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Motivações “Não-religiosos”:

7 – Terrorismo de Matriz Islâmica: a emergência de uma ameaça global

8. Motivações: Pertencer a uma organização terrorista

8.2 Motivações “Não-religiosos”:

Actualmente, não são apenas os muçulmanos crentes que aderem ao fundamentalismo islâmico, ou às organizações terroristas, ou que se fazem explodir por motivos religiosos ou políticos. A actual conjuntura internacional mostra-nos que hoje vai muito mais para além disso. Por muito incrível e impensável que possa parecer, há actualmente um grande número de indivíduos não-religiosos, por todo o mundo, a aderirem a movimentos terroristas. Em todo

o caso, para pertencer a estes movimentos, têm de se fazer muçulmanos, para posteriormente, reivindicar os seus ataques ou as suas acções nestes moldes, assim como as justificarem. Não se afigura um exercício fácil explicar os motivos ou motivações dos “não-religiosos” quererem integrar ou pertencer a movimentos terroristas. Não há um único motivo que os una a todos. O que há é um quadro complexo de factores que têm influência em determinadas pessoas e que potenciam um brainstorming nesses mesmos indivíduos, e, por consequência os leva a tomar decisões. Mas há igualmente uma dualidade de questões a funcionar de forma paralela que não pode ser dissociado: as “tendências de recrutamento” e os “Targets” dos líderes das Organizações ou movimentos terroristas. Estes têm demonstrado consecutivamente certas tendências de recrutamento para as Organizações, nomeadamente no tipo de alvos escolhidos. Combs já referira em 2003, na sua obra sobre terrorismo no século XXI, algumas destas tendências: apesar de a maioria dos terroristas nesta altura estarem nos vinte, tem havido uma tendência para recrutar crianças de 14 e 15 anos. (Combs, 2003: 63) Esta razão deve-se por ventura, a serem seres fortemente vulneráveis a aceitar ordens, manifestações ou desejos. Neste sentido, apresentam-se mais manipuláveis. Hoje, para além de verificarmos esta tendência, vemos também, por exemplo ao nível do Estado Islâmico, outros dois tipos de targets a aderirem e filiarem-se nestes grupos – por um lado, o caso de crianças pequenas, que aliás as temos vindo a observar no Ocidente, através dos media, desde cedo a serem instruídas para matar, sendo-lhes intrinsecamente incutida esta forma de agir e de pensar como algo perfeitamente normal e natural, e, por outro lado, jovens, sensivelmente dos 17 aos 25 anos. Há razões específicas explicativas desta tendência na escolha dos alvos e estas são justificadas pela Psicologia Social e Emocional. Há anos que psicólogos e cientistas têm vindo a analisar os comportamentos e características dos terroristas e de indivíduos que se filiam. Um psicólogo de renome, John Horgan, que dirige o Centro de Estudos de Terrorismo da Universidade da Pensilvânia, descobriu algo particularmente interessante para este estudo: a que tendem as pessoas mais abertas ao recrutamento terrorista e a se radicalizarem? (Horgan in DeAngelis, 2009: 60)

- a sentirem-se irritadas, alienadas e desprivilegiadas;

- a acreditar que o seu actual envolvimento político não lhes garante a oportunidade de mudança real/efectiva;

- a identificar-se com as vítimas da injustiça social contra a qual eles acham estar a lutar; - a sentirem a necessidade de agir de forma prática ao invés de se limitarem a falar dos problemas;

- a acreditarem que o envolvimento na violência contra o Estado não é algo imoral; - a terem amigos ou familiares simpatizantes com a causa em si;

- a acreditarem que aderir a um movimento do género lhes oferece recompensas sociais e psicológicas como a aventura, a camaradagem e um intensificado sentido de identidade.

Analisadas as tendências de comportamentos e características de pessoas que têm vindo a aderir ao terrorismo islâmico, há que olhar para alguns outros factores “justificativos” das suas decisões. Seguindo uma entrevista feita a Mahdi Abdile, representante do Finn Church Aid para a África Oriental e Austral, pelo European Institute of Peace, e publicada no seu site

com a rúbrica “Why do people join terrorist Organizations”29, identificamos alguns tópicos

interessantes. Desde logo, Abdile diz que, dentro do quadro complexo de motivos, há que considerar factores ligados a dinâmicas de exclusão política e social, benefícios económicos, fracas estruturas governativas, descriminação ética e religiosa, e factores de obrigação. (Abdile: 2016). Excluindo a parte religiosa para este contexto, tomamos em conta os outros factores. Estes coincidem fortemente com as tendências apresentadas por Horgan. Neste sentido, é possível afirmar que o que leva, ou o que tem levado maioritária e tendencialmente indivíduos a aderirem a grupos e movimentos terroristas são factores de ordem económica (sobretudo uma procura por melhores condições de vida); de ordem política (a não aceitação e subordinação a um determinado sistema político vigente; o desejo de mudança/ruptura de ordem); de ordem social (a pensamento e sentimento de que não se enquadram num determinado contexto social; a necessidade de mudança social para um ambiente completamente diferente do que vivem; a necessidade de se fazerem afirmar eles próprios contra aqueles com os quais eles não concordam ou ajam em conformidade); e de obrigação

29 Abdile fez o seu estudo especifico para a região da Somália, no entanto, alguns factores que apresenta são transpostos para outras organizações terroristas, particularmente pertinentes para este estudo em concreto.

(quando são forçados a aderir aos seus movimentos e grupos). Estes são factores que são justificados por ciências que estudam os comportamentos humanos, sociais e que, não estão

nunca dissociados da dualidade “Targets e Tendências de Recrutamento” .

Em todo o caso, convém salientar que não é “líquido” que estes motivos sejam sempre assim para os “não-religiosos”, e o mesmo para os religiosos. Estes têm sido motivos e razões que, tendencialmente, ao longo dos anos, se têm vindo a confirmar. Se olharmos para, por exemplo, os portugueses que recentemente se têm tornado jihadistas e que se têm juntado ao Estado Islâmico, conseguimos identificar pontos de convergência com os factores aqui mencionados. Desde logo, confirma-se, por um lado, a tendência de recrutamento de jovens, maioritariamente dos 17 aos 25 anos. Depois, todos eles apresentavam condições económicas “precárias” ou medianas. Havia por eles manifestações e desejos de outro tipo de condições de vida. Havia igualmente vontade e necessidade de mudança do contexto socio-cultural. São sobretudo pessoas que não se enquadravam no contexto social português, no contexto social em que viviam mais especificamente. Também não eram propriamente “adeptos” do sistema político vigente e era claro que pretendiam alterar/subverter essa ordem política. Aos factotes analisados podemos juntar a instabilidade psicológica e emocional. Determinados indiviudos com elevada instabilidade racional e comportamental são capazes de fazer uma complexidade de atrocidades que, aos seus próprios olhos é algo natural. Neste caso, aderem a estes movimentos. E as Organizações terroristas têm, cada vez mais, intensificado os seus esforços no sentido de recrutar este tipo de jovens, tendencionalmente instáveis e fortemente manipuláveis para os seus “quadros”. Este afigura ser, inequivocamente, mais um enorme desafio colocado a toda a sociedade ocidental, forças políticas ocidentais, serviços e forças de segurança ocidentais e a toda a comunidade académica e intelectual em geral. O desafio de diminuir e evitar as tendências de recrutamento dos terroristas; o combate contra toda a integração e manifestação de interesse de adesão a movimentos terroristas deve ser visto

como um key-topic na discussão académica e intelectual ocidental na luta contra o terrorismo,

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