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CAPÍTULO II REVISÃO DA LITERATURA 1 LAZER, TURISMO E DESPORTO 1 LAZER, TURISMO E DESPORTO

1 LAZER, TURISMO E DESPORTO 1.1 Lazer

1.2 - Tempo e lazer

1.3 - Lazer, estilos de vida e desporto 1.4 - Turismo desportivo

1.5 - O turismo em Portugal

1.6 - O turismo desportivo e a economia 1.7 - O golfe e a economia

1.8 - O impacto do golfe na economia nacional 1.9 - O percurso do golfe no mundo e em Portugal

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1 - LAZER, TURISMO E DESPORTO 1.1 - Lazer

Segundo a corrente existencialista expressa no pensamento e na obra e Vergílio Ferreira - Espaço do Invisível II -, o Homem é:

pessoalmente, individualmente, um valor em que a sua liberdade… não deve perder-se entre a trituração do dia-a-dia e que, fixando o Homem nos seus estritos limites, só por distracção ou imbecilidade ou por crime se não vê ou não deixa ver que ao mesmo Homem impende a tarefa ingente e grandiosa de se restabelecer em harmonia no mundo, para que em harmonia a sua vida lucidamente se realize desde o nascer ao morrer (Ferreira, 1976).

Neste contexto, queremos realçar o valor lúdico da vida, associado à liberdade, que, tal como nos refere o autor, não deve perder-se no estonteante frenesim (ao qual chama trituração) do dia-a-dia.

Este valor lúdico é indiscutivelmente fundamental para o desenvolvimento e a formação do indivíduo e, nos tempos actuais, ninguém contesta a importância, a vários níveis, das práticas desportivas, especialmente no campo do lazer e da recreação.

A este respeito, poderemos afirmar que a ideologia e as funções do lazer - repouso, divertimento e desenvolvimento -, expressas na obra de Dumazedier (1962), estão ainda bem presentes na sociedade dos nossos dias.

Segundo aquele autor, o repouso liberta a fadiga e, neste sentido, o lazer é reparador das deteriorações físicas ou nervosas, provocadas pelas tensões que resultam das obrigações quotidianas e, particularmente, do trabalho.

Actualmente, as deteriorações físicas e psíquicas do quotidiano social são essencialmente provocadas pelo stress, pela tensão no trabalho e pela estonteante agitação em que se transformaram os grandes centros populacionais.

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Refira-se a este propósito a crescente preocupação do cidadão comum em relação às chamadas doenças da civilização, de que a mais grave é sem dúvida a obesidade, a qual a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera como sendo a doença do século XXI (WHO, 2004).

Neste sentido, a degeneração dos estilos de vida leva o Homem actual a ter uma maior consciencialização dos problemas relativos à ocupação do tempo livre, com o objectivo primeiro de cuidar da saúde física e mental (Quaresma, 1997).

Se a primeira função do lazer liberta essencialmente a fadiga, a segunda, a do divertimento, está relacionada com a libertação do tédio. Esta libertação tem como principal característica a procura de uma ruptura com o universo quotidiano (Dumazedier, 1962).

O Homem sente necessidade de complementar a sua vida através de compensações que poderão ir desde a pura diversão ou distracção, até às situações de “fuga” e evasão para destinos e actividades diferentes dos habituais locais de trabalho ou residência.

A concluir uma das suas teorias, Dumazedier (1962) sustenta que a terceira função do lazer - o desenvolvimento - é aquela que liberta os automatismos do pensamento e da acção quotidianos, permitindo uma participação social mais vasta, mais livre e uma cultura desinteressada do corpo e da sensibilidade, para além da função prática e técnica. Nesta perspectiva, o lazer é um conceito amplamente abrangente, em que o autor põe em evidência a liberdade de escolha e de pensamento e a opção individual de cada um de nós, salientando o seu voluntarismo, sem no entanto deixar de fazer uma acentuada distinção entre o lazer, o trabalho e as obrigações familiares e pessoais.

Numa óptica um pouco diferente, retemos igualmente as reflexões sobre o lazer presentes na obra de Elias e Dunning (1992), onde é feita uma abordagem à busca da excitação. Os autores referem que a excitação procurada pelas pessoas no lazer é em certos aspectos singular. Trata-se, em

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geral, de uma excitação agradável.

Essa excitação será fundamentalmente encontrada nas actividades de lazer directamente relacionadas com o repouso, o provimento das necessidades biológicas, a sociabilidade e, muito particularmente, com as actividades miméticas ou jogo.

Para aqueles autores, a característica comum do lazer não é a libertação de tensões, mas, antes, a produção de tensões de um tipo particular. O desenvolvimento de uma agradável tensão-excitação é a peça fundamental de satisfação no lazer (Elias e Dunning, 1992).

Tendo em conta a rápida evolução da sociedade actual, estudos e investigações mais recentes dão-nos uma visão diferente sobre as teorias do lazer e da recreação.

Segundo Henderson et al. (2004), as boas teorias são sempre dinâmicas, logo as novas teorias não deverão refutar as anteriores, uma vez que elas são consequência do seu tempo, mas sim remarcar as mesmas em função das novas experiências.

A este respeito, Kaplan (1964) diz-nos que ocupar-se de uma teoria é não só aprender com a experiência da mesma, mas também aprender através dela. Ao analisar vários estudos sobre o lazer, Henderson et al. (2004) afirmam que muitos profissionais que estudam a recreação e do lazer focam e encaminham mais os seus esforços para os proveitos dos serviços do que para a construção de um corpo teórico propriamente dito e baseado no conhecimento. Logo, a teoria e a prática formam por vezes uma dicotomia.

No entanto, muitos estudos sobre o lazer sugerem que, nas investigações sobre o tema, a teoria é essencial, tanto para o desenvolvimento profissional, como para a qualidade dos serviços (Bedini e Wu, 1994; Devine e Wilhite, 1999; Ellis, 1993; Henderson, 1994; Isso-Ahola, 1986; Sylvester, 1992).

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para entender e validar as diferentes situações práticas do lazer, a investigação dos processos e técnicas deverá nunca esquecer os contributos da teoria. De igual forma, Sylvester (1992) descreve como as práticas no terreno e a investigação da teoria têm fortalecido a possibilidade de aumentar a ocorrência do lazer, quer no que respeita à qualidade de vida, quer no que concerne ao acesso e às oportunidades a esse mesmo lazer.

No entanto, e de acordo com Roberts (1997), os problemas nucleares ou os temas básicos da sociologia do lazer foram dirigidos no sentido de saber quanto lazer as pessoas têm disponível e de como é possível usarem-no, isto é, quais são as oportunidades para o lazer, como usá-lo, porquê, e quais as consequências para toda a sociedade.

Neste sentido, importa salientar que, de acordo com Rojek (1997), a teoria do lazer no período pós-Segunda Guerra Mundial distinguiu-se por três fases, o funcionalismo (1945-1975), o estruturalismo crítico (1975-1990) e o pós- estruturalismo/pós-modernismo, a fase da corrente era.

O funcionalismo está baseado no conceito das automatizações individuais, sendo o lazer estudado partindo do estado individual de cada um e não da situação em que o mesmo ocorre. Esta teoria foca-se geralmente nos efeitos positivos do lazer para realçar a integração e o desenvolvimento social.

O estruturalismo crítico foca o seu estudo em saber como as pessoas estão condicionadas por forças estruturais que são externas ao indivíduo. Geralmente, esta teoria examina as estruturas das desigualdades, como por exemplo a privação do livre acesso a actividades de lazer por parte de determinadas classes ou estratos da sociedade.

O pós-estruturalismo/pós-modernismo sugere que todos os dias da vida são marcados por fragmentação, diferenciação, diversidade e mobilidade. Os defensores desta teoria não acreditam que o desenvolvimento humano possa ser explicado por classes ou paternalismos (ou qualquer outra coisa) e a questão da visão modernista do lazer deverá ser sempre conotada com liberdade, escolha e autodeterminação (Rojek, 1997).

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Vários autores sugerem que tanto o funcionalismo, como o estruturalismo crítico e o pós-modernismo contribuíram grandemente para o entendimento sobre a teoria do lazer (Roberts, 1997; Rojek, 1997; Kelly, 1997).

No entanto, entender o lazer somente através do funcionalismo e do estruturalismo manifesta-se insuficiente, na medida em que o lazer não é estático, não é estruturado e não é racional, isto é, o lazer não pode ser somente racionalizado em função do tempo, do espaço e das actividade, tal como defendiam as teorias dos anos 60.

Nesta linha de pensamento, Kelly (1997) defende que o

pós-estruturalismo/pós-modernismo apresenta-se como uma alternativa aos conceitos anteriores, na medida em que perspectiva o lazer como algo em constante mudança, dissociado de constrangimentos espaçio-temporais, sendo algo de irracional, de prazer, de lúdico e de jogo. Ou seja, dissolve os anteriores conceitos, na medida em que as pessoas continuam a ter tempo de trabalho e tempo livre, considerando que os seus comportamentos de lazer não são determinados por estes tempos, mas sim pelo seu estilo de vida.

A palavra lazer invoca uma grande variedade de pensamentos, imagens e conceitos. As definições normativas deste conceito estão tradicionalmente expressas nas expressões “tempo livre”, “tempo de trabalho”, “recreação e actividade”. Alguns autores como Mannel e Kleiber (1997), na sua definição, acrescentaram, em alternativa, a expressão “estado de espírito”.

No entanto, outros autores criticaram esta visão popular e sugerem o lazer como uma emancipação da acção (Hemingway, 1999a), ou como uma participação democrática (Stormann, 1993) ou ainda como um desenvolvimento comunitário (Arai e Pedlar, 1997).

A relevância dos estudos conceptuais sobre o lazer para o desenvolvimento das práticas e dos serviços de lazer tem sido particularmente discutida por Hemingway e Parr (2000), com os mesmos a afirmar que a investigação e a prática do lazer deverão estar situadas em contextos sociais, culturais e materiais específicos e têm tido um significado relevante para o entendimento

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da história da actividade humana.

Para melhor entendermos o fenómeno do lazer, esses contextos deverão incluir a desigualdade na distribuição de recursos, a concepção específica dos direitos, a justiça social e a liberdade (Hemingway, 1996).

Neste contexto, Mannel e Kleiber (1997) sugerem que o lazer, como alternativa, deve ser definido simultaneamente como um fenómeno objectivo e subjectivo.

Como fenómeno objectivo, o lazer é entendido como uma actividade ou conjunto de actividades que decorrem num local próprio, como uma praia, e em tempo determinado, logo, de fácil identificação na relação actividade/tempo, neste caso tempo livre.

Para os mesmos autores, o lazer, como fenómeno subjectivo, é entendido como uma experiência mental individual presente nas respectivas actividades, onde a satisfação e os significados derivam não só das vivências anteriores, mas também do envolvimento, logo deverá ter em conta a percepção individual dos factores com os quais as pessoas classificam as supostas actividades de lazer.

É esta percepção individual de factores que suporta a noção de lazer como uma experiência subjectiva, e à qual Shaw (1985) chamou perspectiva subjectiva interna, a qual se identifica com a liberdade de escolha, a motivação intrínseca, o divertimento e a relaxação.

Estas características e opções pessoais do lazer levaram Rizzuti (2002) e Stebbins (2001) a ver no lazer uma componente da corrente moderna do hedonismo, que recebe frequentemente a denominação de utilitarismo. Na sua concepção, aborda o prazer individual integrado numa ética social, isto é, maior felicidade para um maior número de pessoas.

Essa felicidade é explicada por aquilo a que Stebbins (1997) classifica de lazer casual, que define como algo de imediato, intrinsecamente compensador, que proporciona um prazer momentâneo e que não requer aptidões específicas.

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Segundo o mesmo autor, o lazer casual subdivide-se em jogar, relaxar, entretenimento passivo (ver televisão, ouvir música, etc.), entretenimento activo (jogos de mesa e de diversão), socialização, estimulação sensorial (encontros gastronómicos, enológicos, etc.), podendo ainda ser definido como todas as actividades que estão para além do voluntariado, das actividades amadoras (desportivas ou outras) e dos hobbys ou passatempos (Stebbins, 1992).

1.2 - Tempo e lazer

No nosso novo século, e num futuro não muito longínquo, se é verdade que, dadas as actuais reformas laborais, passámos a ter, em termos globais, menos tempo livre, em consequência do aumento do tempo da generalidade das carreiras profissionais, não deixa de ser menos verdade que, em termos específicos, o aumento do tempo livre, a melhoria do nível de vida, o acesso à informação e, acima de tudo, a elevação cultural são incontornáveis conquistas do século XX.

Actualmente, para além de dispormos de mais tempo livre na nossa vida, temos de igual forma mais poder de compra sobre os bens de consumo, logo, aumentamos consideravelmente o nosso nível de vida, quando comparado com um par de décadas atrás.

Este aumento do nível de vida, do tempo livre e da cultura, criou novas práticas que se revêem na necessidade de uma ocupação racional desse mesmo tempo, através de actividades de recreação, animação e lazer, no fundo através da realização humana.

Para Barbosa (2006), tornar o tempo livre em tempo de realização humana implica atribuir-lhe um estatuto similar ao do tempo de trabalho. Nos seus estudos, a autora salienta três aspectos fundamentais a atribuir ao tempo:

(i) O tempo livre, tal como o tempo de trabalho, é um tempo de formação humana. Na realidade, é nesse espaço de tempo que os indivíduos podem escolher as suas actividades sem se encontrarem

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condicionados unicamente pelo valor da utilidade. Em última análise, é o “eu” que determina a escolha a partir de uma percepção subjectiva dos vários conteúdos objectivos que se lhe apresentam. Neste acto está também implícita a noção de responsabilidade;

(ii) O tempo livre não é um tempo residual (o que resta depois do trabalho). Quer o tempo de trabalho quer o tempo livre, embora sejam realidades diferentes, fazem parte de uma única realidade, o Tempo de Vida. Neste sentido, devem ser pensados na sua relação recíproca, possuindo, no entanto, responsabilidades e motivações distintas;

(iii) O tempo livre, por si mesmo, não promove a autonomia, a liberdade e a emancipação. Enquanto tempo significativo de escolha individual, de observação, de reflexão e de experimentação, possibilita a formação da personalidade, podendo proporcionar a auto determinação pessoal e social.

Estas considerações reportam-nos para aquilo a que Cotte e Ratneshwar (2001) definem por estilos de tempo. Segundo os autores, os estudos deverão centrar-se nas escolhas, no lazer e nos respectivos comportamentos individuais, pois só assim se entenderá porque é que as decisões no lazer, são, de facto, decisões activas, autónomas, susceptíveis de formação pessoal e social.

1.3 - Lazer, estilos de vida e desporto

Actualmente, vários estudos abordam o lazer não tanto como um conceito, mas sim como um estilo de vida, cujas observações e análises são feitas em função da estratificação social, isto é, os diferentes lazeres são estudados em função das diferentes classes sociais (Eijck e Mommaas, 2004; Gobster, 2005; Henderson e Bialeschki, 2005; Rojek, 2000).

Neste caso, o lazer surge não só como um recurso para a afirmação de um status quo, naquilo que é definido como a competição numa hierarquia cultural, mas também como uma actividade dominante que dá suporte a uma maior

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inclusão do indivíduo na orientação do seu estilo de vida (Eijck e Mommaas, 2004).

A este propósito, Haggard e Williams (1992) investigaram a auto-afirmação através dos auto-conceitos simbólicos que as pessoas têm sobre as actividades de lazer, concluindo que as práticas de determinadas actividades, nomeadamente as desportivas, constituem um elemento fundamental para a definição de um estilo de vida, neste caso, um estilo de vida activo.

O carácter preventivo e terapêutico das actividades físicas e desportivas é actualmente, para quem as pratica, identificado como um estilo de vida activo. As pessoas encontraram no lazer, na prática desportiva e na actividade física um meio de estar em forma, de se sentirem bem consigo mesmas, com o seu corpo e com o seu espírito.

Na sociedade portuguesa, as preocupações relacionadas com o estilo de vida activa e com o lazer não são recentes, pois há mais de uma década que Bento (1991) nos afirmava que o movimento reveste-se de uma importância indiscutível para o desenvolvimento do indivíduo, e nos tempos actuais ninguém contesta a importância das práticas desportivas, especialmente no campo da recreação e lazer.

Nesta mesma perspectiva, Pires (1993) afirma que o desporto sofreu profundas alterações, ganhando novos contornos, novos modelos e tendências. A sua imagem actual afasta-se do modelo tradicional que privilegia o rendimento e evolui para um sistema a funcionar em regime de livre escolha, de múltiplas opções, na procura de novas práticas, de diferentes perspectivas e de espaços geográficos.

A este regime de livre escolha e múltiplas opções está associada uma nova cultura, classificada como a cultura do movimento, da saúde e do corpo. Deste modo, Betrán e Betrán (1995) afirmam que cada sociedade tem, em cada época, a sua própria cultura corporal, que oscila com base nos parâmetros ideológicas, tecnológicos, económicos, sociais e supostamente culturais.

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passar do século, o lazer adquiriu uma importância inesperada do ponto de vista da saúde. Tudo isso trouxe consigo uma mudança de percepção, própria da modernidade, na qual o lazer passou de um conceito refém do tempo livre, da recuperação e do descanso laboral, a um fenómeno mais vasto, transversal e condicionado pelo pós-modernismo.

Deste modo, o lazer associado à ideia de corpo e este, por sua vez, associado aos usos, hábitos e costumes, aos movimentos que suscita, às práticas corporais e às actividades físicas e recreativas, inscrevem-se na própria mentalidade da época, condicionando fortemente os estilos de vida de cada cidadão. Neste caso, referimo-nos a um estilo de vida activo (Quaresma, 1997).

Se a um estilo de vida activo corresponde, geralmente, um alto benefício para a saúde e bem-estar individual, também a sociedade tem a beneficiar deste acto individual. Quando a actividade física e as práticas desportivas ocorrem, o contexto social que advém dos relacionamentos e interacções sociais, as regras sociais, e todo o significado cultural são também beneficiados.

Estes aspectos foram evidenciados em várias trabalhos sobre o lazer, nos quais os temas “Capital Social” por Hemingway (1999b), “Identidade Social” por Kelly (1983) e mais recentemente, “Suporte Social” por Henderson e Ainsworth (2000) deram um contributo para a investigação do lazer no que concerne a saber como a recreação promove a coexistência social, tendo implicações positivas no trabalho, na saúde pública, na economia, e na indução dos outros a um estilo de vida activo, através da actividade física.

1.4 - Turismo desportivo 1.4.1 - O conceito

Tal como qualquer conceito, também o turismo desportivo é passível de diferentes definições e interpretações. No entanto, foi nossa preocupação não só encontrar a definição expressa pelo organismo máximo que superintende as questões mundiais respeitantes ao turismo, a OMT, mas também analisar

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as reflexões de especialistas de referência internacional na matéria. Neste sentido, é nosso propósito alcançar uma visão mais universal do conceito. Assim, segundo a OMT (2002), turismo desportivo é a participação activa, como praticante, ou passiva, como espectador, em desportos recreativos ou competitivos. O desporto é a motivação principal para a deslocação e o destino é escolhido pelas suas qualidades intrínsecas para a prática do desporto, embora o elemento turístico possa estar incluído e reforçar a experiência.

Ainda segundo o mesmo organismo, este segmento do turismo inclui o seguinte tipo de desportos e produtos:

(i) Golfe;

(ii) Desportos náuticos;

(iii) Caminhadas, trekking e biking;

(iv) Ténis e outros desportos passivos de bola; (v) Caça e pesca;

(vi) Desportos aquáticos/subaquáticos (actividades aquáticas e mergulho);

(vii) Desportos de Inverno.

Deste modo, verificamos que as suas análises mais recentes sobre o turismo desportivo estão centradas nos desportos de Inverno e no mergulho, embora considere que o golfe é igualmente um dos desportos recreativos mais comuns e com uma forte ligação ao turismo (OMT, 2002).

Relativamente ao golfe, e segundo a Confederação do Turismo Português, (CTP), podemos acrescentar que é sobejamente reconhecida a sua importância crescente quer a nível internacional, quer a nível nacional, uma vez que o grande aumento de jogadores à escala mundial, desde os meados dos anos 80, tem sido acompanhado por um crescimento do turismo de golfe, quer ao nível dos fluxos internos, quer ao nível das deslocações internacionais (CTP, 2005).

O turismo desportivo é reconhecidamente um fenómeno prevalente e em permanente desenvolvimento. No entanto, as ligações entre turismo e

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desporto não são tão recentes quanto se possa pensar. Se recuarmos longinquamente no tempo, facilmente notamos que uma das primeiras formas de turismo desportivo surgiu na Grécia Clássica. Os povos deslocavam-se com a finalidade de assistir, entre outros, aos Jogos Olímpicos, preparando cuidadosamente as suas viagens.

Esta ideia não é uma definição de turismo desportivo, mas, tal como nos refere Grifi (1989), foi a primeira forma de turismo desportivo, sendo que a grandeza das Olimpíadas e a deslocação de inúmeras pessoas era de tal ordem importante que as hostilidades da guerra eram interrompidas, dando lugar às “Tréguas Sagradas”, para que as pessoas se deslocassem em segurança. Actualmente, vários autores, De Villiers (2003), Jegathesan (2003) e Park (2003), defendem igualmente o factor pacificador do desporto e, consequentemente, do turismo desportivo. Desta forma, o desporto, através de jogos e eventos internacionais, pode incrementar as relações institucionais entre países e fortalecer as relações diplomáticas.