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Os Jogos Olímpicos têm sido considerados grandes propulsores de mudanças sociais, políticas, urbanas. A sua recente transformação em espetáculo mundial garante grandes investimentos e visualidade, mas não foram (re)criados com tal pretensão. De acordo com registros analisados por historiadores62, as Olimpíadas nasceram na Grécia Antiga, por volta de 2500 a.C. Os jogos pan-helênicos, as Olimpíadas Antigas, foram uma série de competições atléticas disputadas por atletas das cidades- estado que formavam a Grécia Antiga, realizado na cidade de Olímpia localizada ao norte do Peloponeso. Esses jogos ocorriam de quatro em quatro anos e passaram a ser registrados a partir de 776 a.C.

As Olimpíadas possuíam uma grande importância para os gregos, pois possuíam caráter religioso, político e esportivo. Primeiramente era uma forma de homenagem aos deuses, principalmente Zeus. Era também um momento importante na busca pela harmonia entre as cidades-estados e valorização da saúde e do corpo saudável, em que os jovens atletas mostravam suas qualidades físicas.

Cerca de um mês antes do início dos Jogos os competidores começavam a chegar à Olímpia onde passavam por um treinamento físico, moral e espiritual sob a supervisão dos juízes. As Olimpíadas na Grécia Antiga duravam uma semana, tinham um caráter amadorístico e os atletas competiam nus. Na época da realização do evento esportivo ocorria uma trégua nas guerras e conflitos. A chamada "paz olímpica"63 viria garantir segurança para os atletas que tinham que se deslocar de suas cidades-estado até Olímpia. Os atletas disputavam várias modalidades na antiguidade como, por exemplo, arremesso de disco, corrida, natação, pentatlo, boxe, luta, salto em distância entre outros.

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Comitê Olímpico Internacional, disponível em www.olympic.org

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Jogos Olímpicos da Antiguidade Fonte: Hype Science

Disponível em: http://hypescience.com/15-fascinantes-fatos-sobre-as-olimpiadas-antigas/

Os atletas vencedores eram recebidos como heróis, e passavam a ter muitos privilégios na sociedade grega, como a isenção no pagamento de impostos e o direito de ocupar o primeiro lugar nas festas e jogos. Em Esparta os vencedores recebiam a maior recompensa que a cidade oferecia a um filho seu: o privilégio de combater na guerra na primeira linha, ao lado do rei. Com o tempo, outras provas foram incorporadas, e o caráter das olimpíadas também foi mudando. Homens ricos da época começaram a manter atletas profissionais e o aspecto religioso foi sendo esquecido. Mas, a grande mudança ocorreu depois que os romanos conquistaram a Grécia no século II a.C. Na época do Imperador Nero, no lugar de cidadãos livres, escravos passaram a competir por suas vidas contra animais selvagens.

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Discóbolo – a imagem de um desportista em ação – de Míron (século V a.C.) Fonte: Revista eletrônica Graecia Antiqva

Disponível em: http://greciantiga.org/img/index.asp?num=0783

Sob o domínio do Império Romano cristianizado, as Olimpíadas foram perdendo importância e, em 392 a.C., o imperador romano Teodósio I, convertido ao cristianismo, proíbe a prática de qualquer manifestação que valorizasse o politeísmo. Com isso, os últimos Jogos Olímpicos ocorreram em 393 a.C.

69 Após 1500 anos da decisão de Teodósio, as Olimpíadas voltaram a acontecer sob o nome de Jogos Olímpicos Modernos. Por iniciativa do educador francês Pierre de Frédy, barão de Coubertin, foi criado em 1894 o Comitê Olímpico Internacional. Inspirado nos ideais dos gregos, ele acreditava que a educação física era um fator determinante na educação moral. Pierre de Coubertin viu na realização da competição uma forma de propagar esta filosofia pelo mundo.

A ideia de internacionalizar os Jogos Olímpicos é inspirada no legado grego, desvelado pelas escavações arqueológicas alemãs em Olímpia Antiga (1875 – 1881), e dos eventos esportivos chamados ‘Olimpíadas’64

, como os Jogos Olímpicos de Much Wenlock65 na Inglaterra. Seu interesse convinha em promover o esporte rapidamente por toda a França e, sobretudo, colocar em prática o entrosamento entre os povos e servir à paz mundial.

Realizou um estudo sobre Os exercícios físicos no mundo

moderno66 (1892) e em durante o Congresso Atlético Internacional em Paris em 1894 defendeu a criação de um órgão internacional que unificasse as diferentes disciplinas esportivas e promovesse a realização de uma competição internacional entre atletas amadores, a cada em quatro anos. Sua intenção era ampliar para o mundo o que havia acontecido na Grécia Antiga67. A idéia foi aceita pelos 13 delegados de países presentes no congresso e naquele mesmo dia foi criado o Comitê Olímpico Internacional.

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Segundo a Carta Olímpica, o termo Olimpíada designa o período de quatro anos consecutivos. A Olimpíada começa com a abertura dos Jogos Olímpicos e termina com a abertura dos próximos Jogos Olímpicos.

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Willian Brooks, morador da cidade inglesa Much Wenlock, fundou em 1841 uma escola onde pôs em prática a ideia de que a educação e a atividade física melhorariam a vida da classe trabalhadora. Em 1866, Brooks organizou uma Olimpíada nacional, mas sonhava com uma disputa internacional. Foi quando o Barão de Coubertin se interessou pelas suas ideias e decidiu ir até Wenlock para conhecê-las melhor. Coubertin voltou à França bastante inspirado com as conversas e fundou o COI, que organizou os primeiros JO modernos. O francês ficou conhecido como o idealizador dos Jogos Olímpicos e Brooks ficou esquecido. Nas Olimpíadas de Londres o Comitê Olímpico Inglês homenageou Brooks e a cidade, nomeando uma das mascotes dessa edição de Wenloc. Disponível em: http://esportes.discoverybrasil.uol.com.br

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http://www.cob.org.br/jogos_olimpicos/home.asp

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70 Na tentativa de fortalecer a ideia da realização dos Jogos e já certo o aceite dos gregos como anfitriões, o barão passou a pregar a realização dos novos jogos, passando pelos Estados Unidos, Inglaterra e Prússia. Assim, os Jogos Olímpicos renasceram, após quase 16 séculos depois da proibição de sua realização, cuja primeira edição foi marcada para a cidade de Atenas em 1896, resgatando o objetivo de incentivar o maior desenvolvimento possível das aptidões físicas e intelectuais do ser humano.

A partir daí, o direito de organizar uma Olimpíada é concedido a uma cidade diferente a cada quatro anos. Ficou estabelecido que não poderia haver qualquer tipo de discriminação (racial, política ou religiosa), pois todos deveriam competir em igualdade de condições. Apesar desta posição, foi mantida a regra, adotada da Grécia antiga, de que as mulheres deviam permanecer fora dos recintos olímpicos, só pôde ser imposto por Coubertin durante o período inicial de restauração dos Jogos Olímpicos. Norbert Müller68 – presidente do Comitê Internacional Pierre de Coubertin – chama este período de “a loucura machista coubertiniana”. Tal situação mudou nos jogos nazistas de Berlim 1936, nos quais houve a participação de 328 mulheres de um total de 4218 participantes.

A própria bandeira olímpica, criada por Coubertin em 1913, representa a união dos povos e tem os cinco aros olímpicos69 como símbolo de solidariedade pacífica por meio do esporte entre todos os continentes, cada aro representado por uma cor (azul - Europa; amarelo - Ásia; preto - África; verde – Oceania e vermelho - América). A paz, a amizade e o bom relacionamento entre os povos são os princípios do Olimpismo.

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Entrevista com o Presidente do Comitê Internacional Pierre de Coubertin - Norbert Müller por Günter Deister (Deutsche Presse-Agentur / Agência Alemã de Imprensa) em 31.12.2012.

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Entrevista com o Presidente do Comitê Internacional Pierre de Coubertin - Norbert Müller por

71 O COI estabeleceu em 1949 em sua Carta Olímpica70 que os aros não poderiam ser utilizados com fins comerciais. Meio século depois, a entidade dos aros registra um volume de negócios recorde bastante superior aos 14 bilhões de reais durante o período da Olimpíada comercial de 2009 a 2012. Os aros ocupam desde algum tempo um posto destacado na lista das marcas mais conhecidas em nível mundial.

Aros olímpicos

Fonte: Comitê Olímpico Internacional

O processo de construção do movimento olímpico não parou de crescer desde então. A cada quatro anos a entidade organiza os JO de verão. Em 1924, foram criados também os JO de Inverno, realizados a cada quatro anos, no mesmo ano dos JO tradicionais. A partir de 1994, passaram a acontecer de forma alternada. Outra importante inovação, de extrema importância quando se refere à inclusão das diversidades físicas, foi a criação

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Conjunto de regras adotado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para a organização dos Jogos e para o comando do Movimento Olímpico. Com cinco capítulos e 61 artigos, regula a organização, as ações e as operações do Movimento Olímpico (MO) e estabelece as condições para a celebração dos Jogos Olímpicos.

72 dos Jogos Paraolímpicos71, em que competem atletas com deficiência. Tiveram início em 1960, coincidindo quase sempre com a cidade e país organizadores dos Jogos Olímpicos e com um intervalo de pelo menos duas semanas. Mas a ideia que preside à sua realização tinha já alguns anos. Em 1948, Sir Ludwig Guttmann organizou uma competição esportiva para veteranos da Segunda Guerra Mundial com lesões na espinal medula, no hospital Stoke Mandeville, na cidade de Aylesbury, na Inglaterra. Quatro anos depois, atletas com limitações físicas provenientes dos países baixos juntaram-se ao grupo inglês, dando início ao movimento internacional conhecido como Jogos Paraolímpicos.

Foto de atletas na abertura dos Jogos de ‘Stoke Mandeville’, na Inglaterra. Fonte: http://weblogs.clarin.com/el-otro-el-mismo/2012/08/

Os primeiros Jogos com caráter organizado em nível de federações e envolvendo modalidades diversas foram realizados em Roma, 1960. Acompanham desde então o Ciclo Olímpico, tendo apenas não sido

71A palavra ‘paraolímpico’ resultou da junção do prefixo de origem grega para (de paraplegia)

com o adjetivo olímpico, semelhantemente a tantas outras palavras que compartilham nosso cotidiano linguístico. Para o CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro), fundado desde 1995, a nova mudança operou-se no intuito de o Brasil se igualar mundialmente aos demais países. Ao menos, por enquanto, prevalece o termo paraolímpico, mesmo porque até para os atletas paraolímpicos trata-se das Paraolimpíadas, Jogos Paraolímpicos, enfim, justamente porque são realizados de forma paralela aos Jogos Olímpicos. [Vânia Duarte, Equipe Escola Brasil]

73 realizados no México 1968 e Moscou 1980, por circunstâncias relacionadas com logística, boicotes políticos e ausência de intenções concretas de organização por parte dos países que organizavam as respectivas Olimpíadas.

Cerimônia de abertura dos I Jogos Paraolímpicos em Roma, 1960.

Fonte: http://brenobarros.com/2012/08/conheca-a-historia-dos-jogos-paralimpicos/

Desde Seul 1988, os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos são realizados na mesma cidade. O Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Comitê Paraolímpico Internacional (CPI) decidiram que esta correspondência de cidades entre ambos os Jogos facilitaria questões de tecnologia e logística. A história do esporte paraolímpico de inverno também está relacionada a recuperação social e física de veteranos da Segunda Guerra Mundial. Ex- combatentes com alguma deficiência física sonhavam em voltar a esquiar.

A primeira edição da Paraolimpíada de Inverno ocorreu em 1976, na cidade de Ömsköldsvik, Suécia. Cerca de 250 cadeirantes, amputados e cegos de 14 países participaram das competições. Atualmente, os Paraolímpicos constituem um grupo de atletas pertencentes a cinco

74 diferentes categorias de incapacidades72: Amputados e outros (ALA), Paralisia cerebral (CP), Deficiência intelectual (ID), Deficiências visuais (VI) e Cadeira de rodas (WC). Apesar disto, as conquistas atletas têm mais destaque do que a deficiência que possuem ou o esforço de superação da mesma. Há alguma polêmica relativa a certos atletas e suas respectivas deficiências, consideradas nesses casos pouco, ou nada limitadoras, numa percentagem que os exclui das categorias paraolímpicas. No entanto, o número de atletas em Jogos Paraolímpicos de verão tem aumentado: de 400 em Roma, em 1960, atingiram- se os 3195 em Atlanta, tendo sido superada a cifra de 4000 em Sidney.

Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, hoje, representam o maior evento esportivo do planeta, com um misto de competição entre os melhores atletas do mundo e confraternização entre os povos, mobilizando populações de centenas de países.

Os Jogos são o maior festival esportivo do mundo, que reúne os melhores atletas de cada esporte. São, igualmente, um evento cultural e social de primeiro plano, que suscita cada vez mais interesse junto às diversas cidades que se candidatam a organizá-los. Organizar os Jogos Olímpicos permite à cidade- sede desenvolver suas infraestruturas, promover o esporte em todos os países e oferecer ao mundo uma imagem e uma identidade cultural próprias. Por outro lado, graças aos rendimentos provenientes dos programas de marketing e da venda dos direitos de televisionamento, as cidades financiam com sobras a organização dos Jogos.73

Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio serão os primeiros a serem celebrados na América do Sul e, desde já, agitam a cabeça e os sentimentos de todos os brasileiros.

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Comitê Paraolímpico Brasileiro

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Palavras de Juan Samaranch, ex-presidente do COI em entrevista publicada na Folha de São Paulo, 15 de julho de 1996.

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