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A LDB-1996 e suas conseqüências nas competências profissionais e na profissão docente

METACOMPETÊNCIAS COMPETÊNCIAS:

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5.3 O contexto de trabalho – Resultados da segunda fase de entrevistas

5.3.4 A LDB-1996 e suas conseqüências nas competências profissionais e na profissão docente

Quanto às determinações legais, perguntou-se aos entrevistados se eles percebiam alguma diferença na Instituição no sentido de se adequar às deliberações da LDB-1996. Notou-se que essa lei, suas decorrências (pareceres etc.) e seus impactos na IES e nos próprios professores são mais conhecidos na UConf e na UCom, conforme dados sistematizados na Tabela 37.

Tabela 37 – A LDB-1996, segundo os entrevistados

Respostas dos docentes UCom UPub UConf Total FA FR FA FR FA FR FA FR

Desconhece a lei ou nada citou de específico que

denotasse algum conhecimento a respeito. 4 22,2 11 73,3 1 6,7 16 33,3

Conhece as leis e seus impactos diretos e indiretos. 12 66,7 3 20,0 12 80,0 27 56,3

Desconhece as leis, mas conhece seus impactos. 2 11,1 2 13,3 2 13,3 6 12,5

Aspectos referenciados

Muita coisa tem mudado (projeto pedagógico, currículos de cursos, estrutura, biblioteca, perfil do

aluno etc.). 9 50,0 9 60,0 13 86,7 31 64,6

Sentiu necessidade de diferenciar-se dos demais, via

titulação, valorização da titulação. 5 27,8 2 13,3 11 73,3 18 37,5

Nada mudou pessoalmente. 4 22,2 8 53,3 1 6,7 13 27,1

Atualizam continuamente seus materiais. 6 33,3 2 13,3 4 26,7 12 25,0

Crescimento da IES. 6 33,3 0 0,0 5 33,3 11 22,9

Participam de palestras internas, seminários

pedagógicos, reuniões. 5 27,8 2 13,3 3 20,0 10 20,8 Participam direta e ativamente das mudanças. Envolve

negociação, discussão. 3 16,7 3 20,0 2 13,3 8 16,7

Salientaram a necessidade de publicar. Há pressões em

torno de publicação. 1 5,6 1 6,7 5 33,3 7 14,6

Houve adequações em termos de carga horária. 4 22,2 1 6,7 1 6,7 6 12,5 A IES tem melhorado continuamente, não

reativamente. 2 11,1 0 0,0 2 13,3 4 8,3

Os controles estão mais rígidos. 0 0 2 13,3 0 0 2 4,1 Tornou-se mais técnico, mais organizado. 1 5,6 0 0,0 0 0,0 1 2,1 Falta de vocação dos professores recentemente

contratados, que não mantêm vínculo afetivo com a

IES. 1 5,6 0 0,0 0 0,0 1 2,1

Fonte: Respostas dos entrevistados.

Nota: A soma das freqüências pode ser superior a 100%, pois os entrevistados podem ter dado mais de uma resposta ou apontar mais de um aspecto relevante na mesma resposta. Quanto às abreviações, FA refere-se a freqüência absoluta e FR, a freqüência relativa.

Ressalte-se que 12,5% dos entrevistados desconhecem a lei, mas reconhecem seus impactos na IES e na sua vida particular:

Eu acho que eu conheço pouco a lei, mas eu conheço muito as mudanças. [...] O curso se transformou num curso muito mais generalista... E, por outro, esse é um aspecto. O outro eu acho muito interessante, mas também coincide com a passagem da [UCom] pra Universidade: foi esse incentivo à pesquisa, a tentativa da gente enlaçar as disciplinas por núcleo, por semestre... é... a parte prática, a exigência de uma parte prática nas disciplinas... [...] Eu só fui fazer o mestrado por causa disso, porque eu vi que se eu não fosse... Porque eu nunca tive o interesse em fazer o mestrado... Eu acho que eu estava tão voltada pra questão, pra clínica é... Mas foi a partir dessa exigência né, de perceber que sem essa... essa titulação a gente não teria, não teria como sobreviver aqui, que eu fui então fazer o mestrado... Fui fazer, depois do mestrado, um projeto de pesquisa aqui... (E22-Profa-Psic-UCom).

Dentre os comentários dos professores, 64,6% ressaltaram a amplitude e a profundidade das mudanças e seus impactos na vida não apenas do professor, mas da comunidade acadêmica no interior da IES:

A gente nota as mudanças o tempo inteiro, né. Porque muda uma coisa na lei, a escola já fica assim meio assustada. Pelo menos eu vejo muito isso no curso de

Psicologia... [...] Mudou o currículo, a questão do estágio mudou. De um tempo pra cá, a gente tem que fazer os cronogramas pensando naquelas coisas das competências, das habilidades [...]. Está implantando um outro currículo, tudo pra adequar a todas as mudanças que estão tendo. Eu não acompanho muito todas essas mudanças que estão tendo. Eu, pessoalmente, não acompanho. Se você falasse o quê que tem aí na LDB, eu não sei assim muito bem não, sabe. É uma falha minha, eu acho... (E24-Profa-Psic-UCom).

A universidade virou outra. É outra universidade. Mudou tudo, mudou tudo. Há uma preocupação com a questão da titulação, regime de trabalho, projeto pedagógico. Enfim, a questão das avaliações do MEC, né: avaliações da OAB , né, que o nosso curso é avaliado pelo MEC e pela OAB. Então, a gente sofre uma pressão muito grande, né. Enfim, eu acho que mudou. A LDB transformou a educação, né, no Brasil. Eu acho que a gente tem de fazer justiça (E30-Prof-Adv- UConf).

Outros 37,5% sentiram a necessidade de diferenciar-se dos demais docentes. O caminho escolhido foi a titulação enquanto processo cujo resultado é mensurável e legitimado socialmente, nos moldes privilegiados pelo ponto de vista do profissionalismo:

A necessidade de você se desenvolver, de você se titular, de você produzir mais, tomar uma posição acadêmica. A própria estrutura física da Instituição, a própria biblioteca, hoje a [faculdade] é totalmente diferente de doze anos atrás (E27-Prof- Psic-UCom).

Então, na verdade, o mestrado veio meio que como um mecanismo para eu tentar me achar. E me achei. Aí, o doutorado é exigência minha, porque o mestrado eu acho que eu fiz ele muito nas coxas [risos], sabe. Eu fiz ele assim... para cumprir. Quando eu descobri que eu queria ser professor, eu acabei fazendo para cumprir. Valeu demais, porque eu acho que a minha dissertação ficou muito boa. Hoje, eu não faria ela do jeito que ela foi, mas ficou muito boa. Tanto é que publiquei ela (E32-Prof-Adv-UConf).

Para 27,1% dos entrevistados (13 professores, sendo 8 deles da UPub), nada ou quase nada mudou pessoalmente e institucionalmente, permanecendo as mudanças realizadas numa esfera ainda superficial no que tange ao projeto de universidade:

Pra começar, há um desconhecimento quase total da LDB e das regulações pertinentes no assunto. Se você perguntar pros alunos ou pros professores aqui, muito poucos aqui vão conhecer, ou vão sequer ter lido a LDB. Então, há uma conformação muito mais formal do que propriamente estrutural do projeto da universidade. Apesar das várias críticas a LDB, ela tem as suas virtudes também. Mas a conformação estrutural não foi feita. Ela foi feita muito mais como forma do que como propriamente uma mudança de mentalidade, que pretendia a LDB, né [...]. Quase nada [mudou para mim]. Eu vejo da Faculdade antes da LDB e depois da LDB. A diferença é mínima. Aqui na [UPub] é mínima. Isso tem muito mais efeito nas particulares, muito mais efeito nas particulares. Aqui na [UPub] a diferença é muito pequena (E45-Prof-Adv-UPub).

Note-se ainda que 25,0% atualizam continuamente seus materiais, programas de curso, formas de avaliação; 22,9% apontaram o crescimento da IES, salientando o aumento do

número de cursos de graduação e pós-graduação; 16,7% ressaltaram que participaram das mudanças promovidas pela instituição no sentido de se adequarem às exigências específicas dos cursos em que atuam; 20,8% participam de seminários pedagógicos, reuniões, palestras e até cursos que são promovidos pelas IES para atualização do corpo docente; e 8,3% deles (nenhum da UPub) frisaram que a IES encontra-se em processo de melhoria contínua, independentemente de exigências legais.

Eu acho que a [UCom] tem mudado constantemente. Então, quer dizer, ela está sempre num processo de melhoria contínua e sempre num processo de melhoria crescente. Então, todo semestre que passa a [UCom] está sempre evoluindo. Então, que dizer, ela está sempre melhor do que no semestre anterior (E15-Prof-Eng- UCom).

Eu acho que ela [a UCom] sempre se adiantou (E25-Prof-Psic-UCom).

A universidade já vinha fazendo [mudanças] antes dessa nova LDB, né, que não é nova mais… (E34-Profa-Eng-UConf).

Nas universidades particulares, foram mencionadas as adequações em termos de carga horária, salientando a necessidade de a IES promover horários de dedicação para um melhor acompanhamento do alunado:

Só tem uma coisa que até hoje a [UCom] deixou para trás e que não consegue resolver, que é o estabelecimento... Mas eu acho que isso a lei nisso é meio cruel, né, que foi o estabelecimento de jornada para os professores (E25-Prof-Psic- UCom).

Quanto aos impactos negativos da LDB-1996, foi salientada a diminuição de carga horária:

Mudou. A minha disciplina caiu pela metade. Uma das disciplinas que eu dou aula caiu pela metade (E17-Profa-Adv-UCom).

Verificou-se também que 33,3% dos professores entrevistados desconhecem a lei ou nada citaram de específico que denotava algum conhecimento a respeito. A maioria destes docentes (11 deles, num total de 16) é da UPub:

O que é LDB? (E12-Profa-Eng-UCom).

Mas se você perguntar para os professores, se você usar essa sigla com os professores em geral da Faculdade, eles vão perguntar “O que é isso? Essa lei eu não conheço...” Eles não conhecem (E44-Profa-Adv-UPub).

Do ponto de vista do profissionalismo, este resultado é preocupante: o desconhecimento da legislação e de seus impactos na profissão à qual o sujeito se vincula pode abrir brechas para comportamentos que não colaboram nem com o projeto profissional (LARSON, 1977), nem com o projeto coletivo (COELHO, 1999) — ou seja, que não elevam o nível de controle de acesso à profissão e nem diz de outros interesses da coletividade. Isso se relaciona diretamente com a competência profissional acadêmica, enfatizando suas faces funcional, ética e política como favorecedoras do reconhecimento e, portanto, da legitimação da profissão perante a sociedade.

Diante dos dados apresentados, percebe-se que a maioria dos entrevistados desconhece a legislação e suas decorrências. Eles noticiam seus impactos em termos de reformulação de projetos pedagógicos e grades de cursos do ponto de vista coletivo. Individualmente, preocupam-se com seu processo de titulação, seu volume de publicações e funções que exerce no interior da IES. Conforme já salientado, no que tange ao profissionalismo, estes fatos podem contribuir negativamente.

Além da participação do Estado via Legislação, reconhecem-se também as relações dos professores com instituições de interesse coletivo, como associações, sindicatos e conselhos profissionais, como importantes nos processos de gestão de competências e de profissionalização da categoria.