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Em resposta aos comentários dos jovens mostrando a necessidade de mudança na Igreja Adventista, apresentarei a opinião dos representantes da Igreja.

Desejo apenas esclarecer que não limitarei a comentários feitos pelos representantes do Brasil, pelo contrário, uma vez que a Igreja Adventista é regida por uma sede mundial, procurei levantar o pensamento dos líderes mundiais também.

No primeiro capítulo, ao abordarmos a visão dos líderes da Igreja, já encontramos alguns indícios favoráveis às mudanças. Wendel Lima diz que a “relevância da Igreja Adventista depende da fidelidade a sua identidade e da ousadia de seus métodos. Traduzindo: conservar doutrinas e modernizar as abordagens.”179

179

LIMA, Wendel. Jesus Sim, Igreja Sim. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 10, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira.

Sua posição é de que se deve ser fiel aos ensinos da Igreja, mas não se deve engessar a maneira de transmitir o conhecimento através de um único método, por mais que esse método tenha dado resultado no passado. Ele ainda afirma:

“Quanto aos métodos evangelísticos, formato da adoração, e modelos administrativos, não pode deixar que o tradicionalismo baseado no gosto pessoal ou no saudosismo de alguns, e não em princípios bíblicos, ‘engesse’ o avanço da igreja. Não é necessário pesquisar muito na Bíblia para perceber que Deus se revelou de diferentes formas em contextos distintos; que usou a linguagem de cada tempo para se fazer entender.”180

Para endossar seu argumento Lima diz que Deus se revelou de maneiras diferentes e utilizou a linguagem da época. Último ponto deste artigo que destaco é que Lima menciona uma postura diferente em algumas Igrejas que já entenderam essa necessidade. Ele diz:

“De modo geral, as igrejas que têm entendido o momento que vivemos, têm optado por cultos mais informais, simples, inspiradores e sem jargões denominacionais; tem repensado a funcionalidade de sua estrutura e incentivado a descoberta de dons e o exercício de ministérios específicos; têm usado de modo estratégico a comunicação em vídeo e pela internet; têm realizado projetos sociais contínuos e bem focados na realidade da sociedade local.”181

De acordo com esta citação, a necessidade de mudança tem se tornado uma prática em algumas igrejas. Porém, apenas em alguns lugares, isso porque nem todos entendem essa contextualização como uma necessidade. O que indica que muitos líderes, ou estão acomodados com a realidade atual, ou não se preocupam com a visão e a necessidade de outras pessoas diferentes deles. Em especial, destaco a visão da juventude.

Outro artigo que apresenta a necessidade de contextualização foi escrito por Lucas de Lemos182, revisor da Casa Publicadora Brasileira. Neste artigo intitulado “Cristãos pensantes”, Lucas analisa a sociedade atual sendo livre na maneira de pensar.

Sob sua ótica, a “sociedade livre” como assim ele denomina é carente de sentido para a vida e respostas para suas inquietações. Essa realidade alcança o cristianismo e por isso, os cristãos são desafiados a possuir uma base sólida daquilo que eles creem.

Ibid., p. .

181

Id.

182

LEMOS, Lucas Diemer de. Cristão pensantes. Revista Adventista. Tatuí, ano 106, nº 1239, p. 18,19, ago., 2011. Casa Publicadora Brasileira.

Ele apresenta o caso de Paulo registrado no texto bíblico em Atos 17. Neste relato, a cultura helênica confrontou o cristianismo com perguntas e indagações semelhantes as quais os cristãos precisam responder na atualidade. Não quero me deter na análise que ele faz do comportamento de Paulo naquele momento, mas focar na aplicação do texto para a realidade atual do cristianismo.

Lemos diz que “Paulo confirma a contextualização do cristianismo”.183

Para ele o Cristianismo está além de uma continuação histórica ou uma série de obrigações teológicas, mas o cristianismo é inteligente e racional. Para o Cristianismo continuar tendo essa característica é preciso ter respostas fundadas para as questões levantadas pela sociedade. Ele diz:

“Como cristãos, de que modo devemos agir diante de desafios semelhantes? Como Paulo precisou entender o que está acontecendo ao redor para saber onde estamos inseridos. O que os filósofos contemporâneos nos dizem hoje? A exemplo de Paulo, cabe a nós, com base na verdade divina, expor nossa filosofia, conforme a Palavra de Deus, estando preparados para responder a todo aquele que nos pedir a razão de nossa esperança (1 Pe 3:15). Estamos preparados para apresentar um cristianismo pensante e social, em meio à mistura descuidada de fundamentos flutuantes? Estamos dispostos a levar a verdade ao mundo, com relevância, deixando de lado todo espectro de visão unilateral? Por revelação divina, conhecemos o que procede de Deus (1 Jo 4:1). Com base em nossa sólida convicção em Cristo, podemos ter uma certeza relevante e atrativa.”184

Pode-se notar diversos pensamentos significativos nesta citação. Em primeiro lugar, a igreja não deve ficar ilhada em uma realidade alheia do “mundo”. Ao contrário disso, ele menciona a necessidade de estar atentos aos pensamentos dominantes da sociedade, nesta citação fazendo menção aos filósofos. Somente tendo ciência das ideias que são discutidas no cotidiano, pode-se apresentar uma mensagem relevante para as pessoas.

Um segundo ponto a destacar vem da pergunta: “Estamos dispostos a levar a verdade ao mundo, com relevância, deixando de lado todo espectro de visão unilateral?”. Note que essa pergunta feita aos leitores é fundada em pelo menos dois pressupostos: o primeiro, em uma necessidade de contextualização da mensagem.

O segundo, na preocupação de diversificar as abordagens. Assim, a mensagem precisa ser contextualizada, caso contrário ela não alcançará os ouvintes com relevância. Por melhor

183

Ibid., p. 19.

184

que seja apresentada, pode até possuir um princípio interessante e importante, mas fora de contexto, que relevância terá? Ao mesmo tempo em que deve ser contextualizada, deve ser diversificada, não se apoiando em uma visão unilateral.

Essa ideia parece orientar pessoas que são ativas, mas centralizadoras e desejam realizar tudo sozinhas. Por mais que elas tenham êxito, poderá correr o risco de alcançar apenas um “tipo” de pessoa, pois uma única visão dificilmente atingirá todas as pessoas.

Estes exemplos analisados expressam não apenas uma realidade nacional, mas corrobora com a expectativa e a visão de outros líderes em caráter internacional. Passo a analisar alguns artigos escritos por representantes mundiais da Igreja Adventista.

Bill Knott185, editor da revista “Adventist World” entrevistou Ted Wilson, pastor e presidente da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Bill realizou a seguinte pergunta a Will:

“Todo líder sonha com coisas que poderiam ajudar a realizar, enquanto estão servindo o povo de Deus. Tenho ouvido, várias vezes, o senhor falar de um sonho que soa um tanto ousado: a cultura do serviço entre os jovens da Igreja Adventista do Sétimo Dia. O que o senhor quer dizer com isso?”186

Esta pergunta está relacionada diretamente a ação do jovem dentro da Igreja Adventista. Ted Wilson responde dizendo que o ensinamento do Novo Testamento é que todas as pessoas, independente da faixa etária, ao aceitar a Jesus Cristo recebem por meio do Espírito Santo um ou mais dons para utilizar em favor do restante da Igreja. Com respeito a atuação dos jovens ele diz:

“A iniciativa do Reavivamento e Reforma mundial tem deixado claro que há milhares, na realidade, milhões de jovens adventistas, aos quais, Jesus entregou tremendos dons para ajudar Sua igreja a finalizar a obra. Gostaria que a Igreja Adventista do Sétimo Dia planejasse lançar mão dessa enorme criatividade e energia que Deus já colocou entre seu povo, concedendo variados dons aos jovens fiéis.”187

A frase que destaco de Wilson é: “Gostaria que a Igreja Adventista do Sétimo Dia planejasse lançar mão dessa enorme criatividade e energia que Deus já colocou entre seu povo, concedendo variados dons aos jovens fiéis.”

185

KNOTT, Bill. Um ano para mudar o mundo. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 11. Tatuí, p. 8-10, nov., 2011.

186

Ibid., p. 8.

187

Através dessas palavras ele endossa a contextualização e as abordagens diferentes. A necessidade de mudança é um tanto quanto lógica nessa frase, isso porque ninguém precisa de criatividade para fazer a repetição de uma atividade. Utiliza-se a criatividade para inovar, chamar a atenção. Não apenas isso, mas ao mesmo tempo em que Wilson fala sobre o uso da criatividade para a contextualização, deixa nas entrelinhas a possibilidade de questões dentro da Igreja que estão inapropriadas, por não alcançarem mais seu objetivo.

Essas abordagens que precisam ser revistas, não são erradas em si, o que acontece é que por conta das mudanças da sociedade e na maneira de pensar das pessoas, em especial os jovens, essas questões deixaram de cumprir seu propósito, por não transmitirem mais como no passado.

Em outra entrevista, Bill Knott188 conversa com Ted Wilson sobre “reavivamento e reforma” e a influência dessas duas questões na adoração.

Deste artigo intitulado “Redescobrindo o Culto Verdadeiro” quero destacar duas respostas de Wilson que mostram a necessidade de contextualização e ao mesmo tempo apresenta uma necessidade da Igreja se afastar das atividades do mundo.

Ao Knott questionar Wilson sobre os cristãos não se amoldarem ao padrão do mundo, Wilson responde dizendo:

“Desde o início da igreja de Cristo, Seus seguidores eram conhecidos como ekklesia, ‘os chamados para fora.’ Pertencer a Jesus, segui-lo como Senhor e Mestre, requer abandonar alguma coisa - e isso é algo que pode ser cada vez mais identificado como as muitas maneiras em que somos tentados a imitar as práticas do mundo em nossa vida, e até em nossa adoração.”189 Esta primeira citação deixa claro que a visão do presidente da IASD tem sobre ser cristão é abandonar algo, “sair de”. Para Wilson, os adventistas têm sido tentados a “imitar as práticas do mundo”, assim evitar essas práticas deve ser o ideal de cada membro. Essas práticas são apresentadas por ele como “essencialmente opostas à pureza e à verdade do evangelho.”190 Baseado em reforma, que ele define como “renovação da mente”191, seu pensamento é deixar de lado as questões que ferem os princípios ensinados pela Igreja Adventista.

KNOTT, Bill. Redescobrindo o culto verdadeiro. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 8. Tatuí, p. 8-10, ago., 2011.

189 Ibid., p. 9. 190 Id. 191 Id.

Essa pregação que devemos sair do “mundo” é muito comum no meio adventista, mas a má interpretação do significado de “mundo” pode criar uma dicotomia entre Igreja versus Mundo, ou seja, a generalização de mundo como pecado faz com que o fiel deva se excluir do mundo para não viver uma vida de pecado.

Outro ponto levantado neste artigo foi à cultura e adoração, isso é, existe um padrão de culto que deve ser seguido por todas as pessoas, mesmo entre culturas diferentes? Sobre esse assunto Wilson diz:

“Em uma família mundial de adventistas, naturalmente temos muitas diferenças e variadas expressões culturais, incluindo diferenças na linguagem, estilo musical e sequência de culto. Deus não quer, e Sua igreja não deve procurar obter, apenas uma expressão de culto numa família com cerca de vinte milhões de pessoas.”192

Segundo a opinião de Wilson, cada cultura deve ser respeitada. Sendo assim, não deve existir um padrão cultural de culto, pelo contrário de acordo com as características locais o culto deve ser estruturado.

É bem verdade que dentro de um mesmo país, as questões culturais se assemelham, mas isso não deve se tornar um padrão inalterável, pois o próprio Wilson deixa claro que as “diferenças na linguagem” devem ser respeitadas. Como visto no primeiro capítulo, gerações diferentes possuem distintas linguagens de comunicação, o que resulta em uma diversidade dentro de um mesmo ambiente. Consequentemente, adaptações são necessárias de acordo com a realidade local.

Com o objetivo de mostrar a necessidade da diversidade em meio à unidade, a Dra. Cheryl Doss escreveu um artigo denominado “O Mosaico de Deus: A maravilha da unidade na diversidade.”193 Doss é a diretora do Instituto de Missões do Mundo da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia e neste artigo analisa uma das doutrinas fundamentais da IASD: “Unidade no Corpo de Cristo”.

Doss defende a ideia que a Igreja pode ser comparada com um mosaico, onde cada peça é diferente uma da outra, mas as junções de todas formam uma figura. Desta maneira, a Igreja assim como o mosaico é “abundantemente diverso, tremendamente criativo e

192

Ibid., p. 10.

193

DOSS, Cheryl. O Mosaico de Deus: A maravilha da unidade na diversidade. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 10. Tatuí, p. 14,15, Out., 2011.

abençoadamente resistente”194 poderá ser diversificada, criativa e abençoadamente resistente ao respeitar e valorizar as diferenças.

O problema destacado por Doss é que muitas vezes desejamos “encobrir nossas diferenças, para negar a criatividade das pessoas, para esquecer a natureza da diversidade humana.”195

Por conta disto nos alegramos na diversidade de Deus ao criar o ser humano, alto e baixo, olhos pretos, castanhos, cabelos lisos e encaracolados, mas a variedade de culturas desafia a igreja. Segundo ela, a diversidade humana divide as igrejas e nós mesmos. O interessante diz Doss é que esse problema não é recente, Paulo já enfrentou dificuldades semelhantes, ela apresenta o texto ao Gálatas 3:28 que diz: “não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher.”

Ela diz que neste texto encontra-se o desafio da Igreja em romper com as barreiras culturais, sejam elas de religião, sociedade, sexo, para que o resultado seja a unidade de Cristo. Ao comentar a primeira carta de Paulo aos Coríntios no capítulo doze que aborda sobre a diversidade de dons na Igreja, Doss diz:

“...devemos valorizar as diferenças na igreja e usar todas as partes para o bem de todos. Precisamos de pessoas cuja visão e modo de pensar diferem do nosso. Precisamos de criatividade e diversidade na adoração e no testemunho. Precisamos de apóstolos e profetas, professores, médicos e toda a variedade de dons (ref. Aos versos 27-31).”196

Notem que em todos os momentos, Doss fala sobre a necessidade de diversidade e apoio à criatividade dentro da Igreja. Esta maneira de pensar endossa a visão apresentada de Wilson, visão esta que entende a necessidade de contextualização das igrejas utilizando todas as pessoas de acordo com suas habilidades, independente da idade.

A visão de Doss e Wilson se complementam, encontramos mais um exemplo na seguinte citação:

“A Igreja Adventista do Sétimo Dia reflete a criatividade permanente da diversidade do mundo. Em nossas congregações há pessoas de muitas línguas, culturas e etnias. Há pessoas com dons distintos, com diferentes tipos de criação e com diversas formas de pensamento. Assim como as pedras de um mosaico podem ser distinguidas separadamente, mas só vemos a figura quando todas as pedras do mosaico estão juntas, somente 194 Ibid., p. 14. 195 Ibid., p. 14,15 196 Ibid., p. 15.

quando nos unimos em amor, aceitando os princípios que permanecem – de fato, a necessidade – de nossas diferenças, poderemos ser um em Cristo. Apenas quando utilizamos criativamente cada parte de nosso corpo e os mais diferentes dons que Deus deu à Sua igreja, podemos compartilhar as boas novas com ‘toda nação, tribo, língua e povo’ (Ap 14:6) e completar o mosaico do Seu reino.”197

De acordo com Doss as Igrejas locais precisam fazer uso de cada peça do mosaico, essa é a mesma ideia defendida por Wilson que analisamos anteriormente. Utilizar os diversos dons, a criatividade, contextualizar as mensagens e a linguagem utilizada se faz necessário para a sociedade contemporânea. Pode-se entender essa necessidade ao analisar a leitura que Gary Krause198 faz das grandes cidades e a Igreja.

Antes de qualquer coisa, ele apresenta os grandes desafios missionários para os adventistas. Entre todas as cidades mencionadas, duas são brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro.

Em segundo lugar Krause diz que as igrejas nos grandes centros como Sidney competem com diversos atrativos, por exemplo: teatros, cinemas, restaurantes, salas de concertos, clubes e vários outros locais de entretenimento, sem contar as ocupações diárias das pessoas.

Diante desse conflito ele diz: “Para muitos, a igreja é uma peça de museu, uma relíquia de outra época.”199 Levanto duas impressões das duas últimas citações, a primeira é que os comentários transparecerem a noção que o membro ou visitante precisa abrir mão de diversas atividades para dedicar um tempo para ir a igreja, ou seja, ele não vai a igreja por falta de opções.

Por conta desta escolha, a impressão que fica é que o culto deve transmitir e alcançar cada pessoa individualmente, caso contrário ele terá outros atrativos chamando sua atenção. De maneira que, os líderes mundiais da Igreja Adventista têm entendido a necessidade de diversificar as participações dentro da Igreja e de contextualizar a mensagem considerando as diferenças das pessoas que participam da comunidade local.

Até o presente momento analisamos a postura dos líderes diante de uma sociedade diferente da qual a Igreja Adventista foi fundada, vimos que tanto os líderes brasileiros, como

197

Id.

KRAUSE, Gary. Braços de Amor: Usando os métodos de Cristo para evangelizar as maiores cidades do mundo. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 10. Tatuí, p. 16-20, Out., 2011.

199

os líderes mundiais possuem a mesma opinião: A Igreja Adventista precisa utilizar todas as frentes de trabalho, entender as mudanças da sociedade para contextualizar sua mensagem, utilizar uma mensagem que alcance ao ouvinte, abrir espaço para a ação de todas as pessoas da Igreja, criar um programa que seja tão atrativo quanto às atividades de consumo oferecidas na sociedade.

Ressalto uma preocupação que David Bosch faz sobre relativismo e contextualização, uma vez que temos visto esta questão sendo explorada pelos líderes da IASD. Ele diz:

“Não existe só o perigo do relativismo, em que cada contexto produz sua própria teologia, feita sob medida para aquele contexto específico, mas igualmente o perigo da absolutização do contextualismo. Foi isso, em verdade, o que aconteceu na atividade missionária ocidental, onde a teologia, contextualizada no Ocidente, foi, em essência, elevada ao status de evangelho e exportada para outros continentes como um ‘pacote’ ou acordo global. Contextualismo significa, pois, universalizar nossa própria posição teológica, tornando-a aplicável a todo mundo e exigindo que outras pessoas se submetam a ela.”200

Nas citações dos líderes da Igreja Adventista, temos visto a ideia da contextualização sendo apresentada de diversas formas. Os líderes falam em criatividade, diversidade, dons diversos, culturas diversas, linguagens diferentes, essas são expressões para se referir a necessidade da Igreja possuir dinâmica e relevância em sua mensagem.

O comentário de Bosch levanta duas questões relevantes a respeito do relativismo e contextualização do evangelho. Em primeiro lugar a Igreja corre o risco de se criar uma teologia relativa a cada contexto, ou seja, cada lugar criar um ensino de acordo com o entender das pessoas. Ao mesmo tempo, corre-se o perigo de padronizar o contextualismo, ou seja, tornar uma realidade local padrão para todos os outros contextos e exportá-la como sendo a verdade universal. Em outras palavras, a Igreja deve ser uniforme em sua teologia, mas livre para adaptar sua transmissão de acordo com a necessidade local.

Em todas as citações deste estudo, a necessidade de manter uniforme o ensino adventista tem transcorrido o pensamento de todos, tanto líderes como leigos, velhos e novos. Ao mesmo tempo, boa parte da liderança e dos jovens tem demonstrado a necessidade de se adaptar de acordo com a realidade local.

O risco é transformar uma realidade local em regra de fé para todos.

BOSCH, DAVID J. Missão transformadora: Mudanças de paradigma na teologia da missão. São Leopoldo: Sinodal, 2002, p. 512.

Diante desta necessidade, o desafio de ser relevante continua sendo a meta a ser alcançada para todos dentro da Igreja.

Na tentativa de alcançar esses desafios, alguns jovens de Limeira, SP, liderados por um estudante de Teologia passaram a repensar a espiritualidade. As atividades desenvolvidas por eles estão registradas no artigo “Plugados”201, escrito pela redação da Revista Adventista. Antes de mencionar as atividades realizadas por estes jovens, é dito que a geração atual tem se conscientizado que para pregar o evangelho no século 21 é preciso “traduzir as verdades imutáveis da Bíblia numa linguagem que seja inteligível para uma sociedade cada vez mais arredia à religião institucionalizada.”202

Encontramos nesta citação a necessidade de contextualização da mensagem, é interessante que os jovens estão por trás desta iniciativa, mostrando certa insatisfação com os métodos utilizados tradicionalmente.

Para alcançar a geração atual, os jovens começaram a agir em cinco frentes de ação, são

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