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5.8 TEORIA DOS LEILÕES

5.8.1 Lances realizados nos leilões

Leilão oral ascendente possui virtudes, primeiro porque aloca os bens aos jogadores que mais lhes valorizam, uma vez que o jogador que atribuir maior valor ao bem a ser leiloado tem a oportunidade de dar novos lances e cobrir a oferta dos concorrentes. Além disso, se existem complementaridades entre os objetos à venda, em leilão ascendente de vários objetos é mais provável que os jogadores irão ganhar pacotes eficientes do que em leilão puro de lance selado, no qual não se pode apreender nada das intenções de seus adversários (KLEMPERER, p.178-179). (REGO, 2012).

Por outro lado, os leilões orais ascendentes são vulneráveis à colusão e comportamentos predatórios. Por isso que grande parte do debate acadêmico em teoria de leilões tem sido sobre a forma de tornar o leilão ascendente mais robusto. De acordo com Klemperer (2002, p.174), muitas vezes o leilão oral ascendente efetivamente bloqueia a entrada de jogadores “mais fracos”, incentivando os jogadores “mais fortes” a darem lances conjuntamente ou a comportarem-se de forma colusiva por saberem que ninguém mais poderá entrar no leilão para retirar os ganhos colusivos que eles criaram.Outra questão que pode deprimir lances em alguns leilões orais ascendentes é a maldição do ganhador. Este problema se aplica quando concorrentes têm o mesmo, ou perto do mesmo, valor para o produto, mas eles têm informações diferentes sobre o valor real ou valor comum(KLEMPERER, 2002, p.173).

Por fim, Klemperer (2002, p.179) defende que esse formato irá sempre permitir os riscos de conluio ou de poucos licitantes. Dessa forma, a alternativa seria escolher um tipo diferente de leilão. (REGO, 2012, p.10-11).

Na Tabela 4, é possível verificar aspectos positivos e negativos referentes ao leilão oral ascendente.

Tabela 4 - Aspectos do Leilão oral ascendente

Leilão oral ascendente

Aspecto Positivo Aspectos Negativos

- o jogador sempre terá a oportunidade de dar um lance maior que o seu concorrente; -o mesmo aspecto positivo poderá ser interpretado como algo negativo para um jogador de menor poder econômico.

-situações que poderão ser vulneráveis à colusão e comportamentos predatórios que acaba bloqueando a entrada de jogadores de menor poder econômico.

-maldição do ganhador.

Fonte: Adaptado de REGO, 2012.

5.8.1.2 Leilão selado

Os leilões de lance selado convencionais ou também chamado de leilão de lance selado de primeiro preço são aqueles em que cada jogador faz, simultaneamente, uma única oferta. Como resultado, as empresas não estariam em condições de retaliar concorrentes que

não cooperassem com elas, ou seja, seria muito mais difícil ocorrer um conluio do que no leilão ascendente. (KLEMPERER, 2002, p.179). Portanto, em leilões de lances selados, jogadores fracos têm pelo menos alguma chance de vitória, enquanto que, em leilões ascendentes, eles seguramente perderão (VICKREY, 1961). Assim, os jogadores potenciais estariam, provavelmente, mais dispostos a entrar em um leilão de lance selado do que em um leilão de preço ascendente. (KLEMPERER, 2002, p.180). (REGO, 2012).

Alguns casos reais reforçam esse entendimento, os trabalhos de Mead e Schneipp (1989) assim como os de Rothkopf e Engelbrecht-Wiggans (1993) citam como exemplo o comércio de vendas de madeira, os quais, quando realizados por leilões de lance selado, atraem mais candidatos do que leilões de preço ascendente. Como resultado, o que se depreende nessa indústria é de que os leilões de lance selado são, consideravelmente, mais rentáveis para o vendedor.

Com o mesmo entender, Hansen (1986) afirma que, mesmo condicionado ao número de jogadores, os leilões de lance selado parecem mais rentáveis do que os leilões de preço ascendente.

Outra vantagem desse tipo de lance é a menor probabilidade de ocorrência da maldição do ganhador em leilões de valor comum (KLEMPERER, 2002, p.180), um problema de leilões orais ascendentes.

Uma variação dessa forma de lance é o leilão selado de segundo preço, cujo vencedor paga o lance do segundo colocado. Esta metodologia pode ser embaraçosa para o leiloeiro, se a oferta do vencedor for muito maior do que a do segundo colocado, mesmo se o mecanismo do leilão seja conceitualmente tão eficiente quanto maximizador das receitas esperadas (KLEMPERER, 2002, p.175). Por exemplo, imagine a pressão adicional que o governo do Estado de São Paulo teria sofrido caso tivesse adotado essa regra de segundo preço no leilão do Banco Banespa, em 20 de novembro de 2000, no qual a melhor oferta – Banco Santander Central Hispano – fora de R$ 7,05 bilhões e a segunda melhor foi de R$ 2,1 bilhões – Banco Unibanco (PORTAL TERRA, 2000), embora não se possa deixar de fazer a ressalva de que os lances poderiam ter sido diferentes caso a regra do segundo preço tivesse sido adotada.

Embora leilões de lance selado tenham muitas vantagens, também apresentam falhas. A principal delas é a de permitir alguma chance de vitória a jogadores fracos, sendo, assim, menos provável que os leilões de lance selado alcancem resultados eficientes em comparação com os leilões orais ascendentes. Por fim, ainda poderiam ser mais vulneráveis à mudança de regra do leiloeiro do que em leilões orais (KLEMPERER, 2002, p.176-177 e p.180). (REGO, 2012, p.26-27).

Na Tabela 5, é possível verificar aspectos positivos e negativos referente ao leilão selado.

Tabela 5 - Aspectos do leilão selado

Leilão Selado

Aspectos Positivos Aspectos Negativos

- impossibilidade de retalhamento entre empresas;

- mais difícil ocorrer combinação do que no leilão ascendente; -jogadores com menor poder econômico tem mais chances de vitória;

- atraem mais jogadores aumentando a competitividade; -mais rentável para o vendedor;

- menor probabilidade de ocorrência da maldição do ganhador.

- permite a chance da vitória de jogadores com menor poder econômico, obtendo resultados menos eficientes;

- mais vulneráveis a mudança de regra do leiloeiro.

5.8.1.3 Leilão anglo-holandês e vice-versa

Klemperer (2002, p.181) propõe a combinação dos dois modelos anteriores em um leilão híbrido, no qual há um primeiro estágio de leilão oral ascendente com uma fase lance selado, o modelo de leilão denominado anglo-holandês, que o autor defende por muitas vezes, captura as melhores características de ambos. O leiloeiro começará pelo leilão oral ascendente no qual o preço é elevado continuamente até restar dois licitantes. Os dois concorrentes remanescentes serão, então, obrigados a fazer um lance selado final que não seja inferior ao preço corrente final da fase ascendente e, o vencedor paga o seu próprio lance.

Um dos principais aspectos do leilão anglo-holandês surge quando um jogador é, por exemplo, o detentor de uma concessão ou licença que será novamente leiloada é considerado o jogador mais forte do que os demais. Estes podem não estar dispostos, a vontade de entrar em um puro leilão de lance oral ascendente contra o concorrente considerado mais forte, o qual se presume que será o vencedor. No entanto, a etapa de lance selado na fase final do leilão induz alguma dúvida de qual dos dois finalistas irá ganhar e, assim, potenciais candidatos são atraídos por entenderem que têm alguma chance de vencer. Portanto, o preço pode ser melhor do que o alcançado pela primeira fase – oral ascendente – no leilão anglo- holandês do que se fosse utilizado puro leilão oral ascendente. (REGO, 2012).

Esse formato de leilão híbrido captura vantagens do leilão de lance selado: a colusão é desencorajada por dois motivos: a rodada final de lance selado permite que as empresas declinem de acordos prévios e por eliminar a fase final de puro leilão oral ascendente no qual apenas um jogador permanece (KLEMPERER, 2002, p.182). Igualmente, o leilão híbrido captura vantagens do leilão ascendente. Será mais provável vender a preço mais alto do que em puro leilão de lance selados, porque os finalistas classificados para a fase de lance selado puderam apreender algo sobre a percepção do valor do objeto uns dos outros, a partir do comportamento durante a fase oral ascendente (KLEMPERER, 2002, p.182).

Finalmente, Klemperer (2002, p. 182) defende que a fase oral ascendente do leilão anglo- holandês extrai a maior parte da informação que seria revelada por puro leilão oral ascendente, aumentando as receitas, enquanto que a fase de lance selado apresenta resultados tão bons quanto de leilão puro de lance selado na captura de receitas adicionais em virtude da aversão ao risco, restrições orçamentárias e assimetrias dos jogadores.

Pelas razões citadas, o autor sugere que o leilão anglo-holandês superaria os leilões orais ascendentes e de lance selado, mesmo que não atraia licitantes adicionais. Em suma, esse formato combinaria o melhor de ambas as formas de lance.

A experiência brasileira, nos processos de privatização na década de 1990, mostra que um leilão “holandês-inglês”, ou seja, primeira fase com lances selados seguido de fase com lances orais (essa fase só é realizada se a diferença entre os melhores lances for inferior a um percentual definido pelo leiloeiro, em geral entre 5% e 10%), pode ser a melhor estrutura quando se licita um único ativo. Tem-se, como exemplos, as privatizações da Companhia de Geração de Energia Elétrica Paranapanema e do Banco Banespa. Nos dois casos, nem foi necessária a fase de lances orais, uma vez que a diferença entre o melhor lance e o segundo foi maior que o percentual mínimo definido para o processo. No leilão do Banco, conforme

citado anteriormente, a diferença entre o melhor e segundo melhor foi de 235,7%, enquanto que, no caso da geradora de energia elétrica, em julho de 1999, a Duke Energy adquiriu a estatal estadual paulista com lance que representou ágio de 90,21% sobre o preço mínimo estipulado.

Além desses dois exemplos de privatização, os leilões de sistemas de transmissão de energia elétrica brasileiro, que adotam o método “holandês-inglês”, são considerados casos de sucessos. Desde 1999, a outorga de concessão de serviço público de transmissão de energia elétrica para construção, operação e manutenção de novas licitações de transmissão da Rede Básica do Sistema Interligado Nacional vêm sendo realizada por meio de licitação nessa modalidade de leilão.

Pela sistemática adotada, é declarado vencedor aquele que oferecer a menor Receita Anual Permitida (RAP) pela construção e prestação do serviço. Há a primeira fase em que os concorrentes entregam proposta lacrada com o valor da RAP e, se a menor RAP apresentada for inferior a 5% da segunda menor RAP proposta, encerra- se o leilão; caso contrário, prossegue-se por viva-voz até que reste apenas um. (REGO, 2012, p.27-29).

5.8.1.4 Leilão de relógio descendente

Cramton e Stoft (2007, p.7) descreve que este leilão dinâmico tem eficiência devido à revelação de preço. O leilão funciona da seguinte forma: o leiloeiro anuncia um preço-teto, os jogadores (vendedores), em seguida, indicam as quantidades que pretendem atender a esse preço-teto, e na próxima rodada, o leiloeiro determina o excesso de oferta e anuncia um preço mais baixo, quando, então, os jogadores respondem, novamente, com quantidades. Este processo continua até que haja qualquer excesso de oferta. (REGO, 2012, p. 30).

De forma mais detalhada, Cramton e Stoft (2007, p.7) propõem a seguinte metodologia para os lances intermediários: em cada rodada o leiloeiro faz o anúncio sobre o excesso de oferta no final da rodada anterior, o preço de início da rodada (maior preço) e o preço de término da rodada (menor preço). Cada proponente tem sua curva de oferta, que especifica a quantidade que o fornecedor oferece ao preço- teto e ao preço-base da rodada. O leiloeiro, então, determina o excesso de oferta ao final da rodada. O processo continua até que não haja excesso de oferta ao final de uma rodada, ou quando o leiloeiro entender que foi atingido o preço de equilíbrio. De acordo com os Cramton e Stoft (2007, p.7), a utilização de lances intermediários indica aos jogadores a que preços pretendem reduzir sua quantidade. Leilões de relógio descendente sem lances intermediários só permitiriam aos jogadores expressarem sua oferta ao final de cada rodada. A vantagem de lances intermediários é permitir que o leiloeiro tenha significativo decremento, entre rodadas, sem reduzir a eficiência do leilão. Lances intermediários também reduzem a chance de empates e permitem que o leiloeiro controle melhor o ritmo do leilão.

No modelo com lances intermediários, o leiloeiro estará sempre perguntando: “Com os preços entre o par de preços-tetos e de preço-base, há algum ponto no qual você deixaria de oferecer seus recursos?” Esta pergunta é feita a cada rodada até que um par de preços que equilibre o mercado for encontrado (CRAMTON; STOFT, 2007, p.11).

Por fim, o trabalho de Cramton e Stoft (2007, p.8) usa como exemplo leilões de comercialização de energia elétrica de novos projetos. Há a preocupação de que o leilão proposto respeite o fato de os projetos serem indivisíveis, ou seja, as unidades geradoras venderem lances inteiros. Por exemplo, um agente de geração com um novo projeto de 500 MW ficaria particularmente insatisfeito se participasse do leilão e descobrisse que ganhou, mas só vendeu 10 MW, não a totalidade de 500 MW

oferecidos. Para evitar-se tal problema, a curva de oferta é dada em quantidades discretas e o lance deve corresponder à quantidade física das unidades geradoras. Assim, com lances inteiros, geralmente não é possível ter-se o equilíbrio exato de mercado quando a oferta for exatamente igual à demanda. Cabe ressaltar que tal cuidado já é tomado nos leilões brasileiros de comercialização de novos empreendimentos no ambiente de contratação regulada.(AUTOR, ANO, pág w-x)

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