• Nenhum resultado encontrado

A formação do professor que considera a reflexão crítica sobre sua prática, em um projeto conjunto com os demais docentes, visa não apenas à atualização e ao aperfeiçoamento do professor, mas também à possibilidade de uma transformação da prática pedagógica, objetivando uma educação de qualidade.

A partir da Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, a formação de professores é tema obrigatório nos debates educacionais, por se constituir elemento importante na universalização da educação. No Brasil, a legislação sobre educação estabelece obrigatoriedade de aperfeiçoamento, períodos dedicados para estudos, determinando que a administração realize programas de capacitação para todos os professores em exercício. A LDB nº 9.394/96 destaca, em seu Título VI, dos Profissionais da Educação, nos artigos 61 e 67:

Art. 61 A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos:

I - a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho;

II - a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço;

III - o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.

[...]

Art. 67 Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:

[...]

II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim;

[...]

V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho. (BRASIL, 1996)

A LDB ampliou as possibilidades para a realização de atividades de formação continuada, mas existem muitos obstáculos para a formação dos professores, como: a falta de coordenação, acompanhamento e avaliação nos planos de formação permanente; a falta de orçamento para atividades de formação coletiva; e a formação continuada vista apenas como “incentivo salarial ou de promoção e não como melhoria da profissão” (IMBERNÓN, 2009, p. 32).

A legislação prevê a realização de formação continuada para professores, mas como uma ideia de complementação da formação inicial. Verifica-se no

cotidiano das escolas uma formação superficial ocorrida nos horários de trabalho docente coletivo e que compete com inúmeras outras atividades escolares, tornando-se uma formação descontínua, sem qualidade e sem possibilidades de reflexão e transformação.

Libâneo e Pimenta (1999) assumiram uma reivindicação para que o ordenamento legal de todo o conteúdo do Título VI da LDB fosse efetivado. Para eles, não bastavam iniciativas de formulação de reformas curriculares e princípios norteadores de formação. Fazia-se necessária “a definição explícita de uma estrutura organizacional para um sistema nacional de formação de professores da educação, incluindo a definição dos locais institucionais do processo formativo”. (LIBÂNEO; PIMENTA, 1999, p. 241).

O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001 (BRASIL, 2001a) destaca que um dos maiores desafios é a qualificação docente e que o poder público precisa dedicar-se prioritariamente à solução desse problema. A implementação de políticas públicas de formação inicial e continuada dos profissionais da educação é uma condição e um meio para o avanço científico e tecnológico, uma vez que a produção do conhecimento e a criação de novas tecnologias dependem do nível e da qualidade da formação.

O PNE prevê que a melhoria da qualificação profissional dos professores dependerá de políticas que objetivem:

- fortalecer as características acadêmicas e profissionais do corpo docente formador;

- estabelecer um sistema nacional de desenvolvimento profissional contínuo para todos os professores do sistema educacional;

- fortalecer os vínculos entre as instituições formadoras e o sistema educacional, suas escolas e seus professores;

- melhorar a infraestrutura institucional especialmente no que concerne a recursos bibliográficos e tecnológicos;

- definir jornada de trabalho e planos de carreira compatíveis com o exercício profissional. (BRASIL, 2001a, p. 58)

Em seu texto, o plano afirma ainda que a formação continuada dos profissionais da educação pública precisa ser oferecida pelas secretarias estaduais e municipais de educação e que sua atuação incluirá a coordenação, o financiamento

e a manutenção dos programas como ação permanente e a busca de parceria com universidades e instituições de ensino superior.

Nota-se que o PNE dá atenção especial à formação permanente e a destaca como parte essencial para a melhoria da qualidade da educação. No entanto, apesar da formação continuada ser caracterizada como uma prática de formação reconhecidamente necessária, sendo a base de reflexão para um aprimoramento da prática dos professores, há um conjunto de fatores políticos, administrativos e metodológicos que acabam por gerar dificuldades na sua realização. De acordo com os Referenciais para a formação de professores (BRASIL, 1999), algumas dificuldades encontradas são:

- falta de articulação entre os gestores do sistema educacional;

- descontinuidade dos projetos e programas de um governo para o outro; - ações planejadas e realizadas com limites de tempo estabelecidos, referentes às políticas administrativas;

- falta de incentivos salariais aos professores;

- inexistência de tempo na jornada de trabalho e calendário escolar.

Ainda segundo este documento, as questões organizativas dizem respeito à falta de planejamento e à não execução de ações articuladas entre si, que considerem as necessidades dos professores, das escolas e das salas de aula. A realização de eventos pontuais atinge o objetivo de divulgar novas ideias e sensibilizar os professores para aspectos relevantes da sua prática profissional; porém,

[...] a inexistência de mecanismos de acompanhamento contínuo da prática pedagógica, de avaliação periódica dos resultados das ações desenvolvidas e de identificação de demandas de formação colocadas pelas dificuldades que encontram os professores no exercício profissional, prejudica a qualidade da formação, uma vez que estes são instrumentos de avaliação fundamentais para o planejamento e redimensionamento dos programas (BRASIL, 1999, p. 47).

Percebe-se que ainda existem muitas barreiras para que a formação continuada seja efetivada como um espaço de reflexão crítica, coletiva e constante

sobre a prática da sala de aula. É importante que o professor tenha consciência de que a formação não resolverá todos os problemas referentes ao sistema educativo, mas lhe permitirá maior compreensão das questões envolvidas em seu trabalho, para que possa tomar decisões com autonomia e responsabilidade.

É fundamental que o professor reconheça a formação continuada como direito e conheça alguns caminhos que possam auxiliá-lo em sua formação, objetivando a sua valorização profissional e a promoção de um ensino de qualidade.