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1.4.1. Jornalista Multimédia

Jornalista multimédia, ou com competências multimédias, é um conceito criado a partir do jornalista que trabalha na e para a Internet e para qualquer outro veículo de informação, conforme já abordado por alguns autores. Este profissional deve dominar ferramentas de trabalho, como as novas tecnologias, e saber gerir conteúdo com boa linha editorial.

Harper (cit. in Aroso, 2002, p.143), exemplifica o que vem a ser um jornalista multimédia:

“(…) at the electronic version, the reporter carries a pen, a notebook, a tape recorder for audio clips, a digital camera for single snapshots and sometimes a consumer video camera for video clips”.

O aspecto multimedia do jornalista é descrito por Gersh (cit. in Aroso, 2002, p.143) como “people with a blend of traditional and futuristic skills, who can work imaginatively with the rich swirl of text, photos, graphics, audio and video that multimedia embodies”.

De acordo com os entusiastas da convergência, revisto por Gradim (2003, p.117) no seu artigo sobre O Jornalista Multimédia do Século XXI, o jornalista do futuro será:

“(…) o que trabalha sozinho, equipado com uma câmara de vídeo digital, telefone satélite,

capaz de produzir e editar notícias para vários media: a televisão, um jornal impresso, o site da empresa na Internet, e ainda áudio para a estação de rádio do grupo”.

Também não faltam entusiastas do chamado backpack journalism ou, como já referido “jornalismo de mochila nas costas”, literalmente conceituado por Gradim (2003, p. 122), que está no

“(…) facto dos profissionais carregarem consigo todos os instrumentos da sua diversificada profissão e poderem, no caso da Web, colocar informação online ainda antes de deixar o local do acontecimento, enviando também com igual rapidez os outros produtos do seu trabalho, já montados e editados, para as respectivas redacções”.

Segundo Gradim (2003, p.117) “(…) o jornalista do futuro será uma espécie de MacGiver, o homem dos mil e um recursos”.

É interessante observar os aspectos fundamentais na mutação induzida pelos novos média, citados por Gradim (2003, p. 118):

(…) o acesso às fontes agiliza-se e as trocas com os leitores são exponenciadas, facto que se fragiliza o jornalista (os leitores, colectivamente, sabem mais que ele próprio), pode e está a ser aproveitado para produzir melhor jornalismo e para refinar os processos de verificação dos factos”. Muito mais ameaçadoras são as pressões que poderão vir a ser exercidas sobre o jornalista pela faculdade de monitorizar os acessos ao trabalho que este produz, e dramática a conjugação disso com a tecnologia do micro-pagamento, que em breve fará a sua entrada na maioria dos sites hoje gratuitos.

Mais uma vez surgem “apocalípticos e integrados” sobre este novo profissional da comunicação. Stevens (cit. in Silva, 2006, p. 49), jornalista e professora de Jornalismo Multimédia é defensora do backpack journalism e apresenta o seu próprio exemplo de trabalho que utiliza vídeo, áudio, fotografias tiradas do vídeo, bem como o texto para compor reportagens com múltiplas dimensões.

Em contra-partida, “Jack of all trades, and master of one” é a definição que alguns autores conferem ao jornalista de “mochila às costas”, segundo Silva (2006, p. 49). A crítica de Martha Stone, consultora da Innovation Media Consulting Group, conforme observa Silva, é que o jornalista multimédia é excepção e não regra. “Enquanto alguns jornalistas multimédia podem tratar uma variedade de tarefas de uma forma eficiente e profissional, a maior parte só vai produzir jornalismo medíocre” (Stone cit. in Silva, 2006, p. 49).

No contexto dos jornais em estudo, este é o jornalista do futuro ou ele já existe? Esta é uma das questões que fazem parte da investigação e que poderá ser reconhecida através de entrevistas aos profissionais.

1.4.2. “A tribo jornalística”

Nelson Traquina, em “A Tribo Jornalística” defende a tese de que “os jornalistas são uma “comunidade interpretativa” transnacional”, que partilha um conjunto de normas, valores, ideologia profissional. Coloca a hipótese de que a existência desta comunidade, na diáspora mundial, constitui dos principais factores na era da globalização.

Em seus estudos, Traquina (2004, p.19), objectivamente, situa que:

“O processo de profissionalização tem levado à constituição a que Zelizer chamou uma “comunidade interpretativa”, ou como nós preferimos, uma “tribo” (Mafessoli, 1988). O conceito de “comunidade interpretativa” é defendido por Heymes (1980:2) como um grupo unido pelas suas interpretações partilhadas da realidade”.

Entre outras linhas conceituais, Pierre Bourdieu (cit. in Traquina, p.19) defende que a prática jornalística é baseada numa “série de assumpções e crenças partilhadas”, o antropólogo Claude Levi-Strauss como os “biscateiros” e Philips, como os “faça-você- mesmo no desempenho de várias tarefas”, que usa uma lógica das mãos e dos olhos – a lógica do concreto – no seu trabalho diário”.

Herman e Chomsky (cit. in Traquina, 2004, p.20) assinalaram que os jornalistas têm um grau de “autonomia relativa", e as notícias não podem ser compreendidas sem uma compreensão da cultura jornalística. Na definição de notícia, Patterson (cit. in Traquina, 2004, p.20) assinala que é um “relato altamente seleccionado da realidade”, ou seja, “(…) uma imagem refractada que passa através de um prisma – os valores-notícia da comunidade jornalística, tais como o novo, o fora de uso, o sensacional e o controverso”.

A existência de uma cultura noticiosa comum é apontada por alguns autores. Altheide (cit. in Traquina, 2004, p.21) argumenta que os jornalistas partilham “um pensamento de grupo” ou a sua consequência, o “pack journalism” (“jornalismo de alcateia”), fenómenos observados de uma legião de jornalistas que cobrem a mesma história, da mesma maneira.

Shields e Dunwoody (cit. in Traquina, 2004, p.21) descobriram que “(…) os jornalistas acompanham-se uns aos outros e partilham informações com os concorrentes rotineiramente”. Traquina sublinha bem que “(…) ninguém segue as notícias tão de perto como os jornalistas”, e que os jornalistas “(…) monitorizam a cobertura uns dos outros (…) e confiam fortemente no trabalho uns dos outros, como prática institucionalizada, para ideias de histórias e confirmação de seus critérios noticiosos”. Tem-se conhecimento também de autores que visualizaram a problemática do mundo jornalístico, cheio de conflitos, competição e rivalidades, como Bourdieu (cit. in Traquina, 2004, p.20), e que observam que os produtos jornalísticos são “(…) geralmente mais parecidos do que se pensa”.

Ser profissional, como observa Schlesinger (cit. in Traquina, 2004, p.22), não é só “(…) preencher certos critérios partilhados de competência. É também uma questão de sentir certas coisas, de “ter aquela velha dose de adrenalina” e acção.