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RESPONSABILIDADES DAS INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS NOS LEILÕES

A Figura 28 detalha a relação existente da EPE nos leilões de energia elétrica. Primeiramente a EPE ainda assume o papel dos compradores no momento do leilão comprador único, porém na prática o leiloeiro não assina contratos, ou seja, não compra a energia elétrica. O leiloeiro simplesmente atua em nome das empresas distribuidoras de energia elétrica, que são os compradores de fato, como intermediador de curto prazo entre agentes geradores e distribuidores. Portanto a EPE que é ligada ao MME atua em nome de todas as empresas distribuidoras de energia elétrica. As distribuidoras declararam previamente ao leilão suas necessidades futuras de energia para atendimento de seus consumidores cativos à estatal. Ao fim do leilão, as concessionárias assinam contratos de compra com os produtores independentes de energia elétrica, que ficam encarregados de construir a central de geração e fornecer energia elétrica a partir de determinada data. Por fim o governo não fornece garantias de pagamento, nem toma posição contratual no mercado. (REGO, 2012).

Figura 28 - Relação da EPE nos leilões de energia elétrica

Sempre será levado em conta o critério de menor tarifa (inciso VII, do art. 20, do Decreto nº 5.163/2004) que é utilizado para definir os vencedores de um leilão, ou seja, os vencedores serão aqueles que ofertarem energia elétrica pelo menor preço por MW/hora para atendimento da demanda prevista pelas Distribuidoras. (ARAÚJO, 2007).

Organização e celebração do leilão é responsabilidade das entidades governamentais como é possível verificar na Tabela 6.

Tabela 6 - Responsabilidades das entidades governamentais

MME – Ministério de Minas e Energia Responsável pelo estabelecimento da diretriz e sistemática

EPE – Empresa de Pesquisa Energética Responsável pelo cadastro e habilitação técnica de projetos que tem interesse em ofertar energia CCEE – Câmara de Comercialização de Energia

Elétrica

Responsável pela operacionalização ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica Responsável pela elaboração do Edital e os

documentos vinculados, tais como o contrato de compra e venda de energia elétrica

Fonte: Adaptado de REGO, 2012.

Desse modo, têm-se papéis muito bem definidos no âmbito dos leilões de energia, em que cada instituição possui obrigações para que seja possível sua realização. A Figura 29 relaciona de forma cronológica a atuação das instituições com o intuito de facilitar o entendimento da relação das instituições nos diversos momentos que compõem a comercialização de energia elétrica.

Figura 29 - Atribuição das instituições no âmbito dos leilões de energia elétrica

Fonte: Autoria própria.

Para o leilão de geração brasileiro no ambiente regulado, a escolha do Governo foi pelo leilão anglo-holandês(Klemperer, 2002, p.181) de relógio descendente(Cramton e Stoft, 2007, p.7). Ele dividido em duas partes: na primeira etapa de oferta oral (na prática lance

eletrônico), ou seja, simultânea que classifica os participantes com as menores ofertas de preços para a segunda fase. A segunda etapa é de lance em envelope fechado (na prática o lance é eletrônico) cujo jogador qualificado na etapa inicial oferta seu único e final lance, sendo declarados os vencedores do leilão, os lances com os preços mais baixos para atender a quantidade demandada, as etapas realizadas nos leilões brasileiros estão ilustradas na Figura 30 em que ressalta essa sistemática das duas etapas e elenca suas principais características. (REGO, 2012).

Segundo Klemperer (1998; 2002), essa sistemática fornece uma solução para o dilema entre escolher o leilão oral (mais conhecido por “inglês”) e o selado (muitas vezes chamado de “holandês”), combinando os dois tipos de leilão no híbrido “anglo-holandês,” que muitas vezes capta as melhores características dos dois tipos de leilão. (REGO, 2012, p. 80).

A energia leiloada será consumida no país em um período de três anos a partir de uma data posterior. Antes do início do leilão as distribuidoras de energia comunicam ao órgão regulador a sua demanda para cada período futuro. A Demanda Total de energia a ser leiloada é definida como a soma das demandas de cada produto a ser leiloado. Ela permanece secreta durante todo o processo. A Demanda de Referência é a demanda total multiplicada por um fator maior que um e é utilizada para determinar a transição da primeira para a segunda fase do leilão. Esta é determinada pela demanda total multiplicada por um fator maior que um. (COUTINHO, 2008).

Figura 30 - Descrição da primeira e segunda etapa dos leilões

Antes do início do leilão, o leiloeiro (EPE) define, para cada produto oferecido, a quantidade (ou lotes) exigida, a oferta de referência (nome atribuído pela sistemática do leilão, embora, conceitualmente, seria melhor defini-lo como demanda de referência, ou demanda para fechamento da primeira etapa do leilão), e o preço-teto. Apenas os preços iniciais são divulgados, ou seja, as quantidades exigidas, o montante total dos projetos (de energia) permitidos para a venda de eletricidade e a oferta de referência para cada produto serão mantidos em sigilo. (REGO, 2012).

Para o primeiro lance da primeira etapa, os licitantes sabem os preços de partida (preço-teto), e com base nele são capazes de apresentar propostas que consistem em quantos megawatts- médios (quantidade de energia disponível ao sistema; sendo 1 MW médio = 8.760 MWh/ano) estariam dispostos a fornecer ao preço de reserva determinado. O prosseguimento do leilão é dado pela diminuição do preço (por decrementos estipulados previamente ao leilão, porém não divulgados aos participantes antes do início do certame) enquanto que houver proposta de fornecimento ao preço corrente e ao volume desejado. Essa etapa continuará enquanto a oferta total for superior à oferta de referência calculada pela extrapolação da demanda agregada para todos os produtos por um fator de referência. Este também é mantido em sigilo, mas seu objetivo é permitir que, na primeira etapa do leilão, haja excesso de oferta suficiente para gerar concorrência de preços na segunda etapa (BINMORE, 2004) e também poder neutralizar redução de oferta na primeira etapa.

Quando a oferta total atinge a oferta de referência é encerrada a primeira etapa, e, como o leiloeiro não quer correr o risco de que a oferta dos proponentes vendedores da última rodada da primeira etapa seja inferior à real necessidade de contratação de energia, são classificados para a segunda etapa do leilão todos os proponentes vendedores participantes da penúltima rodada da fase uniforme. Com isso, o preço-teto de início da segunda etapa é o preço de fechamento da primeira fase somado a um decremento, de forma a retomar ao preço corrente da penúltima rodada. Dessa forma, os proponentes terão incentivos a ofertar preços ainda menores do que o último preço por eles propostos. Assim, tem-se início a segunda etapa, a do leilão de lance selado discriminatório, simultâneo. Cada participante dá um lance dizendo o quanto está disposto a ofertar de cada produto, ou seja, a quantidade e preço a partir de um determinado valor que foi alocado ao término da primeira etapa. Os candidatos têm a oportunidade de oferecer seu preço final; no caso os geradores devem oferecer os preços pelos quais estão dispostos a contratar sua geração de eletricidade e, sendo uma etapa discriminatória, as propostas vencedoras recebem o equivalente a suas propostas de preços.

Desse modo, têm-se três momentos principais na comercialização de energia por meio de leilões conforme descrito na Figura 31.

Figura 31 - Momento do leilão de energia elétrica

Fonte: Autoria própria.

A etapa discriminatória tem por objetivo o de atingir o menor valor possível de comercialização, sendo ainda que, como nesse momento do leilão podem ter restado poucos jogadores, a troca de lance oral por lance selado minimiza as chances de conluio. É possível verificar na Figura 32, e supondo que o leilão fosse realizado em etapa única pela sistemática da primeira etapa (inglês reverso), era de se esperar que o equilíbrio entre a oferta e demanda ocorresse no ponto B, ao preço pB. Entretanto, pelo modelo adotado, a primeira etapa encerra-se no ponto A e, como a segunda etapa é do tipo selado e simultâneo, em vez da oferta deslizar ao longo da curva de oferta 1, do ponto A ao ponto B, o lance selado e simultâneo faz que a curva de oferta se desloque para baixo, e o leilão alcance o equilíbrio entre oferta e demanda no ponto C, ao preço pC, inferior a pB.

Figura 32 - Sistemática dos leilões de energia existente

Analisando-se os objetivos das duas fases do leilão, Binmore et al. (2004), os quais analisaram a metodologia proposta pelo MME para os leilões de energia elétrica no ambiente regulado praticados no Brasil, avaliam que o objetivo da primeira etapa é a tradicional descoberta de preços, contribuindo para reduzir a incerteza do valor comum, e assim permitindo aos proponentes vendedores lances mais agressivos, sem temer a maldição do ganhador.

Na opinião de Klemperer (2002), à segunda etapa, o lance selado induz a alguma dúvida de qual dos finalistas irá ganhar, aumentando o número de participantes. Espera-se com isso que o preço final do leilão possa ser ainda menor do que em leilão descendente puro. Entusiasta do modelo, ele defende que esse tipo de leilão híbrido também leva a um preço de equilíbrio melhor do que em um leilão de lance selado puro, porque os finalistas podem aprender algo sobre o comportamento de seus concorrentes e sobre as percepções dos licitantes remanescentes a respeito do valor do objeto durante a etapa descendente.

Para Binmore et al. (2004), o objetivo da segunda etapa é menos clara, levando-os a apontar três possíveis objetivos: proporcionar maior concorrência de preços (e, portanto, resultar em preços médios inferiores); reduzir as oportunidades para o comportamento colusório, ou incentivar a participação dos licitantes fracos. (Rego, 2012).

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