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Diário Digital e PortugalDiário

3. Estudo de Caso: Diário Digital e PortugalDiário 1 Objecto de estudo

3.1.4. Linha editorial

Na entrevista concedida a Zamith (2006, p. 92) ambos os directores se posicionam favoráveis ao primeiro dos quatro tipos de “jornalismo online”, ou seja, sites noticiosos tradicionais (em detrimento dos outros três: directórios e agregadores de notícias; sites

sobre media e de comentário; sites de partilha e discussão), proposto por Deuze (cit. in Zamith, 2006, p.16).

Neste contexto, para o director do PortugalDiário, Luís Sobral (cit. in Zamith 2006, p.92):

O jornalismo é feito por jornalistas, eles obedecem a um código, preocupam-se em confrontar fontes, tudo aquilo que sabemos que é jornalismo e que eu acho que não mudou. Outra coisa diferente é produzir informações. E isso acho que existe muita gente a fazer nesta altura.

Já o ex-director do Diário Digital, Filipe Rodrigues da Silva reforçava (cit. in Zamith, 2006, p. 92):

Tenho alguma dificuldade em aceitar que o jornalismo seja feito por não-profissionais. É tudo uma questão de direitos, deveres e responsabilidade. (…) Começa a impor-se a necessidade de uma ordem, mais do que um sindicato, para que haja um controlo no acesso à profissão, e haja mais responsabilidade.

3.1.5. Potencialidades

A escassez dos meios é a grande responsável pelo baixo aproveitamento das potencialidades nos ciberjornais portugueses, segundo avaliaram os directores dos jornais PortugalDiário e Diário Digital, actuantes no período de 2006, Luís Sobral e Filipe Rodrigues Silva, conforme os estudos de Zamith (2006, p.87).

Até ao período de 2006, o Diário Digital não utilizava caixa para comentários dos leitores por não dispor de dois moderadores em dois turnos, e já estava a analisar o fecho da sala de comunicação instantânea (chat) na sua próxima remodelação, segundo o ex-director informou à Zamith (2006, p. 91).

O Diário Digital foi o primeiro site português a oferecer uma ferramenta de criação de

blog, o e-diário, que de 2002 a 2006 mantinha o seu layout original, de acordo com

Zamith (2006, p. 91). O Diário Digital também não exige que os seus profissionais disponibilizem seus endereços electrónicos nas peças assinadas e deixa isto ao critério de cada um. O Diário Digital não utiliza o hipertexto na generalidade das notícias porque acredita que isto “exige tempo”.

Luís Sobral, entretanto, em entrevista a Zamith (2006, p. 90) disse acreditar que o PortugalDiário está a utilizar bem o hipertexto, na contextualização de ligações

externas e ainda nos mecanismos de interactividade, para além de entender que os comentários das notícias também fazem parte do conteúdo do jornal.

De acordo com os estudos de Zamith (2006, p. 91) os comentários do PortugalDiário são filtrados pelos jornalistas e a previsão era de que em 2007 o IOL reintroduzisse os inquéritos na reformulação gráfica dos sites.

O multimédia é encarado de forma diferente para os dois jornais, enquanto o PortugalDiário dispunha, em 2006, de um operador de vídeo do IOL para os trabalhos que justificassem, além de galerias fotográficas, o Diário Digital optava exclusivamente pelo texto, segundo verificação de Zamith (2006, p. 91).

3.1.6. Perspectivas em 2006

Segundo os levantamentos de Zamith (2006, p.92), o PortugalDiário tinha um quadro de jornalistas com formação específica ou adicional nas várias áreas relevantes para a exploração das potencialidades da Internet, designadamente Informática, Multimedia, Infografia, Fotografia, Áudio, Vídeo, Design e Documentação. Já o Diário Digital não tinha qualquer jornalista especializado em cinco dessas áreas: Informática, Infografia, Áudio, Design e Documentação (Zamith, 2006, p.15).

Como já se tem observado noutros estudos, depois do boom do jornalismo online, em 1995, com tímidos investimentos para o novo formato, o sector em Portugal viveu um período de retracção na virada do milénio e muitos profissionais perderam seus postos de trabalho. Exemplo desta carga negativa a nível nacional foi a demissão de 40 jornalistas do projecto Imaterial, meses depois de sua fundação, e que segundo Sousa (cit. in Zamith, 2006, p. 88) “provocou um trauma” no ainda muito jovem jornalismo na Internet.

No final do ano de 2006, de acordo com as entrevistas de Zamith (2006, p.87), a perspectiva dos directores de ambos os jornais era de um panorama sombrio: “redacções muito pequenas, fraco investimento, baixas receitas de publicidade, e dificuldade de encontrar modelos de negócios fiáveis”. Em contra-partida, o então ex-director do Diário Digital previa inverter a situação passiva herdada do Grupo José de Mello, em 2000, e do PortugalDiário previa lucros pequenos no mesmo período, depois de em 2005 ser o único portal do IOL a ter prejuízo.

3.2. Metodologia

Para analisar com maior profundidade os dois jornais e procurar as respostas desta investigação, utilizaram-se metodologias distintas para aplicar cinco técnicas de pesquisa:

- Análise descritiva de conteúdo

- Análise do discurso das notícias – Qualitativa e Quantitativa - Observação Participante

- Entrevistas - Inquéritos

De acordo com Sousa (2006, p. 325), numa pesquisa podem combinar-se vários métodos e técnicas de investigação. No seu encadeamento lógico-processual determinam-se os instrumentos, a amostra e os procedimentos de amostragem para elaborar um roteiro de pesquisa, de maneira a poder responder às perguntas de investigação formuladas.

Os dados recolhidos devem ser sistematizados e sintetizados em esquemas, tabelas, quadros e gráficos para facilitar a compreensão do leitor. Esta pesquisa tem como objectivo traçar dados estatísticos e apresentar uma análise qualitativa das notícias produzidas pelos jornalistas dos jornais estudados, bem como o perfil dos seus profissionais.

O universo é comparativo (e actualizado) aos dados obtidos por Zamith (2006, p.5), que em Novembro de 2006 indicaram 72 profissionais a trabalharem nas edições de 22 jornais online, todos de informação geral de âmbito nacional em Portugal.

A presente pesquisa foi direccionada a dois destes 22 jornais porque os mesmos já haviam sido detectados como os únicos generalistas e exclusivamente online de Portugal e eram o objecto de estudo desta investigação. Portanto, o universo aqui tratado é a totalidade dos jornais online portugueses, generalistas e exclusivamente online, composto pelo Diário Digital e PortugalDiário, diferencial confirmado por Zamith e que reforça a certeza de que este é um objecto de estudo significativo.

Observando-se o período de Março de 2007 e o actual, os dados descritos por Zamith apresentam um desfasamento no que diz respeito à quantidade de profissionais a trabalhar para os dois jornais, na ordem de 9 (Diário Digital) e 10 (PortugalDiário), e que levou em conta, como equipa, os directores e os editores.

Neste presente estudo, considera-se a visão, actuação e produção dos directores, editores, jornalistas, fotojornalistas, vídeo/jornalistas, designers e estagiários. Ou seja, um universo composto por 17 profissionais do PortugalDiário, acrescido de duas estagiárias que estavam a cumprir protocolo durante o período em que houve o processo de recolha de dados, e oito profissionais do Diário Digital.

Dos 27 profissionais, um deverá ser considerado como uma variável importante deste estudo como um todo por se tratar especificamente da área de design do jornal, ou arquitectura web e, não propriamente da redacção e da produção de notícias. Considerou-se, por isso, a importância desta área criativa diante da evolução do jornalismo online.