• Nenhum resultado encontrado

Retroação na gestão: Por último, observamos que as administrações dos CCCUs são separadas das gestões dos órgãos instalados Isso mira

CAPÍTULO 3 PROGRAMA CONNECTED CITIZENS & USO DO WAZE POR CIDADES BRASILEIRAS

8. Retroação na gestão: Por último, observamos que as administrações dos CCCUs são separadas das gestões dos órgãos instalados Isso mira

atualizações e integrações dos Centros, seja física ou digitalmente. Neles há coleta de dados para aprendizado sobre funcionamentos internos, e as

97 Exemplo: sistemas de análises de bancos de dados, sistemas de cruzamento de informações, em tempo real, sistemas de automação de decisões e alertas etc.

tecnologias infocomunicacionais são as ferramentas que permitem isso. Essa autogestão pode resultar em melhores processos administrativos, continuamente. Também fundamentam mudanças sistemáticas procurando aperfeiçoar operações de integração e coordenação dos CCCU. Na verdade, são mudanças que podem ocorrer sem que o funcionamento dos CCCUs precise ser interrompido. Os (re) agenciamentos e adições de novas tecnologias nos Centros Urbanos são contínuos. É uma grande vantagem dos Centros, do tipo C5i, que – pensados como redes de coordenação – permitem entradas e saídas de atores. Essa movimentação modifica as redes de associações, mas sem desfazê-las para, posteriormente, serem remontadas. Tudo é feito em tempo real, como a instalação e/ou desinstalação de softwares em um sistema operacional para computadores ou smartphones, por exemplo.

“Sistemas Operacionais Urbanos” com ajuda do Waze

Observando funcionamentos dos CCCUs do Rio de Janeiro, Vitória, Juiz de Fora, Petrópolis e Salvador, é possível encontrar exemplos de otimizações de operações sobre espaços urbanos, principalmente, por parte dos órgãos públicos instalados. Os Centros proporcionam integrações e estas não são apenas físicas, também são de dados e informações digitais. Assim, cada órgão dos CCCUs opera e tem responsabilidades (de ações e compartilhamentos de informações com o Centro) em camadas diferentes das cidades e funcionam como “aplicações” com funções especificas dentro de um grande Sistema Operacional Urbano (SOU). Em alguns casos, no entanto, também são gestores dos CCCUs, e, às vezes, os únicos instalados (como em Salvador e Vitória, por exemplo). Fatos que podem implicar em diminuições significativas de operações coordenadas (entre instituições públicas diferentes) e em diversas camadas urbanas, simultaneamente, uma vez que, como é possível observar nos CCCUs que estudamos nesta pesquisa, como Salvador, operado por apenas um órgão, há menos fontes de dados sendo compartilhadas e coletadas. Por conseguinte, estes Centros operam em apenas uma camada urbana, como o trânsito. Também recebem e tratam de apenas um tipo de dado, sem cruzá-lo com outras fontes.

reconhecidos como Sistemas Operacionais Urbanos ao alcançarem as seguintes funções:

a) trabalhar com dados de diferentes fontes e camadas urbanas;

b) possuir integração (física, de dados e/ou de sistemas) e/ou proporcionar comunicação com múltiplos órgãos;

c) habilitar decisões por parte dos cidadãos, mesmo que indiretamente;

d) possuir bases de dados;

e) ter capacidade para analisar e/ou cruzar dados de diferentes fontes;

f) possuir capacidade ou estrutura para distribuição de informações entre os órgãos instalados e/ou parceiros – e forma igual e simultâneas.

g) oferecer estruturas para operações coordenadas e/ou simultâneas entre órgãos instalados.

Quadro 8 – Funções dos Sistemas Operacionais Urbanos presentes nas cidades analisadas Cidades Uso de dados Urbanos Integração de diferentes órgãos Possuir bases de dados Habilita decisões dos cidadãos Analisa e cruza diferentes tipos de dados urbanos Coleta e distribui dados entre os órgãos instalados e/ou parceiros Operações simultâneas entre os órgãos instalados Rio de Janeiro

Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Salvador Sim Não Sim*** Sim Sim** Não Não

Petrópolis Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim

Juiz de Fora

Sim Sim Não* Sim Sim Sim Sim

Vitória Sim Não Não* Sim Não Não Não

*Ainda em implantação; **Por ferramentas de terceiros; ***Não são constituídas com dados do Waze, mas do NAC e também coletadas pela Transalvador.

Como apresentado na Quadro 8, entre os Centros de Comando e Controle Urbanos analisados, somente o Centro de Operações Rio seria, atualmente, um Sistema Operacional Urbano “completo”, por assim dizer. Os demais ainda estão em estágio evolutivo e buscando tornarem-se SOUs. Para tal, precisam preencher requisitos que

variam entre cada Centro, que vão desde criação de data bases a sistemas de cruzamentos e análises/minerações de dados. Como exemplo, Juiz de Fora e Petrópolis ainda não se estabeleceram como Sistemas Operacionais Urbanos por falta de construção ou usos de bases de dados para análises e obtenção de informações mais contextuais e/ou preditivas. Pois, um SOU não pode apenas usar dados em tempo real, precisa e deve utilizar dados históricos, contextualizar o presente, compreender eventos passados, além de produzir conhecimento preditivo (planejar ações para eventos, de ordem natural ou de infraestrutura, que ainda não aconteceram).

Por sua vez, o Waze pode contribuir para o estabelecimento e/ou amadurecimento dos Sistemas Operacionais Urbanos com acesso a alertas, em tempo real, bases de dados e informações urbanas de origem crowdsourcing, fornecer visualizações de informações urbanas, possibilitar flexibilidade para cruzamentos de diversos tipos de dados (proveniente de outras fontes, o que eleva usos dos dados do app para além de questões de trânsito), prover comunicação com cidadãos etc.

Como resultado, os dados do Waze possibilitam gestão remotas do trânsito (e dos espaços urbanos) aos CCCUs. Isso acontece quando: a) os CCCUs/SOUs adicionam informações de eventos e interdições, além de enviar alertas aos usuários por meio do aplicativo; b) agentes dos órgãos instalados nos Centros tomam decisões (de intervenções de trânsito) com base em informações postadas por usuários conectados via app. Dessa forma, operações dos Centros/SOUs (ou, pelo menos, parte delas) tornam-se remotas com a ajuda de tecnologias, como o Waze: os agentes e os órgãos não precisam estar presentes nos espaços físicos para operacionalizar 100% das ações sob suas responsabilidades. Basta que estejam diante de painéis de controle nos CCCUs/SOUs, com acesso a bases de dados e informações, em tempo real, preferencialmente, intercruzando-se.

Percebe-se, contudo, que o Waze também pode “operacionalizar” o trânsito sem auxílio dos CCCUs/SOUs. Quando Wazers usam o app para obter as melhores rotas e segui-las, o aplicativo usa seus dados, também, para, de uma forma ou de outra, organizar/operacionalizar o trânsito – mesmo que não seja esse seu objetivo global, determinado em “auxiliar motoristas”.

Há, portanto, uma “liberação do polo de operação” da cidade, por meio da inteligência coletiva proporcionada pelo Waze e os atores conectados a ele. Contudo, isso pode não ser exclusivo do aplicativo de trânsito. É possível que outras ferramentas

de crowdsourcing, como Colab98, IFTT99, Uberpool100, Moovit101 etc. possam executar

essa mesma perspectiva operacional e produzir mudanças (significativas) em diferentes camadas urbanas mesmo sem integração com Centros de Comando e Controle Urbanos e ou Sistemas Operacionais Urbanos. Ou seja, produzir formas de operacionalizar as cidades em paralelo ao poder público.

Isto não significaria, no entanto, o desaparecimento do papel do poder público sobre as cidades, mas a ampliação da capacidade de operar e mobilizar ações a partir de inteligências coletivas mediadas por tecnologias digitais e colaborativas. Esse é, na verdade, um fenômeno já em curso na contemporaneidade. Aparentemente, o Waze faz isso (operacionalizar gestão urbana) “sem querer”, ao contrário do que acontece quando se relaciona com CCCUs. A relação de ambos, app e Centros, por fim, como pudemos ver nos casos brasileiros, possibilita o poder público novas formas de aumento de controle e poder sobre as cidades, e suas diversas camadas urbanas.

98 Aplicativo de colaboração sobre problemas nos espaços urbanos.

99 Aplicativo de automação de tarefas diversas, por meio de celulares e conexões com redes sociais, objetos, internet das coisas etc.

100 Aplicativo de compartilhamento de caronas.

Referências

ALDWYISH, A. et al. Location-based Social Networking for Obtaining Personalised Driving Advice. In: SIGSPATIAL’15, Novembro 03-06, 2015, Bellevue, WA, USA.

ANJOS, F. R. dos; SAEGER, M. H.; SILVA, P. C. DA. Using social networks for geo- collaboration through oriented architecture service. 10th International Conference on Information Systems and Technology Management – CONTECSI. June, 12 to 14, 2013 - São Paulo, Brazil. Disponível em:

<http://www.infoteca.inf.br/contecsi/smarty/templates/arquivos_template/upload_arquiv os/acervo/docs/PDFs/199.pdf>; Acesso em: 10 mar. 2016.

AUTO ESPORTE. Frota de veículos cresce 119% em dez anos no Brasil, aponta Denatran. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/carros/noticia/2011/02/frota-de- veiculos-cresce-119-em-dez-anos-no-brasil-aponta-denatran.html>. Acesso em: 29 dez. 2016.

BATISTA, M. de M; Fariniuk, T. M. D; Melo, S. C. B. Smartsurveillance em

Aplicações Recentes no Brasil: Um Estudo de Caso nas Cidades de Recife e Curitiba. Revista de Gestão e Secretariado -GeSec, São Paulo, v. 7, n. 2, p 104-137, mai./ago. 2016.

BERNARDI, J. V. E.; LANDIM, P. M. B. Aplicação do Sistema de Posicionamento Global (GPS) na coleta de dados. UNESP/Rio Claro, Laboratório Geomatemática, Texto Didático 10, 31 pp. 2002. Disponível em:

<http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/>. Acesso em: 10 jan. 2016.

BISMARQUES, Dario. Dario Bismarques: entrevista [dezembro, 2016].

Entrevistador: M. Costa Pinto. Rio de Janeiro – RJ. Centro de Operações Rio, 2016. Entrevista por telefone e gravada. Entrevista para esta pesquisa.

BOYD, D.; Crawford, K.; Critical questions for big data. In: Information, Communication & Society. 2012. Disponível em:

<http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/1369118X.2012.678878>; Acesso em: 04 nov. 2015.

BORGES, J. Participação política, internet e competências infocomunicacionais: estudo com organizações da sociedade civil de Salvador. (2011). 252 f. (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas) - Faculdade de Comunicação,

Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.

BORGES, J. BEZERRA, L. DIOMONDES, L. COUTINHO, L. COMPETÊNCIAS