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uma ou outra vez. Com muita pena minha. Mas realmente é uma relação bastante simbiótica entre a imagem e a música.

JC É algo que se nota muito no vosso trabalho. Graficamente é sempre muito diferente mas muito próximo da música que ilustra e essa re- lação é muito bem conseguida.

JD Sim, quando começámos a editar, uma das questões que se colocou sempre foi se haveria de haver uma linha editorial. Porque até mui- tas editoras têm e há até muitas editoras que eu admiro que tem uma imagem visual muito precisa e pouco oscilante, que faz todo o sen- tido. No nosso caso, é preciso um pouco mais de investigação para perceber se faz algum sentido ou não, mas só faz da forma como pro- duzimos música e a promovemos. Só faz sen- tido esta meio-esquizofrenia, porque acho que umas coisas contribuem para as outras. Como tal era completamente impossível dar a mesma imagem gráfica a uns Black Bombaim e a uma Sequin. Mas acho que só faz sentido assim. No caso das cassetes, tem sido interessante porque nós temos quase esta vontade de criar novos objectos e também de criar histórias para cada uma delas. Temos esta história da relação com a Chili com Carne, das compilações. Temos esta dos livros e depois temos outra, que infelizmen- te ainda não conseguimos que andasse para a frente, mas esperemos que em 2018 façamos. Que é com artistas que vêm cá e gravamos o concerto ao vivo e depois pomos oficialmente cá fora. E criamos quase colecções, onde a cassete possibilita essa parte.

JC No geral, o que te desperta mais o interesse nas capas das k7’s? Falando das mais antigas… JD É curioso, porque a ideia que tenho de casse-

tes da adolescência, elas não tinham capas. Eram as compilações que fazia, então tinham primeira a letra do meu pai e depois a minha letra. Gravado e re-gravado por cima… Do artwork duma cas- sete é como o dos vinis, às vezes compro só pela capa. Com a cassete também me acontece isso. E o formato é muito mais prático, por vezes quando vejo uma banca de merchandising, pelo menos, compro sempre uma cassete. Por exemplo se vais para fora, comprar um vinil traz problemas por- que podes estragá-lo ao pô-lo na mochila, com uma cassete basta pores no bolso.

JC Quais achas que são os desafios da produção em cassete nos dias de hoje?

JD Os desafios são sempre de que forma é que vais escoar. Porque na verdade isto é um nicho do mercado. Nem é bem do mercado, porque mesmo assim não são assim tantas as pessoas que tem interesse em cassete.

JC Sim, também porque muitas pessoas já não tem onde ouvir.

JD Sim, há essa impossibilidade primeiro. De- pois há também a forma como as pessoas con- somem música, cada vez menos ligada à parte física e humana. Essas são as maiores dificul- dades, perceber que os hábitos de consumo são muito diferentes, por isso o investimento que vais fazer num certo objecto também vai ter isso em conta. Eu não quero fazer 500 cassetes para ficar com 400 e também não quero fazer 500 vinis para ficarem nas prateleiras. Nós não edi- tamos com base em vendas megalómanas mas também temos que ter em atenção que estamos a comercializar um produto e tens de o vender. Normalmente essa é a maior dificuldade, claro que o gosto pela música e a parte artística é a mais importante de todas, mas essa eu tenho a consciência das escolhas que faço. E essa res-

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POP

ponsabilidade é totalmente minha e das outras pessoas que gerem essa parte na Lovers, agora a parte comercial é muito mais difícil. Porque na verdade não somos vendedores, vamos apren- dendo. Depois dá-te uma lógica de promoção do artista e do disco que é mecanizada e cada vez faz menos sentido, a mim importa-me mais outras formas de promoção. Por exemplo, o concerto do João Pais Filipe com a Valentina e a apresentação do disco do Julius nesse forma- to, apesar de termos vendido só 8 cassetes, acho que foi das melhores opções que poderíamos ter para apresentar um disco.

JC Como pensas que a k7 se pode reinventar? Se é que pode…

JD Como se pode reinventar? Hm… Eu acho que já tem vindo a reinventar-se, tem sido in- teressante perceber. No Reino Unido já há um circuito dedicado só às cassetes, com uma série de editoras só dedicadas a esse formato. Que de repente criam um circuito e criam um certo sentimento de pertença e isso só pode ser bom. Agora estão uma série de artistas no Rei- no Unido que vivem desse circuito, porque isso depois traz concertos, traz mais exposição e traz outras formas de colaborações. E a cassete tem tido essa benesse, não de se reinventar a si pró- pria, mas de reinventar circuitos e certas cenas. Aconteceu isso no Reino Unido, em Portugal ainda estamos um pouco longe. À parte do Me- tal, que tem outra importância. Mas na música mais experimental, como se vê isso a acontecer noutras países, se calhar em Portugal também poderá vir a acontecer.

JC Qual o Futuro que prevês para a cassete? JD O Futuro passa sempre pela dúvida da cas- sete e de todos os formatos físicos. É daquelas questões que ninguém consegue responder.

Por um lado, mesmo o revivalismo do vinil, já há algum tempo e agora o da cassete. Por outro lado, a matéria-prima desses formatos terá de ser equacionada. Toda esta questão do plástico e afins, que contribui também para o vinil, terá de haver formas de fazer uma reutilização. Nas cas- setes já acontece com as capas, as caixas e afins. Mas enquanto houver pessoas com interesse e vontade de comprar cassetes e vinis, acho que vão continuar a existir esses formatos. Mesmo num futuro longínquo vai haver sempre essa necessidade de ter o objecto por perto.

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LAR