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A JUSTIÇA E OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO DE CONFLITOS A Justiça do direito de conflitos

O dtº é uma ordem orientada à realização de valores socialmente reconhecidos. Justiça surge como ideia de unificar os valores.

A justiça da conexão atende ao significado dos laços que a situação estabelece com os Estados em presença e não às soluções materiais ditadas pelos direitos destes estados. Permitindo desta forma, contrapor justiça de conexão como

justiça formal ou conflitual, à justiça material que diz respeito à solução material do caso.

As normas com conceito indeterminado estão ainda ao serviço da justiça da conexão, de uma equidade conflitual, uma vez que não estabelecem por via geral e abstrata o elemento de conexão mais adequado, antes remetem o interprete para uma valoração conflitual perante o conjunto das circunstâncias do caso concreto.

A justiça do DIP é mais ampla que a justiça de conexão.

A justiça conflitual pode exprimir a adequação de um direito supraestadual ou de um direito paraestadual para reger uma determinada categoria de situações transnacionais.

O DIP realiza a justiça de 2 formas, segundo Neuhaus:

• Através da escolha do elemento de conexão mais adequado;

• Através de um controlo e de uma modelação da solução material do caso. O DIP realiza até certo ponto uma função modeladora na disciplina das situações internacionais.

A evolução do DIP tem sido marcada por uma certa materialização do dtº de conflitos. O favorecimento de resultados materiais justifica-se quando no direito material interno há uma finalidade subjacente a um ramo do direito ou a um instituto jurídico que aponta nesse sentido.

As normas de conflitos só devam ser materialmente orientadas quando se manifeste uma tendência internacional para a prossecução de determinada finalidade jurídico-material. A orientação material das normas de conflitos também pode fundamentar-se na necessidade de compensar desvantagens decorrentes do carater internacional da situação. O favorecimento da validade formal do negócio pode até certo ponto ser justificado pelas incertezas e dificuldades que resultam do contacto da situação com diversos estados.

A justiça concretiza-se em valores e princípios jurídicos, sendo que não existe um sistema universal de valores e princípios jurídicos valido para todas as ordens jurídicas estaduais.

A justiça concretiza-se na ideia de supremacia do direito, bem como num conjunto de valores materiais e formais:

• Ideia de supremacia do direito – decorre, para a regulação das relações transnacionais, que o direito deve orientar os aspetos essenciais de conduta social dos sujeitos destas relações por meio de critérios vinculativos e que deve assegurar a resolução dos conflitos sociais através de meios jurisdicionais e segundo regras jurídicas.

• Valores formais – valor da certeza, previsibilidade. As normas devem poder ser conhecidas pelos destinatários e devem permitir a determinação do dtº aplicável com facilidade e certeza.

Valor da harmonia internacional de soluções – as divergências entre os sistemas nacionais de direito de conflitos prejudicam a certeza e a previsibilidade do direito aplicável. Só o direito de conflitos unificado pode garantir a harmonia internacional de soluções. Ligados à ideia de supremacia do direito do direito e aos valores formais do Direito de conflitos surgem 2 exigências:

o Limites à aplicação no tempo e no espaço do direito de conflitos, que decorre antes do mais da consideração da norma de conflitos; o Certo favorecimento da validade dos negócios e da legitimidade

dos estados.

• Valores materiais – dignidade da pessoa humana, igualdade, adequação, equilíbrio, ponderação, liberdade, confiança e o bem comum.

o Dignidade da pessoa humana – decorre do principio do respeito da personalidade dos indivíduos, ligado à noção de estatuto pessoal e a conformidade dos elementos de conexão com direitos fundamentais.

o Igualdade – exprime-se no principio da equiparação entre nacionais e estrangeiros. Postula também a harmonia internacional de soluções.

o Adequação – justiça de conexão

o Equilíbrio – importante nas matérias em que sobrelevam os interesses das partes. Justifica regras de conflitos especiais que visam a proteção da parte contratual mais fraca.

o Ponderação – importante sempre que se utilizem conceitos indeterminados e clausulas de exceção.

o Liberdade – tem de se respeitar que cada ser humano decida sobre a sua vida

o Confiança – não se deve invocar quando estão em causa meras exigências da certeza e previsibilidade jurídicas.

o Bem comum – valor bifrontal em DIP. Está em causa o bem comum da sociedade estadual que se dota de um sistema de direito de conflitos e por outro lado está o bem comum universal que sendo um dos fundamentos do primado do DIP sobre o Dtº estadual, é um valor que também deve ser realizado pelo direito de conflitos. Este valor postula que as soluções conflituais devam contribuir para o bem-estar económico, social, cultural e ambiental da humanidade.

O Dtº de conflitos vigente nos Estados da União Europeia, tem evoluído no sentido de uma flexibilização, através da admissibilidade da determinação da conexão em função das circunstâncias do caso concreto em certos casos. A norma geral e abstrata não é a única condição para a decisão justa, mas é uma das condições que permite que o igual seja igualmente tratado.

Só se justifica o recurso à justiça conflitual do caso concreto em 2 hipóteses: • Quando as partes acordem num julgamento segundo a equidade e se

trate de relações disponíveis.

• Quando não for possível realizar a justiça da conexão por meio de uma norma de conflitos com conceito designativo determinado.

Quando não for possível encontrar um elemento de conexão adequado à matéria em causa, justifica-se o recurso a conceitos designativos indeterminados, como é o caso da “relação mais significativa” ou “conexão mais estreita”.

LP: defende a introdução no dtº de conflitos português de uma cláusula geral de exceção, que permita afastar o direito primariamente competente em benefício do direito do estado que apresenta laços manifestamente mais estreitos com a situação.

A justiça do direito de conflitos deve ser enquadrada pela justiça do DIP considerado no seu conjunto.

A coerência do sistema reclama a articulação interna destes complexos normativos. No direito positivo manifesta-se por vezes uma falta de articulação que chega a repercutir-se em graves contradições valorativas.

A integração das soluções num sistema global e coerente traduzir-se-á em soluções mais adequadas à vida jurídica transnacional, reduzindo os fatores de incerteza e imprevisibilidade, tutelando a confiança depositada no direito de conflitos e atenuando o desequilíbrio entre as partes criado pelo fórum shopping e pelo aproveitamento abusivo do instituto de reconhecimento de decisões judiciais estrangeiras.

Uma convergência entre o foro competente e o direito aplicável oferece vantagens evidentes. O legislador e os órgãos de aplicação do direito, quando criam ou desenvolvem o direito de conflitos numa determinada matéria, devem ter em conta as normas de competência internacional.

Os princípios do Direito dos Conflitos

Princípio jurídico – proposições jurídicas com elevado grau de indeterminação que, exprimindo diretamente um fim ou valor da OJ, constituem uma diretriz de solução. DIP Três Complexos Dtº Conflitos Dtº Competência Internacional Dtº Reconhecimento

Os princípios desempenham várias funções:

• Resolução de problemas de interpretação, em especial quando se trate de conceitos carecidos de preenchimento valorativo;

• Integração de lacunas, pelo menos quando não seja possível supri-las mediante o recurso à norma aplicável a casos análogos;

• Redução teleológica, pela não aplicação de uma norma a situações que, em princípio, caberiam na sua previsão.

Baptista Machado + Moura Ramos = os princípios valem sobre as normas de conflitos singularmente consideradas.

LP não concorda, entendendo que as normas de conflitos são tão vinculativas como as normas materiais. Segundo ele, os princípios não derrogam as regras legais. Os valores e os princípios estão subjacentes às regras, servem para a sua interpretação e podem justificar uma extensão analógica ou uma redução teleológica.

Princípios de conformação global do sistema

Ferrer Correia - a segurança e a certeza jurídica são os valores predominantes no DIP. Elege o principio da harmonia jurídica internacional como um principio fundamental.

Principio da harmonia jurídica internacional – deve ser o mesmo direito aplicado a uma situação qualquer que seja o Estado em que venha a ser apreciada. Tem algumas implicações:

• Deve adotar-se um sistema de dtº de conflitos de base bilateral;

• As normas de conflitos estabelecidas por cada legislador estadual devem ser universalizáveis;

• Na escolha dos elementos de conexão deve atender-se à sua difusão internacional;

• Deve aceitar-se a devolução quando tal permita alcançar a harmonia internacional;

• Deve adotar-se um sistema que permita o reconhecimento de atos públicos estrangeiros.

Limites deste principio -> não aceita a devolução, remetendo para a referência material.

Princípio da harmonia material ou interna – postula a uniformidade de valoração das mesmas situações dentro de cada ordem jurídica, a coerência na regulação das situações da vida, o que obriga à eliminação de contradições normativas ou valorativas entre as normas contidas nas leis aplicáveis a diferentes segmentos da mesma situação. Este principio preza por preservar a unidade de regulação de cada situação globalmente considerada. Aconselha a que questões interdependentes sejam submetidas ao mesmo direito.

Princípio da confiança – justifica que sejam reconhecidas as situações jurídicas que se constituíram ou consolidaram validamente perante o DIP de uma ordem jurídica estrangeira que apresenta uma conexão especialmente importante com a situação, mesmo que não sejam válidas perante as normas primariamente aplicáveis ao DIP do foro. Exige o respeito da estabilidade e continuidade das situações jurídicas, quando não haja razões objetivas suficientemente ponderosas que imponham a sua modificação ou extinção.

Princípio da efetividade – na resolução dos conflitos de leis haverá que atender à circunstância de certos estados se encontrarem em posição privilegiada para imporem o seu ponto de vista sobre a regulação do caso. Pode contribuir para a fundamentação da própria conexão primária. Tem uma vertente “principio da maior proximidade” que tem um alcance muito limitado.

Princípio do favor negotii – devem ser fornecidos a validade dos negócios jurídicos e a legitimidade dos estados. Leva à paralisação da devolução (art. 19º/1 CC). Vai longe demais este princípio.

justiça material quando estão em causa seja normas e princípios supraestaduais seja normas e princípios fundamentais da OJ portuguesa. Estas normas e princípios formam uma reserva jurídico-material do sistema português de DIP que limita o funcionamento do direito de conflitos.

Princípios de conexão

Princípio da conexão mais estreita – pode traduzir a própria justiça da conexão no seu conjunto e, por conseguinte, abranger todos os elementos de valoração, designadamente os princípios e ideias orientadoras da escolha da conexão. Pode também exprimir a justiça da conexão objetiva em matéria de contratos obrigacionais (art.4º/1 Roma I). Há uma relação entre este principio e a supremacia do direito, a atuação da norma de conflitos como critério de conduta. Este principio é também uma expressão da justiça de conexão. Tanto contribui para fundamentar uma norma de conflitos com conceito designativo indeterminado, ou uma clausula de exceção, como para a consagração de um determinado elemento de conexão. Será o principio que exprime: a nacionalidade, o domicilio ou a residência habitual.

Principio da personalidade – decorre do principio mais geral da dignidade da pessoa humana. Manifesta-se na noção de lei pessoal. Exige o respeito da inserção do individuo na esfera sócio-cultural de um Estado, por forma a respeitar a sua identidade cultural9. O respeito da competência da lei pessoal pode levar ao sacrifício da harmonia internacional alcançada através da devolução (art. 17º/2 e 18º/2 CC), sendo que não se justifica este sacrifício. Principio da territorialidade – uma lei é territorial quanto aos órgãos de aplicação quando só é aplicada pelos órgãos do Estado que a edita. Uma lei é territorial quanto às situações reguladas quando se aplica a todas as situações que têm uma dada conexão com território do Estado que a edita. Existe uma aceção que defende que uma lei só produz diretamente efeitos para o território do Estado

que a edita, logo a lei de um estado só se aplica aos factos ocorridos no seu território. LP defende que não vigora este princípio.

Princípio da Autonomia Privada – veicula o valor liberdade, relacionando-se com determinados direitos fundamentais que são inspirados por esse valor. Atua em 2 níveis:

• Exprime-se na utilização de elementos de conexão cujo conteúdo concreto pode ser modelado pelos interessados – nacionalidade, domicilio, residência habitual – relevância indireta da vontade na determinação do dtº aplicável.

• A conexão alternativa cria um espaço de autonomia sem que conceda relevância direta à vontade na determinação do dtº aplicável.

Princípio do favorecimento de pessoas que são merecedores de especial proteção – manifesta-se em 2 tipos de normas de conexão: a) normas de conflitos materialmente orientadas que favorecem determinados resultados materiais mediante a utilização de conexões alternativas, cumulativas ou optativas; b) normas de conflitos especiais que conduzem à aplicação da lei do Estado em que a pessoa carecida de proteção tem o seu centro de vida pessoal ou profissional.

CAPÍTULO V

ESTRUTURA GERAL DA NORMA DE CONFLITOS