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LAZER E TURISMO: A VIVÊNCIA DE OUTROS MUNDOS

3 SEGUNDA RESIDÊNCIA E TURISMO RURAL: O ANSEIO PELA VIDA

3.1 LAZER E TURISMO: A VIVÊNCIA DE OUTROS MUNDOS

O modo de vida contemporâneo, sobretudo nos centros urbanos, é caracterizado pela agitação, pelo barulho, pelas cobranças, pelo horário cronometrado, pelo trânsito intenso, ações de violência crescentes em número e intensidade. O modo de vida que caracteriza as grandes cidades e metrópoles na contemporaneidade é cunhado pela dinâmica urbana, pela necessidade de

reprodução do capital, da reprodução social, da manutenção de um sistema de vida que necessita de uma estruturação capaz de manter seu funcionamento e que passa a estruturar a vida das pessoas, segundo seus papeis dentro dessa grande engrenagem, as cidades grandes e o seu modo de vida:

[...] todas as exterioridades mais banais da vida estão, em última análise, ligadas às decisões últimas concernentes ao significado e estilo de vida. Pontualidade, calculabilidade, exatidão, são introduzidas à força na vida pela complexidade e extensão da existência metropolitana e não estão apenas muito intimamente ligadas à sua economia do dinheiro e caráter intelectualístico. Tais traços também devem colorir o conteúdo da vida e favorecer a exclusão daqueles traços e impulsos irracionais, instintivos, soberanos que visam a determinar o modo de vida de dentro, ao invés de receber a forma de vida geral e precisamente esquematizada de fora. (SIMMEL, 1973, p. 12).

Segundo Aronsson (2004) os espaços de atividades hodiernos são cada vez mais complexos, o que resulta em experiências sobre o espaço geográfico no tempo cada vez mais racionais, lineares e objetivas, reduzindo-se o número de práticas que conferem significado de lugar no cotidiano. A segunda residência permite o encontro entre espaço e cultura, na interpretação de mundo que prioriza a representação dos sentimentos sobre o lugar. A vista de um mundo de autorrealização, o citadino procura o rural, mas não deixando de vivenciar o urbano, investindo tempo e dinheiro, porque a segunda casa é um espaço de atividades sociais e privadas de significativa importância.

De acordo com Carneiro (2002), o processo de revalorização do campo pela sociedade brasileira foi importante. De acordo com ela, em países europeus como a França, a busca por morar no campo é mais antiga, mas no Brasil, nos anos de 1970 (esse fenômeno já é comum para a burguesia brasileira, mas nessa época houve a expansão e acesso a outras camadas da população), teve um tímido impulso com o movimento hippie e auferiu maior adesão com o discurso ecologista da década de 1990, quando um grande número de citadinos passou a buscar a vida idealizada no campo, mais próximos à natureza, estimulando o setor do turismo, o que levou alterações à forma de vida das localidades menores.

Há um conjunto de situações oriundas do desdobramento do modo de vida urbano contemporâneo que produz nas pessoas a necessidade de buscar momentos que permitam viver tranquilidade, paz e descanso da rotina de produção.

A busca por atividades ligadas ao lazer tem crescido significativamente e o turismo tem se tornado um segmento crescente que atende a essas necessidades.

De acordo com Gomes e Elizalde (2012), o lazer pode ser associado à melhoria das condições de uma sociedade, se adjunto a questões políticas, econômicas, sociais e culturais e é uma necessidade básica humana, pois faz parte da construção do universo simbólico, dos significados que se atribuem à vida, da construção subjetiva e objetiva do sujeito. O lazer é a vivência lúdica no tempo e no espaço social das manifestações culturais e não pode estar dissociado do trabalho, da vida cotidiana, da educação e da formação humana integral. Para os autores, o lazer tem o poder de aplainar, se não ao menos minimizar, as situações de exclusão e disparidade social, se usado como forma de respeito às diversidades e diferenças na construção de uma sociedade mais justa.

O lazer já não pode ser entendido apenas como contraponto do trabalho, mas como possibilidade de desenvolvimento individual e social ao passo que os momentos de lazer podem ser realizados pelo indivíduo ou por um grupo de pessoas. Para Silva (2011) existem duas formas de interpretação do lazer: a primeira consiste na visão ideológica funcionalista, baseada no positivismo, na ideologia liberal e neoliberal, em que o ser humano vê no turismo uma válvula de escape e o lazer projeta o conformismo à sociedade. A segunda é baseada no materialismo histórico e dialético, com abordagem crítica, apontando o lazer como mutável frente ao modo de produção vigente podendo influenciar sobre ele e acenar para uma mudança de ordem moral e cultural.

De tal forma, o lazer apresenta-se como uma possibilidade de mudança nas estruturas sociais, pois pode representar a possibilidade de (re)conhecer novos universos, outras culturas, vivenciar outras formas de identificação e aprender a partir do conhecimento o respeito pelas diferenças entre os sujeitos e os espaços de vida:

Em síntese, entendo o lazer como uma dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações, especialmente com o trabalho produtivo. (GOMES, 2004, p. 125).

Todavia, quando o lazer é entendido simplesmente como ocupação do tempo vago, dissociado da realidade da vida cotidiana, pode se tornar um nicho de mercado vazio de significado. Para Gomes e Elizalde (2012) o lazer pode ser para o mercado capitalista neoliberal espaço de venda alienada e alienante de bens e serviços e não uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Assim, é visto como uma atividade passiva, geradora de renda para o capital e como uma alternativa escapista.

Quando o lazer passa a ser entendido como parte fundamental da formação do sujeito, ganha novas definições e se relaciona diretamente com a compreensão corporal, psicológica, ambiental e social. De acordo com Requixa (1980, p. 35) o lazer pode ser entendido como “Ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive, e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social”. Assim, o lazer compõe a completude humana, tanto na sua formação física e intelectual continuada quanto na manutenção do seu equilíbrio psíquico e construção do mundo simbólico:

Lazer em geral. É um lugar para descanso, então há uns 5 anos, a gente instalou uma piscina, para que a gente tivesse um pouco mais de coisas para fazer. Lá tem tanques de peixe, então a gente sai pescar. É gostoso para sair fazer caminhada, tem trechos assim, bem gostoso mesmo, da para você entrar no meio da mata para fazer trilha. E tem o cavalo, que também é manso, dá para montar, então quem gosta... Normalmente usa isso como um lazer. Lá é o nosso refúgio, lá é onde ele [esposo] recarrega as pilhas para conseguir tocar a loja aqui, porque aqui o comércio consome demais dele, então o nosso sítio é mesmo para descanso. (ENTREVISTA, 2017).124

O turismo é uma das atividades que pode ser desenvolvida nos momentos de lazer. De acordo com o Ministério do Turismo (2016) o turismo é uma atividade econômica, gerado pelo deslocamento voluntário e temporário das pessoas para fora de seu espaço de residência fixa, por qualquer motivo exceto por motivação econômica. O turismo rural por sua vez é uma das modalidades de turismo.

O turismo rural, enquanto grande área do turismo engloba diversas outras modalidades turísticas realizadas no campo. Contudo, essa amplitude conceitual tanto do turismo como do turismo rural é questionada nas áreas de produção

124 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

intelectual. Enquanto atividade sistematizada, o turismo rural surge na década de 1970.

De certa maneira, o turismo enquanto atividade cultural abre novas possibilidades a diversas áreas entre elas a patrimonial, pois ao apropriar-se dos elementos culturais o turismo consegue jogar luzes sobre espaços antes ofuscados, garantindo que bens tombados possam se manter mesmo sem auxílio de instituições e que os patrimônios registrados sejam conhecidos e preservados na memória de um número maior de pessoas, além daquelas que o vivenciam.

Todavia, a cultura de um povo passa a ser mercantilizada, por vezes até reeditada para atender as necessidades do mercado. As expressões culturais se tornaram nichos de mercado interessantes, frente ao avanço do capital que se apropria das diferenças culturais produzidas e recriadas. O valor simbólico, os lugares e paisagens são incorporados ao mercado de venda de cultura. (ZUSMAN et al. 2011).

O turismo por abarcar um amplo conjunto de atividades, propicia muitos benefícios a sociedade como o (re)conhecimento da história humana, a prática de atividades físicas, a ampliação do repertório cultural, a valorização da arte, a melhoria das condições de saúde, o crescimento de vagas de emprego diretas e indiretas, entre outros. Todavia, quando não é bem conduzido e explorado, seus fins são danosos no que se refere aos danos ambientais, à exploração da mão-de-obra barata, a apropriação e transformação da cultura em objeto de mercado, a desapropriação do espaço dos sujeitos para venda ao visitante, entre outros.

Com um leque variado de possibilidades, o turismo envolve diversas regiões e culturas. Com o crescente número de pessoas que buscam a natureza, a tranquilidade e o que diz respeito ao bucólico, inicialmente, buscavam-se as pequenas cidades. Para Tulik (2003) o primeiro estado a desenvolver atividades turísticas no campo foi Santa Catarina, no ano de 1984, aproveitando a estrutura das fazendas para receber turistas. De acordo com Kloster (2013) até meados da década de 1990 não existiam ações destinadas ao turismo rural de maneira mais enfática, e apenas nessa época essa modalidade turística integrou-se aos debates no meio acadêmico125e econômico de maneira mais expressiva.

125 De acordo com Tulik (2003) uma das poucas iniciativas acadêmicas conhecidas até a publicação

Segundo Candiotto (2010) no início da década de 1990, houve crescimento da procura e oferta do turismo no espaço rural e a sociedade passou a procurar atividades ligadas à tranquilidade e a simplicidade do campo. Para o autor, nesse período houve o crescimento da pluriatividade nas propriedades rurais e da concepção da multifuncionalidade do agricultor e da atividade agrícola, assim como o crescimento do interesse da população urbana e do setor turístico pelo rural e as ruralidades126, uma vez que o público que busca atividades de turismo no espaço rural é diferente daquele que procura o litoral, já que no campo a demanda é menor e há oferta de estruturas mais simplificadas para atender os turistas durante a estadia.

Para Rodrigues (2000) o turismo rural é relativamente novo no Brasil e enfrenta problemas por não possuir uma definição conceitual clara acerca das suas metodologias e propostas. Outro fator que exerce influência nessa problemática é a extensão territorial do país, que contempla grande diversidade cultural e histórica, dificultando o estabelecimento de um modelo a ser seguido no território como um todo.

Para Tulik (2003) outro fator que causa dificuldade no estabelecimento de um conceito melhor estruturado de turismo rural é a falta de conceituação sobre campo-cidade, pois para ela, a dinâmica atual altera rapidamente as funções refletindo na alteração dos significados do espaço e dos modos de vida intrínsecos. Segundo a autora, os três critérios mais utilizados para distinção entre esses espaços na atualidade são: a oposição entre rural e urbano, considerando as distinções entre as funções desses dois espaços e a existência de um espaço intermediário, caracterizado pela mistura de características urbanas e rurais. O segundo é pelo tamanho e características demográficas, considerando que há

valorizar a identidade cultural da região e promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas por meio do turismo.

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As ruralidades seriam objetos e ações característicos do rural, e fazem parte da identidade da população rural, enquanto as urbanidades corresponderiam a objetos e práticas de caráter urbano. Todavia, assim como o espaço urbano e rural estão imbricados, o mesmo acontece com as ruralidades e urbanidades. Além da existência de atores, objetos técnicos e ações de caráter urbano no meio rural, conduzindo a urbanidades no espaço e na sociedade rural, existem atores, ações e objetos técnicos característicos do rural (com origem rural ou industrial-urbana) que acabam se inserindo no urbano (estilo country, músicas, festas, hortas), levando a ruralidades no espaço e na sociedade urbana. (CANDIOTTO, 2007, p.81). Para o autor, ainda existiriam duas correntes de pensamento que abrangem a questão da ruralidade: uma diz respeito a nova ruralidade (concebida e difundida pelo capitalismo e diversos poderes envolvidos na geração de capital, que incentiva ao consumo do espaço campo e do modo de vida rural) e da ruralidade e urbanidade enquanto territorialidades sociais localmente situadas.

diferenças entre a população rural (aquela que vive na zona rural) e a população agrícola (que se ocupa de atividades econômicas ligadas ao campo). E o terceiro pela delimitação do perímetro urbano por critérios político-administrativos, voltada, sobretudo a cobrança de impostos e maior arrecadação, sendo que cada município tem sua legislação.

Candiotto (2010) apresenta uma discussão acerca da conceituação e do uso indiscriminado do conceito de turismo rural. Segundo o autor, o turismo no espaço rural seria um conceito mais amplo que envolveria todas as atividades de turismo e lazer no espaço rural; já o turismo rural contempla aquele vinculado a ações realizadas durante a estadia que contemplem as atividades e a maior valorização das práticas rurais, da agricultura, das paisagens do campo, do modo de vida entre outros.

Campo e cidade enquanto espaços de vida humana estão em constante processo de modificação, conforme os ditames do período histórico e social, que determinam a reestruturação das suas relações. O contexto de mudanças entre a relação da cidade e do campo é intensificado pelo processo da globalização. A cidade recebe a influência da relação com o campo, mas certamente é no espaço rural que se percebem as maiores modificações, principalmente nas últimas décadas, onde o contato com o modo de vida urbano se intensificou.

O sujeito do campo recebe a influência dessas novas configurações que se estabelecem de forma intensa e dinâmica. Entretanto, muitos traços culturais e elementos simbólicos são conservados, o que remete a ponderar que sejam elementos da memória social desse grupo e que estruturam a identidade das pessoas do campo. O receio em perder os vínculos com o passado e a desestruturação da identidade dos sujeitos, incentivou a necessidade de preservação de alguns vínculos pretéritos – uma das defesas do local diante à globalização – na forma dos patrimônios históricos e culturais. (PRETTO, 2014).

O campo passou a exercer novas atividades, ganhou novas funções e novos atores sociais. Entre esses dois espaços, ocorre uma relação dialética que se caracteriza ora pela complementariedade, ora pela dicotomia. O rural não pode ser mais apreendido enquanto vinculado apenas com atividades agrícolas e pecuárias, pois seu modelo de produção passou por modificações, ao passo que recebe mais tecnologias, mais trabalhadores desenvolvem funções que antes eram tipicamente urbanas e obtém sua renda de outros trabalhos não ligados a terra, aproximando-se

do modo de produção considerado urbano. Cidade e campo, historicamente espaços com relações econômicas, sociais e culturais complementares, estão mais próximos pelas relações que se tornam mais estreitas entre eles.

Com a modernização das sociedades urbana e rural e o desenvolvimento do capitalismo na agricultura que ocorre de maneira simultânea à interiorização das indústrias compreende-se que a integração entre campo e cidade tenha aumentado segundo a intensidade de trocas crescentes. A população jovem responsável pelo êxodo rural em busca de novas oportunidades nos centros urbanos seria uma das pontes de ligação entre os dois espaços e responsável pela difusão de novas técnicas e hábitos urbanos. Dessa maneira, a dicotomia espacial, entendida enquanto contraste, seria gradativamente reduzida em detrimento à compreensão da existência de diferentes intensidades de mudanças e inserção de modernidades para esses dois espaços. (CARNEIRO, 1998).

A reestruturação produtiva do campo transformou-se e passou da utilização da mão-de-obra humana, da posse e dos vínculos produtivos com a terra, para a venda da mão-de-obra utilizada pela agricultura moderna e mecanizada e à produção e prestação de serviços especializados, muitas vezes voltados para o mercado urbano. Um exemplo disso é o turismo rural.

De acordo com Carneiro (1998) a aproximação com o modo de vida urbano e o aumento das atividades turísticas no campo não são fatores negativos para a estrutura cultural local. Para a autora as mudanças na percepção do ambiente e dos hábitos e costumes ocorrem de maneira irregular, com diferentes intensidades o que não resulta em uma ruptura com os padrões construídos ao longo do tempo. As novas experiências seriam responsáveis por criar diversidade sociocultural, pela troca de bens culturais e simbólicos e por ampliar as relações sociais, mas não por um processo de descaracterização do modo de vida rural. Para Carneiro, ao confrontar-se com a identidade urbana, o morador do campo reforça a sua identidade ao tomar consciência sobre os aspectos materiais e simbólicos que a constituem.

Há um conjunto de modalidades e tipos de turismo que integram-se ao turismo rural. Para Tulik (2013) os diferentes critérios utilizados, a variedade natural e cultural relacionadas ainda aos diferentes tipos de turismo, resulta em uma ampla classificação terminológica. A ampla variedade de abordagens, conceitos e classificações, reflete o número de autores que discutem ou tentam estabelecer

conceituações sobre as modalidades turísticas no espaço rural, mas de acordo com a autora, os mais comuns são:

- Turismo alternativo: que se opõe ao turismo convencional como o litorâneo, o internacional e o massificado;

- Turismo no espaço rural (TER)/ Turismo nas áreas rurais (TAR): tem sentidos amplos baseados nos produtos turísticos do meio rural. Podem englobar turismo de eventos e negócios;

- Turismo em áreas rurais e naturais: engloba as atividades turísticas no meio rural e nas áreas naturais;

- Turismo na natureza/ Turismo rural/ Ecoturismo: relacionam-se a atividades turísticas nas áreas rurais e podem ser desempenhados na mesma propriedade; - Turismo cultural: não é exclusivo no meio rural, pois todo o tipo de turismo tem base cultural;

- Agroturismo: ocorre em propriedades com exploração agropecuária e pode oferecer a prática de atividades pelo turista na propriedade, sendo complementar a renda, de base familiar, com alojamentos locais, e a participação do turista na vida da família, nas atividades cotidianas;

- Turismo rural: expressão genérica usada para qualquer atividade turística desenvolvida no espaço rural, ligada a identidade local, com o contato do sujeito com a natureza. O turismo rural se identifica mais plenamente com as atividades cotidianas, a economia, a cultura e ao espaço.

Uma das discussões que permeia a conceituação de turismo rural é o que de fato se considera rural na atualidade, já que com as intensas modificações ocasionadas pela reestruturação do sistema produtivo e a aproximação intensa e dinâmica com o modo de vida urbano, podem alterar a cultura e o espaço. De acordo com Tulik (2003) os autores têm considerado que o conteúdo do turismo rural deve estar associado à paisagem, ao estilo de vida e a cultura rural.

Para Cavaco (2000) com a reestruturação do sistema produtivo global, e a diversificação da economia nacional, o turismo rural aparece como uma oportunidade de venda da cultura identitária, para tornar o consumidor feliz por expressar sua ligação com a tradição e a criatividade vinculados ao contato com a natureza:

Mas é o modelo da cultura identitária que é determinante. De um modo geral, as sociedades ocidentais buscam reencontrar no meio rural as bases identitárias para enfrentar a “americanização” da cultura no contexto mundial e, de maneira individual, reencontrar-se o fenômeno da ‘construção de si’, de afirmação de sua criatividade e da sua personalidade. Após a década de 80, quando no turismo e na cultura foram enfatizados os valores de sucesso profissional, de culto ao corpo e à tecnologia, os anos 90 consagraram o desabrochar pessoal e o retorno aos valores da simplicidade, da natureza e da tradição. (CAVACO, 2000, p. 102/103).

A expressão identitária vinculada ao campo, ou seja, a ruralidade, também aparece como uma motivação a busca pela vivência no espaço rural, por períodos mais longos ou não. Carneiro (1998) contextualiza a discussão, quando afirma que as identidades urbanas e rurais sofrem influência das novas configurações que se estabelecem na relação campo-cidade e da crescente presença do urbano no rural (sejam por meio de bens simbólicos, ou dos atores sociais), mas afirma que a ruralidade pode ser entendida como o consumo do modo de vida rural, enquanto tentativa de expressão identitária:

Nesses termos, não podemos entender a ruralidade hoje somente a partir da penetração dos mundos urbano-industrial no que era definido tradicionalmente como "rural", mas também do consumo pela sociedade urbano-industrial, de bens simbólicos e materiais (a natureza como valor e os produtos "naturais", por exemplo) e de práticas culturais que são reconhecidos como sendo próprios do chamado mundo rural. Nesse sentido, importa mais do que tentarmos redefinir as fronteiras entre o "rural"