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Justamente nesse sentido o que seria alfabetizar? E o que é Letrar? Na sua opinião há uma diferença? Não há uma diferença?

3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 3.1 Os modelos de alfabetização

P: Justamente nesse sentido o que seria alfabetizar? E o que é Letrar? Na sua opinião há uma diferença? Não há uma diferença?

P1B: O alfabetizar eu vejo mais assim, como se fosse uma decodificação daquele sistema, entendeu? Já o letramento não, ele vai ver aquele sistema como ele está usando, pra que ele está usando, vai aprender a interpretar o que ele está lendo. Porque muitas vezes a criança lê um texto inteiro, quando você pergunta, o que foi que você leu, ela não sabe. Então ele vai ver que tem vários tipos de comunicação, e que não é só ele saber aquele código. Ele tem que saber aquele código, mas tem que saber como usar aquele código e de acordo com que ele vai usar e que ele vai ver aquele código, ele vai interpretar aquelas coisas que ele tá vendo e tá lendo. É pertinente observar a quantidade de vezes em que P1B faz uso dos termos “código” em sua resposta sobre o tema alfabetização e letramento. Sua fala em muito se aproxima do modelo Fônico e Silábico proposto por Braggio (1992), uma vez que este fala de uma decodificação mecânica da linguagem. Quando se trata de letramento, porém, seu discurso se aproxima de Soares (2003), quando esta afirma que o letramento é o estado de quem se envolve nas mais variadas práticas sociais de leitura e escrita.

Pode-se perceber que a professora manteve uma coerência de pensamento quando traçamos uma linha de pensamento do que ela afirmou ser linguagem e sua ideia do que sejam a alfabetização e o letramento, primeiramente compreendendo que os dois termos existem. Soares (2003) afirma, ainda, que o termo surgiu justamente da necessidade que se tinha de ter uma palavra que definisse essa situação.

Cagliari (1997) coloca como condição para esse aprendizado a motivação da criança para aprender a língua. Para ele: “Alfabetizar grupos sociais que encaram a escrita como uma simples garantia de sobrevivência na sociedade é diferente de alfabetizar grupos sociais que acham que a escrita, além de necessária, é uma forma de expressão individual de arte, de passatempo” (CAGLIARI, 1997, p. 101). O ideal, segundo o autor, seria perguntar aos alunos qual a importância da escrita em suas vidas e, a partir daí, entender suas motivações para aprender pois, sem isso, elas podem achar uma atividade inútil.

Esse pensamento perpassa pela ideia de letramento, que, para a professora, é fazer uso dessa leitura e escrita nas práticas sociais. Soares (2003, p. 19) também faz essa distinção entre o ser letrado e o ser alfabetizado:

Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social, ou um indivíduo, como consequência de ter-se apropriado da escrita. Alfabetizado nomeia aquele que apenas aprendeu a ler e escrever, não aquele que adquiriu o estado ou a condição de quem se apropriou da leitura e da escrita incorporando as práticas sociais que as demandam.

A preocupação da professora para que as crianças, por estarem no mundo, precisem saber dos diversos gêneros textuais, formas de comunicação, atrela-se à ideia de Roulet (1978, p. 81) de que: “em primeiro lugar, dominar uma língua como instrumento de comunicação não é apenas questão de poder construir e entender orações gramaticais. Trata- se também de saber como usar essas orações em determinados contextos linguísticos e não- linguísticos”. Por essa visão, para a professora, apesar de admitir que são termos diferentes, eles caminham juntos e um não ocorre sem o outro.

Para analisar a resposta das professoras sobre sua prática pedagógica, ambas têm pensamento semelhante apesar de o terem explicitado de maneiras diferentes.

P: Justamente nesse sentido o que seria alfabetizar? E o que é Letrar? Na sua opinião há uma diferença? Não há uma diferença?

P2A: Pra algumas pessoas têm diferença, pra mim não tem. Se você alfabetiza uma criança, se você está letrando uma criança, fazendo com que a criança faça o reconhecimento de das letras, das palavras, ela está sendo letrada. Então assim, eu não vejo diferença. Tem pessoas que fazem diferença, porque acham que a leitura é diferente do letramento. É realmente. Tem criança que sabe ler e que não sabe escrever. Como eu tenho criança que faz a leitura, mas que escreve muito pouco. Mas por exemplo, se a criança faz a leitura da palavra CASA, e escreve casa com Z, mas ela está reconhecendo. Ela sabe que casa é com 2 silabas, tem um som diferente da letra, mas ela sabe que ali está escrevendo. Eu não vejo diferença. Embora muitas pessoas pensam que a leitura é totalmente diferente do letramento. Eu não acho. É o caso do João (aluno com nome fictício), ele não faz nenhuma leitura e não faz nenhuma escrita, a não ser quando eu pergunto oralmente, mas ele sabe do que se trata o assunto, ele sabe do que estamos falando, ele só não tem leitura. Se ele não tem leitura, ele não tem letramento. Se ele não lê, ele não escreve, pra mim é uma coisa casada com a outra. A leitura tem tudo a

ver com o letramento. Eu como professora de sala de aula sei que eles, como a turminha do 2o ano é muito homogênea, eu sei que tem tudo a ver a leitura com o letramento.

Nessa resposta vemos que a professora tem algumas contradições em seu próprio discurso. Ora diz não ver diferença entre alfabetização e letramento, mas ao mesmo tempo reconhece que há diferenças. Além disso, para P2A, ser letrado é ter conhecimento das letras, ao mesmo tempo que afirma ter um aluno que não tem leitura ou escrita, mas compreende todo o conteúdo que é passado para ele. Essa parte de sua fala corrobora a concepção de Soares (2003) de que é possível ser letrado sem ser alfabetizado. Entretanto, após assumir essa ideia, ela complementa que se ele não tem leitura, ele não tem letramento, como se uma coisa dependesse diretamente da outra. É coerente esse pensamento de P2A, uma vez que, para ela, a decodificação, como vimos na pergunta anterior, faz-se extremamente necessária para se adquirir uma língua.

Apesar de afirmar não ter tido muita experiência com o Ensino Fundamental I, fizemos a mesma pergunta para a P2B, e a resposta obtida foi esta:

P: E na sua opinião, pela sua experiencia que você já teve de leitura, em sala