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SUMÁRIO

6. CONCLUSÕES 145 7 REFERÊNCIAS

1.6. Justificativa do estudo e hipótese do trabalho

Diante da análise dos estudos relatados, é possível observar diferentes trajetórias no desenvolvimento de crianças nascidas com baixo peso e pequenas para a idade gestacional. Segundo Bordin et al. (2001), os fatores de risco, os fatores de proteção e o processo de resiliência nas trajetórias de desenvolvimento das crianças nascidas pré-termo e com muito baixo peso devem ser entendidos através de um modelo complexo considerando possíveis fatores de risco e os fatores do indivíduo e do contexto ambiental. Sob a ótica da psicopatologia do desenvolvimento, deve-se compreender a condição de vulnerabilidade do baixo peso considerando a interação das dificuldades com os fatores de proteção os quais podem ser ativados para neutralizar ou evitar déficits (Bordin, 2005). Nesse sentido, a identificação das dificuldades e dos recursos de crianças nascidas com baixo peso e pequenas para a idade gestacional nas etapas posteriores do desenvolvimento pode auxiliar na compreensão das suas demandas de saúde mental.

As diferenças encontradas na literatura quanto aos desempenhos cognitivo e comportamental de crianças nascidas e com baixo peso merecem um olhar minucioso a fim de

serem melhores compreendidas, focando especialmente os critérios de estratificação das crianças estudadas e os possíveis fatores ambientais que podem atenuar ou potencializar os riscos biológicos associados ao baixo peso ao nascer.

Os estudos apresentados indicam diferentes possibilidades de desfecho no desenvolvimento cognitivo e comportamental de crianças nascidas na condição de vulnerabilidade do baixo peso ao nascer e pequenas para a idade gestacional, sugerindo um interjogo entre os fatores de risco e fatores de proteção.

Ao analisar tais dados, não é possível ser determinista quanto às adversidades neonatal do baixo peso ao nascer e seu impacto para as crianças nessas condições, já que alguns estudos apontaram que algumas mantêm recursos para um bom desenvolvimento. Por outro lado, tais estudos também mostram a necessidade de implementar-se medidas de intervenção e programas de follow-up para promover o bom desenvolvimento dessas crianças. Neste contexto tornam-se necessários novos estudos, especialmente, os estudos em que uma mesma coorte é analisada desde o nascimento até a idade escolar (Cardoso, Simões, Barbieri, Silva, Bettiol, Alves, & Goldani, 2007).

Os estudos de coorte podem favorecer o conhecimento dos efeitos do baixo peso ao nascer na medida em que permitem a comparação de grupos de indivíduos expostos a uma determinada condição, verificando o efeito de tal variável ao longo do tempo. Tais estudos abordam grupos de indivíduos que compartilharam as mesmas experiências culturais e históricas nas mesmas fases de vida, por terem nascido dentro de uma faixa estreita de anos (Bee, 2003). Nesses estudos são comparados os efeitos ao longo do tempo de um determinado fator de risco ou proteção para grupos expostos e não expostos a esse fator, mas que experimentaram as mesmas influências normativas históricas, como por exemplo, transformações culturais e políticas (Papalia et al., 2000).

Considera-se que a possibilidade de um estudo de coorte, com crianças diferenciadas pelo peso ao nascer, com um instrumento de rastreamento reconhecido constitui-se em uma contribuição para o conhecimento científico Nesse sentido, faz-se necessário contar com instrumento aferido que permita o estudo de características específicas do grupo estudado com outras amostras próximas. No contexto de desenvolvimento do estudo relatado, a prevalência de indicadores de problemas de comportamento e saúde mental por meio do Questionário de Capacidades e Dificuldades (SDQ) foi objeto de dois estudos recentes, relatados a seguir. Cury e Golfeto (2003), com o objetivo de rastrear possíveis transtornos psiquiátricos em crianças de escolas públicas verificaram a prevalência de 30,8% de sintomas emocionais, 17,7% de problemas de condutas e 16,8% de hiperatividade numa amostra de 112

crianças, avaliadas pelos pais ou professores. Ferriolli, Marturano e Puntel (2007), por meio de um estudo transversal com 100 crianças de 6 a 12 anos e seus familiares cadastradas em um núcleo de Programa de Saúde da Família, analisaram a associação entre variáveis do contexto familiar e o risco de problemas emocionais e comportamentais para essas crianças, tendo verificado que 31% das crianças estavam em condição de risco, apresentando 39% de sintomas emocionais, 35% de hiperatividade e 34% de problemas de conduta.

Apesar de muitos estudos na literatura internacional terem relatado os efeitos psicológicos do baixo peso ao nascer nas crianças ao longo de seu desenvolvimento, no Brasil, tais estudos ainda são escassos, especialmente aqueles relacionados ao seguimento a médio e longo prazo de tais crianças (Linhares et al., 2005). Conhecer os efeitos adversos do baixo peso ao nascer para o desenvolvimento infantil pode contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas que visem prevenir problemas no desenvolvimento e que possam instrumentar programas de intervenção aplicados na infância, protegendo assim tal população do agravamento dos problemas na idade adulta.

Considerando estes pontos destacados, sob a perspectiva da abordagem da psicopatologia do desenvolvimento, o presente estudo se propõe a estudar uma coorte de crianças em idade escolar, quanto aos desempenhos cognitivo e comportamental, tendo como foco a estratificação das crianças em grupos de acordo com o peso ao nascer e com a adequação do peso ao nascer à idade gestacional. Pretende-se, deste modo, contribuir com o conhecimento sobre os desempenhos cognitivo e comportamental, importantes para caracterizar a saúde mental de tais crianças.

O presente estudo caracteriza-se por um delineamento prospectivo, de coorte, de base populacional, visando: a) a comparação dos desempenhos cognitivo e comportamental das crianças estratificadas de acordo com o peso ao nascer, tendo por referência três critérios diferentes e, b) a identificação das variáveis preditoras para os desempenhos cognitivo e comportamental das crianças, baseado em variáveis biológicas, clínicas e socioeconômicas.

Com base na literatura revisada, tem-se como hipótese norteadora que as crianças nascidas com baixo peso e pequenas para a idade gestacional apresentam, na idade escolar, maior prejuízo quanto aos desempenhos cognitivo e comportamental.

O presente estudo tem dois objetivos principais:

a) avaliar os desempenhos cognitivo e comportamental de uma coorte de crianças, em idade escolar, estratificada em grupos com base em três critérios relativos ao peso ao nascer;

b) identificar possíveis variáveis preditoras para os desempenhos cognitivo e comportamental de crianças em idade escolar, baseado em variáveis biológicas, clínicas e socioeconômicas.

Para tanto, propõe-se os seguintes objetivos específicos:

ƒ Caracterizar e comparar os desempenhos cognitivo e comportamental de uma coorte de crianças, em idade escolar, estratificada em dois grupos de peso, sendo um grupo de baixo peso e um grupo de peso normal;

ƒ Caracterizar e comparar os desempenhos cognitivo e comportamental de uma coorte de crianças, em idade escolar, estratificada em cinco grupos de peso, segundo os valores de referência da Organização Mundial de Saúde (OMS);

ƒ Caracterizar e comparar os desempenhos cognitivo e comportamental de uma coorte de crianças, em idade escolar, estratificada em três grupos, considerando a adequação do peso ao nascer à idade gestacional.