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Juiz de Fora: Waze no controle de trânsito

CAPÍTULO 3 PROGRAMA CONNECTED CITIZENS & USO DO WAZE POR CIDADES BRASILEIRAS

3.2 Juiz de Fora: Waze no controle de trânsito

A segunda cidade analisada é Juiz de Fora, Minas Gerais. Para gerir os dados enviados pelo Waze sobre a cidade, a Prefeitura Municipal montou um Centro de Comando e Controle Urbano: o Centro de Controle e Monitoramento de Trânsito e Transporte (CCM) ligado à Secretaria de Transporte e Trânsito. Sobre o uso do aplicativo neste CCCU, entrevistou-se Luciano Almeida, Supervisor de Monitoramento de Controle do Transporte Público da cidade.

Almeida (2016) conta que para funcionar, o CCM (Figura 21) utiliza câmeras de monitoramento, controle eletrônico de parquímetros, sistema de bilhetagem eletrônica (no transporte público), GPS em ônibus e o próprio Waze, que é usado para o controle de trânsito.

Figura 21 – Centro de Controle e Monitoramento do Transporte e Trânsito de Juiz de Fora

Fonte: CCM, outubro 2016, enviado para a pesquisa.

Ainda de acordo com Luciano Almeida (2016), o uso do Waze em Juiz de Fora foi influenciado pela adoção do aplicativo no Rio de Janeiro, onde contribui para que as autoridades encontrem problemas urbanos com mais facilidade. “Vimos que o Waze é um app colaborativo, que para colocar qualquer informação nele é preciso estar no local”, relata Almeida (2016). Com essa perspectiva, a Prefeitura de Juiz de Fora ingressou no CCP em 2015.

A partir desse contrato passamos a ter acesso aos sistemas deles [do Waze], que são próprias para órgãos gestores. Em uma dessas ferramentas a gente pode postar qualquer informação no aplicativo. Então, como recebemos informações das câmeras, de outras fontes [...] sabemos os problemas que estão acontecendo. Ai, vamos colocando essas informações todas [no Waze]. Além disso, a gente também tem as informações de fechamento de ruas, de órgãos da prefeitura que estão fazendo manutenção na via, no esgotamento, manutenção de rede de água etc. A gente coloca [tudo] no Waze. (ALMEIDA, 2016)

Com a entrada no Connected Citizens Program, Juiz de Fora passou a utilizar o Waze como aplicativo oficial de trânsito. Por fim, o objetivo com a parceria foi de

[...] colocar informações para o usuário e ter informações, também. Além de ter essas informações, em tempo real, que o usuário está colocando, ‘eu’ tenho acesso a uma série histórica, também. Consigo ter acesso ao

background de vias congestionadas, de vias que foram colocadas [pelos

usuários]... E isso, para o pessoal de engenharia de tráfego... a gente vê quais vias precisam de uma intervenção maior. (ALMEIDA, 2016)

Os dados recebidos pelo Centro de Controle e Monitoramento (CCM) são os mesmos que são oferecidos aos demais integrantes do CCP, bem como a visualização das informações é feita por meio do Traffic View (TVW), e tem acesso às planilhas de alertas sobre a cidade e à API para desenvolvimento de aplicações próprias.

O CCM, por sua vez, foca em dados de congestionamentos, alertas de acidentes e perigos nas vias. “Todas as informações que o usuário coloca no Waze eu consigo retirar com o lugar e data que eu quero. Consigo puxar essas informações. Elas ficam armazenadas durante um tempo, na plataforma do Waze. Então consigo trazer esses dados para mim”, relata Luciano Almeida (2016). Os dados obtidos, por fim, são analisados pelos engenheiros de tráfego da Secretaria de Transporte e Trânsito do Município.

A ideia é fazer a equipe de engenharia de tráfego, que é responsável pelos semáforos e tudo isso, utilizar e otimizar o trabalho deles. Para analisar as vias, se aquela via dá muito problemas ou não dá. Então, tudo isso, com as informações de congestionamento que o Waze nos traz, é importante para trabalhar. Mas ainda não estamos efetivamente fazendo esse trabalho. (ALMEIDA, 2016)

Não por acaso, a maior dificuldade para coletar e analisar dados é técnica, segundo Almeida. O CCM ainda está desenvolvendo um sistema para baixar diretamente os dados do Waze, além de potencializar análises, como é no Rio de Janeiro, por exemplo. Por ora, algumas observações são feitas manualmente a partir de “leituras” dos alertas enviados pelos usuários. Essas “leituras” são feitas pelos próprios agentes encarregados de acompanhar o aplicativo no Centro de Controle. Eles identificam alertas mais comuns e também pontos de engarrafamentos a partir do trabalho diário. Essas informações percebidas pelos agentes são utilizadas para planejar ações e são repassadas aos prepostos em campo.

Embora estejam começando a fazer análises de dados e em processo inicial para o desenvolvimento de sistemas próprios, Juiz de Fora já comemora resultados com o uso o Waze. Um caso de “sucesso” mais notório se tratou da inserção dos carros de coleta de lixo da Prefeitura nos mapas do Waze. Com ajuda da Secretaria de Tecnologia do município, o CCM desenvolveu uma aplicação que coloca a informações de GPS dos carros de coleta de lixo, em tempo real, diretamente no aplicativo. Essas informações podem ser acessadas por qualquer Wazer da cidade (Figura 22). A ideia partiu da observação de notificações de usuários incomodados com o posicionamento de Carros

de Coleta nas ruas e avenidas, onde poderiam causar pequenos congestionamentos (ALMEIDA, 2016).

Observando exemplos de utilização do Waze nos Estados Unidos, onde carros de limpeza de neve têm suas localizações mostradas no Waze, a Secretaria de Transporte e Trânsito de Juiz de Fora desenvolveu a aplicação que é utilizada hoje no CCM. O único no Brasil para este fim. O objetivo por trás da ideia é de que motoristas possam evitar ruas onde estão os carros de coleta de lixo.

Fonte: CCM, Juiz de Fora

Além das ferramentas disponibilizadas pelo Waze, o Centro de Controle e Monitoramento de Transporte e Trânsito de Juiz de Fora adotou uma ferramenta desenvolvida pela comunidade de usuários do aplicativo, o “Waze Radio”. Segundo Luciano Almeida (2016), essa ferramenta “mostra todos os problemas que temos nas vias. Qualquer alerta que é postado ele traz uma lista, que fica mais fácil de acompanhar e você não precisa rodar o mapa inteiro para ver tudo [que é relatado na cidade]”.

Figura 22 – Carros de Coleta de Lixo da Prefeitura, no canto inferior direito, podem ser vistos no mapa do Waze

Figura 23 – Tela do Waze Rádio utilizado pelo CCM de Juiz de Fora

Fonte: CCM, enviado para a pesquisa

Mesmo sendo desenvolvido em paralelo ao Traffic View, o “Waze Radio” apresenta uma interface semelhante a ele, possui uma tela com os principais “eventos” (alertas, congestionamentos, acidentes etc.), em ordem cronológica, do lado esquerdo (Figura 23), bem como um mapa para visualização geográfica dos relatos, do lado direito. Interfaces que possibilitam aos agentes de trânsito encontrar facilmente os alertas relatados no espaço urbano.

O sucesso do uso do “Waze Radio” pelo Centro fez com que o CCCU compartilhasse a ferramenta com emissoras de rádio da cidade de Juiz de Fora. Com isso, as rádios e outros veículos de imprensa não precisam mais entrar em contato com o CCM para obterem dados relevantes sobre o trânsito. Consultam o Waze Rádio e, só em caso de dúvidas, entram em contato com o Centro de Controle e Monitoramento (CCM). “Então, quando vão divulgar informações de trânsito, eles agora têm uma informação “oficial” [...] mais precisa. A contrapartida é divulgar que [...] são (informações) do Waze” (ALMEIDA, 2016).

No CCM, o “Waze Radio” tem espaço destacado no painel de controle e também nos terminais dos agentes, na sala de controle - onde sempre há um preposto com a tela do Traffic View e/ou Waze Radio abertas para verificar e encaminhar relatos. Ao identificar um acidente, por exemplo, o agente do CCM aciona uma das câmeras próximas. Se não há câmeras disponíveis nas proximidades do relato, tenta contato com o agente de trânsito responsável pela área para averiguar o ocorrido. A depender da

confirmação do alerta, o Centro de Controle e Monitoramento designa ações para cada situação. Em caso de acidentes, solicita apoio da SAMU e do Corpo de Bombeiros, por exemplo.