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Joaquim Canuto Mendes de Almeida

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2009 (páginas 87-92)

1.3 A discussão brasileira sobre a existência de uma teoria geral do

1.3.2 Delineamentos de uma teoria do Direito Processual Penal

1.3.2.1 Joaquim Canuto Mendes de Almeida

Os estudos de Joaquim Canuto Mendes de Almeida são extremamente relevantes para a compreensão da problemática que ora se insere, principalmente, porque foi Professor na Faculdade de Direito da Universidade de

251 Ibidem, p. 5.

São Paulo dos Professores Hermínio Alberto Marques Porto,253 Rogério Lauria Tucci e Sérgio Marcos de Moraes Pitombo.

Consequentemente, muito do que é ensinado pelos Discípulos nas obras e nas aulas decorre dos ensinamentos do “Professor Canuto”, que já ousava discordar dos estudos da teoria geral do Processo extensivos ao Direito Processual Penal.254

Joaquim Canuto Mendes de Almeida, além de influenciar diretamente a teoria do Direito Processual Penal, deve ser considerado como o principal precursor de suas bases técnico – jurídicas.

O autor chama a atenção para o fato de que existe certo predomínio na teoria geral do processo (judiciário) de “preconceitos da processualística civil, dentre os quais o mais grave esta na indébita generalização da pretensa inércia da autoridade jurisdicional, como se posta sempre à disposição da pretensão das partes”.255

Esclarece o autor que isto ocorre somente no juízo civil, mas não no juízo penal, onde prevalece a necessidade da pena e do processo penal para concretizá-la.256

Ressalta o autor que prevalece no processo civil o princípio da disponibilidade, no processo penal, por outro lado, o princípio da indisponibilidade.257

253 O Professor Hermínio Alberto Marques Porto se fez discípulo do Professor Joaquim Canuto Mendes de Almeida, do qual sempre expressou admiração e respeito, e do Professor José Frederico Marques, o principal expoente da Teoria Geral do Processo no Brasil. A convite do Professor José Frederico Marques passou a lecionar na Faculdade Paulista de Direito, onde em 1971, mediante concurso conquistou o mais alto posto da carreira docente em nossa Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, Catedrático em Direito Judiciário Penal.

254 Joaquim Canuto Mendes de Almeida, Processo penal, ação e jurisdição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, p. 10.

255Idem, ibidem. 256 Ibidem. 257 Ibidem.

Considera o juiz automático, livre “de travas estabelecíveis por obras das partes”, ainda que o processo seja acusatório, pois as partes não têm disponibilidade. Por isso, prefere tratar acusação e defesa como “partícipes” e não como partes.258

Sobre a ação popular penal, onde qualquer do povo poderia propô-la, pois há impessoalidade sobre o titular, com o advento do Ministério Público penal caiu em desuso. O promotor de justiça substitui o titular primário da ação penal publica que é qualquer pessoa do povo, “o público”. A única ação popular do povo, mas que não é processual se refere a comunicação da notícia do crime.259

A ação penal pública, segundo Joaquim Canuto Mendes de Almeida, tem por fim tutelar o “interesse impessoal do público”, por isso, o Estado assume a tarefa de exercer o poder de punir pela ação do Ministério Público. O autor não se descura do fim do processo penal de tutelar a liberdade jurídica do acusado que “se apresenta irrenunciável durante a ação penal”. Prevalece uma nota de inquisitividade e a colaboração dos partícipes entre “acusador e acusado” por meio do contraditório no processo jurisdicional.260

Sobre o contraditório, ressalta a indisponibilidade, como característica inerente a ação jurisdicional. Observa o autor que a ação coopera com a jurisdição penal para realizar um fim comum. Volta-se para atingir concretamente o direito de punir por meio da pena ou da medida de segurança e tutelar, pelas leis processuais penais, os direitos individuais. Com isso, conclui que a jurisdição diz respeito a atividade dos juízes e a ação àquela exercida pelas partes. Com isso, o processo penal reflete o direito penal, pois procura satisfazer o interesse público de aplicar uma penalidade. Por isso, “a ação penal, de interesse público, qual também se ostenta, constitui tarefa de Ministério Público”. 261

Ressalta o autor o caráter publicístico da ação penal, por ser pública. Sobre a ação de iniciativa privada, explica que também deve ser considera

258 Ibidem.

259 Ibidem, p. 11-12. 260 Ibidem, p. 16. 261 Ibidem, p. 16-19.

pública, porque tende a realização do direito penal, simultaneamente, do contraditório judicial, e dos direitos fundamentais do acusado. Ainda que atribua certa disponibilidade ao ofendido, a ação penal conserva “a efetivação do mesmo fim penal, de interesse público.”262

Destaca a necessidade da ação penal ser pública, regida pelo princípio publicístico, porque visa a realizar concretamente o poder-dever de punir do Estado. Não resta oportunidade ou conveniência para o Ministério Público, cada membro da instituição “está obrigado a realizar sua específica tarefa: a de dar início a ação penal, ou não (se não for caso dela) e a praticar, ou não, atos de postulação (acusação) e probação, bem como atos de impugnação (recursos)”.263

Joaquim Canuto Mendes de Almeida, na obra denominada Princípios

fundamentais do processo penal, ao estudar o contraditório, confronta o processo civil com o processo penal.264

Coloca o autor que o juiz deve observar duas posições: da norma jurídica e da situação de fato. Para a primeira a atividade judicial é idêntica no processo penal e no processo civil. Sobre a posição da situação de fato há inúmeras divergências.

O juiz no processo civil não tem o dever precisa buscar a realidade do fato, se contenta com a “mera afirmação das partes”. O acordo “é condição suficiente para a posição do fato na sentença: é uma equivalência judiciária”. 265

262 Ibidem, p. 19-20.

263 Ibidem, p. 21-22. Joaquim Canuto Mendes de Almeida destaca a origem do Ministério Público e como adquiriu a atribuição de acusar penalmente alguém. O poder-dever de ação penal se destacou do poder-dever inquisitivo do juiz com o passar dos séculos. O juiz presidia a devassa especial de ofício e no momento da fase processual acusatória onde se desenvolvia um debate alternado entre as partes, “as cargas de acusar recaiam sobre o escrivão, incumbido este de ler e provar os artigos de imputação.” Estes atos foram reconhecidos como “de verdadeiro ministério público”. Pela sua importância, “reclamaram a criação de cargos a eles especificamente predestinados em relativo descarrego da tarefa do juiz. Seus ocupantes, no Brasil, tomaram o nome de ‘promotor público’, herdado do Direito Canônico, através do Direito do uso” (Joaquim Canuto Mendes de Almeida. Processo penal, ação e jurisdição, cit., p. 10).

264Joaquim Canuto Mendes de Almeida, Princípios fundamentais do processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973.

Destaca o autor que o acertamento da verdade para o juiz civil é “um resultado puramente fortuito”. Por isso, “a verdade no processo civil, encontra oposição a verdade real, que se busca no foro criminal, e denominada formal, convencional, jurídica”. 266

Enfatiza Joaquim Canuto Mendes de Almeida que o mesmo não ocorre no processo penal, o Estado não é um estranho ao conflito, tem interesse unitário sobre os dois aspectos fundamentais: punição do culpado e; liberdade do inocente. O primeiro está previsto na norma penal incriminadora e o segundo garantido nas “normas de direito constitucional e praticamente reconhecido pela forma jurisdicional imposta à função administrativa de atuação da pena.”267

Sobre o conflito entre o direito de punir o culpado e o direito de liberdade do inocente, considera que não gera “a lide propriamente dita”, porque, segundo o entendimento de Carnelutti, esta existe quando alguém pretende a tutela imediata de seu interesse em conflito com o interesse de outra pessoa que resiste. No processo penal as partes contratantes não existem. O Estado, “em face dos dois aspectos contrários de aplicabilidade da lei penal, não tem preferências especiais e procura, apenas, sob forma jurisdicional, mas com atividade substancialmente administrativa, a justa aplicação da norma”. 268

Em decorrência da obrigatoriedade e da legalidade o Ministério Público não pode renunciar o processo, tão pouco o imputado em decorrência do princípio da inevitabilidade, “nenhuma relevância, pois, é reconhecida às considerações subjetivas dos sujeitos que parecem personificar os dois interesses contratantes”.269

O processo penal, segundo o autor tem por fim alcançar a verdade real, por isso, não há espaço para as partes modelarem a relação jurídico-material, “assim, o juiz é inquisitivo.”270

266 Ibidem. 267 Ibidem, p.106. 268 Ibidem. 269 Ibidem, p.106. 270 Ibidem, p.106-107.

Esclarece que o princípio inquisitório não impede a atividade processual das “partes”, não tem como fim atribuir o monopólio da busca da verdade ao juiz, mas apenas impedir que as partes o exerçam. Assim, o contraditório não impede a iniciativa instrutória do juiz. O juiz não deve “permanecer passivamente assistindo ao debate.”

Desenvolve um “concurso” entre o acusado e Ministério Público para realizar a justiça penal. Isso ocorre de forma contraditória, não há controvérsia entre as partes, não há dúvida interna da justiça pública, o desenvolvimento contraditório não corresponde aos “interesses contratantes dos sujeitos processuais”.271

Exige-se no processo penal a presença efetiva do acusado, que não pode ser julgado à revelia. Diversamente do que ocorre no processo civil, o acusado “nunca perde o direito de defesa”, além disso, é obrigatória a nomeação de defensor para representá-lo em todos os atos do processo. 272

Por fim, Joaquim Canuto Mendes de Almeida delineando as bases teóricas da teoria do Direito Processual Penal, ousou defender o direito de defesa no inquérito policial. 273

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2009 (páginas 87-92)