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Relação com o tempo e o modo de vida urbano

1 PATRIMÔNIO CULTURAL RURAL E SUA INFLUÊNCIA NA BUSCA

1.2 TERRITÓRIO E IDENTIDADE: A APROPRIAÇÃO SIMBÓLICA DO

1.2.1 Relação com o tempo e o modo de vida urbano

As cidades, com suas atividades e organização espacial refletem relações dinâmicas que se estabelecem sobre o espaço geográfico. As cidades contemporâneas são marcadas pela velocidade nas relações sociais, pelo efêmero, pelo fluído. (HARVEY, 1993).

Conforme Santos (2006), cada lugar pode ser distinguido pela sua diferença de temporalidades, cada tempo ganha sua concretude com a interpretação na vida ativa dos agentes sociais e as temporalidades caracterizam a forma de ocupação e vivência do espaço de um determinado lugar.

Para Tuan (1983) as pessoas têm diferentes formas de apreender o tempo e o espaço e, com base na formação desses dois conceitos, é que elaboram o tempo e o espaço de sua vida diária. A formação da estrutura espaço-temporal raramente é consciente e depende ainda das atividades desenvolvidas por cada indivíduo, sendo assim, especial, subjetiva.

É, sobretudo nos grandes centros urbanos e nas metrópoles, onde as novas maneiras de relação com o tempo e as próprias relações sociais – marcadas pela fluidez - se transformam e influenciam na construção/apropriação/percepção do território pelos indivíduos. A vida se modifica, logo, as formas do espaço urbano também incorporam essas mudanças e as territorialidades, enquanto apropriação/construção/mudança/vivência no/do território são modificadas.

Essas modificações intensas e dinâmicas nas relações sociais e na relação dos sujeitos com seus espaços modificam também as condutas e formas de agir, pois as experiências territorializadas são resultado e parte do processo de construção do mundo social, de onde procedem os significados e símbolos da cultura de um grupo. Para melhor compreender como o mundo é percebido pelo indivíduo, Tuan (1983) defende as análises dos fenômenos a partir da perspectiva fenomenológica, aproximando essa forma de apreensão do conceito de cultura.

Dessa maneira, a utilização do conceito de território e suas variantes é interessante ao passo que permite a compreensão não apenas do caráter funcional de um espaço, mas também da subjetividade como forma de compreensão da realidade, pois de acordo Demo (1989) as ciências sociais, como a Geografia, devem buscar compreender as pessoas em sua totalidade e não como arranjo de partes.

Logo, a compreensão dos aspectos objetivos e subjetivos propicia a inteligibilidade da atual relação do morador urbano com seu espaço de vivência e o desejar temporariamente se desvincular do espaço cotidiano, o que ocorre frente às dinâmicas contemporâneas do modelo de cidade.

No atual momento histórico a identidade está suspensa, não tem mais bases fixas em um lugar ou momento, mas transita na história e no espaço. Traços culturais e elementos da identidade passam por um processo de confronto de valores e reestruturação. De acordo com Hall (2006), existiram três concepções de identidades: a primeira é do sujeito do iluminismo, dotado da capacidade pela razão, seu centro essencial era sua identidade, concepção individualista; a segunda é do sujeito sociológico, formado na relação com as outras pessoas, da interação do eu somada à sociedade, seu centro já é modificado com os mundos culturais exteriores e as identidades que o mundo oferece e a identidade é tida como unificadora do sujeito ao mundo cultural. Ocorre um processo em que a identidade entra em colapso, o processo de identificação do indivíduo torna-se variável e problemático, e produz a concepção da terceira identidade, a do sujeito pós-moderno, aquele que não tem uma identidade “fixa, essencial ou permanente”, a identidade é formada e transformada continuamente, definida historicamente e não biologicamente, existindo identidades contraditórias. Não existe mais a identidade plenamente unificada.

Harvey (1993) também apresenta essa mesma perspectiva de observação quando analisa os conjuntos de códigos distintos para cada situação na qual o sujeito vivencia. Essa característica é induzida pela fragmentação e pela instabilidade, que permitem a representação de uma identidade vivida como palimpsesto – daquilo que se retoma de outro momento – ou como nova experiência impulsionada pela sensibilidade e pela sensação.

Essa interpretação da Harvey sobre a identidade é perceptível nos proprietários de segunda residência, pois essas pessoas tem a identidade fragmentada e formada por vivencias em distintos momentos, ligados ao passado rural e marcadas pelas boas lembranças, assinalando uma ligação de nostalgia bucólica com o ambiente rural. Ao mesmo tempo, suas identidades também se estruturam na vida urbana, presente e passada, onde se estabelece a vida cotidiana, o trabalho, a rotina, a moradia principal, onde está a família/grupo social e as facilidades da cidade. Essas pessoas congregam uma associação de sensações e sentimentos marcadas geográfica e temporalmente, que formam sua identificação.

A globalização tem interferido intensamente na estrutura da identidade, sobretudo no período hodierno. Conforme Hall (2006) esse processo pode criar novas identidades, novas posições de identificação. O autor afirma que a globalização é um complexo de forças de mudança que estão deslocando as identidades culturais, que ao atravessar fronteiras, integra e conecta comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo. Isso traz efeitos da globalização na localização e representação das identidades, pois todas as identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólico. Essas novas características temporais e espaciais, que resultam na compressão de distâncias e de escalas temporais, estão entre os aspectos mais importantes da globalização a ter efeito sobre as identidades culturais, por ter impacto imediato sobre pessoas e lugares situados a uma grande distância:

[...] aquela fragmentação de códigos culturais, aquela multiplicidade de estilos, aquela ênfase no efêmero, no flutuante, no impermanente e na diferença e no pluralismo cultural descrita por Kenneth Thompson (1992), mas agora numa escala global – o que poderíamos chamar de pós-moderno global. (HALL, 2006, p. 74).

No processo de globalização há interação de diversos fatores, como o econômico e o cultural, que causam mudanças nos padrões pré-estabelecidos. Essas mudanças refletem na produção cultural e na formação da identidade do sujeito. Todavia, as mudanças causadas pela globalização não são homogêneas, mas apresentam-se de maneiras diferenciadas. Um dos motivos é porque cada sujeito participa de diferentes instituições – família, grupo de trabalho, religião, instituições de ensino, entre outros – onde existe uma produção simbólica e discursiva que exerce influência na manutenção do passado. (WOODWARD, 2013).

A ingerência dessas instituições é significativa para a construção indentitária e logo, dos desejos dos sujeitos. Para os proprietários de segunda residência no campo, as histórias e memórias familiares tem grande influência no interesse em ter uma casa no espaço rural, pois representam a recordação do passado feliz, dos momentos em família, dos ensinamentos dos pais e avós.

Percebe-se que mesmo que essas pessoas não tenham residido – residência fixa – no campo, suas histórias estão permeadas de memórias rurais, de momentos em família, do apego ao espaço e ao modo de vida peculiar. A desestruturação da identidade influencia a fragmentação não apenas do tempo e do espaço, mas também do indivíduo. Nos grandes centros urbanos e metrópoles, esse processo é ainda mais acentuado, representando o sentimento de estranhamento dos sujeitos em relação ao espaço, pois esse já não é mais lugar das experiências das sensações, mas da reprodução econômica e social.

A partir das experiências vivenciadas em determinado espaço, cada pessoa pode suscitar sentimentos diferenciados sobre ele. De acordo com Henrique (2009) a representação social construída acerca da natureza é ideológica e cultural, ligada às experiências de cada sociedade ou grupo, relacionadas às matrizes estéticas vigentes em cada momento. A materialização das cidades contemporâneas e o papel da ação humana define muito sobre a concepção, valorização, valoração, grau de dependência e conservação que se dá a natureza, sendo que a representação sobre ela está intimamente ligada ao atual estágio da vida cotidiana urbana. Para o autor, quanto mais humanizado um espaço, maior torna-se o desejo por estar em contato com a natureza e com aquilo que é associado a ela.

A lógica e o motor que dão propulsão a essa movimentação é a globalização, que acentua o efêmero e a individualidade. Para Carlos (2007) sentimentos como a solidão e a angústia ilustram, para os poetas e romancistas, os

anseios das pessoas da cidade, onde se é parte de uma multidão e paradoxalmente cada vez mais sozinho. Na cidade, todos os aparatos tecnológicos se voltam para a condução psicológica e formação de uma sociedade de ação.

Contudo, a ação é a da reprodução do capital. Os proprietários de casa de campo, que tem a identificação com a nostalgia bucólica ligada ao passado feliz no espaço rural, vivenciado ou historiado pela família, são sensibilizados pela falta de tempo e mais oportunidades de sociabilização, seja familiar ou com os amigos. A aproximação com a natureza torna-se uma necessidade moderna, uma oportunidade de descanso, de vinculação com o natural, à natureza e aquilo que remete a ideia de pureza e qualidade de vida:

Os séculos XIX e XX marcam definitivamente, através da produção, das técnicas, das indústrias e mesmo da cultura, a incorporação da natureza à vida social. Os objetos, as ações, as crenças e os desejos dos homens passam a incluir a natureza ou as representações da natureza. (HENRIQUE, 2009, p. 93).

Para os donos proprietários, a casa no campo representa a oportunidade de refugiar-se em um espaço onde há possibilidade de esquecer a rotina, onda há paz, liberdade, pureza do ar e da água. Local de encontro consigo e com aqueles com quem deseja confraternizar, compartilhando o bem-estar que o campo lhe proporciona, onde é possível estar junto, livre das obrigações urbanas:

Na nossa casa éramos nós dois, mas também tinha outra casa alugada, que era os sócios da casinha, que eram todos os amigos e as mulheres, e aí de repente vinham as pessoas que eram amigos do esposo, ou amigos meus, então era bem variado, mas família também, a minha família, família dele, aí geralmente tudo girava em torno também de comida, então tinha muito isso. Acho que ele gostava disso, de receber as pessoas... (ENTREVISTA, 2017).11

O objetivo dessa casa de campo pra nós é ficar perto da família, porque a cidade não propicia isso, porque trabalham, chega o final de semana vai descansar, vai fazer suas coisas, ficam vendo televisão, fazendo esses programas urbanos, e eu e o Esposo acabamos ficando muito sozinhos, então a gente quis fazer essa casa de campo pros filhos ficarem perto, crescer com os netos, estamos com os filhos quase casando. Mas o nosso

11 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

objetivo é esse, nosso sonho é ficar perto da família. (ENTREVISTA, 2017).12

[...] então além de ser um momento de a gente se desestressar, é um momento de estar junto em família, e a minha irmã e meu cunhado que são nossos parceiros, sempre estão junto, a família sempre tá presente, principalmente no verão por causa da piscina. Então a família é bem grande, graças a Deus lá é uma festa, sempre. (ENTREVISTA, 2017).13

Os citadinos que buscam a segunda residência não sentem ódio pela cidade, nem se sentem totalmente deslocados nesse espaço. Essas pessoas desenvolveram fadiga pela rotina que consideram extenuante no ambiente urbano, formada pelas condições de trabalho, pela dificuldade de deslocamento, a violência, o estresse, a dificuldade em gerenciar o próprio tempo de forma a encontrar possibilidade de lazer sozinhos ou com a família, o barulho, entre outros aspectos:

A gente buscava esse sossego, essa tranquilidade que a gente encontrou, na cidade é aquele agito, aquela coisa doida, e lá você se sente bem, você vai lá e fica o final de semana, você relaxa, você chega aqui, você trabalha tranquilo, as vezes quando você não vai pra lá, você trabalha aqui, parece que você tá faltando alguma coisa pra gente, então lá é uma coisa assim, como diz, de outro mundo. (ENTREVISTA, 2017).14

Porque a vida da cidade é muito agitada e as pessoas, você pode ver, que cada vez mais, você tem menos tempo pra fazer uma visita, pra ter um pouco de lazer. Se você tiver uma casa de campo, você vai, você descansa um pouco, porque aqui é muito corrido na cidade, você podendo ter uma casa pra você ir, um cantinho pra você ficar... Eu acho que as pessoas olham e imaginam ‘nossa aqui é tão corrido, lá é bem melhor’, então elas vão procurando alguma coisa nesse sentido. Antes tempo, uns anos atrás, no tempo da minha mãe, quando ela era mais jovem, a ideia era sair do campo, do mato, pra ir pra cidade fazer vida. E de certo foi saindo, foi aglomerando tanto a cidade de gente, que começou a ficar assim meio que quase insuportável, estressado, todo mundo é meio mal-humorado, e eles tão vendo que a vida no campo seria mais tranquila, então de repente parece que os que vieram, estão aqui, mas os filhos, os netos deles,

12 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

cidade de Ponta Grossa, no primeiro semestre de 2017.

13

Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na cidade de Ponta Grossa, no primeiro semestre de 2017.

14 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

estão voltando, buscando esse sossego de repente, e eu acho interessante isso. (ENTREVISTA, 2017, [grifo da autora]). 15

O sentimento de extenuação causado pela dinâmica urbana contemporânea tem influencia na busca pela segunda casa no campo, onde os citadinos estão distantes da vida cotidiana real e sentem maior liberdade nas ações. Essa conjuntura promove o processo de vinculação afetiva e psicológica com o campo e nas relações sociais sobre ele – visto que o campo é considerado espaço de encontro da família e os moradores do campo como mais receptivos ao contato social.

Os proprietários de casa de campo vivenciam múltiplas identidades, em razão do constante deslocamento entre cidade e campo que se torna parte da rotina individual e familiar e as fronteiras culturais e territoriais são redefinidas por meio dos novos fluxos. Essas novas práticas sociais e espaciais podem ser entendidas como territorialidades cotidianas, pois é aí, no cotidiano, que se materializa a produção do território:

as forças econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas e em unidade, efetivam o território, o processo social, no e com o espaço geográfico, centrado e emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos, em diferentes centralidades, temporalidades e territorialidades. Os processos sociais e naturais, e mesmo nosso pensamento, efetivam-se

na e com a territorialidade cotidiana. É aí, neste nível, que se dá o

acontecer de nossa vida e é nesta que se concretiza a territorialidade. (SAQUET, 2007, p. 57-58).

Para Assis (2003) as segundas residências geralmente são relacionadas às áreas próximas dos centros urbanos da residência fixa dos moradores, mas com a expansão urbana acelerada, há um processo de busca pelo distanciamento cada vez maior dos grandes centros. Contudo, a distância da segunda residência determina a sua frequência e a permanência dos moradores nela. Outro fato que o autor aponta igualmente às autoras Fonseca e Lima (2012), é a intervenção crescente do setor imobiliário nas segundas residências, mostrando a influência da apropriação do espaço pelo capital, considerando que a segunda residência tem se tornado um investimento fundiário para pessoas com maior poder aquisitivo.

15 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

Nesse contexto, percebe-se o caráter apontado por Lefebvre (2006) quanto à distinção entre a apropriação e a dominação do território, pois no caso das segundas residências é clara a dominação de espaços de interesse do capital no campo. Nesse caso, a dominação pela paisagem natural do entorno e pela questão imobiliária do capital (posse da terra) e pela apropriação do contexto cultural rural.

Conforme Porto-Gonçalves (2006), a urbanização é vista como destino final da sociedade contemporânea. Há, segundo o autor, um discurso que prioriza e que determina que a humanidade seja urbana, mesmo que os dados apontem para mais da metade da população mundial vivendo em espaços rurais. Contudo, esse discurso determina que os investimentos financeiros devem se voltar à industrialização e a superação do atraso, do “não moderno”, no caso, o campo. No entanto, o autor aponta para a realidade urbana das cidades pobres do mundo, onde a urbanização não foi acompanhada pela cidadania e onde muitas pessoas vivem em situações extremas de miséria e privações diversas, mostrando que a desruralização foi acompanhada pela periferização, a exemplo de grandes cidades da América Latina. Para esse autor, maior que o processo de urbanização é o processo de desruralização, quando ocorre um desfazer do rural maior que a conformação com o urbano.

Medeiros (2011) também aponta para um discurso que causa tensão na relação entre campo e cidade, uma vez que o campo ainda é visto e pensado como espaço do atraso, do tradicional, enquanto a cidade recebe uma valorização excessiva por ser o espaço considerado como aquele de progresso, da modernidade.

Contudo, a realidade abordada pela pesquisa, mostra que há uma revalorização crescente do campo, que pode ser observada além do crescimento do setor de turismo rural e empreendimentos afins no espaço rural, pelo número de citadinos que desejam experimentar a vida no campo, mesmo que por um período curto de tempo, que é a permanência na casa de campo.

Nesse período de revalorização do campo, pode-se dizer que há uma revisita a valorização da natureza pouco ou não artificializada, pois como observado no segundo capítulo, essa relação (valorização-desvalorização) é cíclica. De acordo com Henrique (2009) o que acontece é um retorno a ideia de natureza romantizada e primitiva - mesmo que travestida sobre padrões altamente tecnificados e acrescida do conforto individual e restritivo garantido por distinções de renda - que se

estabelece no atual momento da ideologia do capitalismo urbano, por meio da venda da ideia do contato com a natureza e da remodelação da ideia sobre a natureza.

No Ocidente, o Romantismo Naturalista do século XVIII foi logo seguido dos horrores da Revolução Industrial, ambos conduziram a opinião pública a acentuar os méritos do campo e da natureza, em detrimento da cidade. As imagens se invertem, de modo que o selvagem representa a ordem (ordem ecológica) e a liberdade, enquanto a cidade central é caótica, uma selva governada por párias sociais. (TUAN, 2012, p. 341).

No processo de fragmentação da identidade, a sensação do caótico e a falta de estabilidade que se põe aos sujeitos estimulam-nos a procurar paz, naquilo que se perdeu durante o desencontro com sua condição humana, com o natural. Segundo Schneider e Fialho (2000) além da redefinição da percepção simbólica do campo, o aumento do tempo livre pelas facilidades trazidas pela evolução tecnológica, à melhoria das vias de acesso e meios de comunicação diminuindo o tempo gasto no deslocamento, a segurança e qualidade de vida oferecidas pelas condições ambientais do campo, o estresse e o crescimento das cidades, e a busca pelo exótico e isolamento no campo, influenciam na compra da segunda residência no campo.

Os proprietários de casa de campo vivem a multiterritorialização, pois quando deixam o espaço urbano, em muitos casos existe a perca dos vínculos identitários com seu território e passam a vivenciar certo estranhamento que os impulsiona a buscar outros espaços para viver. Mas simultaneamente, se reterritorializa no campo, seja pela dominação ou apropriação desse território e nele vivencia suas múltiplas identificações/identidades, ora com mais intensidade com o urbano, ora como rural, estabelecendo vínculos mais ou menos acentuados nas relações políticas, econômicas e culturais.

De tal modo, percebe-se que a noção de territorialidade vivenciada por esses sujeitos reflete a materialidade e imaterialidade em unidade nesse processo, formando territorialidades e territórios múltiplos. A fluidez no espaço geográfico vivida por quem reside na cidade e no campo permite experimentar paralela e sucessivamente diferentes territórios, reconstruindo constantemente o seu próprio território.

Destarte, ainda observa-se nesse processo o território enquanto rede, que contempla o movimento e a continuidade do espaço no tempo, sobretudo com a intensificação das relações entre campo e cidade, enquanto materialidades, e do modo de vida rural e urbano enquanto expressões culturais e identitárias, dentro de uma perspectiva integradora, que contempla o funcional e o simbólico e a complexidade da formação territorial.