• Nenhum resultado encontrado

O Khuddaka Nikaya, coleção menor a qual pertencem vários livros como o Dhammapada, Thera Gatha e Theri Gatha, Jatakas, etc.

No documento Manual Do Budismo (páginas 38-44)

Relacionando o Hinayana ou o Pequeno Caminho, a prática do ser humano individual, ele se resume basicamente em dois grande princípios:

• 1) A observação de uma ética que evita tudo o que possa prejudicar os outros;

• 2) A compreensão da Vacuidade do sujeito denominado também “o não-eu do indivíduo”. Através deste caminho, todas as paixões, desejo, raiva, ódio, orgulho, ciúmes etc. desaparecem e a mente permanece em total absorção da vacuidade.

O Estado mental obtido é denominado Arhat, ou seja, o Vencedor dos inimigos, tomando as paixões como inimigas. Este estado é realmente um grau de libertação trazendo muito bem estar e felicidade à pessoa que o atinge, porém este não é o despertar Último.

Ainda assim o Arhat pode permanecer muito tempo em um estado de calma e felicidade individual profundo, porém não é definitivo. Chega um dia em que o Buda emite um raio de luz que tocando o Arhat, desperta nele o sentimento da grande Compaixão motivando-o a continuar seu caminhar até o perfeito Despertar.

Existem dois tipos de Arhats:

1) Aquele que não tem ornamentos: ou seja, aqueles que tem a realização pela prática da Calma Mental chamada em sânscrito “Vipasana” ou “Shine” em Tibetano. Através desta prática todas as emoções têm sido dominadas chegando a este estado espiritual de Arhat.

2) Aquele que tem ornamentos: são aqueles que têm praticado “Vipasana” ou “Shine”, porém também praticaram “Samadhi” em sânscrito ou “Lahaktong” em Tibetano, que quer dizer “Visão Profunda”. Estas duas práticas combinadas lhes permite atingir a realização.

Diz o Sr. Buda: “Para o Arhat, o renascer em cada estado tem sido cortado, todas as quatro classes de existência futuras têm sido destruídas, cada reencarnação tem chegado a seu fim, as vigas da casa da vida têm sido quebradas, e a casa inteira completamente derrubada. O bem e o mal têm cessado, a ignorância tem sido demolida, a consciência já não inclui mais sementes, todo pecado tem sido consumido, e todas as condições mundanas têm sido vencidas. Portanto nenhum medo pode fazer tremer um Arhat.

O Arhat cuja tranqüilidade já não pode ser mais perturbada por coisa alguma no mundo, o puro, o livre de pesar, o liberto do desejo, ele tem cruzado o oceano de nascimento e decaimento. Se compenetra verdadeiramente da causa das sensações, iluminada na sua mente.

E para um discípulo assim liberto, em cujo coração mora a paz, já não há o que mais ponderar sobre o que tem sido feito, e para ele nada fica por fazer. Assim como uma rocha não é chacoalhada pelo vento, assim também nem formas, nem sons, nem os sabores, nem os contatos de nenhuma classe; nem o desejado nem o indesejado podem ser causa para ele de vacilação.

Firme é sua mente, conquistada está a Libertação”.

Segundo Concílio

Ao contrário do primeiro concílio, considerado pelos historiadores como uma lenda, este concílio é considerado um evento histórico, tendo sido bem documentado por textos em sânscrito (a versão dos mahasanghikas) e páli (a versão dos sthaviravadins).

Os monges de Vaishali quebraram dez regras monásticas, como aceitar ouro e prata de leigos, comer em horários não permitidos e tomar bebidas alcoólicas. As acusações foram feitas por Yashas, líder mais velho da comunidade monástica do leste da Índia. Yashas foi expulso da comunidade por estes monges, mas recebeu o apoio de grandes monges de outras regiões.

Então, por volta de 383 a.C., durante o reinado de Kalashoka, um concílio com setecentos arhats (ou de quase dez mil monges) reuniu-se no monastério Valukarama em Vaishali.

37

O concílio julgou os monges de Vaishali culpados e os expulsaram da comunidade monástica. O veredicto foi dado por Sarvagamin, que tinha sido discípulo direto do monge Ananda, primo do Buddha.

Segundo a crônica cingalesa Dipavamsa (350 d.C.), os monges de Vaishali teriam convocado um contra-concílio e estabelecido a escola da Grande Comunidade (Mahasanghika), e os monges ortodoxos, ligados a Yashas, teriam formado a escola do Ensinamento dos Antigos (Sthaviravada). Segundo a tradução chinesa de um texto da escola Mahasanghika, o Shariputraparipriccha, o segundo concílio teria acontecido na época do imperador Ashoka. A maior parte dos monges teria se recusado a aceitar regras adicionais no código monástico. Esta maioria teria originado a escola Mahasanghika e a minoria teria originado a escola Sthaviravada

Terceiro Concílio

Segundo fontes chinesas e tibetanas, o monge indiano Mahadeva (século IV-III a.C.) expôs a tese de que os seres santos

(ou arhat) estariam sujeitos às tentações, poderiam ser afetados pela ignorância, poderiam ter dúvidas, poderiam ganhar conhecimento com a ajuda dos outros e poderiam progredir espiritualmente através de certas exclamações verbais.

Em 367 a.C., durante o reinado de Mahapadma Nanda de Magadha (362-334 a.C.), os monges de Pataliputra teriam se reunido no monastério Ashokarama para discutir estes cinco pontos. Aqueles que aceitaram estes pontos teriam formado a escola Mahasanghika, e aqueles que os rejeitaram passaram a formar a escola Sthaviravada.

Para a escola Theravada, o terceiro concílio refere-se a um evento ocorrido por volta de 244 a.C., durante o reinado de Ashoka, para solucionar questões internas da escola Sthaviravada. Nesta época, muitos praticantes de outras tradições começaram a se tornar buddhistas não por motivos religiosos, mas sim para desfrutar de algumas vantagens da comunidade monástica, como alimentação, educação e reverência. Muitos continuaram a manter práticas de outras tradições, inclusive práticas contrárias ao Dharma.

Os soldados do imperador Ashoka acabaram decapitando muitos monges por engano e então o imperador foi às montanhas para encontrar o monge Moggaliputta Tissa, que o converteu ao buddhismo em 261 a.C. Mais tarde, foi convocado um concílio de mil monges

Na mesma época, o Sthaviravada foi introduzido no Sri Lanka pelos filhos do rei Ashoka (o monge Mahinda e a monja Sanghamitta), dando origem à escola Theravada.

Quarto Concílio

O quarto concílio foi convocado no Bosque Circular em Kashmir, durante o reinado de Kanishka, para solucionar diferentes interpretações de ensinamentos na escola Sthaviravada e teria contado com a participação de quinhentos monges, arhats e seres da iluminação (bodhisattva).

Foram escritos cem mil versos sobre os discursos do Buddha. Cem mil versos sobre as regras monásticas (Vinaya-vibhasa).

Cem mil versos para explicar os shastras ou comentários. Todo este trabalho teria levado doze anos para ser concluído.

O Grande Comentário do monge indiano Vasumitra apresentou uma nova interpretação do Abhidharma Pitaka e originou a escola Sarvastivada.

Na tradição Theravada, o quarto concílio refere-se ao evento realizado no Sri Lanka durante o século I a.C. Por causa da fome e do sectarismo, surgiu a necessidade de uma versão escrita do cânone páli. O rei Vattagamani convocou quinhentos monges recitadores do monastério Mahavihara, que registraram os textos em folhas de palmeira entre os anos 25 e 17 a.C

38

Cap. 3: Abhidharma - Ven. Thich Nhat Hanh

Sob a perspectiva da prática pode ser dito que o Budismo consiste de três ensinamentos superiores: a ética, o desenvolvimento da mente ou meditação, e a sabedoria.

Todos esses três elementos são essenciais para alcançar a libertação do sofrimento. Apenas um ou dois deles não será o bastante. Em linhas gerais, pode ser dito que a doutrina Budista contida no Tripitaka, ou ‘três cestos’, está organizada de modo a correlacionar-se com esses três elementos essenciais. Assim o primeiro ‘cesto’ da Disciplina (inaya), corresponde ao ensinamento da ética.

Os Discursos (Sutra), correspondem aos ensinamentos de meditação, enquanto que o terceiro ‘cesto’, o ensinamento mais elevado, (Abhidharma), corresponde aos ensinamentos da sabedoria.

Com base nesse modelo, aqueles que têm como meta o objetivo máximo do Budismo deveriam, além do cultivo da ética e da meditação, aprender também algo do Abhidhamma.

O estudo do Abhidhamma permite a formulação de uma estrutura filosófica prática que poderá ser empregada para vários fins: a investigação das experiências na prática da meditação de insight e a interpretação dos ensinamentos contidos nos outros dois ‘cestos’, os Sutras e o Vinaya, cuja exegese num nível avançado é guiada pelos princípios do Abhidhamma.

O Abhidhamma possui a reputação de ser um ensinamento denso e difícil, talvez derivado do fato de, originalmente, nas sociedades Budistas tradicionais apenas monges e monjas estudarem- no, enquanto que as pessoas leigas se contentavam com os Sutras e algumas narrativas do Vinaya. O Vinaya diz respeito ao Buda e à comunidade monástica. Abrange a história das suas vidas e da comunidade, incorporando os julgamentos éticos feitos pelo Buda de acordo com cada situação individual que conforme o caso resultava numa regra de conduta para toda a comunidade.

Os Sutras são os discursos proferidos pelo Buda e pelos seus discípulos mais graduados dirigidos a audiências específicas. O Abhidharma apresenta os ensinamentos contidos nos sutras num formato abstrato, estruturado, com uma aparência altamente técnica, empregando esquemas ou matrizes para representar a totalidade da natureza da mente e da matéria.

O Abhidharma consiste de 7 livros: Dhammasangani, Vibhanga, Dhatukatha, Puggalapaññatti, Kathavatthu, Yamaka e Patthana, cada um deles com o seu respectivo comentário.

Todos os comentários foram obra de Acharia Buddhaghosa, o mais eminente dos comentadores do Cânone em Pali. Buddhaghosa era um monge hindu que foi para o Sri Lanka no século V da era cristã para estudar os antigos comentários compilados em Cingalês que haviam sido preservados no

Mahavihara, o Grande Monastério que era o centro da ortodoxia Theravada em Anuradhapura. Com base nesses comentários, Buddhaghosa compôs novos comentários no idioma internacional do Theravada, atualmente conhecido como Páli. Esses comentários, compostos com refinamento e coerência doutrinária, não são obras originais que expressam o pensamento de Buddhaghosa, mas versões editadas e sintetizadas dos comentários antigos. Esses comentários antigos não sobreviveram ao desgaste dos anos. A obra prima de Buddhaghosa, o Visuddhimagga, é na verdade uma obra de “Abhidharma na prática” e os capítulos 14-27 constituem um compêndio resumido da teoria do Abhidharma como preparação para a meditação de insight.

A Origem do Abhidharma

O Tipitaka ou Cânone em Páli foi compilado durante os três grandes concílios que ocorreram na Índia depois da morte do Buda. O primeiro concílio ocorreu em Rajagaha três meses depois do Parinirvana do Buda.

39

Nesse concílio se reuniram 500 monges arahats liderados pelo Ven. Mahakassapa, onde foram recitados todos os ensinamentos do Buda.

A recitação do Vinaya pelo Ven. Upali foi aceita como o Vinaya Pitaka;

A recitação do Dharma pelo Ven. Ananda ficou estabelecida como o Sutra Pitaka. Cem anos após o Parinirvana do Buda houve o segundo concílio em Vesali.

O terceiro concílio ocorreu em Pataliputra duzentos anos depois do Parinirvana do Buda e nesse concílio o Abhidharma foi recitado. Mas essa explicação não é suficiente para dar resposta à questão sobre como surgiram esses textos.

Ao contrário dos sutras e dos relatos das regras monásticas no Vinaya, os livros do Abhidharma não trazem qualquer informação quanto à sua origem. Os comentários, no entanto, atribuem essa

dissertação ao próprio Buda.

O Atthasalini, que traz o relato mais explícito, menciona que o Buda concretizou o Abhidharma na noite da sua iluminação e que a investigação em detalhe foi realizada durante a quarta semana após a iluminação.

Depois disso, durante o sétimo retiro das chuvas o Buda ensinou o Abhidharma para as divindades do Paraíso de Tavatimsa que incluía uma divindade que havia sido antes a sua mãe. Como demonstração de gratidão para com a sua mãe, que havia falecido sete dias depois do seu nascimento, o Buda ensinou o Abhidharma durante três meses, para que aquela divindade pudesse alcançar a libertação final. A cada manhã, durante esse período, ele voltava ao plano humano para a sua refeição diária quando então ensinava os métodos ou princípios da doutrina que ele havia tratado para o seu discípulo principal Sariputra. A elaboração detalhada dos ensinamentos do Abhidharma a partir dos princípios gerais definidos pelo Buda é atribuída a Sariputra que teria transmitido esses ensinamentos aos seus discípulos diretos.

Sob o ponto de vista Theravada o esquema exposto pelo Abhidharma é considerado como pertencendo ao domínio dos Budas, ou seja, não é a invenção do pensamento especulativo ou discursivo, ou um mosaico de hipóteses metafísicas, mas a exposição da verdadeira natureza da existência tal como foi compreendida por uma mente que penetrou a totalidade das coisas tanto nos seus níveis mais

profundos quanto nos seus maiores detalhes.

Dado esse caráter, o Abhidharma expressa do modo mais perfeito possível o conhecimento onisciente do Buda. É a manifestação de como as coisas são, compreendidas pela mente de um Buda, organizadas de acordo com os dois marcos principais dos seus ensinamentos: o sofrimento e a cessação do

sofrimento. Nos países Theravada como o Sri Lanka, Mianmar e Tailândia, o Abhidharma é altamente apreciado e reverenciado como o pináculo das escrituras Budistas. Como exemplo da estima que o Abhidharma desfruta, o rei Kassapa V do Sri Lanka (séc. X da era cristã) ordenou que todo o Abhidharma fosse inscrito em placas de ouro e o primeiro livro decorado com gemas preciosas.

A Filosofia do Abhidharma

Agora, em que sentido o Abhidharma pode ser chamado de filosofia?

Façamos a grosso modo uma divisão da filosofia em fenomenologia e ontologia e vamos caracterizá- las de modo sucinto da seguinte forma: a fenomenologia lida, como o nome implica, com os

“fenômenos”, isto é, com o mundo da experiência interno e externo.

A ontologia, ou metafísica, investiga e busca a existência e a natureza de uma essência, ou princípio último, que dá suporte a todo o mundo dos fenômenos.

Em outras palavras, a fenomenologia investiga as questões: O que acontece no mundo da nossa experiência? Como isso acontece?

A ontologia por outro lado, insiste que a questão “como” não pode ser respondida sem a referência a uma essência eterna que dá suporte à realidade, podendo essa essência ser concebida como imanente ou transcendente. Com freqüência neste caso, a pergunta “como” é transformada em “porque”,

assumindo a premissa tácita de que a resposta tem que ser encontrada fora da realidade tal como ela se apresenta. O Abhidharma, sem dúvida, pertence à primeira dessas duas divisões da filosofia, isto é, a fenomenologia.

Mesmo o termo dharma, tão fundamental no Abhidharma, que inclui as “coisas” corporais bem como materiais, pode muito bem ser interpretado como “fenômeno”. Portanto, o Abhidharma não é uma

40

filosofia especulativa, mas descritiva. Com o objetivo de descrever os fenômenos o Abhidharma emprega dois métodos complementares: a análise e a investigação das relações, (ou condicionalidade) dos fenômenos.

Os dois livros mais importantes do Abhidhamma são o Dhammasangani e o Patthana-pakarana. O Dhammasangani é a classificação da existência em três categorias últimas empíricas:

Consciência (chita);

Fatores mentais (cetasikas);

e mentalidade-materialidade (nama-rupa).

Nele é encontrada a análise sistemática dos agregados, Skhandhas, bases ou meios, ayatana, e elementos, dhatu.

O Patthana-pakarana é o maior volume compreendendo seis partes. Nele é encontrado o modelo das relações condicionadas, uma das quatro principais aplicações da doutrina da origem dependente. Essas quatro aplicações são:

As quatro nobres verdades

Os doze elos da cadeia do vir a ser O modelo das relações condicionadas A lei de karma

O Dhamasangani é em essência um livro que contém classificações e definições dos termos

empregados no Abhidharma. Seu enfoque é analítico, dissecando e categorizando as experiências de acordo com os seus constituintes últimos ou dharmas. O Patthana usa o método da síntese e mostra como todos esses fenômenos estão relacionados e condicionados.

O Abhidharma também pode ser considerado como uma sistematização das doutrinas contidas ou implícitas no Sutra Pitaka. Essas doutrinas são formuladas no Abhidharma numa linguagem mais precisa, estritamente filosófica ou verdadeiramente realista, descrevendo as funções e processos desprovidos dos conceitos convencionais e irreais que assumem a existência de um agente, de uma personalidade, de uma alma ou substância.

Paramartha – a Realidade Última

De acordo com a filosofia do Abhidharma existem dois tipos de realidade – a convencional, e a última. A realidade convencional é o referencial do pensamento conceitual comum e modos de expressão convencionais. Isto inclui entidades como seres vivos, pessoas, homem, mulher, animais e os objetos aparentemente estáveis que constituem o quadro que percebemos como sendo o mundo. O

Abhidharma defende que essas noções em última análise não possuem validade, pois os objetos que elas representam não existem por si mesmos como realidades irredutíveis. A sua existência é

puramente conceitual, não real. Eles são o produto de fabricações mentais, não realidades com uma substância inerente.

A realidade última, por outro lado, são os dharmas: elementos irredutíveis da existência, as entidades últimas resultantes da correta análise da experiência. Esses elementos são o nível de redução mais elementar dos fenômenos passíveis de serem experimentados. São os verdadeiros constituintes da complexa multiplicidade das experiências.

Nos sutras, em geral, o Buda analisa um ser ou indivíduo sob a forma de cinco tipos também

conhecidos como os cinco agregados: matéria, sensação, percepção, formações mentais e consciência. No Abhidharma a realidade última é organizada em quatro categorias. As três primeiras –

consciência, fatores mentais e matéria – abrangem toda a realidade condicionada. Os cinco agregados mencionados nos sutras se encaixam dentro desses três grupos.

O agregado da consciência (viññana) está representado no Abhidhamma pela consciência, chitta, sendo que a palavra chitta em geral é empregada para se referir aos diferentes tipos de consciência que se diferenciam de acordo com os seus fatores mentais concomitantes.

Os três agregados intermediários são incluídos no Abhidharma dentro do grupo de fatores mentais, os estados mentais que surgem juntamente com a consciência e que desempenham diferentes funções. O Abhidharma enumera 52 fatores mentais: os agregados da sensação e percepção são considerados cada um como um fator; o agregado das formações mentais, sankhara, é subdividido em 50 fatores

41

mentais. O agregado da matéria é idêntico ao grupo da matéria no Abhidhamma. No Abhidharma a matéria está dividida em 28 tipos de fenômenos materiais.

A esses três tipos de realidade condicionada é adicionada uma quarta realidade que é incondicionada. Essa realidade que não está incluída nos cinco agregados é Nirvana, o estado de libertação final do sofrimento inerente aos estados condicionados.

Portanto, no Abhidharma existem ao todo essas quatro realidades últimas: consciência, fatores mentais, matéria e Nirvana.

Análise da Consciência

Um dos principais componentes do Abhidharma é a análise e classificação da consciência. A mente humana, tão evanescente e tão elusiva, foi submetida a um escrutínio abrangente, meticuloso e imparcial. A abordagem adotada é de uma rigorosa fenomenologia que descarta a noção de que na mente pode ser encontrada qualquer tipo de unidade estática ou substância imanente. No entanto, essa psicologia tem um fundamento básico na ética e um propósito soteriológico que impede que a análise realista e não metafísica da mente acabe implicando em conclusões de materialismo ético ou

amoralismo teórico e prático. O método de investigação empregado no Abhidharma é indutivo, estando baseado exclusivamente na observação introspectiva imparcial e sutil dos processos mentais. O Buda conseguiu reduzir o processo de cognição aos seus distintos momentos de consciência, que dada a sua sutileza e o seu caráter evanescente, não podem ser observados diretamente por uma mente que não esteja treinada em meditação. Na mente de cada ser ocorrem distintos tipos de estados mentais benéficos, hábeis ou saudáveis, e prejudiciais, inábeis ou insalubres. Cada estado mental saudável tem o seu correspondente oposto insalubre. Da mesma forma como as criaturas microscópicas numa gota d’água só se tornam visíveis com o uso de um microscópio, os processos acelerados e de curta duração da mente só são reconhecidos com o auxílio de um instrumento preciso para o escrutínio mental – uma mente aprimorada pelo treinamento metódico em meditação.

O Abhidharma e o Mestre do Dharma

Na tradição Theravada a familiaridade com o Abhidharma é considerado requisito indispensável para aqueles que querem ensinar o Dharma. As características do Abhidharma que são de particular importância para alguém que queira ensinar o Dharma são as seguintes: a organização sistemática do material doutrinário contido no Sutra Pitaka; o emprego do raciocínio metódico e ordenado; a

definição precisa dos termos técnicos e suas delimitações; o tratamento de vários temas e situações da vida diária sob a perspectiva da realidade última, paramartha; a maestria do conteúdo doutrinário.

O Conhecimento do Abhidharma é Indispensável?

Freqüentemente surge a questão sobre a compreensão do Abhidharma, se ela é necessária para o completo entendimento do Dharma e para alcançar a libertação. Mesmo no Sutra Pitaka muitos métodos são ensinados como ‘portas’ para a compreensão e penetração das mesmas Quatro Nobres

No documento Manual Do Budismo (páginas 38-44)