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Conflito geracional e a identidade dos jovens adventistas do sétimo dia: Negação ou reconstrução da identidade Adventista por parte dos jovens

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Academic year: 2017

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(1)

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE HUMINADADES E DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

RAFAEL MALISANI MARTINS

CONFLITO GERACIONAL E A IDENTIDADE DOS JOVENS

ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA: NEGAÇÃO OU

RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ADVENTISTA POR PARTE

DOS JOVENS

(2)

Universidade Metodista de São Paulo

Faculdade de Humanidades e Direito

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião

RAFAEL MALISANI MARTINS

CONFLITO GERACIONAL E A IDENTIDADE DOS

JOVENS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA: NEGAÇÃO

OU RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ADVENTISTA

POR PARTE DOS JOVENS

Dissertação apresentada à Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do Título de MESTRE pelo Programa de Pós-Graduação em CIÊNCIAS DA RELIGIÃO.

Área de concentração: Religião, Sociedade e Cultura

Orientação: Prof. Dr. Jung Mo Sung.

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

M366c

Martins, Rafael Malisani

Conflito geracional e a identidade dos jovens adventistas do sétimo dia: negação ou reconstrução da identidade adventista por parte dos jovens. Rafael Malisani Martins /-- São Bernardo do Campo, 2012.

139fl.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo

Bibliografia

Orientação de: Jung Mo Sung

1. Missão integral da Igreja 2. Igreja e sociedade I. Título

(4)

A dissertação de mestrado sob o título “Conflito Geracional e a identidade dos jovens

adventistas do sétimo dia: negação ou reconstrução da identidade adventista por parte

dos jovens”, elaborada por Rafael Malisani Martins foi apresentada e aprovada em 23 de

Março de 2012, perante banca examinadora composta por Jung Mo Sung

(Presidente/UMESP), Lauri Emílio Wirth (Titula/UMESP) e Adolfo Semo Suárez

(Titular/UNASP).

____________________________________________

Prof/a. Dr/a. Jung Mo Sung

Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora

____________________________________________

Prof/a. Dr/a. Leonildo Silveira Campos

Coordenador/a do Programa de Pós-graduação

Programa: Ciências da Religião

(5)

Dedico este trabalho aos meus pais, meus

Irmãos e irmã e minha querida noiva.

Palavras não são o suficiente para expressar minha

gratidão por todo apoio e paciência.

(6)

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, pela sua dedicação e competência que me possibilitaram a

conclusão deste trabalho, o meu muito obrigado.

Ao Pastor Erlo Braun e todos da Associação Paulista Leste da Igreja Adventista

do Sétimo Dia pelo apoio, o meu muito obrigado.

Ao Professor e diretor Benedito de Carvalho Leite e todos os companheiros de

trabalho do Colégio Adventista de São Miguel Paulista, pelas orações, força e

apoio, o meu muito obrigado.

(7)

RESUMO

Este presente trabalho, tem por objetivo analisar o conflito geracional e a formação da identidade dos jovens adventistas, com o objetivo de verificar se o conflito geracional é uma demonstração que os jovens estão rompendo com a igreja ou, reconstruindo a identidade. O conflito geracional pode ser notado em diversas esferas da sociedade e inclusive dentro da Igreja Adventista. Todavia, o conflito geracional não é causado por rebeldia, mas sim, por diferentes maneiras de reagir e conviver com as características contemporâneas da sociedade. Sendo assim, os mais velhos não concordam com as novas propostas dos jovens e tão pouco, os mais novos desejam continuar convivendo com as coisas antigas. A Igreja Adventista tem vivido o conflito geracional em dois aspectos principais: o primeiro se evidencia na comunicação; o segundo na cosmovisão. A linguagem sofreu alterações na hora de se comunicar; no contexto atual, a imagem tomou a função das palavras. Por essa razão, uma comunicação pode não alcançar seu objetivo, principalmente aos mais novos, quando expressa somente através de palavras. O outro aspecto que tem causado conflito é a compreensão de mundo que os mais novos possuem. Para eles, o mundo não é sinônimo de pecado como algumas pessoas mais velhas entendem. Por conta desta diferença, certas questões não são aceitáveis dentro da igreja, por serem vinculadas ao mundo e o mundo ser entendido como pecado. Porém, a constatação que faço é que, embora o jovem não entenda o mundo em si como pecado, ele compreende que existem aspectos do mundo que sejam errados. Esses aspectos não são aceitáveis para eles e por isso, eles não desejam romper com a igreja. Mas estão em busca de mudanças significativas que se encaixam com sua visão de mundo. É possível evidenciar essa mesma linha de raciocínio em alguns líderes da igreja, mas os relatos dos jovens expressam que isso não alcançou a prática local. Uma vez que, concebo o pensamento de Hervieu-Leger de que a identidade não é transmitida intacta de pai para filho, mas construída individualmente. Entendo que os jovens estão formando sua própria identidade. Para que essa identidade seja formada de maneira sólida nos princípios adventistas, e aberta as mudanças necessárias da sociedade, se faz necessário, sob minha percepção, uma releitura de Ellen White baseada no pensamento liminar de Walter Mignolo, apresentado e explanado por Adolfo S. Suárez.

(8)

ABSTRACT

This present study aims to examine the generational gap and identity formation of young Adventists, in order to verify if the generational gap is a demonstration that young people are breaking with the church or, reconstructing identity. The generational gap can be seen in various spheres of society and even within the Adventist Church. However, the generational gap is not caused by rebellion, but for different ways to react and cope with the characteristics of contemporary society. Thus, older people do not agree with the new proposals of young people and also not even the youngest wish to continue living with the old stuff. The Adventist Church has experienced the generational gap in two main aspects: The first is evident in the communication, the second in the worldview of the world. The language has changed in the time to communicate, in the present context, the image took the words function. Therefore, communication may not reach your goal, especially the younger ones, when expressed only through words. The other aspect that has caused the conflict is the world concept to the youngest. For them, the world is not synonymous with sin as some older people understand. Because of this difference, certain issues are not acceptable within the church, because they are linked to the world and the world is understood as sin. However, my conclusion is that though the young do not understand the world itself as a sin, they

understand that there are aspects of the world that are wrong. These aspects are not acceptable to them and therefore they do not wish to break with the church. But they are looking for significant changes that fit with their worldview. It’s possible to show this same line of reasoning in some church leaders, but the reports of young people express that did not reach the local practice. Once I conceive the Hervieu-Leger’s thought that identity is not passed intact from father to son, but built individually, I understand that young people are forming their own identity. For this identity to be solidly formed on the Adventists principles and opened to the necessary changes in society, it does, in my perception, need to re-read Ellen White based on the thought of Walter Mignolo, presented and explained by Adolfo S. Suarez.

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1 CAONFLITO GERACIONAL E A VISÃO DOS LÍDERES ADVENTISTAS ... 15

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 15

1.2 CONFLITO GERACIONAL E A LIDERANÇA DA IASD ... 21

1.2.1 Conflito Geracional ... 21

1.2.2 Os pensamentos dos líderes da IASD ... 28

1.3 UM CASO ILUSTRATIVO ... 42

1.4 CONCLUSÕES PARCIAIS ... 44

2 O JOVEM ADVENTISTA E SUA IGREJA ... 46

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 46

2.2 O JOVEM E A IGREJA ADVENTISTA ... 47

2.2.1 O jovem e as Redes Sociais ... 47

2.2.2 O jovem e o “ser” adventista ... 51

2.2.2.1 Grupos nas Redes Sociais ... 52

2.2.2.2 O jovem adventista nas Redes Sociais ... 58

2.3 A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENTISTA ... 68

2.3.1 Transmissão de heranças religiosas e a formação da identidade ... 68

2.3.2 O jovem e a igreja ... 72

2.4 CONCLUSÕES PARCIAIS ... 79

3 MUDANÇAS, ELLEN WHITE E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENTISTA ... 81

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 81

3.2 OS LÍDERES E A NECESSIDADE DE MUDANÇA ... 82

3.3 DICOTOMIA IGREJA X MUNDO ... 92

3.4 ELLEN WHITE E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENTISTA 106 3.4.1 Ellen White e o Pensamento Liminar ... 107

3.4.2 O jovem adventista e a formação de sua identidade ... 110

3.5 CONCLUSÕES PARCIAIS ... 111

CONCLUSÃO ... 113

BIBLIOGRAFIA ... 117

ANEXOS ... 122

Anexo 1 ... 123

Anexo 2 ... 123

Anexo 3 ... 124

Anexo 4 ... 114

Anexo 5 ... 125

Anexo 6 ... 125

Anexo 7 ... 126

Anexo 8 ... 126

Anexo 9 ... 127

Anexo 10 ... 128

Anexo 11 ... 129

Anexo 12 ... 130

Anexo 13 ... 131

Anexo 14 ... 132

(10)

Anexo 16 ... 134

Anexo 17 ... 135

Anexo 18 ... 136

Anexo 19 ... 137

Anexo 20 ... 138

(11)

INTRODUÇÃO

Era o dia 07 de janeiro de 2012, sábado pela manhã e eu estava assistindo ao culto na

Igreja Central de Peruíbe. Seria apenas mais um sábado típico das minhas férias, mas tudo

mudou quando meu irmão mais novo sentou-se ao meu lado, no meio de dois amigos dele, e

eu presenciei a cena, do começo até o final do culto. Os três com o celular na mão

conversando e pouco prestaram a atenção ao culto. Ele é apenas um pré-adolescente, 12 anos,

e seus amigos gêmeos com 16 anos.

Os três frequentam a Igreja Adventista desde pequenos, e eu me questiono: o que

aconteceu? Quando criança, minha mãe nunca me deixou levar um carrinho sequer para

brincar na igreja. Hoje, meu irmão encontrou os amigos e juntos mexeram no celular o culto

inteiro.

O que tem acontecido com os adolescentes e a juventude? Por que a mudança? Mudou

alguma coisa na igreja? Há mais de 20 anos, todas as férias vou à mesma igreja e nunca tinha

visto algo parecido, o que mudou?

Como pastor jovem e na atualidade capelão do Colégio de São Miguel, função que

estou desempenhado pelo terceiro ano consecutivo, tenho convivido todos os dias com

adolescentes e jovens e, a cada dia que passa, vejo o conflito geracional mais presente nos

relacionamentos.

Esse conflito se evidencia em todas as esferas de relacionamento: pais e filhos;

professores e alunos; líderes de igrejas e jovens. É normal escutar nos cultos, pedidos pelos

jovens, pois eles estão “fracos na fé”, estão “frios”, estão se afastando da igreja. O que tem

acontecido com os jovens? Deixaram de ser adventistas?

Em primeiro lugar, quero deixar claro que esta proposta de estudo só fará sentido ao

considerar os jovens adventistas que têm frequentado a igreja. É fato indiscutível que muitos

jovens se afastaram da igreja e deixaram de seguir os princípios ensinados por ela. Mas, não é

a proposta deste estudo analisar os motivos que fizeram esses jovens abandonar os princípios,

uma vez já seguidos por eles.

O objetivo principal deste estudo é analisar o conflito geracional e a formação da

identidade do jovem adventista. O conflito geracional é um assunto que está em voga nos

campos acadêmico e educacional. Encontram-se diversas revistas educacionais que falam

(12)

de interatividade, interdisciplinaridade, troca de experiências entre alunos e professores, lousa

digital, tablets e computadores para os alunos, novos métodos, abordagens diferentes.

Diversos teóricos discutem sobre as gerações e a maneira de pensar de cada uma delas. Porém,

no meio adventista pouco ou quase nada se trata deste assunto do conflito geracional e como

equilibrar as distintas partes visando um bem comum.

Encontramos artigos, nos quais os líderes expressam seus medos quanto às novas

tendências que tem surgido, exortando os jovens a permanecerem firmes nos princípios

aprendidos, mas pouco se discute sobre o conflito que existe entre as gerações. Pouco se fala

sobre a maneira de pensar de cada uma das gerações; quando se fala, o foco é a juventude e a

pós-modernidade. Não se encontra reflexões com o intuito de mostrar as diferenças, para

sanar os conflitos.

Ao mesmo tempo, não encontramos nenhuma literatura que expresse a opinião do

jovem sobre sua igreja ou, o que precisa ser feito para que a mensagem atinja aos jovens. Até

mesmo as revistas que são destinadas à juventude ou o “espaço jovem” contêm artigos que

seguem a mesma linha de raciocínio dos periódicos denominacionais destinados a toda Igreja

Adventista. O “espaço jovem” é uma coluna de artigos na Revista Adventista, reservada para

os jovens escreverem, ou para escreverem a eles.

Para exemplificar este último ponto mencionado, vejamos a essência do artigo “Luta

contínua: nossa batalha é permanecer em Cristo”, escrito por uma adolescente de 15 anos, no

“espaço jovem”. A síntese deste artigo está na experiência cristã diária com Cristo e uma

reflexão sobre conflito entre o bem e o mal e do chamado que Deus faz aos cristãos.

Carnassale diz: “Somos chamados a ser Suas testemunhas, a mostrar que Deus está certo e é

justo, e o diabo está errado. E assim como Cristo tornou claro o engano quando esteve neste

mundo, também nós, pelo poder e cheios do Espírito Santo, podemos viver de modo a refletir

o verdadeiro caráter de Deus e desmascarar o inimigo.”1

Este artigo apresentado é um clássico exemplo da temática destinada aos jovens. Sobre

essa questão, apenas destaco que esse tipo de reflexão é importante e significativa, tem sua

relevância e seu papel na formação da identidade dos jovens, mas não se deve limitar a

instrução aos jovens apenas a esses assuntos. Em geral os artigos destinados aos jovens,

tratam sobre assuntos “reflexivos-devocionais” e motivação.

1

(13)

Por não encontrarmos material reflexivo sobre o conflito geracional, este assunto

precisará ser analisado de maneira separada, ou seja, em um momento apresentarei o

pensamento dos líderes, e em outro o dos jovens.

Portanto, ao considerar o conflito geracional e a identidade do jovem adventista, tenho

por objetivo iniciar uma análise crítica desta questão. Com isto, desejo contribuir para que

outras reflexões sobre esse assunto possam ser realizadas, com o fim de que as gerações se

compreendam, se aceitem e se equacionem.

Para analisar o conflito geracional e a formação da identidade dos jovens, este trabalho

será dividido em três partes principais, que serão os três capítulos. O primeiro capítulo tem

por objetivo analisar a visão que os líderes da Igreja Adventista possuem sobre a juventude e

os pensamentos pós-modernos. Para tanto, em primeiro lugar apresentarei o conflito

geracional em diversas esferas da sociedade, com exceção da Igreja Adventista, isso será feito

para nos situar no conflito geracional. Tendo conhecimento desta realidade, então sim,

passaremos a ponderar os comentários que os líderes adventistas têm feito sobre a juventude.

Com isso, quero levantar as opiniões, medos, conselhos, alertas que os líderes estão fazendo

para os jovens.

Em resposta à visão dos líderes, o segundo capítulo tratará de responder a duas

questões: Os jovens se consideram adventistas ou querem romper com a Igreja? E, estão os

jovens satisfeitos com a igreja do jeito que ela está hoje? Para responder essas questões,

precisaremos pontuar um assunto importante: a formação da identidade. Sendo assim, os dois

primeiros capítulos mostram as visões dos líderes e dos jovens, tendo assim, uma visão

aproximada da realidade do conflito geracional na igreja.

Uma vez analisadas essas opiniões, o terceiro capítulo tem por objetivo apresentar

algumas reflexões visando superar, pelo menos em parte, a dificuldade de comunicação e

relacionamento entre essas gerações.

Os dizeres dos jovens e dos líderes que iremos analisar nesta pesquisa foram

encontrados em três fontes principais: livros, artigos das principais revistas adventistas e sites

de redes sociais. Nos artigos e livros, encontramos a maioria da opinião dos líderes; nas redes

sociais encontramos o pensamento da juventude. As redes sociais foram escolhidas, pois são

nelas onde os jovens expressam livremente suas opiniões sobre todos os assuntos.

Para análise dessas informações, selecionei alguns conceitos fundamentais, de acordo

com cada temática que iremos ponderar nos capítulos já mencionados. Apresento agora esses

(14)

O conflito geracional acontece principalmente pela diferença de pensamento entre

distintas gerações. É verdade que muitos assuntos causam divergências, mas neste estudo

concentraremos nossa atenção na visão de mundo que as gerações possuem, a necessidade de

mudança nas gerações mais novas e a mudança na comunicação.

A visão de mundo que alguns líderes adventistas possuem se diferem da visão de alguns

jovens. Queiruga2 mostra que o pensamento cristão da idade pré-moderna defendia um

afastamento de todo avanço científico, social ou filosófico. Esse pensamento resulta na

dicotomia igreja e mundo, de um lado a igreja detentora do que é sagrado, do outro, o

“mundo” sendo a origem do pecado.

Alguns líderes adventistas, principalmente os mais velhos, tendem a pensar desta

maneira, mas esse não é um pensamento defendido por todos. Hiebert3 diz que cada geração

possui sua cosmovisão de ver o mundo. Sendo assim, da mesma maneira que algumas pessoas

podem ver o mundo como fonte para os pecados, outras observam o mundo de maneira neutra,

podendo ou não ter elementos errados.

A necessidade se baseia no pensamento de Bauman ao dizer que “a modernidade é a

impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em movimento. Não se

resolve necessariamente estar em movimento – como não se resolve ser moderno.”4 Segundo

Bauman, a mudança é natural e esperada no mundo moderno. Ele ainda afirma que a questão

da mudança se intensifica nas mentes pós-modernas.5

Neste contexto de fluidez, como dito por Bauman, a mudança na comunicação se

destaca por conta das frequentes melhorias no mundo tecnológico. Como Lyon6 diz, a

comunicação no contexto pós-moderno está muito mais ligada a imagens, do que à

transmissão por palavras. Os jovens por estarem imergidos no mundo tecnológico, onde a

interatividade é constante, sofrem com uma linguagem basicamente discursiva como

usualmente utilizada nos cultos adventistas.

2

QUEIRUGA, Andrés Torres. Fim do cristianismo pré-moderno. Tradução: Afonso Maria Ligorio Soares. São Paulo: Paulus, 2003. 110 p. Apud: Walter Kasper, Introducción a la fe, Salamanca, 1976, p. 20.

3

HIEBERT, Paul G. O evangelho e a diversidade das culturas: um guia de antropologia missionária. Tradução: Maria Alexandra P. Contar Grosso. Brasil: Vida Nova, 2010. 45 p.

4

BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Tradução: Mauro Gama, Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 92.

5

Ibid., p. 22,23.

6

(15)

Através destes três pontos apresentados faremos a análise do conflito geracional. Porém,

este estudo não se limita a evidenciar o conflito geracional nas relações adventistas, mas

analisar a formação da identidade do jovem adventista. Este estudo tem por objetivo

evidenciar se o conflito geracional reflete uma negação de identidade ou reconstrução por

parte dos jovens adventistas. Para tanto, precisamos analisar a formação de identidade.

Dois pensadores serão utilizados para analisar a formação da identidade: Canclini e

Hervieu-Leger. De Canclini7 extraio o pensamento que a identidade é formada na

contemplação de quem não se é. Ou seja, um jovem adventista se vê como jovem adventista

ao ser confrontado com um adventista mais velho. Se for possível escrever a formação de

identidade sobre esta perspectiva, seria algo como: “Sou adventista, mas não como ele.”

Complemento esta ideia com o pensamento de Hervieu-Leger8, o qual apresenta a

formação da identidade religiosa, não como uma transmissão de conteúdo entre gerações, mas

uma construção individual através das experiências sociorreligiosas.

Esses dois pensamentos mostram que a identidade do jovem adventista não pode ser

considerada a mesma dos “velhos” adventistas, não apenas isso, mas que o jovem está em

formação de identidade. E para orientar essa formação de identidade analiso Suárez9 que

apresenta Ellen White e o pensamento liminar de Walter Mignolo. Suárez acredita que Ellen

White possuía um pensamento diferenciado para sua época. Ao mesmo tempo que apoiava a

Igreja Adventista, conseguia criticar o pensamento dominante de maneira construtiva.

Baseado nestas ideias principais supracitadas e através da leitura de alguns líderes

mundiais, incluindo Ellen White, quero responder a opinião dos jovens e apresentar aos

líderes a cosmovisão de mundo e a formação da identidade dos jovens. Minha esperança é que

este trabalho possa ajudar a expandir os horizontes de cada cristão, para que ao entender a

visão do outro possam se unir em um único propósito: viver o reino de Deus.

1 CONFLITO GERACIONAL E A VISÃO DOS LÍDERES ADVENTISTAS

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

7

CANCLINI, Néstor Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da

interculturalidade. Tradução: Luiz Sérgio Henriques. 3. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. 48 p. Apud Appadurai, 1996, p. 12-13.

8

HERVIEU-LEGER, Daniele. O peregrino e o convertido. Lisboa: Gradiva, 2005. 62 p.

9

(16)

A sociedade contemporânea vive em um crescente relacionamento social, isso aflora

principalmente pela possibilidade de interconectividade entre as pessoas por meio da internet.

O que era impossível alguns anos atrás, onde os meios de comunicação se limitavam a cartas,

telegramas, telégrafos, hoje é possível se comunicar instantaneamente com pessoas em

qualquer lugar do mundo. Os requisitos para tal façanha se limitam em ter um computador

que esteja conectado à internet ou ter sinal no celular e, pronto, você está interligado ao

mundo inteiro.

Inseridos neste meio, onde os mais variados tipos de pessoas convivem e se relacionam

com todos, se faz necessário entender esses “tipos”, pois cada um possui suas características e

peculiaridades e entendê-las se tornou fundamental para um convívio harmônico e sadio.

As lideranças da nossa sociedade estão se conscientizando dessa necessidade, entender

as diferenças para que haja equilíbrio no convívio, melhor aproveitamento das habilidades e

qualidades de cada pessoa.

Um exemplo notório dessa conscientização foi a série produzida pelo Jornal da

Globo10que procurou mostrar as diferenças de pensamento, desejo, expectativa das diferentes

gerações nos ambientes de trabalho e na vida social. Nesta série de reportagens, a Globo

divide as gerações em: “baby boomers”, “geração x”, “geração y” e “geração z”. Os baby

boomers são os filhos dos soldados da segunda guerra mundial, meados dos anos 40, são

aqueles que disseram façam amor não façam guerra. Foram os jovens que lutaram contra a

ditadura, essa é a geração da bossa-nova, jovem guarda, uma ideia marcante nos “baby

boomers” era a de seguir carreira dentro de uma mesma empresa, “fidelidade à camisa”.

A geração subsequente aos “baby boomers” são os nascidos na década de 70, chamados

de Geração X. Essa geração é marcada pela entrada da tecnologia no círculo familiar.

Segundo apresentado nessa reportagem, as pessoas dessa geração são apegadas a títulos, ao

status, porque isso está vinculado ao esforço realizado. Outra característica marcante é que

tanto a inovação como mudança não são bem vistas por essa geração; são pessoas que

10

Os vídeos na íntegra estão disponíveis nos seguintes websites:

<http://empreendedordecadadia.wordpress.com/2010/11/17/jornal-da-globo-serie-geracoes/> <http://empreendedordecadadia.wordpress.com/2010/11/18/jornal-da-globo-serie-geracoes-r2/>

<http://empreendedordecadadia.wordpress.com/2010/11/19/jornal-da-globo-–-serie-geracoes-r3/>

<http://empreendedordecadadia.wordpress.com/2010/11/19/jornal-da-globo-–-serie-geracoes-r4/>

(17)

valorizam muito a carreira e ficam à vontade em trabalhar certo prazo para depois ter um

reconhecimento e subir um degrau natural.

Os nascidos no fim da década de 80, início da década de 90 são chamados de Geração

Y; esses querem uma evolução imediata, são impacientes com coisas iguais, estão dentro do

mundo da tecnologia; dentro da empresa buscam mesmo que em pequenos passos subir de

patamar e avançar rapidamente. São pessoas que facilmente fazem mais de uma coisa ao

mesmo tempo; enquanto estão trabalhando podem acessar redes sociais e ouvir música, sem

que isso venha atrapalhar o desempenho do que estão fazendo.

Essa série de reportagens termina falando da Geração Z, os nascidos no fim dos anos 90,

virada de século e milênio. São tidos como um “Y” turbinado. Assim chamados porque as

características da Geração Y se afloram de maneira muito forte. De maneira que se a geração

Y era impaciente, essa é muito mais; um dos motivos mais marcantes é por conta da

velocidade da internet e dos meios de comunicação. O mundo dos novos adolescentes e

jovens é visto sob o mesmo prisma do mundo da tecnologia; tudo muda muito rapidamente e

as coisas são instantâneas.

Em síntese, essas são as principais informações que encontramos nessa série de

reportagem.

Independente dos termos utilizados para classificar as gerações, se são ou não os termos

utilizados pelos grandes sociólogos, o fato é que as diferenças existem isso não se pode negar.

O ponto que quero destacar é a iniciativa de uma rede de televisão em mostrar a visão de

mundo que cada geração possui. Essa iniciativa é significativa para mostrar a necessidade de

termos pelo menos uma compreensão básica da visão do outro. Não se pode esquecer que o

objetivo central desta série é a interatividade no ambiente de trabalho. Ou seja, como as

diferentes gerações podem se unir, cada uma com suas qualidades, para que a empresa possa

crescer.

Embora este exemplo esteja focando as gerações no ambiente de trabalho, podemos

extrair o objetivo de se ter um conhecimento da visão do outro. De maneira que, independente

do meio ao qual convivesse e o fim das relações, pode-se ter uma integração melhor das

gerações, pois as características marcantes são mutuamente conhecidas.

Pelo fato de vivermos em uma sociedade com diversas gerações, torna-se natural o

convívio geracional e essa realidade está presente dentro do objeto de estudo deste trabalho, a

Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD). Pode-se notar certa conscientização não apenas do

convívio geracional, mas, além disso, os líderes da IASD estão percebendo a necessidade de

(18)

Bill Knott11, editor da Adventist World, revista que atualiza os acontecimentos da IASD

nos países que possuem membros, tratando sobre a ação e o futuro da igreja diz: “Não

profetize para um jovem que um dia ele será famoso.” A forma categórica como ele se

posiciona pode oferecer ao menos duas informações básicas, ou ele está orientando as pessoas

para não agirem desta maneira, ou está alertando uma ação no presente.

Neste breve artigo ele fala da importância dos jovens estarem na liderança da igreja

juntamente com os mais experientes. Ele apresenta a dinâmica da igreja projetando a ação dos

jovens no futuro como sendo errada e equivocada; segundo ele, quando agimos dessa maneira

minamos a atuação dos jovens no presente. Sendo assim, o objetivo da declaração de Bill

Knott foi de alertar a igreja local desse possível erro que pode estar ocorrendo. Knott termina

o artigo fazendo menção aos jovens na assembleia da Associação Geral12, em 2010 dizendo:

“Ao você ler o que disseram os adultos jovens que tão habilmente representaram sua igreja na assembleia da Associação Geral, 2010, comprometa-se a incentivar os jovens e adultos jovens da sua igreja a serem os líderes de hoje. Ajude-os a participar dos cargos – mesmo que isso signifique abrir mão do seu – por meio dos quais, os dons que receberam do Espírito, aumentarão surpreendentemente o poder do nosso testemunho!”13

Embora não tenha nenhuma declaração explícita sobre a necessidade de conhecer as

diferenças das gerações e das peculiaridades de cada grupo, é notória a preocupação de unir as

diferentes pessoas na ação da igreja. Mais ainda, para ele o papel do jovem é de ser líder, estar

dirigindo e movendo as atividades da Igreja local.

A visão apresentada por Knott é muito significativa, pois ela segue a mesma linha de

pensar do Pr. Ted Wilson, presidente da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia,

entidade que administra a IASD mundial. Ted Wilson foi entrevistado por Bill Knott a

respeito da cultura de serviço por parte dos jovens adventistas e ele afirmou:

“A iniciativa do Reavivamento e Reforma mundial tem deixado claro que há milhares, na realidade milhões de jovens adventistas, aos quais Jesus entregou tremendos dons para ajudar Sua igreja a finalizar a obra. Gostaria que a Igreja Adventista do Sétimo Dia planejasse lançar mão dessa enorme

11

KNOTT, Bill. O Futuro é Agora. Adventist World: Órgão internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 9. Tatuí, p. 3, set., 2011.

12

Assembleia que reuni representantes de todos os continentes para se definir os líderes mundiais da igreja, assim como as principais diretrizes para a igreja mundial.

13

(19)

criatividade, energia, que Deus já colocou entre Seu povo, concedendo variados dons aos jovens fiéis.” 14

Os jovens em ação, liderando, fazendo parte do todo, têm sido a visão apresentada pela

liderança mundial da IASD, mas essa visão parece contradizer a realidade que encontramos

nas igrejas locais. Kimberly L. Maran15durante o período da assembleia da Associação geral

entrevistou jovens de diversos países com o objetivo de saber por parte destes quais as

dificuldades da igreja que frequentam, o que eles acharam de representar o país na assembleia

geral, quais pontos a igreja poderia melhorar e outras questões pertinentes a aos jovens e a

igreja local.

Quero pinçar algumas respostas dos jovens com o intuito de mostrar que a realidade da

igreja local não é a mesma apresentada por Bill Knott, o que, como vimos, apresenta a ideia

de que o jovem seja o presente da igreja. Notem a afirmação de Blessings Gonbwe,

representante de Malawi, país vizinho a Moçambique e Zambia: “Somos os líderes do futuro,

por isso temos que aprender das pessoas que têm mais experiência.”16 É nítido que a visão de

Knott não é a realidade nas atividades eclesiásticas apresentada por Gonbwe; de alguma

maneira os jovens estão sendo projetados para o futuro, fazendo com que eles aceitem essa

realidade e isso é refletido neste testemunho apresentado. Comprovando esta realidade

vejamos outros exemplos.

Quando Kimberly questionou sobre o maior desafio enfrentado pela igreja na sua parte

do mundo? Justin McNeilus representante dos Estados Unidos da América disse:

“Na América do Norte, é o envolvimento dos jovens. Muito poucos jovens se envolvem, lideram, e até mesmo estão felizes por ser adventistas. Parece haver uma cultura entre os pastores, líderes da igreja (não necessariamente os líderes jovens), de que você tem que ter cabelos grisalhos, ou algo nesse sentido. Antes que possa ser ancião, ou que possa assumir púlpito para pregar.”17

Justin ratifica sua posição dizendo: “Precisamos permitir que os jovens se envolvam. É

verdade que é arriscado, nós vamos cometer erros. Mas, se não nos envolvermos nesse

14

KNOTT, Bill. Um Ano para Mudar o Mundo. Adventist World: Órgão internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 9. Tatuí, p. 8-10, nov., 2011.

15

MARAN, L. Kimberly. Conheça o Futuro. Adventist World: Órgão internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 9.Tatuí, p. 16-20, set., 2011.

16

Ibid., 17.

17

(20)

ambiente, vamos acabar deixando a igreja.”18 A realidade que Justin apresenta nos Estados

Unidos parece ser a mesma apresentada por Gonbwe na África; os jovens não possuem poder

de ação no presente e a liderança mais velha dirige a ação da igreja local. Essas realidades

similares são significativas, pois mundos tão distintos como América do Norte e África, mas

ao mesmo tempo realidades tão próximas podem nos mostrar uma mesma maneira de pensar

por parte dos líderes das igrejas locais. O resultado apresentado por ele é que existe

insatisfação e desânimo por parte dos jovens, sendo então considerado por ele o maior desafio

da igreja nos Estados Unidos na localidade que frequenta.

A última citação que destacaremos foi feita por Samia Henriette, representante de

Sheychelles, arquipélago localizado a norte e nordeste de Madagáscar19. Samia afirma: “A

igreja deveria ajudar os jovens a se sentirem parte dela, parte dos problemas, das pressões, de

tudo. Tenho a sensação de que há um abismo entre a geração mais antiga e a jovem. Talvez as

duas gerações tenham problemas pessoais que poderiam resolver juntos, uma ajudando a

outra.”20

Os três relatos apresentados mostram que os jovens não possuem voz ativa dentro das

atividades da igreja, mostrando mais uma vez a diferença entre o ideal proposto e a realidade

local. Ao que parece o alerta de Bill Knott apresentado é uma realidade em alguns lugares em

diferentes localidades do mundo.

Embora não seja objetivo deste estudo mostrar como a personalidade e nem a

consciência de ação do jovem é formada, mas a impressão que passa nos relatos deste artigo

que estamos analisando é que as crianças crescem com a mentalidade de que quando

chegarem a uma certa idade poderão agir.

Esta questão que tende projetar a ação do jovem no futuro é percebida não somente nos

dizeres relatados aqui, mas se evidencia no título do artigo: “Conheça o Futuro”, artigo este

destinado a falar da ação dos jovens na Igreja. Questiono o intuito do artigo em falar de algo

que não acontecerá no presente. Teria por objetivo a autora apresentar os jovens que serão o

futuro da Igreja para que eles sejam apenas conhecidos?

É interessante ainda pensarmos que Kimberly Maran é editora assistente da revista

“Adventist World”, revista da qual Bill Knott é editor. Enquanto a visão do editor é que o

jovem tem papel como líder no presente, a editora assistente demonstra a visão oposta, a qual

18

Ibid., 18.

19

Fonte: <http://www.worldmapfinder.com/Pt/Africa/Seychelles/>

20

(21)

o futuro da igreja está na juventude. Não é objetivo deste estudo fazer especulações, mas a

impressão é que a editora assistente, assim como alguns jovens, carrega a ideia de que a

liderança da igreja só pode ser composta por pessoas de “cabelos grisalhos” como dito por

Justin McNeilus.

Como vimos até aqui, independente da localidade, a realidade parece indicar a mesma

direção, os jovens estão deslocados das atividades e da liderança da igreja. Se por um lado

representantes mundiais dizem que a posição do jovem deve ser de ação e de liderança, por

outro encontramos uma liderança local que não tem se encaixado nesta visão de trabalho.

Faz-se necessário ainda destacar que os jovens ao analisarem a realidade local, além de

mostrarem que estão ausentes da ação, é perceptível uma diferença de pensamento entre as

gerações, isso se evidenciou nas palavras de Samia: “Tenho a sensação de que há um abismo

entre a geração mais antiga e a jovem.”, palavras já mencionadas e que mostram uma

realidade conflitante entre as gerações.

Diante deste quadro apresentado, passaremos a analisar o conflito geracional, assim

como a visão, preocupações e medos que os líderes possuem da juventude. Embora esse

esforço de conhecer melhor a juventude seja algo mundial, queremos destacar a realidade

brasileira.

1.2 CONFLITO GERACIONAL E A LIDERANÇA DA IASD

Tratar sobre o conflito geracional não é uma tarefa fácil, porque embora seja algo que

pode-se notar, não é um assunto que se aborda de maneira franca e direta dentro da IASD. Por

este motivo, analisarei a existência do conflito geracional dentro da sociedade, não

considerando a IASD. Em seguida pinçarei dizeres dos líderes da IASD sobre a juventude e a

sociedade contemporânea, para no próximo capítulo apresentar o pensamento dos jovens.

Com isso, temos as visões das gerações que formam a realidade da vivência religiosa dentro

da IASD.

(22)

Mudança de geração é uma realidade em qualquer instituição, independente do fim que

possui. Isso acontece com times de futebol, empresas, bancos, escolas, igrejas, e todos os

outros grupos que possuem uma representação. O motivo é óbvio, nenhum ser humano é

eterno, logo um dia precisa ser substituído.

Cada geração é marcada por algumas peculiaridades que a tornam singular para aquele

momento e essas características podem perdurar, deixar de existir, ou podem ser esquecidas

por um tempo e reaparecer. Para exemplificar, basta lembrar que nos anos 70 em que a moda

ditava a calça com “boca de sino” como sendo o modelo. No presente momento, no ano de

2012, a moda traz a tendência com as calças com a barra apertada, completamente diferente.

É interessante pensar que no futuro, próximo ou distante, existe a possibilidade da tendência

dos anos 70 voltar, e depois ir embora.

Independente do que acontecerá, destacamos que em cada geração existe algo, podendo

ser novo ou não, que deixa sua marca. Mudanças são naturais, muitas vezes necessárias, e não

existe nada de errado na mudança em si. Mas muitas vezes estas causam choques, e estes

quebram uma rotina; tiram as pessoas da zona de conforto; confrontam velhos paradigmas

com novas ideias e tendências; desafiam líderes. Os choques são inevitáveis em toda mudança,

principalmente tratando de gerações distintas.

Vejamos um exemplo deste conflito de gerações nos dizeres de Renata Filippi Lindquist,

sócia-diretora da Mariaca21, entrevistada por Gama (2010, p. B23), tratando sobre a nova

geração denominada nesse artigo como “Geração Y”. Renata disse: “As empresas já

perceberam que têm de estar mais próximas desses jovens, que precisam fazer mais

avaliações de troca de expectativas, trazê-los para mais perto da estratégia.”

Somente o fato desse comentário de Renata iniciar com o verbo “perceber” significa

que no passado ou na geração anterior, não se atinava para isso. Tendo assim uma realidade

diferente, logo precisou uma mudança no agir da geração anterior para conseguir entender a

geração atual resultando em um melhor convívio e progresso dentro da empresa.

Gama apresenta uma mudança na hierarquia, do tradicional na vertical, algo como de

submissão, de cima para baixo, mandar e obedecer, para novos modelos na horizontal, uma

tendência de um relacionamento mais aberto e franco entre chefes e subordinados, troca de

experiências e valores. Nas palavras de Renata, na mesma entrevista já mencionada: “Não se

tem mais a hierarquia de maneira tão marcada como antes. Isso já começou a aparecer na

arquitetura dos escritórios.”

21

(23)

Um exemplo citado neste artigo dessa nova tendência é a Tectoy Digital22 que no seu

espaço físico possui poucas paredes de separação entre os escritórios; todos entram e saem

pela mesma porta e bebem água no mesmo bebedouro, trazendo evidências dessa nova

maneira de dinamizar o relacionamento e mostrar uma certa igualdade entre chefes e

subordinados.

Cristiano Stefenoni23 mostra como evitar o conflito geracional dentro da realidade de

trabalho. Ele contextualiza seu artigo nas gerações que dividem as atividades empresariais.

Três gerações convivem juntas, de um lado os nascidos a partir de 1978, possuem entre 20 e

30 anos, são chamados de Geração Y, pois nasceram no mundo da tecnologia e na maioria das

vezes foram criados com mães que trabalham fora, são reconhecidos por serem talentosos. Do

outro lado, os profissionais mais experientes são chamados de Geração X (1964-1977) e

baby-boomer (1946-1964). Neste entre mundos de gerações, como evitar os conflitos entre os

jovens e os mais experientes?

Ele apresenta uma situação que vivenciou dentro do jornal em que trabalha. A redação

do jornal passou por uma reformulação geral, a partir daquele momento o material do jornal

impresso, do rádio e da internet seriam produzidos todos juntos, compartilhando o conteúdo

entre si. Os jovens lideram com essa situação de maneira muito natural, mas os mais velhos

tiveram dificuldade com o momento. A diferença básica que Stefenoni diz é que a Geração Y

lida muito fácil com a mudança, já os mais experientes são mais tradicionais e cautelosos com

a mudança.

Nessa dinâmica empresarial, para se evitar o conflito geracional Stefenoni enumera

cinco dicas para as duas gerações, são elas:

1. Para a geração Y: Respeite seu chefe. Ele pode não saber tanto de tecnologia quanto

você, mas sabe exatamente como demiti-lo se for preciso; para a geração X: Tenha paciência

com os mais novos na empresa. Quando você começou, alguém também teve que ensiná-lo,

lembra?

2. Para a geração Y: Procure respeitar também os funcionários mais antigos da empresa,

demonstrando interesse, afinal, se você quiser ser um gestor algum dia, precisará do trabalho

deles; para a geração X: A melhor forma de perder o medo de ser substituído é estar sempre

22

Um braço da empresa Tectoy, fundada em 1987, por Daniel Efraim Dazcal, com objetivo de desenvolver e produzir brinquedos de alta tecnologia. A Tectoy Digital é responsável pela produção de games (jogos eletrônicos) da Tectoy. Para mais informações veja <www.tectoy.com.br> e <www.tectoydigital.com>

23

(24)

atualizado. Portanto, faça cursos de qualificação. Não é vergonhoso reconhecer que precisa

aprender algo novo. Aliás, essa atitude demonstra humildade e respeito com seu trabalho;

3. Para a geração Y: Use suas habilidades tecnológicas para ajudar a empresa e não para

se promover; para a geração X: Ensinar também é uma ótima forma de aprender. Portanto,

ensine;

4. Para a geração Y: Não seja autossuficiente. Peça orientação, pergunte, procure

aprender, seja humilde e participativo; para a geração X: Não se esqueça de que o jovem de

hoje pode ser seu chefe de amanhã. Por isso, nada de exclusão. Trate-o bem;

5. Para a geração Y: Não se esqueça de que ninguém é promovido se não tiver

experiência. Por isso, se a ideia é ter uma carreira de sucesso, amadureça primeiro antes de

querer trocar de empresa ou de cargo. Para a geração X: As mudanças são necessárias e

inevitáveis, você gostando ou não. Esteja preparado para elas.

Essas dicas apresentadas por Stefenoni, que é por profissão jornalista e consultor de

carreiras, são significativas na maneira que mostra os possíveis conflitos pelas características

das gerações. Ou seja, analisando essas dicas podemos saber as diferenças das gerações e, por

conseguinte os conflitos mais frequentes.

Destas questões apresentadas neste artigo quero destacar a facilidade de mudança que a

chamada Geração Y possui. Zygmunt Bauman24fala dessa tendência da sociedade moderna ao

denominá-la como líquida. A ideia de Bauman25 se torna interessante por mostrar que a

fluidez das pessoas modernas não impedem de ter formas, mas de permanecer nas formas. Ele

diz “a modernidade é a impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em

movimento. Não se resolve necessariamente estar em movimento – como não se resolve ser

moderno.”26 A mudança não é um empecilho para as pessoas na sociedade moderna, elas

acontecem naturalmente. Diante das mudanças, de acordo com o movimento as pessoas se

moldam e se adaptam de acordo com a necessidade.

Por isso, conseguimos entender essa diferença que Stefenoni apresentou em seu

ambiente de trabalho. Os mais tradicionais tiveram dificuldades e alguns deles tiveram que

mudar de emprego. Em contrapartida, como mencionado, os mais novos se adequaram as

novas exigências sem grandes dificuldades.

24

ZYGMUNT, Bauman. Modernidad líquida. Tradução: Mirta Rosenberg. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2004.

25

Cf. Ibid., 13.

(25)

Mudando o foco do trabalho para a área educacional, a revista “Atividades e

Experiências”27, revista produzida pela Editora Positivo, tem tratado frequentemente sobre a

nova dinâmica no relacionamento e aprendizado das novas gerações. Somente nos mês de

Setembro de 2011, dedicou dois artigos para falar das características da nova geração e os

conflitos que podem surgir por conta dessas diferenças.

O primeiro artigo escrito por Fernanda Zattar28trata sobre o relacionamento entre pais e

filhos, principalmente na fase da adolescência. Sua afirmação é que em “Diferenças de

geração, gênero, cultura ou visão de mundo podem acarretar ruídos de comunicação e

conflitos.”, mas mesmo dentro de crises e conflitos é possível com diálogo e boa vontade

manter um bom relacionamento familiar.

Para que haja esse bom relacionamento, Zattar mostra que embora as famílias de hoje

sejam menos rígidas com os filhos, aparentemente um ponto negativo, quando comparado

com a educação anterior, o relacionamento é mais aberto e democrático, trazendo “poder” de

voz para toda a família e fortalecendo assim os laços familiares.

Zattar cita Betina von Staa29, colunista do site da Positivo e pesquisadora em

Tecnologia Educacional, que defende a ideia de que o mundo moderno com as invenções

tecnológicas têm aproximado mais os jovens dos seus pais ao invés de afastá-los. Embora seja

uma fase na qual os jovens descobrem tudo o que podem criticar sobre os pais, e isso pode

causar afastamento, os estudos têm mostrado que nunca na história houve um período em que

os pais estivessem tão próximos dos filhos.

Um dos motivos para que o relacionamento esteja se estreitando e perdurando é que os

filhos estão retardando a saída de casa, casando mais tarde, demorando em ter sua própria

casa e assumir assim uma vida independente.

27

FORMIGHIERI, Ruben. Revista Atividades e Experiências. São Paulo, nº 16, p. 8, 30, set., 2011, Positivo.

28

ZATTAR, Fernanda. Que Fase! Revista Atividades e Experiências. São Paulo, nº 16, p. 30, 30, set., 2011, Positivo.

29

Para ter acesso a alguns textos na íntegra, consulte:

<http://blog.educacional.com.br/articulistaBetina/o-que-ainda-podemos-ensinar-aos-nativos-digitais/>

(26)

Quero destacar uma citação que Zattar faz de Betina sobre a dinâmica entre as relações,

ela diz que “É importante entender por que o outro pensa de determinada forma e tentar se

fazer entender aceitando as diferenças.”30

Destaco esse pensamento, pois em gerações distintas a possibilidade de conflitos é

grande e ter a visão do outro se torna muito significativo. Significativo pelo conceito que

Todorov31 apresenta sobre ser “civilizado” que está em reconhecer a plenitude da humanidade

do outro. Assim afirmar que um determinado pensamento é o certo e o outro errado, sem ao

menos buscar entender as razões do pensamento adverso, é simplesmente desconsiderar a

visão alheia. Isso é se considerar superior e por consequência desconsiderar a plenitude da

humanidade do outro como ser civilizado. Todorov diz que ser civilizado significa o ato de

“...reconhecer plenamente a humanidade dos outros. Portanto, para atribuir tal qualificativo, é necessário transpor duas etapas: no decorrer da primeira, descobre-se que os outros têm modos de vida diferentes dos nossos; e, durante a segunda etapa, aceita-se que eles aceita-sejam portadores de uma humanidade aceita-semelhante à nossa.”32

O oposto desta atitude é denominado barbárie, atitude esta que Todorov apresenta como

o sentido absoluto de bárbaro. Para ele “os bárbaros são aqueles que, em vez de reconhecerem

os outros como seres humanos semelhantes a eles, acabam por considerá-los como

assimiláveis aos animais, ao consumi-los ou ao julgá-los incapazes de refletir e, portanto, de

negociar (eles preferem a briga)...”33. Sendo assim, a barbárie segundo Todorov34 é o negar a

plena humanidade do outro, negar também as alegrias e aos bens que são objeto de desejo.

Aplicando a essência desse pensamento de Todorov aos conflitos geracionais que

estamos analisando, considerar uma geração detentora da verdade absoluta, deve ser

entendido como barbárie, já que desconsideramos uma outra visão sobre o mesmo assunto.

O que se torna significativo é que Todorov35 ainda afirma que a barbárie é uma

característica natural do ser humano, sendo praticamente impossível extinguir a possibilidade

da barbárie na história humana, levando-nos a pensar que em um conflito de ideologias não é

impossível que um determinado lado queira ter a razão.

30

ZATTAR, Fernanda. Que Fase! Revista Atividades e Experiências. São Paulo, nº 16, p. 30, set., 2011, Positivo.

31

TODOROV, Tzvetan. O medo dos bárbaros: para além do choque das civilizações. Tradução: Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópoles: Vozes, 2010. 32,33 p.

32

Ibid., p. 32,33.

33

Ibid., p. 26,27.

34

Ibid., 31,32.

35

(27)

Por essa característica que o ser humano tende a sobrepujar a visão do outro como

apresentado por Todorov que podemos entender mais claramente a posição de Betina

apresentada por Zattar, ideia que mostra a importância de entender o que o outro pensa,

superando a diferença de pensamento.

O segundo artigo tem por título “Te orienta garoto!”, escrito por Max Haetinger36; ele é

professor, mestre em Educação, especialista em criatividade e em tecnologias aplicadas na

educação e psicopedagogo. Este artigo fala sobre a escolha de profissão e como isso pode

causar conflitos entre as gerações (pais e filhos). Max diz que os conflitos têm surgido por

conta da pressão que os adolescentes estão sofrendo para escolher uma profissão cada vez

mais cedo. Por um lado os filhos não sabem que profissão seguir, por outro os pais vivem a

angústia da indecisão dos filhos. Para completar essa situação as carreiras são transitórias, os

jovens mudam de curso frequentemente nos primeiros anos de faculdade e novas frentes de

trabalho que rompe com as atividades tradicionais tem surgido.

Com esse choque, o conselho de Max para os pais é que eles se atualizem, entrem no

mundo dos jovens para entendê-los e muita conversa. Ele termina o artigo dizendo: “Pais,

professores e comunidade: nessas horas tão difíceis para os jovens e suas famílias, o afeto é a

melhor ferramenta para ajudar nossos filhos a decidirem sua colocação social e para nos

colocarmos no lugar de parceiros e companheiros desses jovens.”37

Mais uma vez podemos ver a necessidade de compreender a visão de mundo da outra

pessoa. Essa necessidade se acentua quando falamos de gerações distintas, pois são mundos

diferentes. A infância, a educação, os costumes, a cultura, a sociedade, a condição

socioeconômica, a tecnologia, tudo isso mudou e tem mudado e por consequências a realidade

de duas pessoas que vivem na mesma casa ou na mesma rua podem ser tão diferentes.

Esses exemplos mencionados mostram como é real o conflito de gerações e a

necessidade de desenvolver o conhecimento das novas gerações que estão surgindo e

despontando. Na atualidade, diversos termos têm sido utilizados na tentativa de explicar a

geração do momento, termos como: Modernidade, Modernidade líquida, Pós-modernidade,

Pós-colonialismo, Geração Y, Geração Z, cada qual mencionando algumas características

socioculturais.

Independente do termo designado na tentativa de definir essa geração, o que não se

pode negar é que essa geração surge com várias características que se chocam com as

36

HAETINGER, Max G. Te orienta garoto! Revista Atividades e Experiências. São Paulo, nº16, p. 8, set., 2001, Positivo.

37

(28)

gerações anteriores, e esses choques passam a ser realidade em todas as esferas da sociedade e

dos relacionamentos.

Mediante isso, em qualquer lugar que nos depararmos com o conflito de gerações, em

menor ou maior grau, de uma maneira ou de outra, vamos nos deparar com ideais divergentes.

Assim sendo, nas empresas, nos relacionamentos familiares, na comunidade religiosa, e em

qualquer outra instituição que tem por base o relacionamento interpessoal essa divergência

acontecerá, de maneira que um mútuo conhecimento de como o outro é e pensa se torna

imprescindível.

Uma vez tendo visto que o conflito geracional acontece em lugares distintos da

sociedade como empresas, escolas, famílias, passarei a analisar o objeto de estudo, a IASD,

pois os mesmos conflitos podem ser presenciados.

1.2.2 Os pensamentos dos líderes da IASD

Minha leitura da IASD é que assim como outras instituições, ela tem passado por

conflitos referentes à diferença de pensamentos entre as gerações. São diferenças que se

notam no convívio com pessoas de diversas idades. Analisar essas questões gera um pouco de

dificuldade, pois estamos levantando preocupações a partir de pressupostos pessoais.

Embora parto de pressupostos pessoais, a manifestação desse conflito é visível e

podemos vê-lo ocorrendo em discussões entre representantes de distintas gerações sobre

ideias controversas, assim como a produção literária por parte de alguns líderes receosos com

alguns comportamentos da geração atual.

Os escritos que partem do líderes não abordam esse assunto de forma direta; ou seja,

dificilmente vamos encontrar um texto dizendo: “Os jovens estão fazendo...” ou “Eles não

podem fazer...”. Mas podemos ver a preocupação dos líderes pela maneira como eles falam e

a quantidade de material que tem sido produzido levantando alertas e considerando questões

que focam a juventude de forma geral.

Passarei a analisar a leitura que os líderes da Igreja Adventista têm feito sobre a

juventude e a sociedade contemporânea. Lessa38, editor da Revista Adventista, escreveu um

artigo em Dezembro de 2009 tratando sobre as influências da pós-modernidade em seis

38

(29)

aspectos da vida cristã cotidiana: namoro, casamento, entretenimento, conversação, música,

crenças. Em todos os casos analisados, Lessa39 defende que a influência pode ser causada pela

perda de foco por parte das pessoas, isso por conta das novas ideologias propostas pela

pós-modernidade.

Outros líderes possuem essa mesma preocupação que vimos neste artigo citado. Em

entrevista para a Revista Conexão JA40, revista voltada ao público jovem, o Pastor Elias

Brenha é questionado sobre alguns pontos referentes à juventude da Igreja Adventista.

Quando questionado sobre o papel da instituição religiosa defronte a tendência dos jovens

pós-modernos buscarem a espiritualidade, mas não gostarem tanto assim de placas de Igreja,

Brenha então afirma que essa é uma tendência desse momento e ainda diz: “A igreja precisa

encontrar novos caminhos, sem ferir seus princípios. É necessário, com urgência, reavaliar

alguns conceitos e quebrar paradigmas, a fim de conduzir melhor os jovens pós-modernos,

que não têm culpa da cultura que herdaram e que exerce profunda influência sobre eles.”41

Nestes exemplos apresentados fica claro que o conflito entre gerações existe e é notório

a preocupação dos líderes. Chama-nos atenção que a cultura “pós-moderna” está sendo

apresentada como responsável pela divergência de pensamento, se possível for, podemos

concluir que as ideologias pós-modernas seriam a origem dos conflitos entre as gerações. Já

que essa “nova” maneira de pensar e viver tem gerado esses conflitos.

Nesta mesma edição da Revista Conexão JA42a matéria de capa traz por título: “Jesus

Sim, Igreja Sim”, tratando da questão da nova tendência que as pessoas possuem em buscar

espiritualidade, mas não desejam um comprometimento formal com uma igreja. Para Wendel

Lima “o homem do século 21 prefere dizer que é espiritual em vez de religioso; que crê no

sobrenatural em vez de professar alguma confissão ou se vincular a alguma denominação.”43

O fundamento para tal conceito são as ideias pós-modernas que predominam na sociedade.

Lima44 contextualiza a situação contemporânea apresentando as sociedades anteriores.

Na Idade Média a igreja era o centro da sociedade, a modernidade reagiu a essa paradigma e

instituiu a racionalidade e a ciência como os fornecedores de sentido a vida. Ele diz que neste

39

Ibid., p.10.

40

LIMA, Wendel. Autenticidade na Igreja. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 6,7, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira.

41

Ibid., p. 6.

LIMA, Wendel. Jesus Sim, Igreja Sim. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 8-11, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira.

43

Ibid., p. 9.

44

(30)

momento começou a secularização da sociedade, pois a vida religiosa e a fé que eram o centro

da vida foram colocadas de lado e passaram a representar aspectos da vida particular.

A pós-modernidade é a reação a essas duas fases anteriores: à religião institucional da

Idade Média e à racionalidade e ciência da Modernidade. Para Lima “A sociedade

pós-moderna valoriza e se vale do conhecimento científico, especialmente quando esse gera

tecnologia, conforto e progresso; no entanto, não acredita na utopia que vê na ciência a

solução para todos os problemas da humanidade, inclusive os éticos.”45

Concluindo este pensamento Lima46 diz que o mundo pós-moderno nega a ciência como

solução para os problemas porque carrega na história duas guerras mundiais, nas quais a

ciência mostrou que suas descobertas podem se virar contra o ser humano. Quanto a religião

tradicional, “por causa dos pecados históricos da Igreja Cristã e do testemunho de professos

cristãos, os pós-modernos associam a instituição religiosa à intolerância, arrogância,

prepotência e falsidade.”47

Diante desse quadro, Lima48 diz que o homem do século 21 “anseia encontrar sentido

para a vida e acredita que a espiritualidade pode lhe trazer respostas, função que a

racionalidade e a ciência já se mostraram ineficazes em cumprir, porém, pensa que uma igreja

tradicional é o último lugar em que poderá ter seu espírito satisfeito.” Embora essa verdade

seja mais comum nos Estados Unidos da América e na Europa, essa realidade também é

presente no Brasil. Lima49 apresenta o Censo de 2000 o qual mostra que 9,3% dos brasileiros

entre 15 a 24 anos se identificam como “sem-religião”, a maioria desse grupo não são ateus

ou agnósticos, mas pessoas que buscam espiritualidade sem formalizarem um compromisso

com uma entidade religiosa.

Quero pinçar dois últimos comentários que Lima faz em seu artigo, mas não sobre a

sociedade contemporânea e sim sobre a postura da Igreja Adventista diante desse quadro.

Primeiro ponto que destaco é que a “relevância da Igreja Adventista depende da fidelidade a

sua identidade e da ousadia de seus métodos. Traduzindo: conservar doutrinas e modernizar

as abordagens.”50

45

Id.

46

Id.

47

LIMA, Wendel. Jesus Sim, Igreja Sim. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 9, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira. Apud.: Entrevista do pastor Kleber Gonçalves para a Revista Ministério jan-fev 2010, pág. 5-7.

48

LIMA, Wendel. Jesus Sim, Igreja Sim. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 9, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira.

49

Ibid., p. 9,10.

50

(31)

Para Lima a existência da Igreja se justifica em sua fidelidade a sua identidade. O risco

que ele apresenta é que a cultura pós-moderna pressiona os adventistas a se idealizarem como

mais uma religião entre muitas outras, cuja relevância está em cuidar dos pobres e aflitos,

oferecer fuga para a alma, mas deixar de pregar crenças impopulares. Ele diz que os

adventistas não podem se calar quanto à sua mensagem, mas devem pensar em variar a sua

abordagem:

“Quanto aos métodos evangelísticos, formato da adoração, e modelos administrativos, não podemos deixar que o tradicionalismo baseado no gosto pessoal ou no saudosismo de alguns, e não em princípios bíblicos, ‘engesse’ o avanço da igreja. Não é necessário pesquisar muito na Bíblia para perceber que Deus se revelou de diferentes formas em contextos distintos; que usou a linguagem de cada tempo para se fazer entender.”51

Segundo ponto que destaco é a ênfase que Lima52 dá à mudança que a Igreja Adventista

passou nos últimos 150 anos. De uma denominação rural, em 1862, com cerca de 3,5 mil

membros e 125 congregações, para uma igreja com 16,3 milhões de fiéis em 206 países. Com

o crescimento, vieram os desafios. Um dos principais desafios segundo a visão dele é alcançar

a mente urbana. Ao considerar essa questão ele diz:

“Historicamente, os adventistas têm associado a vida nas cidades ao pecado, e há razão para isso; no entanto, desde 2008, mais de metade da população mundial vive nas zonas urbanas. Entender as necessidades dos moradores dessas regiões é facilitar que a mensagem da salvação chegue a mais da metade das pessoas a que fomos chamados a salvar.”

Refletir sobre esses dois pontos considerados por Lima em seu artigo é muito

interessante, pois a impressão que temos é que ele flutua em dois contextos, ou ideologias, ao

mesmo tempo. Por um lado ele considera elementos de atualização, renovação e

contextualização de maneiras interessantes, por outro ele parece voltar no tempo e se fincar

em um paradigma pré-moderno.

Entre diversas características da pós-modernidade53, duas delas nos chamam atenção e

em poucos comentários queremos considerá-las. A primeira é a relatividade e o fim da

meta-narrativas. Esta filosofia tem por finalidade dizer que não existem verdades absolutas para

Ibid., p. 10,11.

52

Ibid., p. 11.

53

(32)

todas as pessoas e todos os tempos, isso acontece porque uma das características marcantes é

a valorização do local ao invés do universal. Ao isso acontecer nos deparamos com conceitos

que se diziam universais, mas não dão conta no âmbito local, logo eles são desconsiderados.

Ao ver Lima abordando a necessidade de modernizar, contextualizar, “tirar o gesso”

quanto à forma, vejo uma demonstração do “local” superando o “universal”. Assim, tratar das

pessoas e das necessidades particulares se torna mais importante que conceitos

pré-estabelecidos. Por contra partida, é notório sua postura bem sólida ao manter a mensagem

(doutrinas) protegida de qualquer alteração.

Um segundo ponto que Lyon54 menciona que está vinculado a contextualização

mencionada é a mudança na comunicação. Ele diz que existe uma mudança do livro impresso

para a tela da TV, a migração da palavra para a imagem, do discurso para a representação.

Essa realidade está cada vez mais intensificada com o avanço tecnológico e a exploração do

consumismo. Esse ponto está ligado diretamente ao que foi dito sobre a necessidade de

alcançar as pessoas onde elas estão focando o uso das tecnologias e da comunicação.

Queiruga fala sobre a dialética modernidade/pós-modernidade, ao tratar da modernidade,

ele apresenta a realidade antes desse período, ou seja, a pré-modernidade. A primeira questão

que ele menciona é a “estreiteza dogmática” que caracterizou o confronto entre a

modernidade e o cristianismo. Comentando a modernidade e tratando da realidade

pré-moderna ele diz:

“A modernidade, ao menos em uma parte muito importante,

caracterizou-se por uma insatisfação direta e global em face da herança cristã [...] Por sua inculturação nos velhos esquemas teóricos que agora eram questionados e, sobretudo, por sua posição de poder e predomínio na sociedade, o cristianismo aparecia como inimigo dos novos avanços e como negador da ilusão de futuro que se abria diante da cultura emergente. Infelizmente, essa impressão ia sendo renovada a cada passo pelos conflitos provocados, de maneira quase fatal, por todo avanço científico, social ou filosófico. Até o ponto de, há algumas décadas, Walter Kasper ter chegado a escrever que ‘Não há uma só descoberta científica importante e moderna que não tenha sido condenada ou olhada com desconfiança em alguma ocasião por esta ou aquela Igreja. ’55”

54

Ibid., p. 17.

(33)

Esta citação de Queiruga elucida bem a realidade do mundo pré-moderno, realidade esta,

centralizada nos dogmas eclesiásticos e nas diretrizes dos líderes religiosos. Fica evidente que

Lima, ao mencionar que historicamente a Igreja Adventista vincula o viver na cidade ao

pecado, carrega esse conceito consciente ou inconscientemente. Afinal de contas, essa era a

postura da Igreja (independente da placa) ao retratar qualquer coisa que colocava em perigo a

superioridade dela. Assim também a Igreja Adventista tendia em considerar a cidade,

questões desvinculadas da igreja, como algo pecaminoso.

O que me chama muita atenção é o fato de Lima tratar tanto das questões

“pós-modernas”, mas manter esse pensamento pré-moderno, pois após dizer a atitude da igreja em

considerar a vida na cidade como “pecaminosa”, afirma que existe razão para isso. Quero

deixar claro que não é intuito deste trabalho julgar a posição do articulista; não estou tratando

de conceitos para julgá-lo; tão pouco estou me posicionando a favor ou contra a ideia

apresentada, mas o intuito é buscar entender as preocupações dos líderes quanto às novas

ideias apresentada pela sociedade contemporânea. Com isso apenas queremos destacar o fato

dele abordar esses novos conceitos, impensáveis na sociedade pré-moderna e depois abordar

um conceito pré-moderno que pode ser insustentável em um pensamento e contexto

pós-moderno.

Este artigo analisado trata diretamente da importância da igreja se contextualizar,

permanecer fiel à sua mensagem e ao mesmo tempo mostra uma preocupação existente entre

a vida na cidade e o pecado. Os próximos artigos que mencionarei não tratam de forma tão

direta essas questões, mas levantam assuntos que tem preocupado os líderes. Sendo assim,

mencionarei essas informações de forma direta com intuito de mostrar essa realidade.

Alguns artigos foram dedicados para falar sobre a TV, internet, mídias e seus perigos,

destes artigos; vejamos algumas preocupações sobre algo tão real para a sociedade e

principalmente a juventude que nasceu com essa ferramenta nas mãos.

Ozeas Moura56, editor da apostila “Intimidade com Deus” destinada à reflexão diária

durante quarenta dias consecutivos, trata sobre “Permanência versus televisão e internet – I”

no sétimo dia dessa “jornada espiritual” como assim é chamada. Em suas considerações ele

fala o quanto a internet e televisão podem prejudicar a vida espiritual de uma pessoa. Alguns

pontos destaco em sua reflexão.

Primeiro ponto: “Satanás induz as pessoas ao pecado através das avenidas da alma.” Ao

tratar de avenidas da alma, está se referindo aos sentidos: o que vemos, ouvimos, sentimos,

56

Referências

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