first, which describes the evolution of the phenomenon itself to the shape we know it today; the second, which specifically analyses transnational Islamic terrorism in terms of the actors, trends and motivations; and the final one, in which there is both risk and strategic analyses of two terrorist groups particularly relevant to the West: Al-Qaida and Islamic State, in order to understand their organizational structures, modus operandi and the structural dynamics that sustain these groups. The Paper encompasses a Strategic morphic network technique, which allowed to understand how the systems being studied can actually lose power and influence. Thus, this work aims, on the one hand, to realize what challenges materially emerge from this threat to the West and on the other, to identify how able the West is to face such challenges.

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Índice

Índice de Figuras VI

Lista de Abreviaturas/Siglas VII

1. Introdução 2. Problemática 1 2 3. Enquadramento Teórico 3 4. Operacionalização de Conceitos 4 4.1. Subversão 4 4.2. Terrorismo 5

4.3. Terrorismo Islâmico Transnacional 5

5. Enquadramento Metodológico 7

6. Evolução do Terrorismo na História 8

6.1. Terrorismo Revolucionário 9

6.2. Terrorismo de Estado 9

6.3. Terrorismo Internacional 10

6.4. Pós-Guerra Fria e Emergência do Terrorismo Transnacional 11

7.Terrorismo de Islâmico Transnacional: A Emergência de uma Ameaça Global 15

7.1. O Catalisador 9/11 16

7.2. Tendências da Ameaça 18

7.3. O “Jihadismo Global” 23

8. Motivações: Pertencer a uma Organização Terrorista 26

8.1. Motivações “Religiosos” 29

8.2. Motivações “Não-Religiosos” 30

9. Da Al-Qaeda ao Estado Islâmico 34

9.1. Al-Qaeda 35

9.2. ISIS 36

10. O Terrorismo Islâmico Transnacional no Presente 41

11. Análise de Risco e Análise Estratégica face à Al-Qaeda e ao ISIS 48

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11.2. ISIS 51

11.3. Vacuidades e Aberturas 53

11.4. Análise Estratégica: Construção de Teias Mórficas e Planeamento Estratégico 56

11.4.1. Al-Qaeda 56 11.4.2. ISIS 61 12. Conclusão 65 13. Bibliografia 69 14. Anexos 74

Índice de Figuras

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Figura 1 – Estrutura Organizacional da Al-Qaeda

Figura 2 – Número de Ataques terroristas Islâmicos desde o 11 de Setembro de 2001 Figura 3 – Ranking dos países mais afectados pelo terrorismo 2015

Figura 4 – Escala de impacto do terrorismo Figura 5 – Estrutura Organizacional da Al-Qaeda

Figura 6 – Líder e indivíduos envolvidos no Estado Islâmico Figura 7 – Estrutura Organizacional do ISIS

Gráfico 1 – Terrorist incidentes over time (between 1970 and 2014) Gráfico 2 – Terrorist incidents between 2001 and 20014

Gráfico 3 – Mortes Globais do terrorismo

Gráfico 4 – Terrorismo Jihadista em países Ocidentais

Índice de Teias Mórficas

Teia Mórifca AQ 1 – Macro Teia/Teia Principal Teia Mórfica AQ 2 – Disrupção Sistémica Interna Teia Mórfica AQ 3 – Factores Geofísicos

Teia Mórfica AQ 4 – Factores Políticos e Diplomáticos Teia Mórfica AQ 5 – Factores Militares

Teia Mórfica ISIS 1 – Macro Teia/Teia Principal

Teia Mórfica ISIS 2 – Problemas Internos e de Identidade

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ADM – Armas de Destruição Massiva

AQI – Al-Qaeda in Iraq – Al-Qaeda do Iraque

EI – Estado Islâmico

EII – Estado Islâmico do Iraque

EIIL – Estado Islâmico do Iraque e do Levante

ETA – Euskadi ta Askatasuna – Pátria Basca e Liberdade

EUA – Estados Unidos da América

IRA – Irish Republican Army – Exército Republicano Irlandês

IS – Islamic State

ISIS – Islamic State of Iraq and ash-Sham

NSS – National Security Strategies – Estratégias (Documentos Oficiais) de Segurança

Nacional

OLP – Organização para a Libertação da Palestina

RFA – República Federal da Alemanha

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1. Introdução

O fim da Guerra Fria e da bipolarização política mundial levou a opinião pública ocidental a pensar num ambiente mais pacífico a longo prazo, numa paz sustentável e duradoura, e num ponto final em conflitos da mais alta intensidade e guerras convencionais entre Estados. Este influenciou também autores de renome mundial a teorizar sobre um inevitável "fim da história". Porém, o abrir do novo milénio rompe com todo este pensamento idealista, sobretudo através dos atentados terroristas às Torres Gémeas e ao Pentágono nos EUA, pela organização terrorista Al-Qaeda, implementando uma e a mais temível tática de subversão conhecida: o terrorismo islâmico internacional. Este, para além de ter a capacidade de estabelecer um "processo de ruptura, mudando brusca e profundamente para uma nova situação1, pior do que a anterior" (Lara, 2013: 299-300) , de forma imediata e a nível

mundial, reúne outras características que nenhuma outra forma subversiva ou fenómeno político reúne, entre as quais: "provocar o maior número possível de danos materiais e vítimas humanas (…) ; estão empenhados na jihad contra os infiéis e animados pela esperança de reconstituir o califado (…); dos seus alvos principais podemos destacar os ocidentais, os judeus e os árabes e muçulmanos moderados, seculares, não-islâmicos (…); não revela qualquer tipo de constrangimentos éticos ou morais, ideológicos ou políticos na elaboração dos seus ataques (…); todos os meios são bons e justificáveis em função dos seus fins" (Tomé, 2004: 177-179). Perante estes objectivos e capacidade de actuação prática, no terreno, empregando ataques de larga escala, são colocados inúmeros desafios ao mundo ocidental, cada vez mais difusos, complexos e difíceis de superar. Apesar do desmantelamento dos campos de concentração da Al-Qaeda e enfraquecimento da própria organização como contra-ataque pelos Estados Unidos, o terrorismo islâmico internacional não se resume apenas a essa organização, muito pelo contrário, o número de organizações terroristas de matriz islâmica não só tem aumentado exponencialmente nos últimos 20 anos, como também existe uma enorme rede de células a trabalhar e a cooperar conjuntamente entre essas mesmas organizações, aliada uma facilidade acrescida de actuação e penetração de terroristas em territórios, dada a crescente complexidade de indefinição de fronteiras territoriais mundiais, emergida do fenómeno da globalização.

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Toda esta problemática se insere na área científica da Estratégia, na medida em que é seu objecto de estudo. Esta carece de ser mais estudada, mais debatida e melhor compreendida, por forma a se encontrarem novas respostas no âmbito científico desta área. É também um fenómeno que não está estagnado, como comprovado, e que precisa de ser combatido.

2. Problemática

O tema central desta dissertação é o terrorismo de matriz islâmica. A questão de partida colocada é: “quais os desafios colocados ao Ocidente pelo terrorismo islâmico transnacional?”. Neste sentido, este trabalho tem como objectivo geral estudar pormenorizadamente o fenómeno do terrorismo, em particular de matriz islâmica. Como objectivos específicos pretende-se (i) explicar a evolução e tipologia da ameaça da componente transnacional do terrorismo islâmico e (ii) identificar os desafios colocados ao Ocidente por aquele tipo de terrorismo. O terrorismo é, hoje em dia, um tema actual e de enorme importância em matérias de Estratégia, Relações Internacionais e Ciência Política. Dentro desta temática, o terrorismo islâmico é hoje uma das maiores ameaças à segurança, não apenas de um Estado, mas de toda a sociedade internacional. Neste sentido, são necessários esforços acrescidos para o combater. A base deste longo combate pode e deve ser feita de várias formas, sendo evidentemente uma delas o estudo e o debate/discussão do fenómeno a nível académico. Satisfaz o nosso interesse académico e pessoal o estudo desta temática, sobretudo por estar intimamente ligado às principais ciências sociais referidas, às quais dediquei e dedico tempo de estudo e formação, e por outro lado, por ser um assunto que está na ordem do dia, onde é, de facto, preciso encontrar novas abordagens, novas respostas e trazer para a ciência novas ideias e novas reflexões para que o fenómeno fique mais claro e, para que possa ser combatido com maior eficácia.

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3. Enquadramento Teórico

O fenómeno específico em estudo do terrorismo islâmico transnacional é comum a três áreas científicas: a Estratégia, a Ciência Política e as Relações Internacionais. Neste prisma, este trabalho inclui os contributos destas três "macro-perspectivas", com o objectivo de retirar informação de estudo e análise do problema. A importância da Estratégia como ciência no estudo desta temática é crucial, pelo que concentra as atenções nas estratégias utilizadas pelas organizações terroristas que desencadeiam os ataques. Por outro lado, é útil para compreender as intenções das mesmas e todo o planeamento estratégico que desenvolvem. A presente dissertação assenta essencialmente na teoria geral da Estratégia. Esta, segundo Ribeiro (2010: 21-45), pressupõe uma intervenção em toda a gama de acções genéticas, estruturais e operacionais destinadas a gerar e criar novos meios (edificar) , a organizar e articular os mesmos (dispor) e a utilizá-los (empregar), através de determinados meios de coacção à disposição, num determinado meio e tempo, contra um contrário, procurando seguir objectivos fixados pela política, superando problemas e explorando eventualidades, num determinado ambiente de desacordo.. Esta teoria está automaticamente relacionada com aquilo a que o autor define como “Processo Estratégico” – a parte operacional da Estratégia. Neste sentido, a presente dissertação aborda as duas vertentes (a vertente teórica e a vertente prática da Estratégia). Neste âmbito da Estratégia, a dissertação aborda também duas teorias operacionais da Estratégia (de autores da área como Carlos Gonçalves e Maria Madeira), designadamente a Análise de Risco e Análise Estratégica com recurso a Teias Mórficas, a fim de compreender as estruturas dos Sistemas em estudo/análise (neste caso, a Al-Qaeda e o autoproclamado Estado Islâmico), bem como todas as dinâmicas estruturais que os sustentam. A Análise Estratégica identifica o modus operandi de um sistema/organização. A Análise de Risco teoriza que é possível fazer um Sistema colapsar, ou, na impossibilidade deste, desgastá-lo, retirando-lhe poder e influência. As Teias Mórficas vão permitir mostrar de que forma e com que elementos é possível alcançar o resultado estratégico. São duas técnicas puramente estratégicas que permitem ao líder (estratégico) ter uma tomada de decisão (estratégica). Relativamente à Ciência Política, esta vai permitir conceber a problemática enquanto fenómeno político que é. As Relações Internacionais ajudam a compreender a

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posição do fenómeno no sistema internacional. Em particular, a perspectiva realista das relações internacionais é útil para o estudo, na medida em que admite que o sistema internacional é constantemente conflitual, competitivo, anárquico e que a guerra é sempre inevitável dentro desse mesmo sistema. É contudo interessante constatar que o terrorismo islâmico internacional vem, de certa forma, por em causa esta teoria, uma vez que os actores internacionais são predominantemente não-estatais (neste caso organizações terroristas de matriz islâmica), e a teoria centra o Estado como actor único e dominante das relações internacionais, pondo assim uma lacuna no seio das teorias das relações internacionais. Em todo o caso, enquadra-se perfeitamente na caracterização do sistema, diferindo apenas no tipo de actor internacional. Assim sendo, o estudo deste fenómeno não se pode esgotar na área científica da estratégia, carecendo da importância das outras duas, tendo sempre em vista a questão de partida do trabalho. Deve seguir estas linhas de investigação.

A somar a estes factores, o trabalho segue contributos teóricos e linhas de pensamento de alguns autores que têm investigado sobre o terrorismo, como Teresa de Almeida e Silva, James e Brenda Lutz, Peter Newman, Katherine Zimmerman, Ty Mcckormick, para além dos já acima citados.

4. Operacionalização de conceitos

4.1. Subversão: Originalmente do latim subvertere, este conceito significa algo como "voltar

de baixo para cima", "revolver", "submergir", "revolucionar", "por em estado de desordem" etc. Segundo o professor António de Sousa Lara, existe neste conceito "a ideia marcante de uma ordem prévia, um statu quo ante, que, por via de uma determinada causa, mais ou menos complexa, entra num processo de ruptura, mudando brusca e profundamente para uma nova situação, pior do que a anterior. (…) É sempre considerada transitória, como fase passageira, mal necessário ou não, instrumento fundamental da acção. (…) O fenómeno subversão será, assim, considerado como o processo social conducente a uma ruptura, total ou parcial, de uma dada ordem conjuntural e caracterizado pela informalidade ou marginalidade de actuações e pela incompatibilidade de projectos relativamente aos valores

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e ordem jurídica instituídos, com vista à substituição dessa ordem por outra". (Lara, 2013: 299-300).

4.2 Terrorismo: Este termo não é tão preciso, mas vejamos alguns contributos: Lemos Pires

define terrorismo como "o terror com acção e essa acção, tem empiricamente, um carácter clandestino. Ou seja, qualquer um pode usar o terror mas isso não significa imediatamente que tenha de estar dentro do conceito de terrorista". (Pires, 2012: 4) . Já se olharmos para a definição do "Código dos Estados Unidos", está definido como "premeditated, politically motivated violence perpetrated against non-combatent targets by subnational groups or clandestine agents, usually intented to influence an audience." (US Department of defense,

2002). Joaquim Pinheiro, numa conferência proferida no Instituto de Defesa Nacional2, diz:

"Terrorismo é o conjunto de acções violentas, empreendidas por grupos pouco numerosos contra regimes, classes dirigentes ou minorias (políticas, religosas, raciais ou étnicas). As directrizes dessas acções (…) são sempre provocar medo, pavor, terror." (Pinheiro, 1982:52).

4.3 Terrorismo Islâmico Transnacional: O conceito de Terrorismo Islâmico Transnacional

faz parte da evolução do conceito convencional de "terrorismo", já identificado, mas como uma especificidade do mesmo e que se desprende deste para o nível internacional e, mais concretamente, para uma das "novas ideologias" , o "fundamentalismo" (islâmico). Este conceito deste tipo específico de terrorismo pode também ser definido como "Terrorismo de Novo Tipo" (Tomé, 2004: 177). Este, considera algumas características, tais como: "todos os meios são bons e justificáveis em função dos seus fins"; "provocar o maior número possível de danos materiais e vítimas humanas"; as suas motivações e causas são múltiplas e os seus objectivos são difusos e nem sempre verdadeiramente reivindicados"; "estão empenhados na jihad contra os infiéis e animados pela esperança de reconstituir o califado"; "os seus alvos principais podemos destacar os ocidentais, os judeus e os árabes e muçulmanos moderados, seculares, não-islâmicos"; "baseia as suas acções, ou procura legitimá-las, numa visão radical da experiência islâmica, na aplicação da estrita da Charia" (idem, 177-179). Perante estas considerações, podemos associar este tipo de terrorismo às acções produzidas e levadas a cabo pelas organizações terroristas de matriz islâmica, que professam a ideologia

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fundamentalista islâmica - o islão. Os seus alvos são indiferentes no caso de serem militares ou civis, a sua grande preocupação é incutir-lhes o medo e o terror, tentando chegar ao maior número de vítimas, procurando influenciar a maior audiência possível, sendo que, em última instância, o seu grande objectivo é algo político e não religioso, como se pensa comummente, uma vez que visam a criação de um "califado", um estado islâmico de base. Este tipo de terrorismo incorpora uma vertente transnacional, uma capacidade de actuação em vários territórios distintos, não exclusivamente num único país, isto é, tem a capacidade de ultrapassar os limites territoriais e fronteiriços do seu próprio país ou de um determinado país. Segundo o autor e especialista Heitor Romana, este tipo de terrorismo engloba ainda algumas componentes importantes: (Romana, 2005):

- A concepção é global, na definição política dos alvos e objectivo e no planeamento

estratégico. As componentes operacional e técnica são executadas a partir de uma célula local (estratégia “glocal”);

- A estrutura é descentralizada a partir de um núcleo duro que funciona segundo uma lógica de holding. O sistema de comunicação em rede é uma das suas principais características, que parece ter sido adaptado dos modelos de gestão;

• As células apresentam um design blindado, com uma hierarquia própria, funções específicas, autonomia de acção e ligação por módulos;

• Existe uma divisão racional de atribuição de funções. Os meios humanos possuem um elevado conhecimento técnico em vários domínios;

• A mobilização de meios humanos e técnicos é realizada segundo mecanismos de “economia de escala”;

• O planeamento das operações é elaborado segundo um quadro de longo prazo. A procura de inserção no tecido social de um determinado país é prática corrente;

• Há o recurso a uma metodologia própria dos serviços de informações, designadamente quanto à construção de redes de contactos e à selecção de elementos a recrutar;

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• Ao nível local, a estrutura e a organização assentam num núcleo de comando, num pequeno grupo de active cadres, num escalão inferior de active supporters, e, na base, num grupo alargado de passive supporters;

• Existem grupos que não tendo uma ligação orgânica com a Al-Qaeda, actuam segundo um esquema de “terrorismo por procuração”;

• Constata-se a existência de uma elevada capacidade de deslocalização da preparação das operações, cujo range vai da Alemanha a Marrocos;

• O recurso a atentados contra alvos indiscriminados tem sido uma marca do modus operandi dos grupos ligados à rede da Al-Qaeda. Contudo, dadas as características de volatilidade do seu modo de actuação, em função dos objectivos políticos e em função de “alvos de oportunidade”, é de considerar a possibilidade de realização de atentados contra alvos selectivos de grande impacto mediático”.

5. Enquadramento Metodológico

Sendo o tema em estudo e análise objecto de estudo e investigação da área científica da Estratégia, o trabalho necessitará de recorrer a métodos de investigação qualitativos na maior parte da sua extensão. Contudo, este não será o único método a ser utilizado: serão também necessários instrumentos e técnicas específicos dos métodos quantitativos e mistos na elaboração da investigação, bem como a triangulação dos mesmos, por forma a combinar e articular os diferentes métodos de investigação, a integrar diferentes perspectivas e análises do fenómeno em estudo, a permitir novas abordagens e novas conclusões do mesmo fenómeno e, sobretudo, a ter uma visão mais completa e holística do problema, tirando partido dos inúmeros contributos específicos dos diferentes métodos de investigação e análise.

Dos métodos qualitativos serão feitas pesquisa documental e bibliográfica de autores de referência não apenas da temática, mas também da própria área científica, obtendo espaço para uma gama de perspectivas e teorias distintas e opostas relativas a um mesmo problema

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ou fenómeno. Esta seguir-se-á da técnica de análise documental e seguintes instrumentos: ficha de leitura e análise de conteúdo, componentes relativos ao método misto de investigação. Ainda dentro da técnica da análise documental, será aplicado o instrumento de análise estatística, pertencente ao método de investigação quantitativo.

A utilização de métodos qualitativos permitirá aprofundar o conhecimento do mesmo fenómeno, atendendo às várias abordagens e perspectivas a estudar, permitindo obter uma nova visão do mesmo, a ser empregue por mim enquanto investigador. Terá, eventualmente, como desvantagem a subjectividade envolvida na informação disposta, aliada a uma ampla variedade de informação, uma vez que o fenómeno é bastante actual e objecto de investigação e debate permanente. Essa ampla variedade de informação pode, paradoxalmente, ser uma vantagem, caso seja feita uma selectividade correcta dessa mesma informação, abdicando da menos relevante e focando apenas na mais relevante, sendo essa a que permitirá responder àquilo que realmente é pretendido saber. Para colmatar algumas lacunas, o trabalho recorrerá também, como anteriormente explicado, aos contributos dos métodos quantitativos, nomeadamente a dados específicos, por exemplo, do número de atentados terroristas islâmicos desencadeados em territórios ocidentais, entre outros relevantes para o estudo, bem como das vantagens da triangulação dos métodos e consequentes análises.

Posto isto, considero que os métodos e as respectivas técnicas e instrumentos específicos mencionados são os mais adequados para o caso a desenvolver.

6 – Evolução do Terrorismo na História

O Terrorismo não é, contrariamente ao que possa parecer, um fenómeno recente. Embora exista alguma discussão em torno das suas origens, é importante clarificar primeiramente, que este não surge, de forma alguma, com os atentados de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos, nem com o abrir do novo milénio.

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Atendendo a uma sistematização relativa às suas origens, podemos considerar quatro tópicos essenciais que indicam o tipo de terrorismo e a época em questão, para uma melhor compreensão da evolução do fenómeno:

6.1 Terrorismo Revolucionário:

O Terrorismo Revolucionário remonta ao século XVIII, mais concretamente à Revolução Francesa (1789-1799), cujo período levou à inclusão do termo “terrorismo”, em 1998 (Bembe, 2008: 33). Nesta época, os revolucionários recorriam ao uso da força através da violência e do terror para alcançarem os seus objectivos, fundamentalmente políticos. Para eles, a criação de uma sociedade baseada na célebre trilogia “Igualdade-Liberdade-Fraternidade” só era possível ou alcançável por intermédio deste terror revolucionário, repressivo. O uso da famosa guilhotina na execução de milhares de pessoas é um exemplo bem demonstrativo. Joaquim Franco Pinheiro, célebre militar português, descreve este tipo de terrorismo como algo que “visa reprimir, subjugar, ou aniquilar grupos cuja forma de agir ou simplesmente de pensar, a autoridade considera indesejável. Simultaneamente, aterroriza a população e transforma-a em massa passiva face a todos os actos dos dirigentes”. (Pinheiro, 1982: 54).

6.2 Terrorismo de Estado

Este surge essencialmente nas décadas de 30/40 do século XX, na Rússia de Estaline e na Alemanha de Hitler. O terror, neste contexto, era incutido pelos Chefes de Estado a quem se opunha a esse mesmo Estado, mas não exclusivamente. Era igualmente incutido a grupos ou minorias étnicas. No caso da Alemanha Nazi, Hitler censurava e aterrorizava aquilo a que ele considerava “raças inferiores” à sua, para além dos seus opositores. Ambos estes Estados

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autocráticos totalitários recorriam ao terror, executando milhares de pessoas, com o objectivo

de fortalecer, mas sobretudo fazer temer o seu poder a todos os seus “súbditos” e opositores3.

6.3 Terrorismo Internacional

Este tipo de terrorismo, moderno mas não contemporâneo, com tendência para a internacionalização, data sensivelmente a partir dos anos 60 do século XX, e, segundo Franco Pinheiro, apresenta duas faces: independentista/separatista e vontade fanática de destruição do regime vigente (Idem: 55). A primeira, quando alguma organização terrorista pretende alcançar objectivos ou fins de independência política relativamente a um Estado ou a um território ou até a uma população (casos mediáticos do IRA, ETA, OLP, etc.) , e, a segunda, quando se assiste a terrorismo "desestabilizador" perpetrado por grupos ou organizações terroristas contra Estados de direito e Estados democráticos. Exemplos do Baader-Meinhof, Brigadas Vermelhas, RFA, Exército Vermelho, etc. Para o especialista, esta última faceta deste tipo de terrorismo, visa essencialmente três acções concertadas. Numa primeira fase, onde a designa como fase da "provocação", as organizações terroristas levam a cabo acções como atentados ou roubos por forma a chamar a atenção pública e "publicitar" essas mesmas acções. Em segundo lugar, dá-se a "repressão", momento em que a organização cresce, intensifica e diversifica as suas acções. Numa fase final (de "desestabilização"), há o prolongamento da acção anterior gerando um clima desestabilizador no próprio Estado ou Governo, podendo provocar apoios populares à própria organização, por eventual descrédito do Estado (idem, 56).

É, claramente, notória a evolução e diferenças nos momentos de terrorismo analisados, nas acções empregues, nos actores4, etc., embora as finalidades sejam comuns a todos eles,

constituindo assim factores de unidade e não apenas de diversidade. Apesar de tudo, as

3 Os líderes totalitários expressavam bem na prática as ideias de Nicolau Maquiavel, sobretudo a ideia de que “é melhor ser temido do que amado” – In “O Príncipe.”

4 Neste último caso especificamente (terrorismo internacional) já se constatam "organizações ou grupos" de cariz terrorista, um novo actor internacional, separado de Estados ou de revolucionários.

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maiores diferenças estão efectivamente guardadas para o último tópico em análise - o Pós-Guerra-Fria e a emergência do Terrorismo Transnacional -

6.4 Pós-Guerra-Fria e a emergência do Terrorismo Transnacional

O fim da Guerra Fria e a queda do muro de Berlim puseram fim ao mundo bipolar, à luta entre ideologias e blocos antagónicos. O mundo rapidamente se transforma em termos geopolíticos, geoestratégicos e geoeconómicos. Surgem novos alinhamentos estratégicos, uma nova "Ordem Geopolítica Mundial". Embora sejam vários os autores a defenderem a multipolaridade do sistema na época em análise, com destaque para Estados Unidos, Rússia, Japão, UE, e China essencialmente, a verdade é que, dos vários polos supra mencionados, há

um que assume um nível de força, poder e influência internacionais5 astronomicamente maior

do que os outros (os Estados Unidos). E esta ideia levou autores a teorizar sobre um mundo verdadeiramente unipolar, com os EUA à cabeça, ao invés de um mundo multipolar. Embora seja verídico que os Estados Unidos assumem a supremacia a nível global no pós Guerra-Fria, tornando-se a única superpotência mundial, também não é mentira que exista também, a multiplicidade de polos de poder que tenta concorrer. Daí que seja compreensível as duas teorias relativamente a este período da História internacional. Mas estas duas grandes ideias levam a uma terceira, talvez não mais “correcta”, mas mais assertiva. A tese de uma ordem mundial UNI-Multipolar (Tomé, 2004: 29), assimilando quase que a junção das duas ideias referidas. Nesta terceira, é igualmente visível a hegemonia norte-americana, porém, seguida da concorrência da multiplicidade de polos de poder (major powers), mais fortes no jogo internacional que o resto dos países. Um mundo completamente novo, dominado pela crescente importância das relações interculturais, pela necessidade de comunicação e aproximação entre culturas, pela era digital e pela expressiva diminuição entre fronteiras e barreiras acabou por potenciar, inevitavelmente, grandes aberturas para a aquela que viria a

5 Tendo em conta as várias dimensões de poder a nível interno (poder económico, poder militar, poder energético, poder científico-tecnológico, poder cultural, poder social, etc.)

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ser a maior ameaça à segurança mundial no século XXI: o terrorismo transnacional. Este, dada a sua diferenciadora característica de “transnacionalidade”, tem a capacidade de ultrapassar os limites e barreiras físicos do seu próprio país ou de um determinado país. Os

seus efeitos podem, inclusivamente, atingir a escala planetária6, isto deve-se precisamente à

questão da transnacionalidade, sobretudo quando terroristas (sejam estes indivíduos singulares ou colectivos) perpetuam ataques às grandes potências mundiais (ocidentais neste caso), pelo facto de terem elevadas capacidades de defesa, quer em termos terrestres, aéreos ou marítimos, que teoricamente levam a altos índices de segurança interna e externa. Na prática, em alguns casos, gera-se paradoxalmente um clima de insegurança, pois neste caso concreto, uma potência com níveis mais elevados de segurança e poder que outro país menos seguro e menos poderoso, é um alvo muito mais apetecível para um terrorista pelo facto de que o clima de medo e de terror se estenderá muito mais longe. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos em 2001, em Madrid em 2004, em Londres em 2005, em Paris em 2015, etc. O impacto de ataques ou atentados em capitais europeias ou nos Estados Unidos é completamente diferente

do impacto em países como o Burundi, o Burkina Faso, ou Serra Leoa7, por razões evidentes.

Foi então essencialmente com o eclodir da Guerra Fria e com a emergência da Globalização que, paralelamente, surge este novo tipo de terrorismo.

Esta é uma de muitas formas de caracterizar e exemplificar as diferentes fases do terrorismo, desde a origem do seu termo. É igualmente pertinente atender à diferenciação feita pelo autor Peter Neumann sobre “terrorismo antigo” vs “terrorismo moderno”, no sentido de complementar os esquemas anteriormente demonstrados. (Neumann, 2009: 17)

Embora pareça demasiado abrangente ou generalizada a distinção entre estes dois tipos de terrorismos, na verdade Neumann é bem claro a identificar e explicar um e outro. O autor associa, indirectamente, o terrorismo antigo aos ataques e acções desencadeados em períodos anteriores ao fim da Guerra Fria, e o moderno como algo contemporâneo na nossa sociedade. E, para o autor, as diferenças principais residem essencialmente em quatro pilares: estruturas; objectivos; ideologias e métodos. (Neumann, 2009: 17)

6 Veja-se o exemplo emblemático do 11 de Setembro em que, tal acção subversiva, alterou a ordem mundial da noite para o dia e o clima de medo se instalou não apenas nos Estados Unidos mas que se estendeu a todo o mundo. O mesmo sucedeu com os ataques de Paris, de 13 de Novembro de 2015.

(21)

Ao nível das estruturas, diz-nos que as organizações terroristas têm, hoje em dia, estruturas bem diferentes, sobretudo mais complexas. Essas estruturas, ao invés de terem apenas um centro de gravidade e uma hierarquia – como dizia acontecer em organizações antigas ou desactualizadas, apresentam, hoje estruturas a funcionar em rede, onde existem várias “esferas de poder” e, estas, são e estão interdependentes entre si. Esferas como a militar, a de controlo e comando, a esfera política, a esfera de recrutamento, a esfera económica, a esfera jurídica, a

esfera de Intelligence, entre outras dependendo da complexidade da organização.8 Para além

destas características, Neumann refere também uma outra, igualmente relevante: o alcance transnacional que detêm. Antes da explicação desta última característica mencionada, é útil tentar visionar uma destas restes. Vejamos o exemplo da estrutura organizacional da Al-Qaeda9:

Figura 1- Estrutura Organizacional da Al-Qaeda. Fonte: GlobalSecurity.org

8 Ver estrutura da organização terrorista do ISIS, como exemplo (Capítulo 5)

(22)

Estamos perante uma estrutura dinâmica e complexa, onde todas as esferas estão

interligadas entre si. Dependem umas das outras para assegurar os objectivos da organização. Todas estas dinâmicas alimentam o sistema, de uma ou de outra forma. Como é visível, esta estrutura dispõe de comités estrangeiros, políticos, jurídicos, financeiros, de segurança, militares e de Intelligence. Para a Global Security, revista online especialista em matérias de Segurança e Relações Internacionais, esta estrutura serve como meio de coordenação das funções e para fornecer apoio material para as operações (Global Security, 2015). São as dinâmicas da estrutura que permitem que a organização funcione. Essas dinâmicas são caracterizadas por uma componente de alcance transnacional, no sentido em que há uma dependência com grupos, organizações, indivíduos ou até países fora do território da organização, mas, dentro do radar da mesma. Esta ligação de interdependência transnacional é bem visível no aspecto do financiamento do terrorismo nestas ditas “organizações modernas”. Como é que estas organizações são financiadas? É imprescindível tocar neste ponto, sobretudo por estarmos a analisar a questão das estruturas de organizações terroristas modernas. O que financia directa ou indirectamente o terrorismo, na sua vertente mais contemporânea, é precisamente as receitas extraídas daquilo a que pertence ao Crime Organizado e Crime Internacional Organizado. As “subestruturas” do Crime Internacional Organizado (por exemplo o tráfico internacional de droga, o tráfico de armas, o tráfico de órgãos, o tráfico de seres humanos, etc.). O terrorismo não está, nem nunca estará separado destes outros crimes.

A diferença entre aquilo a que Neumann chama de “terrorismo antigo” vs “terrorismo moderno” ao nível das organizações, não se limita, contudo, à questão das estruturas.

Há, também, diferenças ao nível dos objectivos. Embora seja pacífico que o terrorismo seja um acto político, com finalidades políticas e não religiosas, para qualquer organização, também não é menos verdade que, existem ainda diferenças dentro dessa esfera política. Ou seja, as organizações de outrora, perseguiam politicamente todos os usurpadores e revolucionários e utilizavam mecanismos de terror, para bem do Estado em questão – acto político. Mas as contemporâneas, e neste sentido, o exemplo claro do Estado Islâmico, procuram a criação efectiva/evolução de um Estado verdadeiramente Islâmico na sua conotação política, através de meios completamente diferentes evidentemente, mas não deixam de ter objectivos políticos distintos.

(23)

Para além desta questão, notam-se também diferenças ao nível das ideologias. Hoje, as organizações são guiadas por uma ideologia inspirada na religião. Ideologias fundamentalistas, designadamente islâmicas, não necessariamente violentas. O que existe depois na prática, é sim uma interpretação errada e extremada da lei islâmica, por forma a procurar justificar e, mais que isso, procurar fazer legitimar o uso da violência e das suas acções. No caso das antigas, a ideologia inspiradora não era necessariamente conseguida através da religião, mas sim em níveis políticos. As ideologias que moviam as organizações terroristas antigas eram predominantemente ideologias nacionalistas.

Por fim, as diferenças residem ao nível dos métodos: as “antigas”, de uma forma generalizada, visavam a criação de um estado de “terror” em alvos por eles selecionados, fosse por exemplo alvos militares, alvos políticos, ou até civis (por exemplo os “usurpadores” ou movimentos de contra-poder, revolucionários, etc.) através da utilização de guilhotinas, lutas armadas, assassinatos com armas de fogo, mas tudo numa lógica de uma menor escala comparando com as contemporâneas. Estas, por sua vez, têm na sua mira, alvos

completamente indiscriminados10, em maior escala, onde o objectivo passa sobretudo por

matar o maior número de pessoas, através deataques em massa contra civis e utilização de

violência excessiva, de acordo com as “armas a utilizar” – seja desde ataques bombistas perpetuados por indivíduos singulares ou colectivos, ataques suicidas a partir de veículos terrestres, aéreos ou marítimos e até através de ADM caso pertencessem a grupos terroristas em questão. A intenção passa por criar um maior número de danos possível, por forma a que se crie um maior clima de medo, terror, instabilidade e cedência aos interesses e objectivos dessas novas organizações. Há uma mudança clara de paradigma neste sentido.

7 – Terrorismo de Matriz Islâmica: a emergência de uma

ameaça global

"I am one of the servants of Allah. We do our duty of fighting for the sake of the religion of Allah. It is also our duty to send a call to all the people of the world to enjoy this great light and to embrace Islam and experience the happiness in Islam...

10 Vai de encontro à explicação de “terrorismo indiscriminado” de Sousa Lara (2013), na sua obra Ciência

(24)

"Our primary mission is nothing but the furthering of this religion."11

Osama bin Laden, May 1998

7.1 - O catalisador 9/11

Num mundo cada vez mais globalizado e com o detonar do 11 de Setembro de 2001, o terrorismo islâmico passou a ser o top priority das agendas de segurança de um vasto número de Estados internacionais, sobretudo os ocidentais. Ninguém acreditaria, na época, que um grupo subnacional, uma mera organização terrorista poderia desafiar a então gigante e superpotência Estados Unidos da América e, consequentemente, o mundo ocidental, da forma que o fez. Os objectivos foram visivelmente alcançados. Foi acto de enorme violência, captou uma enormíssima audiência, conseguiu-se criar um ambiente geral de medo, terror e pânico; os propósitos são políticos; os comportamentos foram influenciados, e, inspirou seguidores e potenciais seguidores e outras organizações a, médio-longo prazo, cometerem actos de tal barbaridade.

É mencionado o momento específico do 11 de Setembro como momento detonador, potenciador da emergência de uma nova ameaça global, precisamente pelos danos materiais, psicológicos e por todos os objectivos alcançados por parte da Al-Qaeda e Bin Laden, mas também, pelas consequências políticas que advieram do mesmo. Houve, notoriamente, por um lado, uma mudança clara de prioridades ao nível da política externa, numa primeira instância, imediatamente espelhados na potência sofredora dos ataques, e tal foi visível nos célebres posteriores discursos de George W. Bush e no próprio documento estratégico nacional. Em 2001, meses antes dos atentados, Bush indicava como prioridades estratégicas factores como a democratização, a abertura a novos mercados, conseguir adaptar-se no fundo aos desafios da globalização, era então o que se começava a sentir com a emergência no novo milénio: "The United States has sought to strengthen the post-Cold War international system by encouraging democratization, open markets, free trade, and sustainable development. (…) We must continue working with our allies towards a peaceful, democratic, undivided Europe, with NATO as a deterrent to new conflict and a magnet for new democracies. (…) To protect the peace and promote security, we must work to resolve conflicts before they escalate and

(25)

harm vital U.S. interests" (NSS12, 2001). Isto aliado a ideais como "Responding to threats and

crisis"; "preparing for an uncertain future"; "advancing American values" (Ibid.) etc. Nota-se, contudo, uma evolução e uma diferença clara com a chegada ao poder de Bush e em sequência dos atentados em questão: o próprio índice do NSS do ano de 200213 tem

oficialmente publicado: "iii. Strengthen Alliances to Defeat Global Terrorism and Work to

Prevent Attacks Against Us and Our Friends" (NSS, 2002) e esta passou a ser a prioridade estratégica dos EUA a nível da segurança, ou seja, dá-se uma evolução do geral e do abstracto para algo mais concreto no sentido em que se passou a estar na presença de um tipo de ameaça específico, que passou a ser a maior ameaça, não apenas dos Estados Unidos mas a nível global. Nesse documento podemos constatar essa alteração: "The struggle against global terrorism is different from any other war in our history. It will be fought on many fronts against a particularly elusive enemy over an extended period of time. (…)Afghanistan has been liberated; coalition forces continue to hunt down the Taliban and al-Qaida. But it is not only this battlefield on which we will engage terrorists. Thousands of trained terrorists remain at large with cells in North America, South America, Europe, Africa, the Middle East, and across Asia.Our priority will be first to disrupt and destroy terrorist organizations of global reach and attack their leadership; command, control, and communications; material support; and finances." (Ibid.)

Posteriormente, passou a ser transversal aos países ocidentais, uma vez que era visível que a ameaça se estendia, não apenas aos Estados Unidos, mas ao “mundo ocidental”, enquanto tal. Este fenómeno subversivo sem precedentes alterou, por sua vez, brusca e imediatamente a ordem mundial, pondo à prova o sistema internacional trazendo novas questões e um novo tipo de conflito, uma “guerra assimétrica” com uma enorme desproporcionalidade entre actores, meios e forças (no caso Al-Qaeda vs EUA). (Pascal, 2002: 30). Com esta questão, os EUA violam o direito internacional ao invadir o Afeganistão (2001) e o Iraque (2003), ripostando contra os atentados e na procura de querer assegurar o seu estatuto enquanto superpotência global. Para além desta nova era das Relações Internacionais, esta nova ameaça renascida através do 11 de Setembro de 2001 sob a forma que é conhecida, refletiu igualmente um sinistro sucesso a quem ousou desafiar o poderio norte-americano (Idem, 26). Boniface Pascal refere uma questão importante a este respeito: “o poderio [de um Estado]

12 NSS – National Security Strategies – Documentos oficiais de Segurança Nacional, neste caso dos EUA 13 O primeiro da era Bush e o primeiro após o 11 de Setembro.

(26)

pode tornar-se um factor de fraqueza se for percebido como um excesso de potência”. (idem, 13.) Esta lógica assemelha-se à questão do “paradoxo de segurança” – a ideia de que, por vezes, quanto mais um Estado deseja ver os seus níveis de segurança mais elevados, reforçando, por isso, a sua defesa, e quanto mais investe nessa mesma, maior poderá ser, paradoxalmente, a sua insegurança, uma vez que se poderá tornear um alvo mais desejado por certas organizações ou Estados. A questão lançada a propósito da ousadia da Al-Qaeda ao atacar os EUA, para além de lançar esta nova era e esta nova assimetria de forças, provocou, entre outras coisas, duas que merecem o devido destaque: primeiro um impacto brutal na economia mundial: acentuou quedas fortemente significativas ao nível da bolsa, corrida aos armamentos, alterações profundas e desequilíbrios nos orçamentos do PIB a nível mundial ,por outro lado, este poder desafiador (challenger) também chamou à atenção para um ponto essencial desta análise: revelou a vulnerabilidade dos Estados, na altura em que, no caso concreto os Estados Unidos, se julgavam ser completamente invulneráveis. O desafio foi automaticamente colocado aos Estados Unidos e a toda Europa.

7.2 Tendências da ameaça:

Perante a análise até agora feita à ameaça, é necessário atender ao que advirá e poderá advir como consequências da mesma a médio e longo prazo. Analisámos anteriormente as consequências a relativamente curto prazo, focando essencialmente o ataque específico perpetrado pela Al-Qaeda, contudo, a ameaça não se esgota aí, de forma alguma.

É importante (re)clarificar que a “ameaça” enquanto tal explorada neste ensaio engloba as componentes relacionadas ou derivadas do Terrorismo Islâmico Transnacional , não se fazendo esgotar num ou noutro grupo subnacional, organização terrorista, etc.

Ao abordar as tendências da ameaça em questão, é obrigatório atender a certas estatísticas.

(27)

– Fonte: Global Terrorism Database

Gráfico 2 – Terrorist Incidents between 2001 and 2014

– Fonte: Global Terrorism Database

(28)

– Fonte: The Religion of Peace Database14

Gráfico 3 – Mortes Globais do Terrorismo

– Fonte – The Economist

Gráfico 4: Terrorismo Jihadista em países Ocidentais

-Fonte: The

Economist

14 Esta base de dados apresenta extensas listas com ataques terroristas islâmicos minuciosamente

descriminados desde 2001 a 2016, contendo informações precisas relativas à data, país, cidade, número de mortos, feridos e descrição do ataque em questão. Para efeitos práticos fica, neste capítulo o número de ataques islâmicos e mais informação específica surgirá nos anexos.

(29)

Um primeiro gráfico (Gráfico 1) mostra-nos a evolução de ataques terroristas no mundo, desde 1970 a 2014. Como é facilmente perceptível, até 2004 sensivelmente, não se deu números exagerados, comparativamente com o que se registou a partir desse ano até aos dias de hoje, chegando a atingir cerca de 17000 em 2014 (ver Gráfico 1). Registou-se um total de

141966 desde 1970.15 É, contudo importante não esquecer dois factos: primeiro – o propósito

do presente gráfico é mostrar o “overview” da evolução de ataques terroristas no mundo, não se restringindo unicamente aos de tipo islâmico transnacional; segundo – embora se notem mais ataques nos últimos anos, o que confirma uma tendência exponencialmente crescente e preocupante, a verdade é que, no fundo a validade/o sucesso dos ataques é sempre relativo (um ataque específico pode resultar no mesmo número de danos fatais que 1000 ou 2000 ataques mal ou menos bem sucedidos, por exemplo).16 Em todo o caso, a ideia que

rapidamente se retém, é a de que, nos últimos 6/7 anos, se verificou um aumento exponencial no número de ataques em todo o mundo, confirmando a tendência da ideia inicialmente apresentada de um aumento significativo de ocorrências terroristas. Este facto deve-se sobretudo a vários factores. Desde logo, a emergência e o crescimento de alguns grupos terroristas em peso pelo mundo, com grande capacidade para desenvolver inúmeros ataques em territórios completamente distintos, como o caso específico do Estado Islâmico, que consegue operar quer em território sírio ou iraquiano e, num mesmo momento ou relativamente perto, em território europeu, dada a vasta mobilidade de que consegue tirar partido (seja de armamento, seja de pessoal, equipamento, etc.), possibilitando também

ataques de vários tipos17. Neste sentido coloca-se um enorme desafio ao mundo ocidental

nesta matéria: assegurar um controlo mais efectivo ao nível das fronteiras, procurando condicionar a mobilidade quer de terroristas quer de equipamentos. Em última instância, o objectivo central das instituições ocidentais, com Estados Unidos e Europa à cabeça é reduzir, o mais possível o número de ataques no seu território, bem como, paralelamente, reduzir o nível de ameaça em si.

Um outro dado a reter, neste contexto de tendências é que, se desde 2001 a 2016 se registaram cerca de 70000 ataques terroristas (de todos os tipos), cerca de 27000 foram de cariz islâmico, o que é particularmente interessante para este estudo. Nota-se cada vez mais

15 Global Terrorism Database – Search Results (from 1970-2914) 16 Neste caso basta-nos pensar no caso do 11 de Setembro de 2001.

17 Se analisarmos a lista de ataques do EI, verificamos desde ataques suicidas a camiões bombistas, tomada de reféns, ataques com metralhadoras, entre tantos outros.

(30)

uma predominância clara do terrorismo islâmico em relação a outros tipos de terrorismo, algo que não sucedia, por exemplo, nos anos 60 ou 70 do século XX. O último gráfico (Gráfico 4) também mostra uma tendência evolutiva nos últimos anos do terrorismo jihadista, quer de ocorrências efectivas, quer de tentativas. É de notar que a presença/influência do Estado Islâmico condiciona fortemente as estatísticas, fazendo-as aumentar significativamente, sendo esta organização a principal neste subcapítulo do terrorismo nos anos mais recentes.

Para além destes factos, notou-se e continua a notar-se uma crescente “desordem mundial” – uma falta e um descontrolo ainda visíveis em países do mundo ocidental na gestão e neutralização da ameaça; emergência de grupos/facções terroristas, bem como de células (da

mesma organização).18 Há uma tendência clara para ser muito mais difícil de controlar do que

qualquer outra ameaça qualquer. Como foi visível na estrutura da Al-Qaeda, há lugar para comités de intelligence e de segurança, que, cada vez mais modernizados, conseguem tirar partido das suas próprias tecnologias, não só para desenvolver ataques, como proteger informações e armas, etc. A ameaça deste tipo de terrorismo tende a ser mais difícil de ser controlada. Para além do facto de que, qualquer ataque feito em território ocidental, causa também impactos psicológicos e emocionais terrivelmente brutais, indo ao encontro dos seus objectivos específicos (como a criação de um clima de medo; influenciar comportamentos; inspirar seguidores; causar o maior número e nível de danos possível, captar uma audiência, …) sobretudo nos dias correntes com a internet e redes sociais, como aliás foi bem visível nos acontecimentos de Paris 2015.

Até ao seu enfraquecimento e desmantelamento, designadamente após da morte do seu então líder, Bin Laden, a Al-Qaeda foi a organização terrorista que maior espelhou a ameaça do terrorismo islâmico no mundo ocidental. Neste sentido, os Estados Unidos levaram a cabo a política de Bush anteriormente referida (war on terrorism) mesmo já na administração Obama, onde conseguiram desmantelar vários campos de treino da Al-Qaeda e capturar, em 2011, a face principal da organização. Em todo o caso, a ameaça terrorista não diminui. A Al-Qaeda foi movimentando e inspirando grupos islâmicos e serve hoje como centro / base de uma rede global de organizações terroristas afiliadas da Al-Qaeda (Zimmerman, 2013:01) de onde é possível destacar a Qaeda no Iraque/ Estado Islâmico do Iraque e do Levante; Al-Qaeda na Península Arábica, Al-Al-Qaeda no Magrebe Islâmico, al-Shabaab, al-Nusra e o

18 Destaque claro do Estado Islâmico, que se assume hoje como a maior e mais temida organização terrorista do Século XXI, conseguindo “roubar” protagonismo à Al-Qaeda.

(31)

Emirado Islâmico do Cáucaso. Junta-se a estas o Boko Haram, organização terrorista a operar na Nigéria, que a partir de 2011 tem vindo a ganhar força com séries de ataques perpetrados em território próprio, sobretudo contra mulheres e crianças, propositadamente.

Apesar dos seus objectivos específicos ainda serem distintos, estes grupos jihadistas19 não

descartam a intenção e “obrigação” que entendem ter na destruição do mundo ocidental,

continuando assim, cada vez mais empenhados na jihad20.

7.3 O “Jihadismo Global”

Actualmente, faz todo o sentido que cientistas, politólogos, investigadores, etc. se “debrucem” sobre o Jihadismo como um tema central e uma prioridade no que concerne a ameaças internacionais, por razões evidentes. Antes de desmistificar e explicar este conceito actualmente “vivo”, é necessário fazermos antecipadamente uma análise etimológica. O Conceito “jihadismo” provém, directa ou indirectamente, da palavra “jihad”. Esta significa “esforço” ; “esforço feito no sentido de encontrar o caminho de Deus”; (…) no fundo, jihad quer significar a guerra contra o Dar-al-Harb (Mundo da Guerra) por parte do Dar-al-Islam (Mundo do Islão) (Silva, 2016: 56). É comummente traduzida por “Guerra Justa” ou “Guerra Santa”. Esta “luta”, é, no entanto entendia pelos fundamentalistas islâmicos no sentido literal e de forma tão defensiva quanto maniqueísta, como aliás nos mostra Teresa de Almeida de Silva na sua obra, quando diz: “Não obstante, a jihad é sempre vista pelos activistas radicais como um modo de guerra defensiva, ou seja, é utilizada apenas e só para defender o Islão dos infiéis. Eles fundamentam esta sua ideia no Alcorão”. (idem, 57). Há uma clara interpretação maniqueísta por parte dos radicais islâmicos, no sentido em que os “verdadeiros” fieis e crentes constituem os “bons” e os infiéis constituem os “maus”. Neste sentido, os radicais islâmicos procuram lutar contra todos aqueles que tenham uma visão distinta destes ideais, ou até todos os que não se identifiquem, nem tão pouco se interessam por essa mesma ideologia, procurando fazer legitimar o seu conceito de “Guerra Justa” – “Bons vs Maus” – “Fiéis vs Infiéis”.

19 Activistas islâmicos de raiz sunita que procuram legitimar as suas acções terroristas com base na Sharia. 20 Leia-se “luta” ou “esforço” pelo Islão.

(32)

Podemos apontar cinco objectivos da jihad islâmica (Costa, 2003 in Silva 1016: 57):

1. Defender o Islão : Este é o prisma principal dos radicais islâmicos. Os radicais islâmicos consideram ser imperativo unirem-se na defesa da verdade e justiça do Islão. 2. Combater os inimigos : os “jihadistas” não vêem qualquer tipo de problema em

recorrer à guerra ou à violência se alguém tentar impedir a expansão do Islão. 3. Combater a injustiça e corrupção

4. Estar preparado para a jihad : Esta premissa significa a todos os crentes que procurem

seguir estes ideais estejam prontos a contribuir para a “luta”, quer pela violência , quer através de orações ou contribuições financeiras.

5. Cumprimento de normas para com o inimigo: Em caso de conflito com o inimigo, há

certos limites que o Islão impõe que devem ser respeitados (como a proibição de assaltos nocturnos, guerra biológica, queima do gado, e assassinato ou agressão a pessoas desarmadas).

Tiram-se algumas ilações destas cinco premissas quando transpostas para a realidade actual internacional. A defesa do Islão, no actual espectro internacional, pelos activistas radicais não conhece hoje limites, nomeadamente em relação ao “cumprimento de normas para com o inimigo” , uma vez que, os alvos civis são os alvos mais desejados dos jihadistas, em grande parte pela tão desejada captação de uma audiência. Há, neste sentido, uma “sobrevalorização” da defesa do Islão, procurando legitimar acções violentas e condenáveis, não existindo, na

verdade, limites. Os jihadistas21 procuram legitimar essas acções por leis e ensinamentos que

consideram ser provenientes do seu “mundo” – o já referido Dar-al-Harb – no qual vêem o recurso à força armada, a melhor guerra para a defesa da fé.

Analisada a “jihad”, foquemo-nos no conceito de “jihadismo”. Este ganhou sobretudo “fama” nas últimas duas décadas sobretudo, com grande destaque para a última, por motivos óbvios. Na tentativa de construir este conceito de uma forma muito sucinta mas objectiva,

podemos considerar o jihadismo como a ideologia violenta do islamismo.22 É, no fundo, um

21 Jihadista é um termo muito preciso que não pode ser confundido. É associado a um extremista islâmico que recorre à violência na prossecução dos seus objectivos. Geralmente, é associado para distinguir os muçulmanos sunitas violentos dos não-violentos.

22Islamismo: “O Islamismo (…) procura, de uma forma activa, a afirmação e promoção da fé, bem como a gestação de fórmulas governativas de carácter islâmico. Embora viva e provenha do mundo islâmico, é essencialmente um movimento social, de retórica metapolítica e com carácter secular. (…) Tem como objectivo

(33)

movimento islâmico radical, fundamentalista, extremista, que procura através jihad e do permanente estado de guerra, violência e subversão da forma mais extrema - terrorismo, seguir a os fundamentos mais ocultos da Sharia e do Alcorão, sendo interpretado pelos radicais de forma muito peculiar.

Independentemente da discussão académica acerca de quando aconteceu, este movimento tornou-se global. Tal facto, está, inevitavelmente conectado com a emergência e rápido desenvolvimento das tecnologias e de um processo de globalização mundial cada vez mais célere. O terrorismo islâmico ganhou outro impacto com o abrir do milénio, alavancado pelo fenómeno da globalização. Transpondo esta ideia para termos práticos: deu-se toda uma nova dinâmica e impacto da acção terrorista a partir do momento em que se começou a registar entre outras coisas, mas sobretudo, uma maior facilidade de comunicação e transporte no mundo. Os terroristas beneficiaram sobretudo do mundo globalizado para desencadear a grande maioria dos seus ataques. O desvio de aviões, os ataques em larga escala quer por veículos-bomba, quer por homens-bomba, quer os próprios ataques por metralhadoras são muito mais frequentes num mundo globalizado, com facilidade de deslocação, transporte e penetração em território interno ou estrangeiro. A “globalização do terrorismo” é um fenómeno real nos dias de hoje. A partir do célebre 11 de Setembro de 2001, este facto começa a ganhar forma, em última instância pela rápida difusão de informação a nível global do quer do ataque em si, quer do futuro perigo num mundo incerto e perigoso que rapidamente se adivinhou: “these exemple of attacks directed against the US from within or abroad have only been part of the global pattern of terrorism in the 20th 21st centuries” (Lutz and Lutz 2005: 3) . A juntar a estes factores, é um fenómeno global no sentido literal do termo, pois hoje as organizações e células terroristas, como os próprios “lobos solitários” têm capacidade para desenvolver ataques em qualquer parte do globo. E momentos depois, todo o mundo tem conhecimento desses ataques. A globalização, indirectamente, potenciou um estado de vulnerabilidade nos países democráticos: “Democratic countries are more vulnerable than other kinds of political systems (…) democratic countries with a commitment to civil liberties and basic rights find it more difficult to gather intelligence on citizens, to arrest, to interrogate and to extract information (…) The Whole range of protections generally available in democracies makes both prevention of terrorists attacks and the

a instauração de um Estado islâmico. E, para que tal aconteça, no limite, justifica-se o uso da violência armada. (… ) Assenta numa ideologia de retórica religiosa que tem uma interpretação holística do Islão. (Duarte, 2015)

(34)

aprehension of terrorists even more difficult”. (idem:36) Ao contrário dos países não-democráticos: “In non-democratic countries, dissident organizations are more constrained. In a totalitarian system, where the government has comprehensive security agencies and informers everywhere, opposition is much more difficult to organize. Once suspicion focuses on an individual or a group of individuals, their activities can be monitored, mail opened, phone lines tapped,(…).” Está aqui presente um paradoxo, em que o corolário é: a “democratização ocidental” possibilitou uma vacuidade/abertura no sistema à penetração deste novo tipo de terrorismo – foi uma porta aberta à globalização do terrorismo.

O jihadismo é hoje um fenómeno global, que marca a actualidade internacional. Mas, mais grave e impressionante, é que, este tipo de atrocidade, passou a ser um casual topic – todo o jornal contém informações e novidades sobre o tema, quando existe e quando não existem ataques pelo mundo.

8. Motivações: Pertencer a uma organização terrorista

A reflexão em torno da compreensão das motivações de pessoas que se querem juntar a grupos terroristas, pertencer ou exercer, por qualquer forma que seja , o denominado terrorismo de matriz islâmica, deve ter em conta vários factores . Desde logo, é pertinente recuar às causas e características do fundamentalismo islâmico, uma vez que o terrorismo resulta/surge como uma das características deste movimento (Lara, 2011) , como também consegue justificar directa ou indirectamente, as razões e motivações da ascensão e evolução do terrorismo.

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Neste sentido, podemos apontar algumas causas do fundamentalismo islâmico23 (Silva, 2016:

63-66)

- O fracasso das tentativas de implementação de ideologias e sistemas políticos impostas pelo

Ocidente no mundo muçulmano24;

- Uma crise de identidade no mundo árabe;

- Uma reacção ao laicismo, reformismo e secularização (designadamente aos casos da Turquia, Irão e Argélia);

- Uma reacção xenófoba, do ponto de vista cultural, contra qualquer modelo estrangeiro; - A procura de uma identidade árabe (que foi visível através do surgimento de ideologias transnacionais e nacionalismos, como o caso do pan-arabismo, despoletado sobretudo aquando da divisão do Império Otomano em diferentes Estados independentes;

- O sentimento de inferioridade e humilhação pela subordinação militar, económica e social

do mundo árabe relativamente às grandes potências ocidentais25

- A recusa pelo colonialismo, neocolonialismo, socialismo marxista e sistema capitalista; - Grave crise económica provocada pelo êxodo rural.

Este ciclo sequencial (causas mencionadas – fundamentalismo islâmico – terrorismo) leva-nos, entre outras coisas, ao outro lado do “prisma”. É importante considerar os dois lados da moeda e não cair na “tentação” da tese maniqueísta comummente utilizada pela sociedade académica, comunicação social e decisores políticos, sobretudo americana, de que, os

23 Nota-se um “ciclo vicioso” (estes factores fizeram despoletar o movimento do fundamentalismo islâmico que, por sua vez, potencia o interesse e motivações para os terroristas desencadearem os seus ataques) 24A procura pela resolução dos problemas sociais, políticos e económicos no mundo muçulmano por parte do ocidente, resultou, paradoxalmente, num retorno aos fundamentos/principios da fé e à sua defesa literal (recorrendo à guerra e violência se necessário) – à necessidade muçulmana de seguir os ideais e princípios da sua religião, tal como a recusa de todo um processo de ocidentalização nas suas sociedades.

25 Processo de vitimização historicamente notório (com as Cruzadas, Reconquista, Sistema de Mandatos, Sistema de Colónias) (ibid.) ,como também o próprio processo de ocidentalização ao nível da propagação da cultura ocidental pelo mundo inteiro

(36)

terroristas são os únicos “maus da fita”. É evidente que todas as atrocidades que têm cometido são inegavelmente condenáveis, não é essa a questão, porém, para um exercício científico e académico como este, é necessário ir “mais além”, ver ambos os lados, encontrar as suas justificações (por muito que não sejam comummente consideradas como tais).

Há um ódio claro por parte dos fundamentalistas e radicais islâmicos pelo mundo ocidental, que é justificado pelos motivos que levaram à criação do fundamentalismo islâmico e ao desejo de afirmação da cultura e do mundo árabe relativamente ao mundo ocidental. Há uma notória raiva e necessidade de vingar o rumo da História por parte do mundo muçulmano. Todo este processo tem vindo a afirmar o movimento fundamentalista islâmico. A forma encontrada pelos radicais islâmicos chegarem aos seus fins (profundamente políticos) tem-se revelado por actos de guerra e por actos terroristas fundamentalmente, pela intenção maior de dizimar tanto quanto possível o mundo ocidental. O Dar-al-harb vê-se a si próprio numa guerra progressiva contra as sociedades ocidentais. O terrorismo tem sido um meio para chegarem aos seus fins, ao desejo de imposição de um mundo e um estado superior, verdadeiramente islâmico, inspirado nos mais profundos e ocultos princípios do alcorão.

Analisadas estas premissas, é contudo, necessário fazer uma separação no que toca a motivações: (religiosos e não – religiosos). Isto porque, convém perceber antecipadamente que, existem, por um lado, muçulmanos crentes que desejam integrar grupos terroristas, ou ser eles próprios terroristas, e, num outro lado, pessoas (ou um só indivíduo ou um grupo), que nem sequer apresentam nenhuma afeição ou crença religiosa, nem se enquadram em nenhum movimento cultural que vá de encontro aos princípios das organizações terroristas. Em todo o caso, cada vez é mais visível a integração deste tipo de indivíduos em células ou organizações terroristas, por variados e complexos factores.

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Figura 1- Estrutura Organizacional da Al-Qaeda.
Gráfico 2 – Terrorist Incidents between 2001 and 2014
Gráfico 4: Terrorismo Jihadista em países Ocidentais
Fig. 3 – Ranking dos países mais afectados pelo Terrorismo, 2015   - fonte: Global Terrorism Index.
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Referências

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