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7 Resultados e Discussão

7.3 Análise das mensagens

7.3.3 Como descreve: comportamento

7.3.3.3 Com relação ao uso abusivo principal

7.3.3.3.5 Jogos e Personagens

Quanto ao uso dos jogos, mais usado por homens (23%) do que mulheres (5%), parece haver outros motivadores e questões com relação à dependência. O fato de haver mais homens que mulheres está de acordo com as estatísticas sobre o uso de jogos, que é predominantemente masculino18.

Meu maior hobby no momento é jogar, principalmente um jogo de MMORPG, que é RPG pela internet, chamado Cabal. Estou fissurado nesse jogo há mais de um ano, tentando chegar nos objetivos finais do jogo. Posso dizer com o que conheço de vícios que isso que adquiri por esse jogo é um vício, pois teve tempos atrás que joguei mais de 30 horas sem parar esse jogo. (suj.160).

Nos jogos de MMORPGs, os motivadores principais parecem ser sociabilidade, escapismo, vivência de uma vida paralela, expressão de aspectos da personalidade que não encontram

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expressão em outro lugar, vivências de aventura e os aspectos específicos relacionados a ludicidade do jogo. (FORTIM, 2004a).

Um dos motivos muitas vezes apontados pelos usuários de MMORPGs como motivo de UPI é a possibilidade da criação de personagens. Atividade muito conhecida e comum, especialmente nos tempos da internet predominantemente escrita, a criação de personagens virtuais está presente não apenas nos jogos, mas em diversas comunidades na internet. Chamados de “fakes”, (perfis falsos) em algumas comunidades, essa atividade é considerada como bastante adictiva, desde os primórdios do uso da rede, como já apontava Turkle (1997). Sou jovem de 25 anos, estudante universitária, solteira, moro com pais. Eu tive um relacionamento aos 22 anos, e após termino busquei na net auxilio para passar o tempo e descontrair, não gostava de me identificar e evitava entrar em salas de bate papo com nick feminino para evitar os indesejados, o fato é que eu entrava nas salas com nick masculino para apenas conversar com as pessoas sem precisar me identificar e dizer quem sou de fato. Acontece que isso foi acontecendo de tal forma, que acabei criando um personagem, nao foi intencional, criei um personagem masculino com minhas caracteristicas psiquicas, morais, desejos, etc. Ao passo que as coisas aconteciam criei histórias, algumas verdadeiras, outras não verdadeiras, outras parciais... e aos poucos fui me envolvendo ao ponto de não conseguir mais me livrar desse "vicio" digamos assim, e começei a magoar pessoas fantasticas na net que conheci com o perfil masculino e isso esta me arrazando emocionalmente. acabei me envolvendo emocionalmente, e tenho plena consciencia de que não tenho desejos por outras mulheres que na grande maioria são com as quais mantive contato, e impressionantemente as que eu dediquei mais tempo para conversa, por ser agradavel, acabaram se encantando por esse persongem e demonstrando sentimentos sinceros, não consigo mais sair disso e me sinto envolvida e culpada. (suj. 147 )

Libertar outras facetas de si mesmo- a internet aparece como espaço privilegiado para as vivências que tomam lugar longe da rígida Persona mostrada no dia a dia. A mudança de sexo dessas personagens também é bastante conhecida, e parece estar atrelada a possibilidade de experimentar o outro lado- afinal, o que significa ser homem e mulher? Como fazer essa experimentação de outra forma? É interessante que muitos dos relacionamentos vividos com personagens têm carga emocional intensa de amor e de ódio. A personagem parece ser fictícia, mas a vivência, não.

Com relação aos usuários que utilizam a internet para fazer compras, temos, assim como nos dependentes de sexo, um cruzamento com as dependências comportamentais já catalogadas. Nesse sentido, a internet parece agir como um catalisador, instrumento que potencializa as dependências já existentes (tais como sexo e compras). Entretanto, com relação à dependência de sexo, muitos dos sujeitos apontam ter uma dependência apenas virtual, e acreditam que o início de seus problemas está relacionado apenas à disponibilidade online, não apresentando uma dependência de sexo anterior ao uso da internet.

Uma das menos citadas, a invasão de e-mails também parece ser uma atividade adictiva. Da mesma forma que a obsessão amorosa, parece dar a sensação de controle sobre a vida de outra pessoa. Ao contrário da obsessão amorosa, que se utiliza de métodos lícitos para obter as informações, a invasão de e-mails se configura em uma quebra da privacidade das mensagens de outrem. Os usuários citam esta atividade como se fosse uma atividade Hacker. Entretanto, ela se configura apenas como uma adivinhação de senhas, possível mediante uma engenharia social com os diversos dados disponíveis na internet.

Vi que vocês tem um atendimento para viciados em internet. Meu nome é ( ),tenho 25 anos, sou universitaria...faco terapia com uma psiquiatra ha quase 1ano...Tive muitos problemas nos ultimos meses...tive transtorno de comportamento e tal... Queria conversar sobre uma coisa que não posso falar com minha médica. Descobri algumas coisas sobre minha ex-psicologa na internet. Tenho a senha dela e os e-mails...Todos os dias leio as mensagens dela. Descobri o endereco,coisas da sua vida pessoal etc. Qdo eu fazia terapia com ela,eu comentei que conseguia senhas e tal,na época de amigas... Mas ela nao deu importancia,ou não "ouviu". Dai depois comentei com minha psiquiatra e ela também parece nao ter acreditado em mim. Dai um dia falei sobre a conta que ela tinha em um banco e sobre as senhas que eu conseguia. Minha médica conhece a ex-psicologa porque foi ela que me indicou. Dai ela ficou super brava comigo, disse que eu estava fazendo uma coisa errada ( eu ja sabia disso ) e que eu tinha descumprido nosso contrato terapeutico, era para eu pensar no que eu tinha feito e ela ia pensar se ia continuar me atendendo. Preciso do atendimento dela,então eu disse que nunca mais iria fazer isso. Só que o problema é que eu não sei como parar. Sinto muita raiva da minha ex-psicologa então parece que me satisfaco sabendo da vida privada dela... Ja ate pensei em mudar as senhas dela para assim ela perder os e-mails e eu não acessar mais. Fico angustiada com isso, parece um vicio... O que eu posso fazer?Como eu posso me livrar desse sentimento e desse comportamento?Por favor me ajudem! ( suj.16) A vida, com seus diversos percalços, parece não poder ser controlada. Todavia, na internet, a sensação de controle dos relacionamentos é muito forte. A possibilidade de conseguir informações confidenciais confere um poder grande ao sujeito- ele foi capaz de quebrar o sigilo e espiona sem que o outro saiba. Especificamente falando sobre o sujeito 16, esta invasão de e-mails parece se configurar como uma “revanche” do poder representado pelo analista no processo terapêutico. Essa guerra virtual de poder na análise também se configura em redes sociais, com o sujeito buscando informações sobre o terapeuta que não foram fornecidas (FORTIM, 2006).

Apesar dos benefícios da internet, a maioria das respostas dadas pelos sujeitos parece mostrar que há um canto da sereia, que ao mesmo tempo seduz, mas destrói. Apaixonados pelas possibilidades de abertura propostas pela rede, os indivíduos ficam aprisionados em sua teia, suas pessoas e suas tramas, levando a mais sofrimento. Se de início usam a rede como forma de lidar com algum problema, essa forma posteriormente aparece como demais irresistível. Assim, quanto mais o sujeito usa a internet como forma de enfrentar seus problemas, mais ele

se apega a esta forma de resolução, fazendo deste espaço o único possível. Ao fazer o uso excessivo do computador, ao invés de abrir possibilidades de resolução, só gera mais sofrimento. Esse mecanismo também é visto em outras dependências comportamentais.