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Predição de riscos relativos aos desempenhos cognitivo e comportamental das crianças

SUMÁRIO

2) Variáveis Independentes:

4.4. Predição de riscos relativos aos desempenhos cognitivo e comportamental das crianças

A fim de se obter o melhor modelo de predição de risco aos desempenhos cognitivo e comportamental, foram realizados diversos procedimentos estatísticos, tendo por suporte as análises relativas às variáveis biológicas, de características clínicas da criança e as variáveis socioeconômicas precedendo à análise multivariada. Após a realização das análises univariadas, foi realizada uma análise multivariada com o objetivo de identificar o melhor modelo preditivo em relação às variáveis desempenho cognitivo, avaliado por meio do Raven, e desempenho comportamental, avaliada por meio do SDQ, optando-se por correlacionar somente as variáveis que mostraram-se significativas ou com tendência significativa nas análises univariadas. Para essa análise, as variáveis foram categorizadas como já descrito na análise dos dados.

A Tabela 20 apresenta os dados da análise univariada entre o desempenho cognitivo (Raven) e as variáveis biológicas, de condições clínicas das crianças e socioeconômicas.

Tabela 20 - Análise univariada entre o desempenho cognitivo obtido por meio do Raven e as variáveis biológicas, clínicas e socioeconômicas das crianças

VARIÁVEIS p OR IC

Variáveis Biológicas

Dois grupos de peso

Baixo Peso x Peso Normal 0,017* 1,94 1,12 - 3,35

Gênero

Masculino x feminino 0,747 - -

Idade gestacional

Até 36 semanas x ≥ 37 semanas 0,068 1,59 0,96 – 2,62 Peso ao nascer em relação à idade gestacional

PIG x AIG 0,005* 2,06 1,24 – 3,43

PIG x GIG 0,364 - -

AIG x GIG 0,611 - -

Variáveis relativas às condições clínicas das crianças

Tempo de internação hospitalar

1 a 10 dias x 11 ou mais dias 0,874 - -

Problemas pulmonares ao nascer

Apresentou x não apresentou 0,704 - -

Complicações respiratórias na infância

Apresentou x não apresentou 0,265 - -

Amamentação no peito

Amamentado x não amamentado 0,798 - -

Variáveis Socioeconômicas

Situação Conjugal

Casada/amasiada x solteira 0,211 - -

Escolaridade da mãe (em anos de estudo)

0 a 8 x 9 ou mais 0,000* 6,25 2,86 – 12,5

Escolaridade do pai (em anos de estudo)

0 a 8 x 9 ou mais 0,004* 2,4 1,31 – 4,40

Ocupação do chefe da família

Não manual x Manual qual. e semi-qualificado Manual qualificado x Manual não qualificado Não manual x Manual não qualificado

0,001* 0,001* 0,017* 6,96 2,04 14,15 2,14 – 22,63 1,20 – 3,45 4,15- 48,31 Nível Socioeconômico A1, A2, B1 e B2 x C1, C2, D e E 0,000* 5,02 2,61 – 9,66 No de moradores na casa

1 a 4 pessoas x 5 ou mais pessoas

0,001* 2,16 1,36 – 3,43

Em relação à variável grupo de peso apresentada na Tabela 20, verificou-se que as crianças pertencentes ao grupo de baixo peso possuem, em média, 94% a mais de chance de se encontrarem na categoria abaixo da média e deficiente de acordo com a classificação proposta pelo Raven (χ2= 5,7).

Para a variável gênero, verificou-se não haver diferença significativa entre os percentis cognitivos de meninos e meninas, avaliadas por meio do Raven. No que diz respeito à variável idade gestacional, também não foram verificadas diferenças significativas entre as crianças nascidas a termo e as nascidas pré-termo.

Sobre a variável adequação do peso ao nascer à idade gestacional, notou-se que as crianças classificadas como pequenas para a idade gestacional, PIG, possuem 2 vezes mais chances de serem classificadas como intelectualmente abaixo da média ou deficiente pelo Raven em relação às crianças nascidas adequadas para a idade gestacional, AIG (χ2 = 8,0).

Não foram verificadas diferenças significativas em relação às variáveis das condições clínicas das crianças (tempo de internação hospitalar, problemas pulmonares ao nascer, complicações respiratórias na infância e amamentação no peito) em relação ao desempenho cognitivo. Também não foi encontrada diferença significativa em relação à situação conjugal dos pais e o desempenho cognitivo avaliado pelo Raven.

Em relação à variável escolaridade da mãe, as crianças cujas mães possuem de 0 a 8 anos de estudo possuem 6,2 vezes mais chance de se encontrarem classificadas no Raven como intelectualmente abaixo da média ou deficiente em comparação às crianças cujas mães apresentam 9 ou mais anos de estudo (χ2 = 27,9).

Para a variável escolaridade do pai, as crianças cujos pais apresentaram de 0 a 8 anos de estudo tem 2,4 vezes mais chances de estarem classificadas pelo Raven como intelectualmente abaixo da média ou deficiente, em comparação às crianças cujos pais possuem 9 ou mais anos de estudo (χ2 = 8,4).

Com relação à variável ocupação do chefe da família, os resultados indicaram que os chefes de família que referiram possuir ocupação manual qualificada possuem 7 vezes mais chances de terem filhos classificados como intelectualmente abaixo da média ou deficiente pelo Raven em comparação às crianças filhas de chefes de família com ocupação não manual sendo, portanto, mais qualificados (χ2 = 13,7). Os chefes de famílias que referiram ocupação manual não qualificada ou desempregado apresentam, aproximadamente, 14 vezes mais chances de terem filhos classificados pelo Raven como intelectualmente abaixo da média ou deficiente do que as crianças com pais com ocupação não manual (χ2 = 27,5). Os filhos de chefes de família que referiram ter ocupação manual não-qualificada apresentam,

aproximadamente, 2 vezes mais chances de serem classificados como intelectualmente abaixo da média ou deficiente em relação aos filhos cujos pais relataram ocupação manual qualificada (χ2 = 7,2).

Em relação ao nível socioeconômico, verificou-se que as crianças de famílias que se encontravam em classes econômicas menos favorecidas apresentam 5 vezes mais chances de terem seus filhos classificados pelo Raven como abaixo da média ou deficiente em relação às crianças pertencentes às classes econômicas mais favorecidas (χ2 = 27,7).

Verificou-se também diferença significativa em relação à variável número de moradores na casa, sendo que as crianças que moram com cinco ou mais pessoas apresentam 2,2 vezes mais chances de serem classificadas como intelectualmente abaixo da média ou deficiente (χ2 = 10,9).

Como dito anteriormente, posteriormente às análises univariadas apresentadas acima, realizou-se a análise multivariada (análise de regressão logística) com o objetivo de identificar o melhor modelo preditivo em relação à variável desempenho cognitivo avaliado por meio do Raven. Somente as variáveis que mostraram-se significativas ou com tendência significativa nas análises univariadas descritas foram colocadas no modelo. Dessa forma, foram testadas as seguintes variáveis: dois grupos de peso, idade gestacional, adequação do peso ao nascer à idade gestacional, escolaridade da mãe, escolaridade do pai, ocupação do chefe da família, nível socioeconômico e número de moradores na casa. Os resultados desta análise estão apresentados na Tabela 21.

Tabela 21 - Variáveis preditoras do desempenho cognitivo avaliado por meio do Raven

Variável Preditora p* OR IC

Idade gestacional 0,042 1,76 1,02 – 3,05

Nível socioeconômico 0,000 2,64 1,64 – 4,25

Escolaridade da mãe 0,019 1,54 1,08 – 2,22

*Análise de regressão logística (p ≤ 0,05).

Em relação à variável biológica idade gestacional apresentada na Tabela 21, observou- se que as crianças nascidas prematuras com até 36 semanas apresentam 76% mais de chance

de serem classificadas pelo Raven como intelectualmente abaixo da média ou deficiente em relação às crianças nascidas a termo.

Quanto à variável nível socioeconômico, verificou-se que as crianças de famílias de classes econômicas menos favorecidas possuem 2,6 vezes mais chances serem classificadas pelo Raven como abaixo da média ou deficiente em relação às crianças pertencentes às classes econômicas mais favorecidas.

Observou-se, em relação à variável escolaridade da mãe, que as crianças cujas mães apresentavam menos de nove anos de estudo possuem 54% mais chance de serem classificadas como intelectualmente abaixo da média ou deficiente, de acordo com o Raven, em relação às crianças cujas mães estudaram nove ou mais anos de estudo.

Sendo assim, notou-se que a idade gestacional, o nível socioeconômico e a escolaridade da mãe foram as variáveis preditoras para desempenho cognitivo das crianças, sendo estas as variáveis que mais exerceram influência no desempenho cognitivo da coorte avaliada.

Na Tabela 22 são apresentados os dados das análises univariadas entre o desempenho comportamental (SDQ) e as variáveis biológicas, de condições clínicas das crianças e socioeconômicas. Todas as variáveis incluídas nessas análises foram categorizadas, conforme descrito na análise dos dados.

Tabela 22 – Análise univariada entre o desempenho comportamental avaliado pelo SDQ e as variáveis biológicas, clínicas e socioeconômicas das crianças

VARIÁVEIS p OR IC

Variáveis Biológicas

Dois grupos de peso

Baixo Peso x Peso Normal 0,114 - -

Gênero

Masculino x feminino 0,056* 1,35 0,99 – 1,85

Idade gestacional

Até 36 semanas x ≥ 37 semanas 0,679 - - Peso ao nascer em relação à idade gestacional

PIG x AIG PIG x GIG 0,029* 0,044* 1,53 2,09 1,04 – 2,23 1,01 – 4,35 AIG x GIG 0,355 - -

Variáveis relativas às condições clínicas das crianças

Tempo de internação hospitalar

1 a 10 dias x 11 ou mais dias 0,884 - -

Problemas pulmonares ao nascer

Apresentou x não apresentou 0,415 - -

Complicações respiratórias na infância

Apresentou x não apresentou 0,006* 1,66 1,15 – 2,41

Amamentação no peito

Amamentado x não amamentado 0,937 - -

Variáveis Socioeconômicas

Situação Conjugal

Casada/amasiada x solteira 0,279 - -

Escolaridade da mãe (em anos de estudo)

0 a 8 x 9 ou mais 0,000* 2,67 1,86 – 3,82

Escolaridade do pai (em anos de estudo)

0 a 8 x 9 ou mais 0,000* 2,76 1,89 – 4,03

Ocupação do chefe da família

Não manual x Manual não qualificado 0,000* 4,12 2,33 – 7,28

Nível Socioeconômico

A1, A2, B1 e B2 x C1, C2, D e E 0,000* 2,56 1,82 – 3,60

No de moradores na casa

1 a 4 pessoas x 5 ou mais pessoas 0,000* 1,91 1,36 – 2,67

Em relação à variável grupos de peso, apresentada na Tabela 22, não foi observada diferença significativa entre o grupo de baixo peso e o grupo de peso normal em relação ao escore total do SDQ.

Os resultados relativos ao gênero apontaram que os meninos possuem 1,3 vezes mais chances de serem classificados com dificuldade no escore total do SDQ em relação às meninas (χ2 = 3,6).

Com relação à variável idade gestacional, verificou-se não haver diferença significativa entre as crianças nascidas com até 36 semanas e as crianças que nasceram com idade gestacional igual ou superior a 37 semanas, no que diz respeito à classificação no escore total do SDQ.

Em relação à classificação da adequação do peso ao nascer à idade gestacional, notou- se que as crianças classificadas como PIG possuem, em média, 1,5 vezes mais chance de serem classificadas como apresentando dificuldades comportamentais em comparação às crianças classificadas como AIG (χ2 = 4,8), e 2 vezes mais chance de apresentarem dificuldades comportamentais no escore total do SDQ em relação às crianças classificadas como GIG (χ2 = 4,1). Não foi observada diferença estatisticamente significativa na comparação entre as crianças nascidas AIG e GIG para o desempenho comportamental.

Não foram verificadas diferenças significativas no escore total do SDQ em relação às variáveis: tempo de internação hospitalar, problemas pulmonares ao nascer e amamentação.

Observou-se que as crianças que apresentaram mais complicações respiratórias possuem, em média, 67% mais de chance de serem classificadas como apresentando dificuldades no escore total do SDQ em relação às crianças que não apresentaram complicações respiratórias (χ2 = 7,4).

Em relação à situação conjugal, não foi encontrada diferença significativa para as crianças com mães casadas ou amasiadas e as crianças cujas mães não tinham companheiro no que diz respeito ao escore total do SDQ.

Verificou-se, em relação à escolaridade da mãe, que as crianças cujas mães tinham de 0 a 8 anos de estudo apresentaram 2,6 vezes mais chance de serem classificadas com dificuldades comportamentais pelo SDQ, em relação às crianças cujas mães possuíam nove ou mais anos de estudo (χ2 = 29,5).

Quanto a escolaridade do pai, observou-se que as crianças cujos pais tinham de 0 a 8 anos de estudo possuíam 2,7 vezes mais chance de serem classificadas com dificuldades comportamentais no escore total do SDQ, em relação às crianças cujos pais possuíam nove ou mais anos de estudo (χ2 = 28,7).

Em relação à ocupação do chefe da família, observa-se que os chefes de família classificados como possuindo uma ocupação manual não qualificada possuem, em média, 4,1

mais chances de terem filhos classificados como apresentando dificuldades comportamentais no escore total do SDQ em relação aos pais que relataram ter ocupação não manual (χ2 = 24,9) e 1,5 mais chances de terem filhos com dificuldades comportamentais em comparação ao grupo de pais pertencentes à categoria manual qualificado e semi-qualificado (χ2 = 3,8). Os chefes de família com ocupação classificada na categoria não manual apresentaram 2,7 vezes mais chances de terem filhos com dificuldades comportamentais em comparação aos pais com ocupações manual qualificada e semi-qualificada (χ2 = 17,9).

Quanto à variável nível socioeconômico, notou-se que as crianças de famílias pertencentes às classes econômicas menos favorecidas apresentam, em média, 2,6 vezes mais chances de apresentarem dificuldades comportamentais no SDQ em comparação às crianças de famílias de classes econômicas mais favorecidas (χ2 = 30,1).

Com relação ao número de moradores na casa, verificou-se que as crianças que moram com 5 ou mais pessoas apresentam, em média, 91% mais chance de serem classificadas como apresentando dificuldades comportamentais no escore total do SDQ em comparação às crianças que moram com até 4 pessoas na casa (χ2 = 14,4).

Posteriormente às análises univariadas apresentadas acima, realizou-se a análise multivariada (análise de regressão logística) com o objetivo de identificar o melhor modelo preditivo em relação à variável desempenho comportamental avaliado por meio do SDQ. Somente as variáveis que mostraram-se significativas ou com tendência significativa nas análises univariadas descritas foram colocadas no modelo. Dessa forma, foram testadas as seguintes variáveis: gênero, adequação do peso ao nascer à idade gestacional, complicações respiratórias na infância, escolaridade da mãe, escolaridade do pai, ocupação do chefe da família, nível socioeconômico e número de moradores na casa. Os resultados desta análise encontram-se descritos na Tabela 23.

Tabela 23 - Variáveis preditoras do desempenho comportamental avaliado por meio do escore total do SDQ

Variável Preditora p* OR IC

Gênero 0,045 1,42 1,01 – 2,02

Nível socioeconômico 0,000 1,77 1,30 – 2,40

Em relação à variável biológica, gênero, apresentada na Tabela 23, notou-se que os meninos apresentam, em média, 42% mais de chance de serem classificados como apresentando dificuldades comportamentais no escore total do SDQ em relação às meninas.

Quanto ao nível socioeconômico, observou-se que a cada diminuição do nível socioeconômico aumentou 77%, em média, a chance das crianças serem avaliadas com dificuldades comportamentais no escore total do SDQ.

E, em relação à escolaridade da mãe, verificou-se que a cada diminuição de quatro anos de estudo no nível de escolaridade da mãe, aumenta, em média, 50% a chance das crianças serem classificadas como apresentando dificuldades comportamentais no escore total do SDQ.

Verificou-se que as variáveis gênero, nível socioeconômico da família e escolaridade da mãe foram preditoras para o desempenho comportamental das crianças da coorte avaliada.

5.1. Desempenhos cognitivo e comportamental de crianças nascidas com baixo peso - 1º e