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Vitória: Waze como ferramenta de “comunicação com o cidadão”

CAPÍTULO 3 PROGRAMA CONNECTED CITIZENS & USO DO WAZE POR CIDADES BRASILEIRAS

3.4 Vitória: Waze como ferramenta de “comunicação com o cidadão”

A última cidade parceira do Waze é Vitória, capital do Espirito Santo. A cidade utiliza o Waze na sua Central Integrada de Operações e Monitoramento (CIOM) (Figura 25), que, por sua vez, é ligada ao Guarda Municipal (responsável pela organização do trânsito e também segurança do município). Para responder questionamentos sobre como o Waze é utilizado neste Centro de Comando e Controle Urbano, entrevistamos Edivandro Sipolatti, Gerente da CIOM.

Figura 25 – Sala de comando do Central Integrada de Operações e Monitoramento da Guarda Municipal de Vitória; o agente do lado direito usa a Ferramenta Traffic View, do Waze

Fonte: Guarda Municipal de Vitória, 2/12/2016, para esta pesquisa.

Apesar de ingressar no Connected Citizens Program (CCP) apenas em 2015, a cidade de Vitória já havia tentado parceria com o Waze mesmo antes do lançamento do CCP, segundo Sipolatti (2016). No entanto, só conseguiu avançar com a ideia depois do desenvolvimento da iniciativa entre o Waze e o Centro de Operações Rio.

De certa forma, como o Rio já tinha feito a parceria, isso ajudou também. [...]. Essa coisa de parceria entre o poder público e entidades privadas é algo muito novo. Então, até o convencimento do poder municipal fazer essa parceria avançar, [de convencer sobre] a vantagem que teria [...], que não tem custo para o município, mas tem um retorno muito positivo, tanto de imagem quanto de serviços. (SIPOLATTI, 2016)

Em Vitória, a parceria com o aplicativo de trânsito teve objetivo inicial de “identificar os locais que tenham incidentes [em tempo real] de forma mais rápida, para poder testar a agilidade do atendimento”, segundo Sipolatti (2016). “E também indicar aos usuários onde tinham/tem algum tipo de incidente, para poder ajudar no deslocamento dos motoristas e evitar um maior fluxo de trânsito nesses locais”, completa o Gerente do CIOM.

Ainda de acordo com Edivandro Sipolatti, a utilização do Waze passou a agregar valor de mão dupla para a governança da cidade: “O valor para a gente, para a cidade, é, justamente, ver no Waze mais uma forma de nos comunicarmos com o cidadão, de repassar informações e também de receber informações da população”.

Atualmente, a atuação da Central Integrada de Operações e Monitoramento da Guarda Municipal passa, necessariamente, pelo uso das atuais 170 câmeras (enquanto outras 200 estão em fase de implantação, até o final de 2016) em combinação com o Traffic View, do Waze. “E quando temos um incidente indicado no Waze, no mapa, a gente consegue olhar com uma câmera para ver a situação e indicar uma equipe da guarda municipal de trânsito para fazer o atendimento”, exemplifica Sipolatti (2016).

Figura 26 – Exemplo de acidente, segundo Sipolatti, primeiro captado pelo Waze e, posteriormente, visto pelo Centro Integrado

Fonte: Guarda Municipal de Vitória, 2/12/2016, para esta pesquisa.

A Figura 26 representa uma ação de agentes da Guarda Municipal após envio de alerta por Wazers. Com o recebimento de um alerta, o CIOM coletou informações de localização e usou câmeras próximas para verificar a informação. Uma vez feito isso, acionou agentes de trânsito e da Guarda Municipal para atuarem no ocorrido.

Então, mesmo antes de receber um chamado pelo 190 [Guarda Municipal], a gente já identifica um fato no mapa e consegue dar um suporte melhor. Usamos as câmeras para visualizar o fato, e identificarmos, até mesmo, quais são as agências [governamentais] necessárias para o atendimento.

Se a gente identifica um acidente que está próximo a uma câmera, a gente consegue dar um suporte e, aí, o [Corpo de] Bombeiros, que fica aqui, consegue saber qual tipo de equipamento tem que levar para o local, a SAMU e a própria Guarda Municipal para fazer o atendimento. (SIPOLATTI, 2016)

Para a cidade de Vitória, bem como para outros parceiros, o Waze disponibiliza informações a partir de planilhas e os agentes podem “salvar essas informações das interdições, alertas dos usuários [...] em uma base de dados. Com essa base de dados, a gente pode gerar pesquisas, informações e estatísticas sobre interdições e alertas dos usuários, também” (SIPOLATTI, 2016). As bases de dados, citadas por Sipolatti, possibilitam com que se obtenham informações que podem balizar alterações no trânsito da cidade. “O Waze disponibiliza todos os dados que são reportados pelos usuários que

passam pela cidade”, pondera Sipolatti (2016). Com os dados fornecidos pelo Waze, os interesses dos agentes residem em “saber quais os principais incidentes e quais são os locais mais afetados [...] para que a gente possa atuar, aí, de forma proativa, para poder ajudar na solução desses incidentes para que eles não ocorram e o trânsito da cidade melhore”. (SIPOLATTI, 2016)

Mesmo valorizando as informações obtidas, a Prefeitura não sabe dizer quantos dados recebe do Waze, mensalmente, tão pouco quantos alertas envia ao app. Também é interessante notar que análises estatísticas das bases de dados ainda são muito incipientes:

Por que começamos agora, no último mês [outubro 2016], a armazenar esses dados estatísticos em uma base [de dados]. Mas já vimos em outros municípios e cidades, que participam do projeto, que já vem utilizando essas bases de dados no mesmo propósito que tentamos utilizar: identificar os pontos com maiores incidentes e fazer ações planejadas para auxiliar na solução desses incidentes. (SIPOLATTI, 2016)

Na organização interna do CIOM, um funcionário da Central Integrada de Operações e Monitoramento da Guarda Municipal é responsável direto pela observação das notificações fornecidas pelo Waze, em tempo real, e também por inserir os dados da Central no aplicativo pelo Traffic View. Segundo Sipollati, essa ferramenta facilitou na adoção do Waze pela cidade, e não gerou custos de programação, que foram repassados para o desenvolvimento de um sistema de análises das bases de dados e cruzamentos de informações – tal qual o que se tem no COR.

Quando tiver uma interdição em via pública, o mapa que será feito com o planejamento já será lançado diretamente no Waze [sem precisar passar pelo

Traffic View], com a interdição programada. [...] E os dados nós passaremos

a coletar do Waze [direto para as bases de dados, sem precisar baixar planilhas e formulários do aplicativo]. (SIPOLATTI, 2016)

Figura 27 – Tela do Traffic View utilizado em Vitória

Fonte: Guarda Municipal de Vitória, 2/12/2016, para esta pesquisa.

De modo geral, a prefeitura de Vitória acredita que o Waze é benéfico tanto para os usuários quanto para a cidade. “[Com] ferramentas colaborativas você pode direcionar seu trabalho para aquele serviço ou local que realmente precisa de atenção”, diz Edivandro Sipolatti (2016).

Muitas pessoas, às vezes, são assaltadas, furtadas [...], mas não fazem a ocorrência. Agora, se você tem uma ferramenta dessas que pode te auxiliar, de alguma forma, a identificar um fato que está ocorrendo recorrentemente no local, você pode tomar ações proativas para poder evitar que um fato maior se agrave nessa localidade. No caso do Waze: é possível identificar

locais que são reportados pelos usuários com mais acidente. De repente não

é o local de ocorrência de trânsito [registradas pela prefeitura] com mais acidentes, um local com maior reporte de acidente. Mas, [...] é o local onde um acidente atrapalha mais e você não consegue medir locais com mais acidente apenas. De repente o local com mais acidente tem algum tipo de problemas ali, também. O local que mais atrapalha pode ter a mesma situação também. (SIPOLATTI, 2016, grifo nosso)

3.4.1 Caso de Sucesso de utilização do Waze em Vitória: passagem da Tocha Olímpica

Um exemplo de sucesso de utilização do Waze em Vitória aconteceu durante a passagem da Tocha Olímpica pela cidade, em 2016. “Ocorreu em um trecho bem grande aqui da cidade. Se não me engano, foram mais de 16 quilômetros da cidade. E envolveu a cidade praticamente toda”, conta Sipolatti (2016). As informações sobre a

passagem foram disponibilizadas no site da Prefeitura como também foram colocadas no Waze pelos agentes da Central Integrada. “(Isso foi feito) com smartphones. E, em tempo real, a gente alimentava as interdições no mapa do Waze”, relembra Sipolatti.

Então, os usuários sabiam exatamente onde estava a Tocha naquele momento. Quais eram os trechos e vias que estavam interditados nessa passagem. [...] Foi um evento bem interessante, pois sabíamos que ia ter um impacto muito grande na mobilidade urbana da cidade, [já que] Vitória é uma cidade que é capital e fica no meio de três cidades vizinhas, com um grande fluxo de veículos que passam por ela. E, a gente sabia que ia impactar. Só que não tivemos nenhum grande acidente durante a passagem da Tocha. Os veículos conseguiram seguir pelas vias que estavam liberadas e a Tocha não estava passando. E conseguimos fazer a passagem da Tocha, em torno de 13h às 22h, se deslocando pela cidade. E, nossa cidade não tem 100 quilômetros quadrados. Então, realmente foi um grande período se deslocando pelas vias da cidade e mesmo assim sem termos um registro de grande acidente. Muito pelo contrário, só comentários positivos na mídia sobre a passagem da tocha. (SIPOLATTI, 2016)

O entendimento de Sipolatti, no entanto, é de que não foi apenas um trabalho dos agentes e da Central. Foi produção de “conhecimento coletivo”. No caso da passagem da Tocha, a Central recebeu informações da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Espírito Santo sobre onde estaria passando o evento. Essas informações também foram colocadas no fórum do Waze para que os usuários e editores ajudassem a inserir as informações pelas ruas da cidade.

Além do acompanhamento, em tempo real, dos agentes no percurso da Tocha Olímpica, a estratégia estabeleceu-se em bloquear apenas alguns trechos ao longo do dia. À medida que os trechos eram bloqueados ou desbloqueados, acompanhando o deslocamento do evento, informações eram postadas no Waze para auxiliar os usuários, com rotas sempre atualizadas.

Para a gente, era mais interessante ter ali só aqueles trechos que a tocha estivesse passando listados no mapa. Para evitar que grandes trechos estivessem bloqueados e o cidadão pudesse ter opção, por meio do aplicativo, por onde se deslocar. (SIPOLATTI, 2016)

Tal estratégia resultou em um trânsito mais fluído e organizando durante o evento, de acordo com Sipolatti.