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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 288 5.1 Síntese das pesquisas

1.3 Justificativas e objetivos da tese

Compreendido o problema e a abordagem, fica adequada, neste momento, a exposição das justificativas e dos objetivos deste trabalho. De plano sobreleva a importância da pesquisa em virtude da atualidade do tema. Enfrenta-se a maior crise hídrica mundial e, com ela, emergem pesquisas científicas em prol de apresentar soluções. Lidar com a realidade das mudanças climáticas em matéria ambiental tem induzido a novas abordagens científicas, a partir do reconhecimento da impossibilidade de soluções definitivas para os problemas, voltadas mais para a apresentação de soluções paliativas, de mitigação dos processos físicos, biológicos, políticos e culturais, ou adaptativas.

Ademais, não só é um problema atual como de grave repercussão mundial. A escassez de água, considerando-se sua importância para a vida humana, vem conduzindo a pressões políticas no cenário internacional. Países detentores de grandes reservas de água receiam a perda de seu patrimônio hídrico, não somente para atender a interesses humanitários, mas principalmente em razão dos interesses econômicos do mercado global. Cresce cada vez mais o risco de uma guerra mundial pela água.

Em terceiro lugar, envolve um problema jurídico que afeta a todas as pessoas, pois o direito à água e ao saneamento fazem parte do núcleo essencial do direito à vida. Ao lado da essencialidade dos direitos envolvidos, os Estados têm enfrentado dificuldades para a universalização do acesso a esses serviços, dificuldades essas que perpassam por vários aspectos, mas especialmente econômicos e políticos, principalmente no caso do esgotamento sanitário, cujas falhas conduzem à riscos sanitários e ambientais. Para cada dólar investido em acesso à água e ao saneamento na América Latina, estima-se um retorno, respectivamente, de 2,4 e 7,3 dólares em benefícios relativos, entre outros, à saúde e ao tempo gasto para acesso a serviços confiáveis; se investidos no Brasil, o retorno é, respectivamente de 2,5 e 8,9 dólares (WHO, 2012, p. 29, 58 e 60). Sobreleva a importância quando se constata que os maiores prejudicados pela omissão estatal em garantir esses direitos são as regiões mais pobres do mundo e, entre estes, os grupos tradicionalmente mais vulneráveis, mulheres, crianças, idosos e deficientes.

O objetivo principal desta tese é verificar a viabilidade e apresentar uma proposta de integração sul-americana para o gerenciamento dos recursos hídricos e dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, a partir da necessidade de implementar o direito humano à água e ao saneamento no Brasil, mas reconhecendo a necessidade de uma

proposta que possibilite gerar uma proteção face aos riscos internacionais e pressões internas para a realização de investimentos.

Quanto aos objetivos específicos, configurando-se como etapas necessárias para a investigação, pretende-se:

a) a partir do exame a evolução da proteção dos rios e aquíferos no Direito Internacional, verificar como a declaração do direito humano à água e ao saneamento repercute juridicamente no cenário internacional;

b) com a exposição do arcabouço jurídico do gerenciamento de recursos hídricos e da prestação dos serviços públicos de saneamento básico a nível federal e estadual, evidenciando semelhanças e assimetrias, considerar de que forma a declaração do direito humano à água e ao saneamento pode ser aplicado no Direito brasileiro de modo a lhe conferir força normativa;

c) em decorrência do direito humano à água e ao saneamento, apontar que os países da América do Sul necessitam aprimorar seus índices de universalização do acesso à água e ao saneamento, para afirmação de suas soberanias hídricas e que atuações individuais não são suficientes para almejar os resultados;

d) com base no levantamento das políticas de recursos hídricos e saneamento, encontrar pontos comuns de apoio, em termos de princípios, instrumentos e instituições, bem como averiguar os princípios e instrumentos aplicados nas iniciativas multilaterais de gestão dos recursos hídricos na América do Sul;

e) após um exame retrospectivo das iniciativas de integração regional, apontar causas para o insucesso dos modelos vigentes e indicar uma direção mais condizente com a região, e a necessidade de diálogo entre as constituições sul-americanas;

f) a partir do levantamento das leis brasileiras, das leis estrangeiras e das experiências de gestão regional dos recursos hídricos, propor alternativas para a gestão sul-americana de águas e saneamento, bem como apontar os instrumentos e princípios aplicáveis para essa integração.

A relevância da pesquisa pode ser apontada na busca de uma solução que proteja os patrimônios nacionais, em especial o do Brasil, de maiores intervenções estrangeiras do que as que já sofre naturalmente. Conferir legitimidade política aos países da América do Sul, mantendo a integridade de seus territórios, é extremamente essencial para a política internacional da região.

Além disso, a pesquisa volta-se para a garantia do direito de acesso à água e ao saneamento, como condição essencial para a manutenção da integridade regional. Em outras

palavras, cuida-se de proposta que reforça o cumprimento dos normativos internacionais e promove direitos humanos. Da mesma forma, são direitos cuja implementação também vão redundar em melhorias nas condições de saúde e na proteção do meio ambiente.

Outrossim, trata-se de uma proposta que favorece a cooperação e, acima de tudo, dos países da América do Sul, que sempre enfrentaram dificuldades de confiança recíproca. Soluções cooperativa devem ser privilegiadas, pois a cooperação mútua, baseada numa estratégia básica de reciprocidade, gera recompensas em contrapartida à deserção dos agentes, que promove punições recíprocas, estabelecendo uma estratégia mais consistente de robustez, estabilidade e viabilidade (AXELROD, 1981, p. 1393-1395, 1984, p. 8).