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2 O COMPONENTE FARMACEUTICO BRASILEIRO NO COMPLEXO

2.4 LABORATÓRIOS OFICIAIS PRODUTORES DE MEDICAMENTOS

Fazendo parte do Complexo Industrial da Saúde, no contexto da produção de medicamentos, temos uma participação histórica e expressiva dos chamados Laboratórios Farmacêuticos Oficiais de produção de medicamentos. Estas entidades jurídicas estão vinculadas aos Governos federal, estaduais, diretamente ou por meio de fundações ou autarquias e possuem capacidades/porte diferentes, características técnicas e administrativas diferentes.

Como objetivos principais para o funcionamento desses Laboratórios estão a produção de medicamentos, em especial para a Relação Nacional de Medicamentos (RENAME); a garantia de suporte de produção em caso de grave necessidade de saúde pública; a implementação de desenvolvimento tecnológico; o desenvolvimento de recursos humanos; a pesquisa e desenvolvimento de fármacos para as doenças negligenciadas; o suporte a regulação de preços do mercado; e a participação em políticas públicas de interesse no país (105 p. 252, 106).

Os laboratórios, em sua maioria, discutem interesses comuns, relações de trabalho, planejamentos em conjunto e, muitas vezes, relações de contratos como o Ministério da Saúde, por meio da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (ALFOB), fundada em 1984, que tem sede em Brasília (107).

Temos, dentre os 22 produtores oficiais, como exemplos, o Laboratório Químico-Farmacêutico do Exército – LQFEX/RJ, fundado em 1808; a Fundação Ezequiel Dias – FUNED/MG, fundada em 1907; o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco – LAFEPE/PE, fundado em 1966; a Fundação para o Remédio Popular – FURP/SP, de 1968; unidade de Farmanguinhos/RJ e a Fundação Baiana de Pesquisa Científica e Desenvolvimento Tecnológico, Fornecimento e Distribuição de Medicamentos – BAHIAFARMA, ambas de 1983. Um quadro com a relação dos produtores oficiais de medicamentos em atividade, com a devida vinculação administrativa, pode ser visto no APENDICE A.

Encontram-se ainda em implantação outras unidades como o Laboratório da Fundação Universidade do Amazonas (FUAM); Laboratório Farmacêutico de Sobral (LAFAS), Laboratório da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFSFARMA), Laboratório de Análises Clínicas e Bromatologia da Universidade do

Ceará (LACT), Laboratório Farmacêutico de Tocantins (FARMATINS), Laboratório Municipal de Manipulação e Fitoterapia – Itatiaia/Rio de Janeiro, Laboratório Industrial Farmacêutico (UFE) da Universidade de Alfenas (106, 108).

Em 2003, os Laboratórios responderam por 84% das necessidades do Ministério da Saúde, com um quantitativo de 19% de gastos deste Ministério com compras de medicamentos. Os laboratórios privados contribuíram com 15% dos medicamentos adquiridos, mas que corresponde a 81% dos recursos desse Ministério para os programas de medicamentos. O custo médio dos medicamentos fornecidos pelos Laboratórios oficiais é 23 vezes menor, em média, daqueles adquiridos de laboratórios privados. Programas de medicamentos como de tuberculose, hanseníase, são quase que exclusivamente mantidos pelos Laboratórios oficiais, dentre outros de projeção, como para hipertensão, AIDS, que tem nesses Laboratórios suporte significativo no fornecimento de medicamentos. Especificamente no caso da AIDS, o Ministério da Saúde recebe desses Laboratórios oito medicamentos do total de dezessete medicamentos do programa (105 p. 256).

Deve ser citado que, em 2005, quando da divulgação de que o Ministério da Saúde tinha capacidade de produzir os antirretrovirais efavirenz, nelfinavir e lopinavir, os produtores privados desses medicamentos reduziram seus preços em 59%, 40% e 46%, respectivamente (105).

Em 2005, estes Laboratórios empregavam perto de cinco mil pessoas, com uma capacidade estimada de produção de 12,7 bilhões de unidades farmacêuticas, podendo abranger todas as formas farmacêuticas, com a produção de 245 medicamentos. A maioria cita o Ministério da Saúde (57%) como principal cliente, além das Secretarias de Estado (29%) e Municipais (14%) de Saúde. Esta produção atendeu em 2006 perto de 40% do quantitativo de medicamentos do SUS (30 p. 253). Os laboratórios de maior capacidade produtiva eram, em 2011, Farmanguinhos, FURP, FUNED e LAFEPE (105). Alguns laboratórios não se encontram ativos para a produção, em especial aqueles ligados a universidades (109).

O já comentado Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva Farmacêutica, que teve início em 2003, quando tratou do Setor Público de Produção

de Medicamentos, constou em relatório final que o Ministério da Saúde utilizava 10% do total dos recursos financeiros para compras de medicamentos em aquisições nesses Laboratórios Oficiais para um atendimento de 75% da demanda do SUS. Mesmo com essa dinâmica de atendimento ao MS, esses laboratórios ainda contavam com uma capacidade ociosa de 25%, com deficiências em áreas administrativas e orçamentárias, com descontinuidade de gestão, com restrições de contratação/admissão de pessoal, bem como para a instituição de programas de remuneração e de qualificação (97).

A Portaria do Ministério da Saúde nº 2.438, 7 de dezembro de 2005, criou a Rede Brasileira de Produção Pública de Medicamentos (RBPPM) da qual fazem parte os Laboratórios de produção de medicamentos que atendem ao SUS e que estão administrativamente ligados ao Poder Público. Entre os objetivos desta Rede estão a reorganização do sistema público de produção de medicamentos com a aproximação das necessidades e prioridades do SUS; a manutenção de ações destinadas ao suprimento regular e adequado de matérias primas e insumos necessários à produção oficial de medicamentos; a consequente garantia de fornecimento aos programas oficiais de medicamentos; e o desenvolvimento de estratégias para o “aprimoramento e otimização da gestão” (108,109).

Embora tenha uma importância significativa no fornecimento de medicamentos para os programas de Governo, tanto historicamente como atualmente, os Laboratórios sempre necessitam de investimentos governamentais, em especial do MS, para sua adequação a novos projetos e para cumprimento das normas regulatórias provenientes da ANVISA. Da mesma forma para a aquisição de equipamentos e sistemas que se adequam as necessidades de produção de novos medicamentos e novas formas farmacêuticas (105 p. 259).

Chama à atenção que, para o cumprimento das orientações administrativas e dos órgãos de fiscalização financeira, como os Tribunais de Contas, os Laboratórios devem cumprir a Lei de Licitações brasileira, tanto no aspecto de forma de compra, utilização da modalidade de pregão por exemplo, quanto na compra pelo menor preço, o que em parte das vezes não correspondem aos produtos adequados em quesitos técnicos. Deve ser considerado ainda que os insumos farmacêuticos para a produção dos medicamentos, especialmente os IFA, são importados (105 p. 263, 106, 108).

Ainda deve ser comentada a formação de mão-de-obra especializada por parte desses laboratórios para áreas como de produção de medicamentos, controle de qualidade, pesquisa e desenvolvimento, e que parte é absorvida pela indústria privada nacional e estrangeira.

Oliveira, Martins e Quental, em trabalho de 2008, entre outros, numa avalição em quatro laboratórios, apontam que atualizações necessitam ser realizadas nas capacidades rotineiras dos processos de fabricação (capacidade organizacional), bem como a existência de limitações relativas ao espaço físico para ampliação e execução de novos projetos. A capacidade inovadora ainda é deficiente o que contrapõe com uma excelência produtiva (110).

Outro ponto de realce no citado trabalho aponta para a também necessidade de investimentos em gestão do conhecimento e em geração de novos produtos, o que pode tornar a atual capacitação técnica obsoleta. O investimento institucional e o “direcionamento” de atividades para os Laboratórios, por parte das administrações superiores ou vinculações administrativa e política, devem ser ponto de destaque e de avaliação. Porém, junto da capacidade produtiva e do desempenho que variam nos Laboratórios analisados, deve ser considerada a existência de uma possível “complementaridade” entre os Laboratórios, o que facilita as possibilidades de atividades em parcerias para a melhor capacitação, dentre outras atividades (109, 110).

Vale a pena resgatar a já citada CPI dos Medicamentos/Câmara dos Deputados/2000 onde já apontava:

A evolução histórica da produção pública de medicamentos foi marcada pela descontinuidade das diretrizes políticas e gerenciais e pela freqüente insuficiência de recursos de custeio e investimentos. A situação dos laboratórios oficiais se agravou profundamente nos últimos anos, em conseqüência de uma política orientada exclusivamente para as leis de mercado, que desconsiderou a especificidade e a relevância dos medicamentos para a população. A visão dominante no campo da produção farmacêutica divorciou-se profunda e gravemente da ótica sanitária.

O papel estratégico dos laboratórios públicos está por demais identificado e reconhecido. Os problemas que enfrentam estão suficientemente diagnosticados. Portanto, o que se coloca como indispensável é a promoção das mudanças políticas e operacionais indispensáveis e a identificação das melhores estratégias, para que se consolide, e não sofra solução de continuidade, o processo produtivo público de medicamentos essenciais. (94)

3 POLITICA DE ASSISTENCIA FARMACÊUTICA