• Nenhum resultado encontrado

Durante a revolução de 1848 – 1849, amadureceu, em Zadar e outras cidades da Dalmácia, a ideia de fundar uma instituição cultural responsável por todo seu litoral, nos mesmos moldes já existentes na Croácia, Vojvodina, Eslovênia, região tcheca e outros domínios da monarquia habsburga. O primeiro organizador desta iniciativa foi Božidar Petranović, quem se remeteu ao jornal de Praga: ‘Lipi Slovanskoj’, solicitando doações em dinheiro para fundar “uma sociedade literária” 125

Tal pedido foi calorosamente acolhido pela opinião pública tcheca. Um dos mais influentes jornais de Praga, ‘Narodni Noviny’, portou um artigo irradiante que dizia :

“Irmãs e irmãos tchecos! Vocês sabem como o estilo de vida do nosso povo ganhou ânimo com a nossa Matica Tcheca (matriz cultural tcheca) naquele lastimável período quando não tínhamos com quem contar para o povo despertar. Ajudem a massa de dalmatinos esquecidos na miséria com qualquer doação para a edificação de sua Matica Dálmata.” 126

Em 1967, a instituição cultural Matica Croata formou a Associação Literária Croata e outras 16 instituições culturais no intuito de individualizar a língua croata, desvinculada de qualquer associação com o idioma sérvio.

Há apenas três línguas oficiais na Comissão Europeia que reúne as ações governamentais da UE: Inglês, francês e alemão. Nem mesmo destacadas línguas como a espanhola e a italiana conseguem a mesma expressividade. Assim, não existe igualdade de direitos quanto ao uso de línguas dos países-membros da UE.

125

Lipa Slovanska, nº16, 1848. Isti poziv je preveden na srpskohrvatskom jeziku i objavljen 1848 u

zadarskom časopisu Zora dalmatinska br. 51 [O mesmo pedido de arrecadação foi traduzido ao sérvio-croata e publicado, também em 1848, no jornal de Zadar- A Aurora Dalmatina], nº 51. In MILUTINOVIC,

Kosta.Strosmajer e a questão iugoslava. Novi Sad – República Sérvia : Instituto de pesquisa da história da

Voivodina, 1976, p.131

126

ILEŠIĆ, F. O početkih Matice Dalmatinske 1848–49. Zagreb: Hrvatsko kolo, 1909, p.133-135 [ Sobre o

Em abril de 2008, a Alemanha solicitou ao Parlamento Europeu que todos os documentos e páginas da internet sejam editados em alemão; que os cidadãos europeus se reportem em alemão nas instituições da UE. Ainda que a Comissão Europeia gaste, por ano, 1,1 bilhões de euros, e empregue aproximadamente 2500 tradutores, muitos documentos em inglês não são traduzidos. 127

Um dos diretores da Comissão Europeia, responsável pelas traduções, Juhani Lönnroth, explicou que 27 países-membros com suas 23 línguas combinam 506 possíveis traduções, como é o caso do maltês para o húngaro, ou do esloveno para o espanhol, por exemplo. 128

O Tribunal de Direito Europeu, com sede em Luxemburgo, faz uso apenas do francês. Juízes, advogados, funcionários ...todos devem conhecer o francês ou contratar tradutores para se reportarem em juízo.

O Tribunal de Haia que julga os crimes de guerra não atendeu ao réu sérvio acusado por crimes de guerra, Vojislav Šešelj, quando este requereu o direito à tradução do processo para a língua sérvia e escrita em alfabeto cirílico. A funcionária – técnica em línguas - do Tribunal, Hildegard Uertz Retzlaff, responsável por tal decisão argumentou que o sérvio-croata não deve ser dividido em duas ou mais línguas (sérvia, croata, e outras), uma vez que não há diferenças

estruturais que impossibilite a comunicação entre esses eslavos do sul. 129 O governo croata não esboçou nenhuma reprovação quanto a essa desavença no

trato da língua. 127 Euobserver, 25/02/2008 128 Ibidem 129

HITREC, Hrvoj. A língua croata e a União Europeia, Revista Jezik [ Língua ], 16/01/2009, acessível no portal Conselho Cultural Croata, www.hakave.org.

Com a perspectiva de ingresso da Sérvia e Bosnia-Herzegovina para a UE, é previsível que a União Europeia pressione a Croácia a aceitar que sua língua seja tratada como sendo a mesma compartilhada pela Sérvia, Montenegro e Bosnia-Herzegovina. Para a maioria das universidades europeias, sobretudo na França, Holanda, Alemanha e Reino Unido, o croata não é tratado como idioma independente. Em suas cátedras de eslavística, leciona-se a língua denominada conjuntamente: sérvio-croata. Bem diferente disso é a postura acadêmica adotada pelas universidades da Rússia, Ucrânia, Polônia e outros países do Leste Europeu, onde as escolas ensinam o croata e o sérvio separadamente.

Ao ouvir o discurso da ministra da justiça croata, Ana Lovrin, no parlamento europeu, em 2007, o representante da Eslovênia, Jelko Kacin, solicitou formular uma pergunta em croata, simbolizando boas vindas a uma república cuja língua, conforme pronunciou, “também fará parte da EU”. Imediatamente, porém, foi interrompido pelo seu colega britânico, Charles Tannock :

“O senhor, talvez, não intencione sobrecarregar nossos gastos com tradução em bósnio, montenegrino, croata e sérvio ? Os países dos Bálcãs Ocidentais precisam adotar uma norma linguística de comum acordo, acessível a todos: o sérvio-croata.” 130

A pressão para unificar um código linguístico sérvio-croata se dá, não apenas pelo aumento de gastos com tradução, mas também para servir à candidatura da Sérvia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina na UE. Para o Partido Somente Croácia, os sérvios aprovaram tal medida, uma vez que será uma barreira superada para voltar a expandir o maior contingente de sua população quando adentrar à UE, ressuscitando a hegemonia sérvia nos Bálcãs Ocidentais.

130

Segundo Benedict Anderson,

“foi apenas nos anos 1840 que a nobreza magiar – cerca de 136000 pessoas monopolistas da terra e dos direitos políticos num país com 11 milhões de habitantes – passou a se empenhar seriamente na magiarização, e isso só para impedir a sua própria marginalização histórica. O autor acrescenta que a difusão do magiar impresso e o crescimento de uma intelectualidade liberal estimularam um nacionalismo húngaro liderado por Lajos Kossuth, na Revolução de 1848, rejeitando a subserviência dos húngaros em relação ao palácio de Viena.” 131

A unificação da língua é uma das formas de homogeneização cultural. O Estado tende a estabelecer um território demarcado e busca criar em seu interior uma hegemoneização cultural que sedimente o sentimento de comunidade e pertencimento. Assim, a unificação da língua é uma das formas de homogeneização cultural.

Para Haffestin,

“toda homogeneização nesse nível permite a concentração e a centralização e, por consequência, reforça as possibilidades de controle e de dominação. Toda tentativa de eliminação das diferenças está repleta de um poder opressor que procura realizar, no espaço e no tempo, um campo de ação para se manifestar.” 132

131

ANDERSON, Benedict R. Comunidades imaginadas, p.153.

132