Khan Academy: Construindo o futuro pelo presente

Conforme retratado anteriormente, a educação e a tecnologia estão caminhando cada vez mais juntas, gerando uma necessidade que envolve a realização de pesquisas e estudos que contribuam com a compreensão das tendências e impactos presentes no século XXI. Assim sendo, nota-se que a tecnologia digital está se tornando um instrumento na formação de crianças e adolescentes trazendo novas problemáticas ao ambiente educacional. Do mesmo modo, é importante reforçar que os meios digitais podem funcionar de forma complementar no ambiente de aprendizagem que segundo Allegretti,

[...] a expressão “ambiente de aprendizagem” será utilizada da seguinte forma: é aquele que propicia ou potencializa a aprendizagem, tendo como elementos constitutivos: a estrutura física (concreta ou virtual); as metodologias empregadas, possibilitadas pelo ambiente; bem como as condições de socialização; todos esses elementos devem estar articulados e não justapostos como se fossem aspectos isolados. [...] A eficácia do ambiente de aprendizagem ocorre na medida em que esses fatores estejam bem articulados dando sustentação um ao outro e que a inter-relação dos três se torne uma. (ALLEGRETTI, 2003, p. 66)

Dentre as questões levantadas a respeito do reflexo causado pelas novas tecnologias digitais na educação, o que desperta dúvidas é a forma pela qual esses recursos podem ser utilizados efetivamente. Em outras palavras, ao combinar os diversos tipos de meios digitais com o modelo habitual de ensino enxerga-se uma

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vasta quantidade de possibilidades de uso de tais tecnologias, mas não há um currículo que esteja alinhado com os objetivos das instituições de ensino, de forma que muitas vezes os educadores possuem dificuldades para distinguirem o momento de utilizar determinada tecnologia digital.

A partir disso, torna-se importante analisar como foram formatadas as estratégias do PNE para o decênio 2011-2020 em relação ao uso das tecnologias digitais na educação. Dentre elas, de acordo com o Projeto de Lei apresentado pelo Congresso Nacional em 2010, quatro estratégias merecem destaque e possuem características fundamentais capazes de contribuir com a implementação de programas similares ao da Khan Academy:

1) Universalizar o acesso à rede mundial de computadores em banda larga de alta velocidade e aumentar a relação computadores/estudante nas escolas da rede pública de educação básica, promovendo a utilização pedagógica das tecnologias da informação e da comunicação.

2) Fomentar o desenvolvimento de tecnologias educacionais e de inovação das práticas pedagógicas nos sistemas de ensino que assegurem a alfabetização e favoreçam a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem dos estudantes, consideradas as diversas abordagens metodológicas e sua efetividade.

3) Selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais para o ensino fundamental e médio, assegurada a diversidade de métodos e propostas pedagógicas, bem como o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas.

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4) Informatizar a gestão das escolas e das secretarias de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como manter programa nacional de formação inicial e continuada para o pessoal técnico das secretarias de educação.

Conforme mencionado pela Pesquisa TIC Educação 2010, as instituições de ensino público possuem em média 800 alunos, com aproxidamente um computador para cada 35 deles, ou seja, é quase um computador disponível para cada sala de aula. Além disso, um outro dado relevante é em relação ao uso de computadores e Internet na sala de aula, de acordo com a pesquisa somente 18% dos professores praticam tal integração, porém 59% do total entrevistado não ensina os alunos a utilizarem o computador ou a Internet. A pesquisa também identificou que aproximadamente 64% dos professores reconhecem que muitas vezes os alunos possuem mais conhecimento do que eles em relação à usabilidade de computadores e da Internet. De acordo com Allegretti,

A despeito de a tecnologia ter invadido a escola com a introdução de vídeos, retroprojetores, TV educativa e, finalmente, com os computadores, e esses recursos terem sido acrescidos aos já existentes na escola, eles ficaram à margem do processo visto que não foram concebidos e/ou adaptados aos propósitos educacionais, e à realidade escolar. (ALLEGRETTI, 2003, p. 68)

Ao traçar um paralelo entre as estratégias propostas no PNE e os dados apresentados pela TIC Educação 2010, nota-se que as necessidades de melhorias apresentadas na realidade atual poderão ser refletidas em soluções para um futuro próximo caso haja o cumprimento sugerido no PNE dentro dos quesitos que envolvem a tecnologia. Em paralelo, tais cumprimentos estariam possibilitando melhores condições para alunos e professores, além disso, facilitando a implementação efetiva de programas como o da Khan Academy.

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A respeito disso, Coll e Monereo (2010, p. 74) possuem a seguinte pespectiva: "Certamente, o acesso do professorado e dos alunos às TIC é uma condição necessária que ainda está longe de ser cumprida em muitos países, escolas e salas de aula, e, portanto, é imprescindível continuar fazendo esforços nesse sentido". Uma iniciativa como a Khan Academy irá contribuir para fornecer novos caminhos que tragam inovação na aprendizagem e que abram espaço para que o foco na escola se transfira para a solução de problemas, algo essencial para o mundo em que vivemos.

Diante do que foi abordado ao longo da pesquisa em relação ao objetivo estabelecido — "Identificar e analisar quais meios digitais podem apoiar a aprendizagem durante o ensino fundamental dentro e fora do ambiente escolar." —, é fundamental retomar os principais pontos investigados como forma de suportar e responder a questão levantada no problema de pesquisa: "Os meios digitais podem apoiar a aprendizagem no ensino fundamental dentro e fora do ambiente escolar?"

No que diz respeito aos meios digitais analisados, o NMC Horizon Report:

2011 K-12 Edition aponta três tendências que possuem potencial de aplicação na

educação nos próximos cinco anos e que estão intrinsecamente alinhadas ao propósito da Khan Academy, são elas: Conteúdo Aberto, Dispositivos Móveis e Análise de Aprendizagem. De acordo com Johnson, Adams e Haywood as citações abaixo retratam a contribuição que cada tendência pode trazer na educação se aplicada efetivamente. Em relação ao Conteúdo Aberto, a principal missão da Khan Academy é fornecer uma educação gratuita para qualquer um e em qualquer lugar do mundo onde haja conexão à Internet, em outras palavras,

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O Conteúdo Aberto abrange não só a colaboração da informação, mas também, compartilha as boas práticas da instrução e da experiência. Parte do apelo do conteúdo aberto é, também, uma resposta aos altos custos de recursos tradicionais e à falta de recursos educacionais em algumas regiões. (JOHNSON; ADAMS; HAYWOOD, 2011, p. 22, tradução nossa)

A respeito dos dispositivos móveis que estão cada vez mais presentes nas mãos da geração atual, a Khan Academy é multiplataforma, ou seja, pode ser acessada através de diversos dispositivos diferentes como smartphones, tablets,

notebooks, computadores e TVs inteligentes, sobre isso,

Com a Internet sempre conectada, os dispositivos móveis incorporam a convergência de várias tecnologias que se prestam ao uso educacional, incluindo leitores de livros eletrônicos, ferramentas de anotação, aplicações para criação e composição e ferramentas de redes sociais. (JOHNSON; ADAMS; HAYWOOD, 2011, p. 15, tradução nossa)

Por fim, a Análise de Aprendizagem representa uma funcionalidade muito importante na rede da Khan Academy pois permite que o aluno acompanhe seu progresso e desempenho através de diversas métricas e indicadores e o professor ou mentor também pode visualizar o desempenho dos alunos, sendo assim,

A Análise de Aprendizagem refere-se à interpretação de uma ampla gama de dados produzidos pelos estudantes a fim de avaliar o progresso acadêmico, prever o desempenho futuro e identificar potenciais problemas. Os dados são recolhidos a partir das atividades realizadas pelos alunos, como fazer exercícios ou exames [...]. (JOHNSON; ADAMS; HAYWOOD, 2011, p. 26, tradução nossa)

Além das tendências e meios mencionados que possuem um grande potencial de incorporação nas instituições de ensino, é importante destacar as

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características que tornam estes meios compatíveis com o ensino fundamental na esfera da psicologia cognitiva e da aprendizagem. Em outras palavras, Moreira (2006, p. 171) aponta a importância de “identificar a estrutura cognitiva do aluno” antes da instrução, seja por meio de pré-testes, entrevistas ou outros instrumentos, ou seja, simplesmente supor que o aluno tem o conhecimento prévio é trabalhar sobre bases desconhecidas, frágeis ou inexistentes. Além disso, Moreira complementa que,

[...] ao atingir a idade escolar, a maioria das crianças já possui um conjunto adequado de conceitos que permite a ocorrência da aprendizagem significativa por recepção. Ou seja, após a aquisição de certa quantidade de conceitos pelo processo de formação de conceitos, a diferenciação desses conceitos e a aquisição de outros novos ocorre, principalmente, por meio de assimilação de conceitos. (MOREIRA, 2006, p. 21)

Ainda sobre a aprendizagem significativa, de acordo com Ausubel (1978, p. 164), três variáveis importantes da estrutura cognitiva devem ser levadas em conta na facilitação da aprendizagem significativa e da retenção: 1) a disponibilidade, na estrutura cognitiva do aprendiz, de ideias-âncora8, especificamente relevantes, em um nível ótimo de inclusividade, generalidade e abstração; 2) a medida em que essas ideias são discrimináveis de conceitos e princípios, similares ou diferentes (mas potencialmente confundíveis), usados no material de aprendizagem, e 3) a estabilidade e clareza das ideias-âncora.

O conceito principal da teoria de Ausubel sobre a aprendizagem significativa é retratado por Moreira (2006, p. 38) como o processo por meio do qual novas

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As ideias-âncora são subsunçores, ou seja, são conceitos relevantes preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz.

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informações adquirem significado ao interagirem com aspectos preexistentes na estrutura cognitiva. Para que a aprendizagem possa ser significativa, o conteúdo deve ser potencialmente significativo e o aprendiz precisa manifestar uma disposição para aprender. Portanto são características que se adequam ao modelo de aprendizagem proposto pela Khan Academy, no qual os aprendizes precisam possuir conceitos já formados para conseguirem utilizar efetivamente a plataforma. Além disso, Coll et al. contribuem com a questão da necessidade do aprender, ou seja,

Para atribuir o sentido necessário que nos permitirá envolvernos realmente em uma tarefa, ela deve nos parecer atraente, deve nos interessar, devemos poder perceber que ela preenche uma necessidade; essa necessidade pode funcionar então como motor da ação. (COLL et al., 1996, p. 50)

Com isso, conclui-se que apesar das dificuldades presentes nos ambientes educacionais apontados pela TIC Educação 2010, existe um movimento constante por parte de ONGs, empresas do setor privado e do próprio governo em prol da fomentação de estudos e práticas que envolvam identificar as melhores estratégias para uma integração efetiva entre a tecnologia digital e a educação fundamental. Seguindo o estudo de caso da Khan Academy apresentado previamente, constata- se que os meios digitais estão tornando-se ferramentas que possuem aspectos até então inexplorados e, em alguns casos, inexistentes e que estão cada vez mais acessíveis para apoiar, ubiquamente ou não, professores e alunos no ensino e na aprendizagem. Sobre isso, é relevante mencionar o que Kozma diz em relação aos meios:

Enquanto alguns alunos irão aprender uma determinada tarefa, independentemente do dispositivo de entrega, outros serão capazes

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de tirar proveito das características de um meio especial para ajudar na construção do conhecimento. Vários aspectos do processo de aprendizagem são influenciadas pelas características cognitivamente relevantes da mídia: as suas tecnologias, sistemas de símbolos, e capacidades de processamento. (KOZMA, 1991, p. 28, tradução nossa)

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