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2. TÓPICO COMENTÁRIO VERSUS SUJEITO-PREDICADO

2.1 O FENÔMENO TÓPICO-COMENTÁRIO

2.1.2 Línguas de proeminência de tópico

Segundo Li & Thompson, é possível agrupar as línguas em quatro tipos, conforme nelas predominem relações de tópico-comentário ou relações de sujeito- predicado. De acordo com essa teoria, as línguas podem ser: a) com proeminência de sujeito; b) com proeminência de tópico; c) com proeminência de tópico e sujeito; e d) sem proeminência de tópico ou de sujeito, já que as duas construções se mesclam, não sendo possível distinguir os dois tipos. Atualmente, uma das questões mais importantes relativas ao estudo das construções de tópico é definir a qual dos quatro grupos citados pertence o português. Para isso, é interessante observar as características que Li & Thompson levantam e indicam como típicas das línguas de proeminência de tópico.

a) A primeira característica destacada é o fato de construções na voz passiva serem marginais, não existindo ou sendo raras. Pontes indicou em sua pesquisa que em toda coleta de dados, não houve sequer uma ocorrência de passiva. Moino (1989) fez um estudo sobre construções passivas no português falado e escrito, e seus resultados indicaram que as construções ativas prevalecem sobre as construções passivas. Tais dados podem indicar que o português apresente uma tendência à marginalidade da passiva, aproximando-se, destarte, das línguas com proeminência de tópico.

b) Nas línguas em que há proeminência de tópico, existe o que Li & Thompson chamam de codificação superficial, isto é, um morfema específico para marcar o tópico. Pontes, em seu trabalho sobre o tópico no português do Brasil, indica sua desconfiança sobre a possibilidade de que o pronome-cópia possa ser interpretado como uma marca morfológica indicadora da presença de tópico.

Apesar de afirmar sua suspeita, os dados da autora não confirmam tal hipótese. Assim, ela sugere que se aprofundem os estudos sobre o pronome-cópia.

c) Nas línguas de tópico, é possível existir o chamado sujeito postiço ou vazio. É o caso do it, il e es em inglês, francês e alemão, respectivamente. Em sentenças como It’s raining (em inglês) ou Es regnet (em alemão), traduzidas em português como Está chovendo ou Chove, mesmo que o verbo, semanticamente, não solicite, o sujeito vem marcado lexicalmente por esses pronomes. Em português, isto não acontece. As sentenças Está chovendo ou Chove são classificadas como orações sem sujeito. Através da análise sintagmática das sentenças, temos como representação do SN – sujeito, e não pro ou N: [S SN () + SV (aux + V)] ou [S SN () + SV (V)] .

d) Outra característica marcante das línguas de tópico é a grande freqüência das construções de duplo sujeito. Segundo Li & Thompson, são os casos mais claros de estrutura tópico-comentário.

Primeiro , tanto o tópico como o sujeito ocorrem e podem assim ser distinguidos facilmente. Segundo, o tópico não tem relação selecional com o verbo. Terceiro, nenhum argumento pode ser dado de que estas Ss poderiam ser derivadas, por nenhuma espécie de regra de “movimento”, de algum outro tipo de S. Quarto, todas as línguas Tp têm Ss deste tipo, enquanto que nenhuma outra língua Sp pura tem, que nós saibamos. (Li & Thompson apud Pontes: 1987, p. 22)16

e) Em línguas com proeminência de tópico, é este que controla a co-referência. Pontes afirma que em seus dados todas as co-referências foram controladas pelo tópico. Porém, sugere que o assunto seja estudado mais profundamente, “porque há casos de co-referência também com outros elementos que não o tópico” (Pontes, ibid, p. 23).

f) Nas línguas Tp, o verbo tende a vir no final. Esta é uma característica de línguas com proeminência de tópico que o português não apresenta. Com a perda dos casos do latim, as funções sintáticas passaram a ser marcadas também pela ordem, já que, em português, nominativo e acusativo não seriam mais distintos morfologicamente. Além da posição dos constituintes na sentença, outro aspecto

16 De acordo com as definições de Li & Thompson, línguas Tp são línguas com proeminência de tópico, enquanto que línguas Sp são línguas com proeminência de sujeito.

que indicaria a função sintática de sujeito seria a concordância com o verbo. Objetos não concordam com o verbo, mas sujeitos, sim. Porém, a concordância com o verbo não é mais um aspecto seguro para identificação do sujeito uma vez que pode ser suprimida. O problema se agrava pelo fato de a morfologia verbal estar se enfraquecendo. Assim, pela falta de uma marca morfológica que diferencie sujeito de objeto, pelo enfraquecimento da morfologia verbal e pela ausência de concordância verbal em determinados contextos sociolingüísticos, a posição final do verbo, em português fica restrita a casos em que o verbo é intransitivo, como em Ele chegou ou Você chegou.

g) Nas línguas com proeminência de sujeito, há muitas restrições impostas ao constituinte na função de tópico. Já nas línguas com proeminência de tópico, não há restrições a respeito do que pode ser tópico. Pontes mostra em seu trabalho que quase todos os termos da oração podem ser tópico em português. Desta forma, pode-se dizer que esta é mais uma característica das línguas Tp que o português apresenta.

h) “Para L & T, nas línguas Tp as Ss de tópico não devem ser consideradas transformações de outros tipos mais básicos de Ss, mas elas mesmas são básicas.” (idem) Assim, eles indicam que mais uma das características das línguas Tp é que as sentenças com CTs são básicas. O primeiro argumento para defender tal posicionamento se baseia no fato de construções como as de duplo sujeito não poderem ser derivadas de outras. Outro argumento que indica o caráter básico das Ss com CTs é que elas não são restritas em sua distribuição, podendo ser encaixadas, declarativas, interrogativas, exclamativas, afirmativas ou negativas. Pode-se inferir, portanto, que as sentenças de tópico, nas línguas Tp, são consideradas construções não marcadas.