• Nenhum resultado encontrado

Patrimônio rural e a paisagem: elementos atrativos para a busca da

1 PATRIMÔNIO CULTURAL RURAL E SUA INFLUÊNCIA NA BUSCA

1.4 A VIVÊNCIA RURAL DOS CITADINOS NO CAMPO: A HORA DO

1.4.1 Patrimônio rural e a paisagem: elementos atrativos para a busca da

A relevância dos significados atribuídos ao patrimônio no contexto da ruralidade atual brasileira pode dar respaldo às políticas públicas de desenvolvimento rural, baseadas na valorização do campo e dos sujeitos que nele habitam. O turismo enquanto setor econômico percebe o campo e o modo de vida rural como singulares, e valoriza seus bens patrimoniais.

De acordo com Porto-Gonçalves (2006, p. 152) ocorre uma mercantilização da subjetividade no atual estágio da globalização, que tece uma valorização das diferenças dos lugares, uma vez que quanto mais globalizado o mercado se

transforma, mais as diferenças locais são valorizadas de forma a possibilitar a obtenção de maior lucro, assim como a exaltação das diferenças identitárias, pois se tornam nichos de mercado.

Para Henrique (2011) a natureza, seja material ou simbolicamente, é parte do espaço geográfico e foi apropriada pelo capitalismo, enquanto possibilidade de nicho de mercado, pois se recria a necessidade de consumi-la. Para o autor, a natureza foi transformada em um recurso utilizado como item de valoração do espaço, atrelando a ele o poder do capital.

No caso das segundas residências, é perceptível que o contato com a natureza é um elemento que faz parte da representação do campo, enquanto elemento da paisagem. Não se entende o ser humano enquanto, dissociado da natureza, mas como parte que congrega uma unidade. Contudo, se considera, no atual período da história, que as cidades carecem de áreas verdes e que a casa de campo, é uma maneira de suprir o contato com a natureza, mesmo que seja ela refeita e modificada para atender os padrões da ‘necessidade’ dos urbanos:

Lá, pra você ter uma ideia, quando você abre a porteira pra entrar dentro da chácara, já começa fazer a volta por um tanque que a gente tem lá, que são de peixes, ali você já começa ver a natureza. Você olha pro lado da frente da casa, já enxerga um morro cheio de árvores, que hoje ainda é preservado bastante. Então você desce na casa, 90 metros da minha casa, você já tem um rio, que chamam o rio Roça Velha. A gente já tem uma vertente de água natural mesmo, donde é bombeada a água da casa, passarinhos você vê de monte lá, o que você não encontra na cidade você vê lá. Então é isso que é o gostoso, é conjunto. Esses dias eu vindo embora, encontrei um, não sei se é servo que eles chamam... É um negócio que você não vê aqui por perto, só vai ver num lugar desse. Isso que vai ficando gostoso, interessante. De você ir num lugar desse, sem contar que se você andar por lá, o que você vai achar de coisa bonita que tem na natureza mesmo. (...) quando tá calor, eu entro no rio e ando longe dentro da água. É gostoso, então você vai ver, o que você vê de coisa diferente lá dentro, vale a pena mesmo, nossa, muito bom! (ENTREVISTA, 2017).65

Eu gosto do silêncio que não é silencioso. Vamos dizer assim, você não escuta os mesmos sons que você escuta aqui na cidade, não tem carro, não tem buzina, não tem coisas que se escuta aqui, criança correndo na escola, porque a gente mora do lado da escola. Não tem esse som, ele é muito mais quieto, mas você nunca tá em total silêncio, porque é a galinha fazendo barulho, ciscando, é o passarinho na árvore, é o pinhão caindo, quando dá aquele vento, é o vento batendo que você sente o vento batendo. Aqui você não sente por causa das casas, lá o ar parece que é mais puro, é diferente você respirar aqui e você respirar lá. Talvez

65 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

cientificamente falando seja pouca diferença, mas parece que o nosso organismo fica melhor lá? Fica mais à vontade assim, então o que eu gosto mesmo é do silêncio. Tanto é, às vezes a gente liga o rádio, o som essas coisas, e vai escutar o toca disco ali, mas eu não me importo de ficar no silêncio, eu gosto de estar ali, de ouvir o cantar dos passarinhos que é diferente assim, porque tem muitos passarinhos diferentes lá, eu gosto disso assim, gosto do silêncio, o silêncio bagunçado. (ENTREVISTA, 2017).66

Eu já gosto de andar no meio do mato, eu gosto de olhar as árvores, gosto de ver os passarinhos, passarinhada, tem bastante passarinho. Então eu gosto de chegar lá e já ir pondo comida pra eles, então eu gosto mais da parte do mato, de estar no meio do mato, curtindo aquele ambiente, como se diz, bem nativo mesmo. (ENTREVISTA, 2017).67

Diante dessa realidade, o campo enquanto espaço que congrega a natureza em sua forma mais natural e vasta, tornou-se espaço oportuno para o consumo desse recurso. O espaço rural, ainda é a base espacial para o modo de vida relacionado à tranquilidade, pureza, paz, honestidade e um conjunto de adjetivos que o categorizam dentro de uma ludicidade construída socialmente ao longo da história, que romantiza o campo, tornando a casa de campo um simulacro nostálgico.

Como espaço de uma paisagem única e de identidade cultural diferenciada, o campo, por meio de seus patrimônios culturais e naturais, tornou-se um interessante conjunto a ser incorporado como necessidade da vida citadina hodierna. Destarte, o patrimônio cultural do campo passou a ser (re)valorizado e almejado por pessoas que tem identificação, seja por meio de lembranças próprias ou familiares ou pelo desejo formado pela nostalgia bucólica travestido na necessidade do contato com o que representa a vida do campo.

O patrimônio rural é associado aos sistemas ambientais e de produção e aos sistemas simbólicos de culturas locais, compondo a paisagem rural, considerada um dos principais atrativos do meio rural, pelos habitantes e especialmente pelos citadinos (SILVA, Karen, 2009). Os patrimônios culturais rurais receberam maior visibilidade com o início da modalidade de turismo rural desde a década de 1980,

66

Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na cidade de Ponta Grossa, no primeiro semestre de 2017.

67 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

pautado na valorização do modo de vida, da paisagem rural, e da sensação de hospitalidade e tranquilidade recebidos na visita ao campo.

Esse conjunto patrimonial tem exercido especial encantamento sobre os moradores da cidade, já que o turismo rural engloba uma série de atividades que envolvem desde a hospedagem, a prática de atividades esportivas até a inserção no meio de vida dos moradores que se abrem a esse segmento turístico. É comum que depois da prática de turismo rural, muitas pessoas sintam-se motivadas a adquirir a segunda residência.

O turismo exerce uma relação dialética com o patrimônio, pois ao mesmo tempo em que é capaz de gerar nos habitantes o senso de preservação da história e cultura locais, também pode motivar a uma invenção e forçar vínculos que não existiam e correspondem apenas à mercadoria de venda para consumo. Para Ferreira (2010) é necessário que para o bom desenvolvimento das atividades turísticas em meio rural, o reconhecimento da cultura local, o respeito pelas mudanças que acontecem de maneira natural no desenvolvimento das sociedades humanas, sobretudo quando se tratam de comunidades e povos tradicionais.

O turismo no meio rural apresenta a proposta de disseminação do saber, reconhecimento e manutenção dos vínculos com o passado, a produção e modificação histórica do campo. Correlacionada com o fator econômico movimentado pelas atividades turísticas, legitimam-se ações voltadas à preservação do patrimônio. Contudo, muitas vezes o preço pago refere-se a transformar o patrimônio quanto o valor de uso, de produção cultural para produto de consumo com valor econômico.

A valorização do turismo para o campo também reflete o momento histórico, onde são (re)valorizados os vínculos com a natureza. A relação entre sociedade e natureza apresenta distanciamentos e aproximações. Ao longo da história percebe- se que há determinados momentos em que a busca pela casa de campo se dá seguindo um modismo, pois tão logo a elite econômica busca se apropriar de um espaço e sua cultura é seguida pelas demais classes econômicas, impulsionando um movimento massivo.

A relação do patrimônio rural com a busca da segunda residência ainda se dá pelo fato que os citadinos buscam pela melhor qualidade de vida associada aos elementos que constituem o campo, procurando maior qualidade de vida, pautada na melhoria das condições ambientais para a saúde física e psicológica:

Eu gosto daquela parte assim que você senta naquele gramado, vem aquele vento, aquela... Aquela paz, aquela luz que vai lavando a mente da gente assim, vai tirando as coisas ruins! Eu gosto mais de chegar e sentar lá na grama, de frente pros tanques, e não pescar, mas está ali sentada, e vai relaxando, tanto a mente quanto o teu físico, essa parte eu gosto muito. (ENTREVISTA, 2017).68

A eu gosto de manhã quando a gente levanta bem cedo lá, assim tipo umas sete e meia, pra domingo é cedo. Eu gosto, a gente tem uma mesa pra fora na área, eu sirvo o café naquela mesa, e aí tem muita paisagem, muita árvore, muita casa... Eu gosto de ficar ali, tomando café olhando aquela paisagem, e é bonito de manhã, tem aquela serração, aquela neblina cedo, é bonito, é diferente, bem diferente daqui [cidade]. (ENTREVISTA, 2017).69

A tranquilidade que ela [paisagem] te passa. Você se desliga e fica apreciando aquilo. Se são flores, você presta atenção no formato da flor, você cheira a flor. Se é uma paisagem de árvores, você fica admirando, as vezes tem pássaros, têm os bichinhos. Aquilo ali te passa paz, aquele momento que você desliga, só observa ali, e se concentra no que você tá olhando: a flor você vai ver ela, o formato dela, você pega, você cheira pra ver que cheiro que tem. Árvores e campo, mato, a cor, se tem algum bichinho, tudo isso. (ENTREVISTA, 2017).70

De tal forma, os elementos que constituem o patrimônio rural exercem grande influência na busca pela aquisição da casa de campo. Essa segunda residência tem um amplo leque de significações e as representações sociais construídas sobre ela são repletas de sentimentos que envolvem a história dos sujeitos, seja pelas suas próprias experiências, seja pelas memórias familiares compartilhadas. O conjunto formado pela paisagem e o modo de vida rural opera no campo sentimental, que logo atua na ação da aquisição de uma residência dentro do espaço que é considerado refúgio, pelos citadinos: o campo.

Um dos principais atrativos dentro do contexto patrimonial rural é a paisagem. Como um dos conceitos-chave da Geografia, a paisagem apresenta um número de possibilidades variadas de análise dentro da abordagem humana ou física, abrangendo desde a morfologia até os aspectos culturais, da forma de

68 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

cidade de Ponta Grossa, no primeiro semestre de 2017.

69

Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na cidade de Ponta Grossa, no primeiro semestre de 2017.

70 Informação fornecida por proprietário(a) de segunda residência à autora durante entrevista, na

representação social coletiva e individual, à intervenção do trabalho, da tecnologia e da concepção ideológica, do material ao imaterial, do objetivo ao subjetivo.

Enquanto produto da sociedade, a paisagem é o sustentáculo das relações humanas com o espaço e entre os indivíduos. De tal maneira, não deve ser compreendida como apenas uma cena, uma imagem momentânea, mas como uma importante ferramenta de análise da realidade, construída material ou simbolicamente, demonstrando à dinâmica e a mutabilidade do espaço no tempo.

A paisagem não é apenas o quadro onde ocorrem as práticas sociais, pois no imaginário social, a paisagem é a própria representação das práticas, enquanto sua configuração, imprimindo o conteúdo e construindo o espaço geográfico. (ROSENDAHL; CORRÊA, 2001). A paisagem do campo é construída no viver diário das pessoas que vivem nesse/desse espaço, e também daqueles que chegam nele para vivenciar ou produzir, mas reflete a cultura e a identidade de uma sociedade que a transforma dentro de sua realidade de reprodução social e econômica, dentro da atuação política e das mudanças impressas pelo contato com o urbano, com a globalização econômica e cultural, mantendo certas especificidades.

Pela perspectiva de abordagem humanística da paisagem, é dada ênfase as interpretações da relação subjetiva do sujeito com o ambiente, palco da experiência das ações humanas. De acordo com Nitsche (2012), a geografia humana trouxe contribuições para o conhecimento científico na área de turismo, por tentar compreender a relação subjetiva com o mundo para os sujeitos, revelando o arcabouço intelectual e psicológico, expresso na percepção, nas experiências e sentimentos e na cultura do indivíduo.

Para Ferreira (2017), a paisagem reaviva uma espiritualidade intrínseca ao sujeito pela percepção e pela intensificação do subjetivo humano por meio da intuição, enquanto aspecto da visão e contemplação, que formam um (re)conhecimento imediato sobre o espaço onde se esteja presente - não apenas observando, mas enquanto participante da paisagem – capaz de ativar os sentidos mais sensíveis até às lembranças e memórias, ativado a melancolia e a nostalgia. Dessa maneira, a vida cotidiana configura diferentes maneiras de estar na paisagem e de senti-la.

Como posição para análise da realidade individual, a concepção humanista de paisagem para a Geografia deve se desprender daquilo que é visível aos olhos e se voltar para os elementos subjetivos que compõe o olhar, buscar compreender

como o sujeito vivencia sua relação com o espaço e a rede que constitui a paisagem.

A partir das vivências e da cultura a paisagem pode receber valor enquanto produto de venda ou valor subjetivo. A paisagem do campo reflete a construção material e imaterial característica ao espaço rural, expondo as várias conjunturas sociais de formação, do passado e do presente, revelando a cultura do grupo social que a modela, contendo os patrimônios culturais e naturais do espaço rural. A transformação pela qual o campo passou, reflete a transformação da natureza, da cultura, as inovações e preservação de singularidades e a simultaneidade de tempos que existe na paisagem rural:

A transformação da natureza, de uma primeira para uma segunda natureza, se dá pelo uso das técnicas e ferramentas, empregadas como prolongamento do corpo humano, que assim coloca sua marca sobre a natureza. A partir desta transformação, o homem passa não só a modificar a natureza, como também produzir espaço. Na sua ação, relacionada à produção, não é possível distinguir a ação em si e o ato de produzir o espaço. (HENRIQUE, 2009, p. 93).

Quando a paisagem natural é transformada e construída segundo a cultura de um grupo torna-se paisagem cultural, que pode ser compreendida de diversas maneiras, pois o olhar é resultado da constituição cultural do indivíduo e da sua percepção sobre o espaço, uma vez que a paisagem pode ser compreendida como uma cena, a imagem vista pelos olhos, ou como um conjunto de símbolos, representações, da conotação material e imaterial, dos diversos tempos que constituem a paisagem.

Conforme aponta Chauí (2000), paisagem é mais que a soma de elementos colocados próximos uns aos outros, é a percepção do todo complexo. Faz parte de um universo que contempla forma e sentido, sendo inseparáveis da percepção do sujeito. Pode representar a base para uma obra de arte, ou uma barreira, ou uma constituição de elementos que são passiveis de desfrute, por quem a contempla.

De acordo com Sauer (1998) a paisagem pode mudar segundo as modificações na cultura da sociedade que a constrói. As significações atribuídas à paisagem podem ser modificadas segundo os conflitos das relações que se estabelecem sobre o espaço, alterando também a identificação com a paisagem.

Para Rosendahl e Corrêa (2001) a paisagem carrega em si a sociedade e a natureza, o que é objetivo e simbólico, pois resulta da relação do ser humano com o ambiente onde vive. Na paisagem são escritas as singularidades de cada tempo e é por isso, espaço de associação de culturas, interpretações, tempos, sentimentos e leituras. É o meio natural aglutinado ao meio construído e transformado.

É interessante compreender a paisagem dentro da perspectiva histórica, pois mostra um processo cumulativo da ação da natureza e do ser humano, podendo ser analisado os tempos e atores sociais que a construíram, em tempos diversos. (MEINIG, 2002). Como produto da sociedade desigual, a paisagem também guarda os resquícios das diferenças de poder, pois alguns grupos predominam sobre outros e as mudanças nesse espaço ocorrem a partir do grupo de maior poder. Com o adensamento da relação entre campo e cidade, a paisagem reflete as novas configurações dessa aproximação geográfica e cultural, de modo que a paisagem rural é resultado do hodierno e do passado, do tradicional e do moderno que estão presentes no cotidiano e nas práticas daqueles que vivenciam esse espaço.

Para interpretar a apropriação humano do espaço e as relações sociais que ocorrem sobre ele, à paisagem enquanto conceito geográfico tem sido suporte de interpretação, sobretudo, ligada a Geografia Cultural, auxiliando na interpretação do caráter palimpsesto do espaço. De acordo com Christlieb (2006) essa nova abordagem da Geografia auxilia a entender não apenas as expressões materiais, mas também o simbolismo que representam alguns elementos da paisagem para as pessoas, ajudando a elucidar como os indivíduos percebem e compreendem o ambiente.

Presente nas práticas diárias, nas lembranças e na vivência dos moradores do campo, a paisagem do campo, com características de maior ou menor intervenção humana, estão ligadas ao cotidiano desse espaço, à história individual e coletiva das pessoas, que no seu dia a dia a constroem, a paisagem, e modificam. A construção do espaço no tempo - representado na paisagem de forma harmoniosa ou conflitante - marca os tempos, registra os eventos, e torna-se registro da memória social, elo com a identidade cultural e logo, patrimônio cultural.

Para os proprietários de casa de campo, o conjunto composto pela natureza, expressa na paisagem e do modo de vida rural, contemplam o patrimônio rural. É comum que essas pessoas busquem aprender sobre o conhecimento produzido no

campo, acerca das tradições, das lendas locais, da maneira diferenciada de manejo da propriedade. Esses conhecimentos são adquiridos em conversa com os moradores locais, com as pessoas mais velhas da família que tiveram vivencia rural e por meio das mídias. Esses conhecimentos abrem um novo leque de oportunidades de interação com as pessoas, com o espaço, e com o modo de vida rural, possibilitando uma aproximação com a intervenção na paisagem.

Estar em contato com os ciclos da natureza, seja ela mais ou menos artificializada, faz parte da identificação com o campo e com os moradores do campo. Interagir na paisagem e acompanhar sua mudança são ações que ligam o sujeito ao seu espaço de vivência rural, a sua propriedade e envolvem a ambientação mágica do campo, ao poder acompanhar as etapas, o crescimento, a mudança, o movimento. Transformar a paisagem do campo e acompanhar os processos de mudança gera a sensação da integração com a paisagem, com o modo de vida, ser-no-mundo rural:

Eu vejo todos os meus carneirinhos, aquilo me faz bem, ficar observando, aí você para e perde-se um tempo ali. Ou quando também eu tenho uns tanquezinhos, vai lá ao lago fica olhando os peixinhos, tratando os peixinhos, e aí isso é o que eu mais gosto de fazer. Ou também quando eu fiz uma plantação de aveia agora no inverno, o que seria o resultado ali também é satisfatório, e também se for falar tudo que a gente vê, e sente, na verdade é tudo. Desde uma árvore que eu planto e acompanho o crescimento, porque eu planto, eu sei tudo o que eu plantei lá, sei o tamanho, como foi difícil, a sensação... Até mesmo da árvore que você plantou, que eu plantei, é uma satisfação assim quando eu olho lá. Hoje a paisagem e dou uma olhada para trás, como era, eu vejo que alguma coisa eu fiz pela natureza. Então tudo aquilo é satisfação, quando eu entrei lá tinha uns pinheirinhos pequenininhos, hoje eu como meus pinhãozinhos, não tem como dizer, uma sensação para mim tudo é bom! (ENTREVISTA, 2017).71

Eu gosto da cor, eu gosto do contraste do verde com o azul. E quando tem alguma planta florindo, aquele destaque no meio do verde, eu gosto de olhar assim e ver aquela coisa, aquela coisa contrastante assim. Eu gosto de cores fortes, e aqui [na cidade] por mais que veja um monte de casa, mas tipo, não é a mesma coisa, porque, sei lá, por não ser natural. Por a gente está acostumado a ver isso, apesar de lá também ser uma paisagem