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5.1 Analisando a formação continuada

5.1.2 Relação da escola com a comunidade

A gestão democrática na escola vem sendo colocada como ponto de reivindicação, enfocando participação e transparência como princípios essenciais. Todos os envolvidos no processo educacional – professores, pais, alunos e funcionários – devem participar da gestão, assim como todas as ações e decisões devem ser tomadas com a colaboração e conhecimento de todos. Nóvoa (2002) esclarece que uma escola concebida como um espaço aberto, com forte presença das comunidades locais, permite aos professores redefinirem o sentido social de seu trabalho, devendo ser formados não apenas para uma relação pedagógica com os alunos, mas também para uma relação social com as comunidades.

Como dito anteriormente, a LDB nº 9.394/96 mostra, em seu artigo 14, que os sistemas de ensino definirão normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, abrangendo a participação das comunidades escolar e local em conselhos de escola ou equivalentes. No artigo 12, inciso VI, a lei ainda incumbe cada sistema de ensino de “articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola”. E no artigo 13, inciso VI, os docentes também são chamados a “colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade” (BRASIL, 1996).

A legislação vigente tem como princípio a gestão democrática e as observações trazidas pelas educadoras indicam que a participação dos pais na escola é frequente: “desenvolvemos atividades em que os pais são convidados a ver o que foi trabalhado, como festa junina, primavera, integração família/escola, mostra cultural” (Profª 5-A). A comunidade participa “sempre que ocorrem os eventos culturais, reunião e festa junina” (Profª 7-A), sendo “solicitada para participar das atividades escolares e reflexões para solucionar problemas” (Profª 6-B). Além disso, é oferecida à comunidade “abertura para participar de todas as atividades realizadas na escola” (Profª 10-B), encontrando-se “disponível o diálogo com o professor ou com o administrativo” (Profª 9-B).

Apesar do relato de participação dos pais na escola, verifica-se que a presença da comunidade escolar ocorre apenas em festas e eventos, além das reuniões de pais, sem influência nas tomadas de decisão. Nóvoa (2007) reitera a importância da participação da comunidade quando afirma que no espaço público tem de haver mais responsabilidade das famílias e das comunidades locais e que “só é possível defender uma escola centrada na aprendizagem se defendermos o reforço desse espaço público da educação” (NÓVOA, 2007, p. 8).

Nas escolas estaduais de São Paulo, o processo de democratização da gestão inicia-se com o documento intitulado Diretrizes educacionais para o Estado de São Paulo, no período de 1995 a 1998, marcando mudanças na organização da rede estadual de ensino. O documento estabelece, dentre outras diretrizes, as orientações gerais de mudanças nos chamados “padrões de gestão”, especificamente os espaços que favorecem a participação coletiva: associação de pais e mestres (APM), conselho de escola, conselho de classe, grêmio estudantil. Os dois primeiros devem contar com a participação efetiva da comunidade escolar (GARCIA, 2006).

As APMs foram criadas com o objetivo de colaborar com os estabelecimentos de ensino para que tivessem um eficiente desempenho, além de promover a integração entre família, escola e comunidade e o aperfeiçoamento do processo educacional. Mas, entre o discurso e a realização dos objetivos existe uma grande distância. As APMs voltaram-se exclusivamente aos problemas financeiros, realizando atividades (festas, bazares, rifas) que gerassem recursos para as escolas. Ângela Cizeski (1997, p. 52) relata que,

[...] embora o Estado destacasse as intenções de integração, as APMs continuaram direcionando seu trabalho para a arrecadação de recursos que contribuíssem com a manutenção dos prédios, contratação de funcionários e até ampliação das unidades de ensino. [...] Sua história concreta revela que elas foram criadas não para abrir espaços à participação e sim transferir à população responsabilidades não assumidas por um Estado que historicamente não tem demonstrado efetivos compromissos com a educação da maioria da população.

Com relação aos conselhos de escola, entre suas atribuições não estava a função arrecadadora como nas APMs, podendo então decidir sobre aspectos importantes do funcionamento da escola, como a destinação de verbas, o calendário de atividades e, principalmente, a elaboração do Plano Escolar. O conselho de escola deveria ser o grande aliado da gestão da escola, mas, para isso, seria necessária abertura para que todos fizessem parte do processo de decisão. Segundo Ciseski (1997), o conselho não garantiu ampla participação da comunidade escolar, restringindo-a apenas aos seus servidores, porque muitos ainda desconhecem a existência desse colegiado no interior da escola.

Os professores confirmam a fala da autora, quando expõem que a participação dos pais ocorre especialmente em “festas, exposições, dias de integração e mostras culturais, havendo uma participação parcial” (Profª 1-A) e que no “Conselho tem participação, mas é pouca! As reuniões de pais têm uma participação regular; poderia ser melhor, eu acho” (Profª 2-B). Para eles, a presença dos pais “não é muito frequente, mas quando acontece a feira cultural, festa junina, festa da primavera e outros eventos que a escola realiza” (Profª 4-A).

A escola afirma a adoção da gestão democrática e o estímulo da formação de instâncias colegiadas com a participação da comunidade, mas não se confirma tal fato no interior da escola. A influência da comunidade nas decisões escolares é praticamente nula, ocorrendo apenas a participação dos pais como ouvintes do conteúdo pedagógico trabalhado durante o ano letivo. Há um discurso de inserção da comunidade no processo decisório, mas não foram criadas condições concretas de exercício e de participação para que essa prática se efetive.