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O JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO DE ACORDO COM A

LEI 8.906/94

Com a promulgação da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988, a discussão sobre o Jus Postulandi foi retomada, existindo divergência doutrinária e jurisprudencial a cerca do tema.

Para Orlando Teixeira da Costa83,

Com a promulgação da Cart a da República de 1988, estabeleceu-se na doutrina uma controvérsia sobre a hermenêutica do seu artigo 133, pois esse dispositivo, repetindo o artigo 68 da Lei 4. 215 de 27 de abril de 1963

81

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI N n. 1539. Dj 24 mar. 2003. Relator Ministro Maurício Corrêa. Disponível em: <www.stf.gov.br>. Acesso em: 14 mar. 2009.

82

PAIVA, Mário Antônio Lobato de. A Supremacia do Advogado em Face do “Jus Postulandi”: a importância do advogado para o direito, a justiça e a sociedade. Rio de Janeiro: Forense, 2000

83

(antigo Estatuto da OAB), registrou que “o advogado é indispensável à administração da justiça”.

Sobre o preceito constitucional em discussão, Francisco Antônio de Oliveira84 ressalta que é idêntico ao que já determinava o antigo Esta tuto da Ordem dos Advogados – Lei nº 4.215 de 27.04.6385, artigo 68, in verbis: “No seu ministério

privado o advogado presta serviço público, constituindo com os juízes e membros do Ministério Público elemento indispensável à administração da Justiça”.

E completa dizendo que:

Temos, pois, que a Nova Carta Magna não inovou em matéria quando declarada que o advogado é indispens ável à administração da justiça. A previsão ora feita na Constituição, quando antes estava prevista em lei especial, em nada modifica a situação. 86

De maneira igualitária, o Novo Estatuto da Advocacia, em seu artigo 2º ordena que:

Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça. § 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social.

§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu c onstituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.

§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei.87

Orlando Teixeira da Costa88 entendeu que o Estatuto da Advocacia não alinhou nenhuma das leis que admitem o patrocínio facultativo. Salientou ainda que não houve expressa revogação a teor do artigo 2º, § 1º da Lei de Introdução ao Código Civil, ou seja, a Lei nº 8.906/94 é uma lei especial que estabeleceu uma disposição geral, não revogou o art. 791 da Consolidação das Leis Trabalhistas. Referido artigo dispõe que:

Art. 2º Não se destinado à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompat ível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.89

E concluiu dizendo que:

84

OLIVE IRA, Francisco Antônio de. O Proce sso na justiça do trabalho. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 197.

85

BRASIL. Lei n. 4.215 de 27 abr. 1963. Disponível em: <www.planalto.gov. br/ccivil/Leis/1950 - 1969/L4215. htm>. Acesso em: 14 abr. 2009.

86

OLIVE IRA, Francisco Antônio de. op. cit., p. 197.

87

OAB. Estatuto da Advocacia. Disponível em: <www.oab-rn.org.br/novo/ arearestrita/sistema_ de_legislacao/arquivos/inc48d969801e852.pdf>. Acesso em 25 mar. 2009.

88

A Lei n. 8.906/94 é uma lei especial que apenas estabeleceu uma disposição geral sobre o pat rocínio jurídico obrigatório por advogado. Logo, não pode, outrossim, ter revogado leis já existentes, vers ando esparsament e sobre modalidades singulares de patroc ínio facultativo. 90

O autor ainda destacou em um Acórdão de sua própria autoria que:

O jus postulandi do processo trabalhista não conflita com o artigo 133 da Constituição de 1988, pois ele apenas reconhec eu a nat ureza de direito público da função de advogado, sem criar nenhuma incompatibilidade com as exceções legais que permitem à parte ajuizar, pessoalmente, pleitos perante os órgãos do poder Judiciário. 91

No mesmo sentido, Sérgio Pinto Martins92 afirma que “a Lei 8.906/94 não revogou expressamente o artigo 791 da Consolidação das Leis Trabalhistas”. E conclui:

Não existe, portanto, conflit o entre o art. 791 da CLT e o art. 133 da Constituição, pois este apenas reconhece a função do direito público exercida pelo advogado, não criando qualquer incompatibilidade com as exceções legais que permit em à part e ajuizar, pessoalmente, a reclamação trabalhista. 93

Outro posicionamento de Sérgio Pinto Martins94 é no âmbito do Estatuto da Advocacia e ressalta:

Disciplina o art. 1º da Lei nº 8.906 que é atividade privativa da advocacia a postulação a qualquer órgão judiciário e aos juiz ados especiais (inciso I), regulando inteiramente a matéria. Aqui, temos uma diferenciaç ão em relação à Lei nº 4.215/63 que falava de atividade privativa de advogado (§ 3º do art. 71) para diferencia-lo do estagiário (art. 72). O § 1º do art. 1º da Lei nº 8.906 apont a expressamente uma única exceção à regra da participaç ão do advogado, que inexistia na lei anterior, que é a impetração do habeas corpus. Não há outras exceções.

Conclui assim:

Logo, já que é privativo do advogado a postulação em qualquer órgão do Poder Judiciário, sendo a Justiça do Trabalho um desses órgãos, e a única exceção vem a ser a interposição do habeas corpus, a conclusão que podemos chegar é que o ius postulandi, previsto no art. 791 da CLT, não mais persiste, tendo sido revogado o referido preceito da CLT por ser incompat ível com as normas citadas. 95

89

BRASIL. Lei n. 8.906 de 4 de julho de 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil/Leis/ L8906.htm>. Acesso em: 14 abr. 2009.

90

TADE U, Leonardo. Jus Postulandi na justiça do trabalho: direito ou ameaça?. Dis ponível em: <http://www.jurisway.org.br/ v2/dhall.asp?id_dh= 322>. Acesso em: 01 jun. 2009.

91

Ibdem.

92

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito proce ssual do trabalho: doutrina e prática forense. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 184. 93 Ibdem, p. 184. 94 Ibdem, p. 184-185. 95 Ibdem, p. 184-185.

Segundo a regra do § 1º do art. 2º da LICC, a lei posterior revoga a anterior quando for com ela incompatível. É o que ocorre entre o art. 1º da Lei 8.906 e o art. 791 da CLT. A norma mais nova prevalece sobre a mais antiga.

A Constituição Federal, por meio do art. 133, contempla a advocacia como uma identidade de caráter público, ao reconhecer que o advogado é indispensável à administração da justiça, relevância que o legislador infra- constitucional reforçou na Lei nº 8.906/94 – Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil-OAB – quando conferiu ao advogado independência funcional, ao dispor que o advogado é inviolável por se us atos, no exercício da profissão, segundo o art. 2º, § 3º do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil.

4 O FUTURO DO JUS POSTULANDI

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